" Todos nós temos nossas máquinas do tempo. Algumas nos levam pra trás, são chamadas de memórias. Outras nos levam para frente, são chamadas sonhos."

–Jeremy Irons

Esperei ela falar, e até fiquei feliz quando Elena finalmente desembuchou.

– Você tem algum tipo de problema Caroline? Não pensou no que acharíamos disso? Ou melhor você chegou a pensar em alguém sem ser em si mesma?- Ela falou afobada, eram tantas perguntas de uma só vez, eu não deveria estar esperando menos ,pois do modo que Elena estava suando frio, provava que ela tinha ficado com medo.E eu como sempre não sabia por onde começar, eram tantas perguntas.

– Tudo bem Elena, foi um pequeno descuido, eu sinto muito, ok ?- Eu perguntei mesmo sabendo que a resposta não seria nada agradável, pelo simples fato de Elena fazer uma careta desgostosa.

– Pequeno descuido? Você podia ter morrido e chama isso de pequeno descuido ? Fala sério Caroline, isso é ridículo sabia?- Ela cruzou os braços me encarando, esperando provavelmente a minha resposta, eu por outro lado não queria responder, Elena era tão teimosa as vezes que me fazia ficar irritada. Endireitei minhas costas tentando mostrar que iríamos ter uma conversa séria, já Elena estufou o peito o bastante para me intimidar.

– Não é ridículo Elena, não aconteceu nada de mais.- Eu respondi controlando minha respiração, porque meu coração não parava de dar saltos cada vez maiores, parecendo me quebrar, e eu sabia que a resposta de Elena não seria delicada.

– Quando você vai colocar nessa maldita cabeça loira, que você quase morreu e a culpa foi sua?- Elena levantava a voz para falar e parecia que falava toda frase pausadamente como se ela estivesse com falta de ar, e eu com base na experiência de hoje mais cedo sabia bem como doía não respirar.

– Talvez quando isso realmente me parecer algo grave.- Eu grunhi de volta, estávamos discutindo como a tempos não fazíamos. Elena estava tão irritada que falta pouco para sair fumaça de seus ouvidos, seu rosto estava vermelho e se contorcia em uma careta.

– Mas é algo grave. Caroline suicídio não é brincadeira.- Ela emanava irritação, e eu queria bater nela. Estava sendo tão frustrante brigar com ela quando eu estava em desvantagem.

– Droga! Eu não me suicidei porra! Eu estou viva e bem se você ainda não notou.- Berrei com Elena, por um pequeno instante eu percebi o quanto tinha afetado ela, mas como ela havia bem aprendido era durona de mais para admitir, então apenas revidou.

– Cala a boca, Caroline! Será que você ainda não percebeu o quão estúpida você anda sendo. Pare de pensar só em si mesma, Caralho. Tem pessoas a sua volta que se preocupam com você. Deixe de ser criança e admita que fez merda.- Elena esfregava as mãos na barra de seu vestido sedoso florido, provavelmente tentando controlar a vontade de me socar. Mas eu também queira socar alguma coisa, não importava se isso séria o travesseiro ou o rosto de Lens, de todos os jeitos seria bom extravasar a minha raiva.

Eu não respondi, o silêncio reinava, e isso bastou para fazer Elena chegar ao seu ápice.- Eu estou cansada de tentar te ajudar quando visivelmente você não quer minha ajuda, até logo Caroline. – Ela pegou a bolsa de cima do sofá, e saiu. Eu poderia dizer que aquele havia sido o até logo mais falso que já ouvira, pois ela não voltou, não até agora.

Já havia se passado dias desde que sai do hospital, eu e Elena depois daquela conversa não tínhamos conversado mais, e no momento Bonnie era a melhor amiga para desabafar, se não fosse pelo fato de ela também não ter curtido nadinha o que eu havia feito.

Hoje após deixar Chris sobre os cuidado de Klaus, eu tinha a sessão com o meu mais novo psicólogo, o consultório era na esquina de umas das ruas mais movimentadas da cidade, ela ligava o centro e a avenida principal, por isso foi bem difícil achar uma vaga, e depois de rondar o quarteirão pela terceira vez, achei uma vaga a duas esquinas do consultório.

Tudo isso para depois no entrar no consultora,e dar de cara com a sala de espera totalmente lotada, por um milagre achei um lugar pra me sentar, peguei um livro dentro da bolsa e comecei a ler meio por cima, porque bom mesmo eu não sendo nenhuma fofoqueira, não conseguia parar de ouvir a conversa alheia, porque no momento a fofoca das vovós sobre a gostosura do psicólogo parecia bem mais atraente do que a minha vida, e realmente era, se o que elas dizem estiver certo o cara era quase um Deus grego, e eu não pude deixar de observar como as velhas eram taradas, talvez elas nem tivessem algum tipo de problema psicológico, provavelmente só estavam ali pra ver o tal do psicólogo.

As horas foram passando e as pessoas diminuindo, até que finalmente eu fui chamada.

– Senhorita Caroline Forbes!- A assistente chamou meu nome, e então me levantei, e ela me conduziu até a porta para depois ir embora, a sala não era muito grande, mas nada muito pequeno também, era bem arejada e os tons das paredes quase faziam eu me sentir confortável naquele lugar. O doutor mexia em seu computador, e nem havia me notado, mas acho que com a minha falta de delicadeza ele soube que alguém estava na sala.

– Senhorita Forbes ?- Ele perguntou levantando a cabeça para me olhar.E oh fodido Deus, depois dessa eu estava sem fôlego nenhum. As velhinhas não podiam estar mais certas, a boca fina rosada sustentava um sorriso cafajeste, os olhos castanhos brilhavam em divertimento, e o cabelo negro parecia tão sedoso enquanto estava arrumado em um topete. Ele era lindo isso eu não podia negar.

– Bom dia doutor.- Saudei com a voz um pouco tremula, não era de se esperar depois de ver o meu psicólogo. Eu estava doida pra contar para Elena, pena que tínhamos brigado,ela adoraria saber que meu psicólogo poderia ser um ator de tão bonito.

– Pode me chamar de Enzo.- Ele sorriu. Me sentei em uma poltrona reclinável, e ele Foi para o meu lado.

– Ah, sem problemas.- Eu não sabia o que fazer, e para piorar estava com vergonha, ao contrario de mim ele parecia bem à-vontade com a situação.

– Bom agora eu vou te fazer algumas perguntas, e você tem que ser totalmente sincera comigo, imagine que eu sou sua melhor amiga ou sei lá. Você só que ser sincera.- Ele disse com a voz calma, mas eu estava em pânico, eu quase nunca desabafava com as minhas amigas e agora eu teria que contar os meu problemas para um cara que eu acabei de conhecer faz o que ? Uns dois minutos ?

– Tá.- Soprei junto com todo o ar que restava no meu corpo.

– Que tal começar do inicio?- Perguntou, e eu assenti, e inspirei um pouco de ar. Eu precisava de coragem para contar tudo antes de cair no choro, não era um assunto que eu gostava de falar, na verdade eu odiava. Memórias doem, principalmente as minhas.

– Eu era jovem e me apaixonei por um cara, eu fazia tudo que ele pedisse, porque eu achava que tinha a obrigação de fazer isso, de mostrar para ele que eu o amava mais do que todas as vadias que saiam com ele, no final eu acabei grávida e quando ele descobriu a primeira coisa que Tyler fez foi ir embora, pouco se fodendo pra mim, foi uma época muito difícil, porque logo em seguida meu pais me mandaram embora de casa. Nessa época minhas amigas me deram um teto para morar, e eu fui trabalhar para ajudar com alguma coisa, eu me sentia um lixo, eu não servia pra ninguém, nem meus pais me queriam e no final quem iria me querer, eu não era nada.- Contei o começo,mas não estava me sentindo muito melhor, eram muitos pesos de memórias na minha costa para se livrar tão rapidamente, ele continuava a me olhar, parecia hipnotizado ou talvez admirado, mas eu não via motivo pra isso, ele percebeu meu olhar e voltou a encarar sua prancheta enquanto anotava algo em silêncio.

Essa com certeza era a parte que eu mais odiava nos médicos,eles anotavam tudo e eu nunca ficava sabendo o que diziam.