A.S: Anormal Students escrita por PokéMermaid


Capítulo 6
Por trás da máscara - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouco, mas eu consegui terminar! Aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/582457/chapter/6

Kouta ainda estava sozinho no quarto. Já haviam se passado dez minutos desde que Kouko havia desaparecido completamente e nada havia acontecido.

— Ué? E agora? O que ela fe- — Uma luz surgiu do corpo dele, e o corpo dele começou a mudar.

Aquilo havia sido tão repentino que ele tinha se assustado. As roupas dele começaram a ficar grandes demais, e de repente a transformação parou. As roupas estavam enormes, então Kouta deduziu que ele havia encolhido. Ele começou a reclamar, dizendo que não era isso que ele queria. Ele então caminhou até o espelho, onde percebeu que ele havia virado...

Um cachorrinho.

— U-um cachorrinho?! Eu sou um cachorrinho?! Você entendeu tudo errado, Kouko!

O monólogo dele foi interrompido por uma voz vinda da janela. Eram Daisuke e Jun, que conversavam na calçada da rua. Jun estava convidando Daisuke para ir a casa dele, que ficava não muito longe dali.

Kouta teve uma ideia.

Na casa de Jun, ele e o amigo brincavam juntos, até que ouviram latidos do lado de fora. Jun abriu a janela, e viu Kouta em sua forma canina. Obviamente os garotos não sabiam que era ele, então eles só saíram do quarto e foram ver o cão.

— Ei Jun, vamos brincar com ele!

— Mas Daisuke, ele pode ter dono!

— Mas ele não tem coleira! Se não tem coleira, não tem dono!

— Tá bom... Vamos brincar com ele.

Kouta se esforçou para parecer que ele era realmente um cachorro. Ele acabou passando a tarde inteira brincando com os meninos, e se divertiu muito. Ele percebeu que sua irmã havia acertado. Agora ele tinha o poder de ser ele mesmo, mas não sendo ele. No final da tarde, enquanto Jun se despedia de Daisuke, Kouta rapidamete fugiu e foi para casa, porque mesmo que ele não quisesse, ele tinha que voltar pra casa.

“Tá, agora como eu volto ao normal?”, perguntava-se Kouta. Nesse mesmo instante, ele volta a ser humano.

— Bem, acho que isso resolveu o problema... — Logo depois, ele percebeu que estava nu. Ele vestiu as roupas, enquanto ele comemorava por ter finalmente arranjado uma maneira de escapar das imposições abusivas dos pais.

Então, por alguns anos, ele passou a fazer a mesma coisa que ele havia feito naquele dia. Ele sempre ia na casa de Jun como um cachorro e brincava com ele e o amigo Daisuke. Ele achava isso muito legal, mas às vezes ele sentia que ele ainda não era totalmente feliz. Ele ainda era forçado a ser a irmã pelos pais e não podia fazer o que ele queria quando os eles estavam por perto. Mas chegou um certo dia em que tudo mudou.

Kouta estava na 5ª série. Ele e as outras crianças estavam aprendendo sobre as mudanças da puberdade. Ele assistia à aula atentamente, enquanto algumas crianças não estavam nem aí. No final da aula, duas meninas estavam fazendo perguntas à professora, enquanto Kouta saiu da sala e foi até o banheiro. Kouta olhou-se no espelho. Ele estava crescendo e ganhando feições masculinas. Logo chegaria o dia em que os pais de Kouta teriam que parar de forçar-lo a ser Kouko.

— Há! Eles não vão poder mais sustentar essa mentira! — exclamou Kouta, alegre.

— Sustentar o quê? — Perguntou uma menina, que tinha acabado de entrar no banheiro. Kouta saiu correndo, antes que a garota começasse a interrogá-lo. Ele realmente não via a hora de parar de fingir ser uma garota. De repente, ele ouve Daisuke e Jun conversando, não muito longe de onde Kouta estava.

— Ei Daisuke, sabe aquele cachorro que sempre vem brincar com a gente?

— Sim, por quê?

— Eu vou adotar ele! Meus pais estão bem tranquilos com isso.

— Legal! Faz tanto tempo que nós brincamos com ele, mas é chato esperar ele vir até a nossa casa!

— Eu vou levar ele primeiro no veterinário e depois... — Kouta já tinha ouvido o suficiente e foi embora.

“Eu preciso fazer meus pais acabarem com essa loucura!”, pensou Kouta.

Kouta chegou em casa. O pai já havia chegado do trabalho, enquanto a mãe estava vendo tevê.

— Cheguei.

— Bem vinda, filha. — disse Misao. Kouta estava muito incomodado com aquilo, mas não disse nenhuma palavra.

— Garotas, hoje vai ter uma chuva e tanto! — disse Koji. —É melhor ficarmos dentro de casa.

Kouta gruniu.

— O que foi, Kouko?

Kouta decidiu abrir o jogo.

— Por quanto tempo vocês vão continuar com essa farsa?

— Kouko, do que você está falando? — Misao olhou para o lado.

— Vocês sabem muito bem. A puberdade tá começando a agir em mim. Logo logo,todos vão saber quem eu sou de verdade!

— Kouko, — disse Koji — se está aborrecida sobre o fato dos seus seios estarem-

— NÃO FUJAM DO ASSUNTO!! — gritou Kouta, interrompendo a frase do pai. — Vocês... me amam mesmo?

— Que pergunta, é claro que nós te amamos, filha! — disseram os dois.

— Mentira. — Kouta estava claramente irritado.

— Como assim?! — disseram Misao e Koji.

— Vocês amam a Kouko. Não a mim. Se vocês realmente me amassem, não teriam feito eu ter que ser ela durante sete anos! — ele começou a aumentar o tom de sua voz— Ela morreu só pra vocês me darem o amor que eu tanto precisava!! Mas vocês são tão egoístas a ponto de fingir que era eu quem tinha morrido e que ela quem estava viva! Mesmo isso fosse o caso, vocês não dariam a mínima pra mim!!

— Kouko, deixe de falar besteira e vá agora pro seu quarto! — disse Misao, fingindo que não havia ouvido nada.

— NÃO! — respondeu rebeldemente Kouta.

— Você não me ouviu? VÁ AGORA!!

Kouta havia chegado no limite de sua raiva.

— PARE DE ME CHAMAR DE KOUKO!! Eu sou KOUTA! ELA MORREU, ACEITEM ISSO, SEUS IDIOTAS!!

— Kouko, respeite seus pais! Você vai ficar de castigo, mocinha! — disse Koji, que assim como Misao, havia ignorado completamente o que Kouta tinha a dizer.

— É isso? — Kouta baixou o tom. — Então vocês vão apenas fingir que não escutaram as coisas que eu acabei de falar e vão continuar vivendo nessa mentira? É isso? — Kouta decidiu tomar a decisão mais drástica que ele já tomaria em sua vida. — Podem continuar à vontade, mas eu não vou mais. Chega.

— Chega o quê? — perguntaram os dois.

— Se vocês não me amam por quem eu realmente sou, eu vou embora daqui. E eu nunca mais vou voltar! — Ele se aproxima da porta e coloca a mão na maçaneta. — Misao, Koji, até nunca mais. — Ele abre a porta e sai de casa.

Kouta não se importou com o fato de que estava chovendo e simplesmente começou a andar sem rumo.

— KOUKO!! — Ele ouve a voz dos pais, que saíram correndo atrás dele. Ele agora só tinha um objetivo em mente: Fugir daqueles pais terríveis.

Ele logo avistou um táxi estacionado na outra rua e rapidamente entra no veículo.

— Vá para o mais longe possível dessa cidade!! Vai logo, pisa fundo! — disse ele. O taxista apenas assentiu e foi embora. Os pais de Kouta não conseguiram alcançar o carro. Kouta viu, pelo vidro de trás do carro, seus pais. Pela última vez.

O táxi, depois de alguns minutos, saiu da cidade. Algumas horas depois, Kouta avista o que parecia ser uma longa e densa floresta. Ele mandou o taxista parar o carro.

— Eu desço aqui. Obrigado.

— E o dinheiro?

— Aqui. — Kouta tirou sua última mesada o bolso e deu ao taxista, que foi embora.

Kouta ficou vagando pela floresta, sendo molhado pela chuva que ainda caia, até o anoitecer. De repente, a chuva parou.

— Parece que a chuva parou. (Off: ME DESCULPEM POR ESSA AFIRMAÇÃO ÓBVIA)

Kouta viu as nuvens sumirem, para dar lugar a um lindo céu estrelado, com uma bela lua cheia, que iluminava a floresta. Kouta deitou-se no chão para admirar melhor a beleza do luar.

— A Lua... Ela se libertou das nuvens turbulentas que a impediam de brilhar... — disse ele. — É como eu.

Kouta estava agora a kilômetros distante de seus pais, e ele não podia estar mais alegre.

— Kou-chan... Estou feliz agora... Porque... Eu finalmente estou... — Kouta começou a chorar, mas essas lágrimas não eram de tristeza dessa vez. — Livre.

Ele se levantou do chão.

— Eu tô livre... Livre! — Kouta começou a correr e pela floresta. Ele nunca tinha sido tão feliz em toda a sua vida.— Eu estou livre!! Eles nunca mais vão me incomodar! EU ESTOU LIVRE!!! — O grito dele ecoou por toda a floresta.

No dia seguinte, Kouta acorda. Ele tinha dormido debaixo de uma árvore. Felizmente, nenhum animal selvagem havia atacado-o.

— Uah... — ele boceja. — Primeiro dia da nova vida, longe daqueles dois e do resto do mundo... — Ele tira tudo o que estava vestindo. — Bem, eu não preciso vestir mais aquelas roupas. Agora eu sou Kouta, o menino selvagem! — ele joga as roupas em um arbusto e começa a andar pela floresta.

Depois de algum tempo, Kouta estava com sede.

— Ai, onde é que tem água aqui?

Kouta continuou andando até que ele encontra um rio. Ele bebeu água e decidiu tomar um banho ali mesmo.

— Cara, ser livre é tão bom! — como não tinha nada para fazer, Kouta decide nadar rio abaixo.

Ele nadou por um tempo, até que sentir-se cansado.

— Nossa, eu não achei que isso fosse ser tão cansativo... É melhor eu sair daqui e ir descan- — Ele parou de falar quando avistou um grupo de lobos na margem esquerda do rio.

Kouta rapidamente se escondeu atrás de um pedregulho que estava no rio e não fez um movimento sequer, esperando os lobos saírem do local.

— Não sei se daria certo se eu virasse um cachorro... E a raça que eu viro nem é um Husky Siberiano. Puxa, se desse pra eu virar um lobo. — De repente, Kouta começou a adquirir orelhas de lobo, enquanto o corpo dele ficava peludo e uma cauda crescia. — Mas o quê?!

Ele estava virando um lobo. Quando Kouta finalmente havia se tornado um, ele não estava conseguindo nadar. Nadar como humano era diferente de nadar como um lobo.

— Socorro! Socorro! Eu não consigo nadar! Socorro!

A correnteza do rio estava levando ele, e Kouta estava afundando na água. Ele teria se afogado, se não fosse um dos lobos, que entrou na água, salvou ele e o trouxe a terra firme.

Kouta acordou de um breve desmaio, e a sua primeira visão era a de vários lobos cercando-o. Ele ficou assustado e se levantou.

“Calma Kouta, você é um deles agora. Aja naturalmente.”, pensou ele.

— Err, uhm... rawr?

— Mamãe, o que ele tá fazendo? — perguntou um filhote à mãe.

— Sei lá, acho que ele está tossindo. — respondeu a loba.

— Esse cara com certeza não é do nosso grupo! — disse outro lobo. — De onde ele veio?

Um grande lobo, com uma cicatriz perto do olho esquerdo, aproximou-se de Kouta. Ele parecia ser o líder da matilha.

— Qual o seu nome? De onde você veio?

— Meu... Nome... É-é... Kou... ta... — Kouta estava muito nervoso, talvez fosse por causa do olhar ameaçador do animal. — E e-eu...

— Chefe, acho que ele era de zoológico, vendo o quanto ele é manso... — disse um do lobos, que depois do líder, era o mais forte.

— Você era o único lobo de lá? — perguntou o lobo filhote.

Kouta viu aquilo como uma chance para contar a vida dele, mas de uma maneira diferente:

— É, eu era. Bem, antes, era eu e minha irmã. Os tratadores gostavam mais dela do que de mim. Eles sempre a mimavam, enquanto eu era deixado em segundo plano. Mas ela viu o quanto eu era solitário e se matou apenas para eu receber atenção. Mas eles não se conformaram com a morte dela e fingiam que eu era ela. Eu queria ser tratado bem por ser eu mesmo, mas eles não podiam me ouvir. Então, eu fugi do zoológico e vim viver na floresta. Pelo menos estou livre deles.

O chefe foi convencido pela história de Kouta.

— Bem, acho que você pode ficar conosco. Contanto que não desobedeça as minhas regras, certo?

— Sim senhor! — Kouta ficou tão animado que fez um gesto de saudação com a pata.

— Ei chefe, não se esqueça de ensinar pra esse cara o que é ser um lobo de verdade! — Um dos lobos começou a dar risada de Kouta. O garoto ficou envergonhado.

Kouta seguiu os lobos até uma caverna, no fundo da floresta.

— Ô cachorrinho, entre logo. — disse “Chefe”.

Assim que ele entrou no lugar, ele viu dezenas de lobos. Talvez aquele lugar fosse a “casa” de todos os lobos da floresta. Chefe apresentou Kouta aos outros lobos:

— Este é Kouta. Ele vai ser da nossa matilha a partr de agora. Peguem leve com ele, era de zoológico.

— Ô recruta, boa sorte! — disse o mesmo lobo que havia zombado de Kouta.

“Idiota...”, pensou Kouta.

Na hora de dormir, Kouta tentava achar um lugar para dormir. Ele parecia que tinha achado o lugar perfeito, até que um lobo correu e ocupou o lugar.

— Esse lugar é meu, novato.

— T-tudo bem, eu nem queria mesmo! — disse Kouta. Ele novamente foi procurar um lugar, mas assim que ele encontrou, outro lobo ocupou o lugar.

— Lugar vago!

A situação se repetiu:

— Bobeou, dançou!

E de novo:

— Saiu, perdeu, filhotinho!

E de novo...

Kouta já havia pedido todos os lugares possíveis. Ele finalmente encontrou um, na parte mais escura da caverna, atrás de duas grandes rochas. Dessa vez, ninguém iria pegar o lugar dele.

— Eles chamam isso de pegar leve?! Pelo menos sobrou esse... — ele deitou-se no chão.

“Boa noite, Kou-chan.”

No dia seguinte, Chefe estava à procura de Kouta. Ele ficou sabendo que ele estava dormindo atrás das rochas e foi até ele.

— Cachorrinho, acorde! Vamos caçar agora, vamos lá, acorde!

Chefe decidiu olhar por detrás das pedras, e não acreditava no que estava vendo.

— Ele é um garoto humano?!!

Kouta havia esquecido que ele não podia permanecer na forma animal por mais de 12 horas, mas ele não tinha percebido, já que estava dormindo. Outros lobos começaram a se aproximar dele, alguns com um olhar nada amigável.

— Uhm... — ele tinha acabado de acordar. — Por que... Vocês... Estão me olhando desse jeito?

Levou apenas alguns segundos para Kouta perceber que ele tinha voltado a ser humano. Ele começou a gritar e tentou se esconder dos lobos:

— POR FAVOR, NÃO ME DEVOREM! EU SOU MUITO NOVO PRA MORRER! SOCORRO!!

Chefe foi se aproximando do garoto, que estava se preparando para ser devorado pelos lobos, até que:

— Humano ou lobo, não importa. Se ele escolheu viver aqui, ele tem que saber como viver aqui. — disse Chefe.

Mas Kouta apenas ouvia grunhidos e não estava entendendo nada. Ele voltou à forma de lobo:

— Você pode repetir o que você falou? Eu acho que só consigo entender vocês nessa forma.

Assim, Kouta foi para a floresta junto com um grupo de lobos, incluindo Chefe. Ele estavam correndo muito rápido, subindo e descendo morros, às vezes pisando em galhos. Kouta estava ficando muito cansado, já que ele não estava acostumado a fazer esse tipo de coisa. Foi aí que as patas de lobo começaram a virar mãos e pernas humanas, e ele acabou tropeçando nelas e rolou ladeira abaixo. Quando ele finalmente parou, ele viu Chefe e os outros lobos com um olhar de desaprovação.

Em outro momento, eles estavam caçando um coelho. Um dos lobos pediu para Kouta, que estava logo na frente, pegar o coelho em fuga.

— Mas ele é só um coelho indefeso... — disse Kouta, com pena.

— Deixe de ser manso, seu porcaria! Ele é nossa comida! — Gritou o mesmo lobo,mas o coelho já havia saído do campo de visão dos lobos.

— Que legal, ele deixou nossa comida ir embora! Eu já devia saber que ele era um frouxo! — disse outro lobo. Kouta apenas saiu decepcionado.

Em um outro dia, Chefe tentou dar um teste para Kouta:

— Você só precisa atravessar esse rio, mas lembre-se, na forma de lobo!

— T-tá bom... Eu consigo! Naquele dia eu tinha sido pego de surpresa... Eu consigo... — disse Kouta, enquanto olhava nervosamente para o rio. Ele entrou na água, mas não demorou muito até que ele começasse a se afogar. Chefe teve que tirar o menino do rio.

— Obrigado por me salvar de novo, chefe! — Kouta voltou à forma humana. — Você é bem legal.

Chefe deu um grunhido de reprovação, deu meia volta e saiu.

— Tá, eu entendi. Eu fracassei de novo. — disse Kouta, decepcionado com si mesmo.

De noite, na caverna, Kouta estava tentando dormir, quando ouviu uma conversa entre dois lobos e Chefe:

— Aquele cara é uma total perda de tempo!

— Ele pode se transformar em lobo, mas nunca vai agir como um!

— Por mim eu já teria devorado ele! Chefe, enxote ele daqui! Esse cara é uma total perda de tempo!

— Isso mesmo! Ele é um humano! Nunca vai entender como é ser um lobo de verdade e viver na natureza, que nem nós!

Kouta já estava pensando em deixar o grupo no dia seguinte, até que Chefe começou a falar:

— Não tirem conclusões precipitadas. Eu sei que ele tem sido uma total desaprovação, mas ele tem potencial. Potencial que só pode ser despertado se ele deixar de lado os medos dele e liberar o instinto selvagem que ele tem dentro de si.

— Chefe, ele é um humano! Você está louco? Só animais conseguem ter isso!

— Não se esqueça de que os humanos também são animais. Eles só deixaram o instinto animal deles sumir porque eles não precisam mais dele. Mas se aquele garoto escolheu viver entre nós, ele vai precisar disso.

— Certo Chefe, mas é melhor que ele libere essa coisa logo, se não, ele vai ter muitos problemas. Vamos dormir agora!

Kouta ouviu tudo. “Instinto selvagem, hum...”

No dia seguinte, Kouta decidiu sair mais cedo da caverna.

— É melhor que eu treine sozinho.

Ele tentava aumentar sua velocidade e ficar menos exausto, mas não estava conseguindo, visto que ele estava voltando à forma humana. Mas antes que ele pudesse tropeçar de novo, Kouta fica de pé e corre como um humano normal, mas ele ainda precisava aperfeiçoar algumas coisas, para ele estar na mesma velocidade da forma animal.

Em outro dia, Kouta também acordou mais cedo. Ele pretendia fazer o mesmo que no dia anterior, mas assim que ele avistou um rio, ele lembrou-se de que ainda precisava saber como nadar na forma de lobo. Depois de um tempo, ele lembrou uma época em que os pais haviam matriculado-o em uma aula de natação, em que infelizmente os pais forçaram-no a vestir um maiô. A professora estava ensinando o nado cachorrinho, e Kouta pergunta a uma menina ao lado dele o porquê do nado ser chamado daquele jeito.

“Dã, porque é assim que os cachorros nadam, você é burra ou o quê?” , havia respondido a garota.

— Já sei! — concluiu Kouta. Ele transformou-se em lobo e entrou na água.

“Concentre-se nas patas, Kouta”, ele disse a si mesmo. Kouta fez o mesmo que ele havia aprendido na aula de natação, e mesmo com um pouco de dificuldade, ele conseguiu chegar até a outra margem. Ele chacoalhou o pelo para ficar seco, e logo depois, ele avistou um coelho, que não tinha visto Kouta.

“Pegar ele talvez não seja um problema, mas eu não quero comer ele...”, pensou Kouta. “Então, eu vou só trazer o coelho pra eles! Eles vão ver o quanto eu sou selvagem!”

Ele se aproximou do coelho. Kouta pretendia assustar o coelho com um olhar ameaçador, mas não foi muito bem isso o que aconteceu. A forma que o coelho olhou para Kouta depois que ele havia feito aquilo dava a entender que o animal estava rindo da cara dele. Rapidamente, o coelho escapou.

— E-eu... Falhei? — Kouta voltou à forma humana, de tão envergonhado que estava de si mesmo.

Ele decidiu sentar-se à beira do rio e olhou para o reflexo de si mesmo na água, algo que ele não via há muito tempo.

— Eu não estou mais usando aquelas roupas, mas eu ainda pareço a Kouko. — O fato de que ele também era o irmão gêmeo dela não ajudava. — Me faz lembrar... De como era a minha vida.

Kouta começou a se lembrar de coisas que ele achou que já tivesse esquecido. Como quando seus pais o forçavam a vestir coisas que ele não queria, faziam ele gostar apenas de coisas que ele não gostava. Kouta ainda se lembrava do momento em que sua mãe o vestiu com as roupas de sua irmã pela primeira vez. Ele insistia que era Kouta, mas os pais disseram que este tinha morrido. Eles nem ao menos fingiam estar arrasados com a suposta morte do filho. Kouta não aguentava relembrar o quanto sua vida era infeliz e restrita. Ele socou a água, onde seu rosto estava sendo refletido.

—EU NUNCA MAIS QUERO OLHAR PRA ESSE ROSTO DE NOVO! — gritou ele.

Kouta se levantou do chão da margem do rio.

— Eu não quero me lembrar desse passado onde felicidade era rara pra mim. Eu vou superar ele com a minha coragem! Eu vou aceitar cada desafio que vier pela frente, e nunca vou deixar que algo me abale de novo.

Então, ele estabeleceu o que ele queria de verdade:

— Eu vou mostrar... Quem eu realmente sou!

Alguns dias depois, Kouta tinha melhorado bastante suas habilidades com lobo. Quer dizer, quase todas. Ele ainda estava frustrado pelo fato de não conseguir por medo em bichos com um olhar amedrontador, coisa que até mesmo os lobos filhotes do bando conseguiam. De repente, Kouta ouve passos.

— Esse lugar é perfeito para nós acamparmos! — Era um grupo de quatro humanos. Pareciam ser dois casais amigos.

Kouta notou que estava em sua forma humana, e que eles com certeza não ficariam bem em ver um garoto nu no meio da floresta. Ele rapidamente se transforma em lobo e esconde-se atrás de uma moita. Mas mesmo assim, uma das garotas ouviu um barulho.

— O que foi? — perguntou o que parecia ser o namorado dela.

— Não é nada, achei ter ouvido algo. — respondeu ela.

—Tem certeza que é seguro acampar aqui? Ouvi dizer que tem lobos por aqui! — respondeu a outra menina.

— E daí? Se tiver lobos aqui, a viagem vai ficar muito mais interessante! — disse o namorado da moça. Ela ficou um pouco aborrecida com ele.

“Bem, acho que ficar um pouquinho, vai ser legal assistir eles!”, pensou Kouta, ainda escondido.

Ele ficou lá até de noite. Os campistas acabaram deixando as mochilas do lado de fora. Kouta aproveitou e decidiu dar uma espiadinha nas bolsas.

“Fala sério, que tipo de idiota deixa as mochilas do lado de fora?”, disse a si mesmo. Ele voltou à forma humana e começou a revirar as bolsas. Ele havia encontrado várias tralhas, como comida, itens de higiene pessoal, roupas e etc. Mas certo objeto chamou a atenção de Kouta.

Um lenço preto.

Ele decidiu cobrir parte de seu rosto com o pano, do nariz até o queixo.

—Legal! Eu pareço o Takashi do Maruto! — ele havia gostado muito daquela coisa. — Com essa coisa, eu só preciso fazer os meus olhos parecerem ameaçadores! Acho que eu vou ficar com isso. Eles não vão sentir falta disso aqui.

Kouta também havia visto uma tesoura na mochila. Ele vê que seu cabelo ainda estava muito grande, então, ele começa a cortar o cabelo com a tesoura. Devido ao fato de não ter um espelho ao seu alcance, ele não percebeu o qual mal ele havia cortado.

“Chega de cabelão!”, pensou ele. “Melhor eu ir embora, esse pessoal pode acordar a qualquer hora”.

Três anos depois, um jovem lobo estava sendo treinado por um mais velho.

— COMO ASSIM VOCÊ FICOU CANSADO?! Isso não é desculpa, você deixou o nosso lanche fugir! — gritava o veterano.

— Me desculpe... — dizia timidamente o lobo mais novo.

— Calminha aí com o recruta, sargento.

O jovem lobo encheu-se de esperança:

— Kouta!

Kouta estava bem maior e muito mais ágil como um lobo do que há três anos atrás. Ele parecia emanar coragem e confiança, algo que ele não costumava ter muito.

— Nem mesmo eu, um dos melhores caçadores da matilha, era o Sr.Perfeição. Eu levei bastante tempo pra ser o que sou agora. — Kouta se aproximou do jovem lobo, que estava muito empolgado em vê-lo. — Eu quero que você me siga agora, e observe o que você pode se capaz de fazer, se treinar muito. Para onde foi o esquilo?

— Ele foi pra direita.

— Então vamos lá.

Kouta saiu em direção ao roedor, e ele conseguia correr com muita agilidade. Ele não aparentava sinais de cansaço durante a perseguição ao esquilo foragido. O lobo recruta mal conseguia acompanhar os passos dele, mas ver Kouta correr daquele jeito o inspirou a não parar de jeito nenhum. Kouta achou o pequeno animal, mas andou cautelosamente para que ele não notasse sua presença. Então, ele o pegou de supresa, e só de olhar para os olhos de Kouta, o esquilo sentia como se toda sua energia vital fosse sugada. Assustado, o roedor correu até o topo de uma árvore. Ele achava que estava seguro, até Kouta transformar suas patas em braços e pernas humanos e escalar a árvore. Kouta pegou o esquilo, deixou-o inconsciente e jogou-o até o chão da planta, onde estava o jovem lobo. Este, por sua vez, estava totalmente impressionado com Kouta, ainda mais por esse conseguir escalar uma árvore, algo que um lobo normal nunca conseguiria.

— Você não vai comer ele? — disse o lobo a Kouta, que ainda estava no topo da árvore.

— Não, eu vou pegar umas maçãs aqui pra mim. Meus hábitos alimentares são um pouco diferentes.

Quando eram notes de lua cheia, Kouta sempre ia uivar sozinho. Não que ele odiasse a companhia dos outros lobos, que agora viam ele mais como um lobo do que como um jovem que podia se transformar em um. Ele só queria ter um tempo para ele.

Kouta estava indo em direção a um barranco, onde a vista da lua era mais privilegiada.

— Ah, ficar na forma de lobo às vezes é um pouco cansativo... — disse ele, enquanto voltava a ser humano. Ele estava bem mais alto, e tinha um porte atlético. O cabelo dele também havia crescido, mas não era tão longo quanto costumava ser antes do corte. Estava mais ou menos na altura do ombro.

Ele deitou-se no chão e começou a observar o céu estrelado e a lua cheia, que o lembrava do dia em que havia fugido de casa para a floresta, o dia em que ele havia conseguido sua liberdade.

— Já faz muito tempo que eu estou nessa floresta. Levei um tempo pra me acostumar a viver na natureza, longe de qualquer contato com a humanidade. Mas no final das contas, eu consegui. Mas mesmo assim... — ele suspira. — Eu sinto como se faltasse alguma coisa. Eu não entendo. Eu tô feliz aqui, mas eu não sei o que falta.

Ele começa a “falar” com a irmã, como se ela estivesse dentro dele, vendo e ouvindo tudo que ele fazia:

—Kou-chan, o que eu devo fazer?

...

— Fim da história! — disse Kouta.

Hikaru não conseguiu processar essa última frase:

— COMO ASSIM “FIM DA HISTÓRIA”? Como você veio parar aqui? Porque ainda não está na floresta? O que era essa coisa que faltava?! VAI LOGO, CONTA!

— Nem vem! Eu já contei demais para alguém que sequer viu o meu rosto!

Hikaru tentou usar a chantagem de fofura de novo, mas aquilo não funcionava duas vezes com Kouta. Hikaru ficou aborrecida, enquanto Karen apenas olhava a confusão. De repente, Yuichi e Michiru saíram do quarto e olharam para os três que estavam no pátio da divisão especial. Os dois estavam com uma cara terrível, cara de que ia machucar pessoas.

— Vocês conversando aí de boas, enquanto eu e a Michiru fazíamos todo o trabalho pesado. Que legal.

Hikaru, pressentindo que Yuichi e Michiru iam usar seus poderes para punir ela, Kouta e Karen, saiu correndo até o quarto das meninas.

— Ué, por que ela correu? Eu só estava um pouco bravo, não ia usar meus poderes nem nada... — disse Yuichi. — Então, sobre o que vocês estavam falando? — ele perguntou à Karen e Kouta, que saíram correndo até o corredor que levava à sala de aula, fingindo estarem assustados que nem Hikaru.

Kouta estava bravo com Karen:

— Nunca mais conte que você viu meu rosto! NÃO CONTE PRA NINGUÉM!

— Tá, tá bom, eu entendi. Eu prometo que não vou contar isso pra ninguém e que vou manter o resto da história a salvo da Hikaru. — disse Karen.

— Eu não sei se ainda consigo confiar em você...

— Deixe de besteira, você sabe que pode confiar em mim. —ela exibiu um leve sorriso.

Kouta olhou para Karen. Ele logo a puxa para um abraço do tipo bro e diz:

— Você tem razão! Eu vou confiar em você, mas não abra o bico!

Karen estava se sentindo um pouco incomodada com aquele abraço, já que não era muito chegada em contato físico.

— Eu só faço isso se você me soltar!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Próxima capítulo, é a vez de Michiru contar sua história!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A.S: Anormal Students" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.