Coração de Elástico escrita por DarlingMamacita


Capítulo 2
Destino


Notas iniciais do capítulo

Oie *-*
Um capítulo prontinho para vocês, espero que gostem e comentem!
Agradeço a todas que comentaram, favoritaram, acompanharam..
Muito obrigada, boa leitura!



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10 janeiro de 2015


“O homem não tem um corpo separado da alma. Aquilo que chamamos de corpo é a parte da alma que se distingue pelos seus cincos sentidos” -Willian Blake.

Eu analisava a frase pela milésima vez, ao dia. Já fazem exatamente dois anos que á analiso, tento decifrá-la.

A única coisa que deduzia que significava era que não pertencemos a um corpo e sim a uma alma, mas apesar de ambos dividirem o mesmo espaço são diferentes.

Minha cabeça doía ao ficar observando a placa de metal, o relógio quadriculado na parede esquerda informava que já se passavam das 4 horas. Meu corpo estava exausto, minhas pálpebras pesavam, apesar de ter acordado a poucos minutos.

Queria perguntar a Dr. Miguel o que aquela frase significava, e porque ela estava justo em um quarto de hospital para pacientes com câncer.

―Vejo que nossa garotinha despertou―Martha entrou no quarto acompanhada de mamãe, ambas sorriam calorosamente.

―Como está se sentindo, anjinho? ―Mamãe perguntou caminhando em minha direção.

Eu odiava a forma como as duas me tratavam, como uma criança de 8 anos. Sempre foi assim. Bebezinho, garotinha, anjinho, docinho, sempre no diminutivo.

―Estou bem―joguei de lado a dor que aumentava na cabeça.

―Ótimo, pois reservei vagas no Gordam ‘ramsay.

―Não a encha com as suas frescuras, Jorgia―indagou Martha. Ela veio até mim e começou sua análise.

Brilha uma luz em meus olhos, fazendo-me torcer os dedos, apesar de já estar acostumada. Depois então meu nariz, fecha primeiro um olho e depois o outro. Verificando todos meus reflexos, outra enfermeira se junta a ela e mamãe vaga para o canto.

Martha é minha enfermeira desdê que a doença foi descoberta, ela cuidou de mim com muito carinho. Ela não só se tornou minha confidente, como da minha família, ou melhor dizendo minha mãe.

―Tudo bem, Martha. Eu estava mesmo querendo comer um pouco de molho tártaro―ironizei com um sorriso.

―Tudo bem, só não exagere.

Sua pele escura se destacava no avental branco, Martha era típica das pessoas do interior do Broookyn, por mais dela ser brasileira e nordestina. Ela é forte, ás a invejava por isso.

―Está preparada pelo mundo lá fora? ―ela sussurrou tirando uma mecha rebelde do meu cabelo e escondendo atrás da orelha.

―Sim, lógico que ela está. Daqui a alguns dias já iremos visitar seu novo colégio.

―O que? ―elevei a voz, direcionando minha atenção para a mulher loura com sardas espalhadas por entre seu rosto, aquela que diz ser minha mãe.

Ela olhou para mim, com aqueles olhos brilhantes que eu sabia o que significava...

―Hayley, você vai voltar a estudar.

Suas palavras ecoaram em minha mente numa dança macabra. O desespero já estava eminente no meu rosto.

Eu não vou a escola.

―Hayley você sabe que terá que voltar a rotina, conhecer novos amigos, ir à missa aos domingos―ela hesitou, tentado decifrar minha reação―Conhecer garotos e quem saber namorar!

Aquela palavra ecoou na minha cabeça. Namorar. Conforme o dicionário “namorar” significava; esforçar-se para conseguir o amor de; cortejar, galantear: ... Atrair, cativar, inspirar amor a, seduzir: Tornar-se enamorado; afeiçoar-se, apaixonar-se. Era aquilo que significa namorar, apaixonar-se.

―1º eu não vou para a escola; 2º não quero conhecer pessoas novas, e muito menos namorar―enfatizei a última palavra formando aspas com os dedos.


Mamãe bufou, revirei os olhos com seu ato infantil.

―Não era isso que você falava a dois anos atrás.

―Eu era um criança, fútil e mimada, não me espanta que tivesse esse pensamento.

Ela se calou depois daquilo, o clima ficou tenso e me senti culpada por soltar aquelas palavras. Quando tinha doze anos eu era o que se podia chamar de patricinha. Tinha tudo que queria, na hora que queria. Usava as pessoas como se fossem objetos descartáveis, acho que é por isso que hoje estou em uma cama de hospital.


Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito. Era isso que eu estava tentando fazer, eu não queria voltar a escola porque eu não era mais aquela garota, não queria voltar a ser e ter amigos assim. Não queria conhecer pessoas novas, pois as que estavam na minha vida de certa forma já estavam quebradas, machucadas. Eu não queria quebrar ninguém, não agora.





Por volta das seis da tarde, eu finalmente sai do hospital. Apesar de ser minha última quimioterapia eu ainda teria que visitar semanalmente o hospital. Então não houve de fato uma despedida, apenas um simples bolo de chocolate que os funcionários prepararam, meus amigos de cama* se reunirão conosco e me desejaram sorte, na verdade eu que deveria desejar-lhes sorte.

O caminho de casa fora tranquilo, papai permaneceu no hospital como prometido, apesar, de sempre ficar olhando para a tela do celular como se esperasse um milagre acontecer.

O hospital não ficava muito longe de casa, de forma que logo já estávamos na mesma. Eu estava cansada, apesar de ficar a maioria do procedimento desacordada, então pedi a mamãe mais duas horas para que pudesse descansar antes de irmos ao restaurante.

Então aqui estou eu, no meu quarto escrevendo para você. Eu queria alguém para desabafar então me lembrei das cartas, acho que vou acabar me acostumando.

Estou tão confusa, a conversa que tive com mamãe ainda lateja na minha cabeça. Acho que de certa forma eu tenho medo do meu destino “É nos momentos de decisão que o destino é traçado” se eu escolhesse seguir a minha vida como minha mãe falou como seria? Como eu iria recomeçar? Como me relacionar com pessoas novas? Como esquecer o meu passado...?

Ás me sinto como um pássaro preso em uma gaiola, eu quero voar, quero ser livre...Mas tenho medo de cair...medo de desmoronar.




E outro vai por água abaixo
Mas por quê não conquistar o amor?
E eu posso ter pensado que éramos um
Queria lutar nessa guerra sem armas
E eu queria isso, eu queria muito isso
Mas haviam tantas bandeiras vermelhas
Agora outro vai por água abaixo
E vamos ser claros, eu não confio em ninguém


Você não me destruiu

Ainda estou lutando pela paz...


Eu refletia as palavras de Sai Furler*, a vida havia me destruído, sua lâmina ficou muito afiada. Eu era como um elástico, se você puxar bem forte posso estourar e agir rápido.

Eu fecho meus olhos e penso na vida que estaria tendo se não fosse por este maldito câncer. Penso em meus cabelos louros grandes, vejo-me correndo pela rua sem ter medo de cair, vejo-me como uma garota esbelta, aquela que conseguia conquistar o coração de todos os garotos. Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino, e o meu foi a doença. Eu posso não saber quem eu me tornei hoje mas sei que não sou como antes, não ligo se meu cabelo não é grande o suficiente, não me importo por não conquistar o corações de garotos, não sou mais fútil.

E apesar de estar confusa eu admiro a pessoa que me tornei, eu sei que minha nova jornada vai ser difícil, aliás, como dizia Albert Einstein:

“Temos o destino que merecemos. O nosso destino está de acordo com os nossos méritos.”



Com amor,
Hayley




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Notas finais do capítulo

*Amigos de cama: Amigos que compartilham da mesma doença, sofrimento.

*Sia Furler: Cantora Australiana, conhecida pela composição pop~ (Trecho da música Coração de elástico)

Espero que tenham gostado, se tiver algum erro me avisem, bjs :*