Brenda acordou com a voz de Sonya que conversava com alguém perto de sua cabana. Mesmo com o tempo nublado, típico do inverno, percebeu pela luminosidade que transpassava o fino tecido da cabana que já era manhã. Newt ressonava ao lado dela ainda dormindo, se deu conta que ele a abraçava, seu braço estava repousado sobre sua cintura e a mão segurava a parte lateral de seu casaco, ele dormia tranquilamente, sua respiração suave e constante. Brenda se esforçou para não acorda-lo, delicadamente ela afastou o braço dele e saiu da cabana. Sonya conversava com Thomas, e Brenda se aproximou deles.

– Finalmente alguém decidiu acordar – Thomas disse sorrindo para ela - só porque hoje é nosso dia de descanso não quer dizer que podemos ficar o dia inteiro em nossas cabanas dormindo.

– Não decidi acordar, fui acordada pela conversa de vocês. Se dependesse apenas de mim ficaria dormindo na minha cabana o dia inteiro.

– Ainda bem que te acordamos então, estávamos indo caçar e acho que ajuda nunca é demais. - Sonya esticou uma faca de caça na direção de Brenda, que apanhou com um sorriso.

Os três se prepararam e seguiram na direção do riacho, Sonya tinha dito que tinha feito várias armadilhas na tarde anterior e que se dessem sorte não precisariam se esforçar para conseguir comida. Como ainda era começo da manhã a neblina era densa e dificultava um pouco a visão, eles seguiam em silêncio tentando fazer o mínimo de barulho possível, Thomas era o mais desastrado, seu caminhar era uma trilha de estalos de galhos quebrados, com todo aquele barulho todos os animais com o mínimo de senso de sobrevivência já teriam fugido. Quando chegaram ao riacho, Sonya pediu para Thomas pegar água e voltar para o acampamento, com toda certeza ela também tinha percebido que com ele caminhando daquela forma não conseguiriam nenhuma caça, ele então concordou e as duas continuaram, sozinhas.

Caminharam por mais alguns minutos até Sonya parar e agachar, Brenda a imitou e esperou, atenta a qualquer movimento. Sonya passou as mãos por um pequeno monte de folhas caídas, revelando um pequeno fosso onde dois pequenos esquilos estavam presos a uma corda, ela tirou a faca do bolso e cortou a corda, libertando assim os animais.

–Eles são muito pequenos, o trabalho para prepara-los não vai valer a pena. – disse Sonya em forma de explicação.

As duas continuaram examinando as armadilhas feitas por Sonya por um longo tempo, Brenda repetindo todos os movimentos dela. Por fim, não tiveram sorte, a maioria das armadilhas tinha sido em vão enquanto as outras ou tinham sido destruídas ou os animais presos eram inúteis. Decidiram colher frutas silvestres, e depois de algumas horas tinham colhido o suficiente para ser dividido a todos do grupo, voltaram para o acampamento e passaram o resto do dia conversando e principalmente recuperando as energias.

Durante o jantar Brenda percebeu que Thomas se aproximou de Newt, dando inicio a uma conversa, ela ficou observando os dois à distância, admirava a coragem de Thomas e admirava ainda mais o fato de Newt não demonstrar nenhuma raiva para com ele. Imaginava como devia ser uma situação complicada e difícil para ambos, tinham passado por tantas coisas juntos, tinham sido como irmãos por um longo tempo, mas o pedido que Newt fez a Thomas tinha causado tudo aquilo, todo aquele ressentimento que agora existia entre os dois. Brenda já tinha tentado se imaginar no lugar de Thomas milhares de vezes e em nenhum momento discordou da escolha feita por Thomas. Assim como ele, ela nunca seria capaz de mata-lo, nem mesmo para salvar a sua própria vida. Aquele pensamento a assustava e muita das vezes assombrava seu sono, mas mesmo assim Brenda sabia que ele era real. Continuou observando a conversa deles por um bom tempo, todos com exceção de Minho e Harriet, que estavam sentados perto da fogueira conversando, já tinham ido dormir, já era tarde da noite e Brenda decidiu que ia deixar os dois conversando ali e iria dormir. Subitamente, porém, ela notou que Newt estava gesticulando de forma agressiva e Thomas tentava acalma-lo, foi correndo em direção aos dois, porém chegou tarde demais, Newt tinha empurrado Thomas, que caiu de costas no chão, e já ia soca-lo, Brenda então se jogou por cima de Newt, fazendo com que os dois caíssem no chão, Minho tinha se aproximado também e ajudava Thomas a levantar do chão, Newt tentou se livrar de Brenda, entretanto ela o impediu.

– Acalme-se Newt!

– Brenda não se intrometa nisso! – disse Newt com puro ódio em sua voz. – Não vou pedir mais de uma vez, então me solte!

– Newt eu não quis que isso acontecesse, por favor, me desculpe... – Era Thomas que falava com uma voz arrependida.

– Vamos, Tom! Deixe Brenda cuidar disso, eu sei que ela consegue se virar sozinha. – Minho arrastava Thomas para a cabana.

Brenda esperou para que eles entrassem na cabana, quando finalmente entraram, ela soltou Newt que com uma expressão irada se pôs de pé e mancou em direção à floresta, Brenda o seguiu.

– Newt controle seu humor e volte para o acampamento! – Ele a ignorou e continuou andando, Brenda perdeu a paciência e parou em frente dele, impedindo-o de continuar a andar.

Newt pegou Brenda pelos braços e a puxou contra ele com agressividade.

– Pare de tentar ser a minha salvadora e volte você para o acampamento! Faça o que quiser, mas fique longe de mim! – Newt apertava seus braços com extrema força.

– Newt você não que fazer isso, então me largue e vamos conversar!

– Talvez eu queira Brenda! Do mesmo jeito que eu quis te enforcar aquela noite! – Ela sentia os dedos dele apertando cada vez mais, ela tentou se soltar, mas ele a segurava forte demais.

– Mentiroso e covarde é isso o que você é Newt! Agora me solte!

Ele então a empurrou com força, fazendo com que Brenda caísse direto no chão. Ela sentia dores por todo o corpo agora, e ele como se nada tivesse acontecido continuou a mancar em direção à noite. Brenda não satisfeita, levantou rapidamente e o seguiu mais uma vez, quando o alcançou novamente o empurrou em direção a uma árvore qualquer, como numa tentativa de prendê-lo.

– Você não se cansa, não é mesmo? – O acampamento já tinha ficado para trás e Brenda não enxergava nada, mas sentia o ódio de Newt pulsando por cada poro de seu corpo. – Mas vou fazer você se arrepender por isso hoje!

Com uma mão Newt segurou os cabelos de Brenda e com a outra segurou firmemente seu queixo. Girou o corpo fazendo com que ela ficasse entre a árvore e ele. Tentou chuta-lo, mas ele foi mais rápido que ela e desviou.

– Eu avisei que queria ficar sozinho, como sempre você não me escutou e aposto que agora está se arrependendo disso. – Newt riu, uma risada insana e alta que pareceu ecoar pela floresta.

– Já disse que não tenho medo de você! – Brenda não estava mentindo.

– Vai começar a ter então!

Newt levantou o queixo dela e a mão que segurava os cabelos foi parar em seu pescoço, Brenda sentiu os dedos se fechando ao redor de seu pescoço e sentiu uma dor aguda, os hematomas ali ainda eram recentes e a pele ainda estava sensível. Brenda juntou todas as suas forças e conseguiu libertar um de seus braços, não conseguiu pensar em mais nada e com a mão livre segurou os cabelos dele e puxou com toda a força, ele a soltou por um momento, o que foi tempo suficiente para ela o empurrar, fazendo com que ele caísse sentado no chão, Brenda já não agia logicamente mais, sentou por cima das pernas dele e o empurrou mais uma vez, fazendo com ele ficasse deitado no meio da terra, ela inclinou seu corpo em direção ao dele e sussurrou.

– Não há nada que você possa fazer, nunca terei medo de você. – Ela se inclinou mais um pouco, sentia a respiração rápida e inconstante dele. – Quero que você entenda isso.

Brenda se aproximou ainda mais e fez com que seus lábios tocassem os dele, uma ação imprudente, sentiu todo o corpo de Newt enrijecer rapidamente, ela não devia ter feito aquilo, então se afastou dele e se levantou.

– Só queria te acalmar...

Ela deu as costas para ele e caminhou de volta ao acampamento, Brenda cometeu um grande erro em beija-lo, uma atitude impensada que tinha passado dos limites, e que provavelmente causaria consequências desagradáveis, mas o pior é que ela não se arrependia, pelo contrário, queria beija-lo novamente.