Talvez tenha sido insolação escrita por ally_albarn


Capítulo 12
A Feira


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, chegamos ao ponto que eu tanto queria!!!



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O dia seguinte foi cheio de olhares. Yoan me observou durante a aula inteira, e eu não conseguia fazer nada além de desviar meu rosto e tentar esconder minha vermelhidão. No intervalo, Yoan apontou para mim e disse “não esqueci da sua promessa”, para logo sair da sala com Kevin, e deixar ele, Debby e Kate curiosos com esta frase misteriosa.

– Do que ele tá falando? – Debby fora mais do que rápida para perguntar. Garanto que Kevin fizera a mesma pergunta à Yoan quando saíram da sala.

– Ontem... quando ele foi me buscar na enfermaria...

– De nada, falando nisso – Debby cortou-me.

– ... Sem querer acabei soltando que precisava contar algo para ele. Porém, como minha promessa é de que eu só contaria amanhã na Feira, não consegui terminar minha confissão, então apenas prometi para ele também que contaria amanhã. O que foi uma péssima ideia, porque agora ele não para de me encarar! – Apertei os punhos, raivosa.

– Hahaha, foi uma ótima ideia! – Debby divertia-se.

Chegou então o maldito/bendito dia. Cheguei atrasada, com duas malas cheias. Uma era de fantasias, para mim, Kevin e uma das meninas que não haviam roupas para utilizar. A outra era com os enfeites para a mesa e os cartazes para distribuir para a escola. Ainda bem que eu não era encarregada das comidas!

Tivemos a ideia de espalhar cartazes nos corredores das escolas para outros alunos verem e irem na nossa tenda. Eu havia perguntado para os professores se teria problemas, e eles aprovaram. Mais dois outros grupos tiveram a mesma ideia, mas nenhum tinha cartazes tão bonitos e tão bem feitos quanto os nossos, modéstia à parte.

Quando eu estava colando em uma das paredes, Yoan passou e me olhou, de longe. Eu apenas sorri, sem graça, e continuei o que estava fazendo, louca de vergonha. Obviamente ele não tinha esquecido da promessa. Não sabia que Yoan era tão curioso! Contudo, estava feliz que ele não me pressionava, apesar de nos cruzarmos mais umas duas vezes durante a manhã.

Após organizarmos tudo, nos dividimos para ir aos banheiros colocar as vestimentas. Tinha uma galera lá se arrumando também! Era tanta gente que algumas meninas nem se importavam de entrar no box separado para tirar a roupa, trocavam ali mesmo nas pias, com a porta fechada, é claro, para nenhum garoto que estivesse passando enxergar.

Fiquei com vergonha de me trocar na frente de todas, então consegui entrar em um dos banheirinhos. Depois saí e fui para o espelho me maquiar, e quando saí, vi que Sasha já estava pronta e saía do banheiro. Eu e minhas colegas do grupo nos ajudamos e voltávamos juntas para nossa barraca, quando avistei Sasha e Yoan, conversando atrás de umas salas, perto dali.

– Meninas, esqueci que também queria ir no banheiro! Vão indo que depois eu vou!

Corri para perto dos dois, mas não o suficiente para me verem. Infelizmente, também não foi o suficiente para ouvi-los.

Acho que passaram-se uns dois, três minutos. Sasha só falava, segurando um braço, completamente envergonhada. Nunca havia visto ela daquela forma. Yoan coçava a cabeça e estava ruborizado, não olhava para ela diretamente. Sua franja escondia completamente sua expressão.

Subitamente, Sasha se esticou e abraçou Yoan. Yoan devolveu o abraço. Então, lentamente, mais lentamente em minhas memórias do que realmente ocorreu, Sasha virou o rosto e beijou Yoan, primeiro na bochecha, depois mais próximo de sua boca, para em seguida, ir para ela. Para os lábios de Yoan.

Não aguentei e corri. Corri para longe. Corri de volta para o banheiro. Me trancafiei novamente em um box e apertei os olhos, decidida de não borrar a maquiagem.

Yoan então preferia Sasha. Era tão lógico que isso iria acontecer. Aquela bolada não poderia ter sido acidental. Sasha, aquela vaca monstruosa. Roubara Yoan. Meu Yoan. Meu querido Yoan.

Me sentia tão patética, sentada naquele banheiro minúsculo ao lado do vaso sanitário. Patética e inútil.

– Será que vocês podiam se vestir aqui fora que nem todas as outras garotas do que ficar usando o espaço do vaso? Tem gente realmente precisando mijar aqui! – Uma garota resmungava do lado das pias. Eu levantei, puxei a descarga, fingindo que fazia algo, e voltei para minha barraca.

O pessoal percebeu que algo acontecera comigo, mas não perguntaram nada. Kevin tentou se aproximar, e eu fugia, falando alguma coisa boba, criando alguma dúvida, sorrindo, qualquer coisa que interrompesse suas palavras de consolação.

Em seguida, vi Sasha e seus sedosos cabelos passarem pela quadra. Estranhei Yoan não estar junto, só então percebi que ele já estava na barraca. Não quis refletir muito a respeito. “Ela deve ter voltado no banheiro para retocar a maquiagem” foi o único pensamento que deixei passar. Depois disso, fechei minha mente para qualquer assunto que se tratasse dos dois.

Mentira. Eu tentei. Mas Yoan não saía de jeito nenhum da minha cabeça. Eu queria ir embora, queria sair dali, porém, minha obrigação era sorrir, falar, explicar, servir dos doces e salgados típicos da minha Nação e fingir que estava tudo ótimo.

Então, chegando ao final do dia, lembrei de Kate. Kate precisava saber disso tudo. Precisava me ouvir, me aconselhar. Quem eu mais precisava naquele instante, era Kate. Ela estava lá com Yoan, porém. Para alcança-la, eu deveria ir até ele. Até Yoan, até Sasha. Será que eu conseguiria?

Não tinha jeito. Fui até lá.

Chegando lá, percebi que havia um aglomerado de pessoas. Minha vontade era de ignorar todas elas, passar reto e puxar Kate para um canto. Como minha educação não permitia, cheguei aos poucos para observar a situação e ver se era possível.

Haviam, na verdade, três pessoas. Eram dois adultos, de cabelos escuros, ele já um pouco grisalho, ela, cabelos bem cuidados, crespos, curtos e sedosos. Os olhos da mulher eram de um verde gritante, destacado ainda mais com o batom vermelho nos lábios. Conversavam com Yoan, enquanto o resto dos integrantes do grupo apenas sorriam em silêncio. Deduzi que eram os pais de Yoan.

“Mal sabem eles que seu filho acabou de destruir com o coração de uma garota” – Pensei.

Foi então que reparei no terceiro integrante. Alto, mais alto que Yoan e os pais. Cabelos desgrenhados, possivelmente puxados pelos de sua mãe, apesar dos delas estarem bem cuidados. Usava um boné, uma regata rasgada e aqueles tênis de moda, estava de fones de ouvido e não parava de me encarar com seus olhos escuros, os mesmos olhos de Yoan e de seu pai. Quando encarei de volta, o garoto, possivelmente mais velho que nós, retirou os fones e falou comigo:

– Eu conheço você de algum lugar.

– Eu? Tem certeza?

– Sim, minha memória é das boas, eu te conheço de algum lugar, pode crê!

– Teresa, você veio aqui falar comigo? – Yoan me chamou, visivelmente preocupado.

– Teresa, é você mesmo! Agora, só não lembro de onde!

– Espera aí, Yoan. Como assim, não lembro de você.

– Teresa – Yoan me chamou novamente.

– Bom, talvez com meu nome você se lembre – O desconhecido esticou a mão, como se apresentando – Prazer, Dimitri.

– Dimitri? – Engasguei. Paralisei. Não acreditei.

– É, Dimitri. Lembrou?

Eu não conseguia responder. Deus, não sei nem como conseguia respirar. Tudo que conseguia fazer era olhar para Yoan. Tamanha mágoa que ele me causou, em apenas um dia.


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Notas finais do capítulo

Tadinha da Tess..



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