A.S: Anormal Students escrita por PokéMermaid


Capítulo 7
A Titereira - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

História da Michiru!



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Já era de manhã. Michiru havia acabado de acordar. Ela percebe que Karen e Hikaru não estavam no quarto, então, ela supõe que elas tinham acordado mais cedo. Ela sai da cama e começa a se vestir para mais um dia. Michiru sai do quarto e vai até a pequena sala de estar da divisão especial, onde Kouta, Hikaru, Yuichi e Karen estavam. Eles liam alguns livros e estavam anotando algumas coisas no caderno.

— Oi pessoal! — cumprimenta Michiru. — Porque vocês acordaram tão cedo?

— Bem, é que a gente queria fazer uma última revisão antes da prova de hoje. — responde Hikaru.

As palavras “prova” e “hoje” atingiram Michiru como uma flecha.

— P-prova?!

— Sim, a prova de matemática. Você esqueceu? — pergunta Yuichi.

— É-é claro q-que não! — mente ela. — Como eu poderia me esquecer de uma coisa dessas...

— Eu não vi você estudando. — responde Karen, suspeitando de alguma coisa.

— Bem, é que eu... Estudo no banheiro! Minha mente funciona melhor lá... — ela continuou mentindo.

Karen apenas deu um olhar de indiferença e voltou a estudar.

— Eu posso revisar um pouquinho com vocês? — perguntou Michiru, que procurava desesperadamente uma maneira de não zerar a prova.

— Olha, eu não sei se vai dar certo, você é de uma série diferente da nossa, e a gente não quer desviar muito do nosso conteúdo... — disse Kouta.

Yuichi, por outro lado, reage diferente:

— Bem, se é isso que você que, eu posso revisar com você! Já sei todo o conteúdo da minha prova, não custa nada te ajudar com o seu!

— Sério?! Obrigada Yuichi! — ela ficou muito alegre com a notícia.

— Pra alguém meio cabeça de vento, é meio estranho saber que ele tira boas notas. — disse Hikaru.

— É realmente estranho. Mas vamos deixar isso pra lá, essas funções não vão se resolver sozinhas, Hikaru. — Karen podia ser indiferente a várias coisas, mas as notas de seus amigos não eram uma delas.

— Bem Michiru, vamos começar com... — antes que Yuichi pudesse terminar a frase, o sinal que indicava que todos deveriam ir para a sala de aula bateu.

Michiru ficou internamente desesperada. Assim que entrou na sala, ela não conseguia olhar pra nada além da carteira em que ela estava sentada. Hikaru perguntava onde estava o cara que iria aplicar as provas, Yuichi tirava um cochilo fora de hora, e Karen e Kouta apenas estavam sentados esperando. De repente, a luz se apaga, e a sala toda estava escura.

— Apagão? — perguntou Hikaru.

— Ele tá vindo. — disse Karen, e logo depois, a luz volta ao normal.

“Droga, o cara chegou...”, pensou Michiru, que agora estava mais nervosa do que antes. Um rapaz meio gordo, com cabelo um pouco espetado, e com o uniforme do Colégio Kenzaki, estava na frente dos estudantes da Divisão Especial. Ele estava tão nervoso quanto Michiru, mas os motivos dele eram outros.

Hikaru o reconheceu:

— Ei, é o Chihara! Ele é da minha antiga classe! — Hikaru começou a acenar para ele. — Chihara! Sou eu, a Hikaru! Oi!

Chihara correu assustado para o cantinho da sala.

“Mas o que foi que eu fiz?”, perguntou Hikaru a si mesma. Ele pega as provas e as passa de carteira em carteira, ainda com medo de que alguém fizesse alguma coisa com ele. Quando a prova finalmente chega à mesa de Michiru, ela olhou a prova. Leu a prova várias vezes, mas não entendia nada. A única coisa que ela conseguia fazer era ficar encarando a prova, esperando alguma resposta vir em sua mente. O tempo passava, e três já haviam terminado a prova. Michiru não havia feito nada. Estava nervosa demais pra resolver aquelas questões. O tempo de prova já estava quase no fim, e assim que Hikaru terminou a prova, o nervosismo de Michiru chegou ao máximo. Se ela não terminasse a prova, ela iria levar bomba.

“Eu estou sem tempo agora... Eu não tenho escolha.”, ela fechou os olhos, e quando abriu, eles ficaram intensamente amarelos e ameaçadores. Michiru levantou-se da cadeira e foi em direção à Chihara.

— V-você já terminou a prova?

Michiru, usando sua telecinese, rapidamente tirou os pés de Chihara do chão e ordenou agressivamente a ele:

— Me dê o gabarito da prova!!

— Me desculpe, eu não posso, é contra as regras! Me tire daqui por favor! — ele implorava a Michiru que o botasse no chão de novo.

— Michiru, que você está fazendo?! — Hikaru estava saindo da sala quando a situação começou.

— Me dê o gabarito, senão, você vai bater de cara com a parede! Vai logo! — ameçava a menina.

— Eu não posso fazer isso! Me deixe em paz, por favor! — suplicava o pobre estudante.

— ME PASSA ESSA COISA LOGO!! — gritou Michiru.

— Não está aqui comigo! Só os professores têm acesso a eles! — diz o rapaz.

— Ah, QUE DROGA! — Michiru ficou tão frustrada e com tanta raiva que acaba sem querer movendo Chihara, que bateu de cara com a parede e caiu no chão, inconsciente.

— Michiru, não! — as palavras de Hikaru fazem Michiru tomar consciência do que havia feito.

— Oh não... — A pequena aura telecinética das mãos dela desaparece, e os olhos dela voltam ao normal. — Eu não acredito que fiz isso de novo...

Michiru sai da sala aos prantos, muito arrependida do que tinha feito com aquele pobre estudante. Hikaru, logo em seguida, vai atrás dela.

— Pra onde a Michiru foi? — pergunta Hikaru à Karen.

— Ela foi pro quarto. Por que ela saiu chorando? — disse Karen.

— É uma longa história, te explico depois. Preciso falar com ela.

Hikaru abre a porta do quarto, e vê Michiru sentada no cantinho, triste. O cabelo dela estava todo desarrumado e estava escondendo o rosto com os braços. Hikaru vai até ela e pergunta:

— O que foi Michiru? Estou preocupada com você...

— Se afaste de mim, Hikaru! — ordenou Michiru, ainda com tristeza em sua voz.

— Mas Michiru, por que eu...

—EU NÃO QUERO QUE VOCÊ VIRE MINHA MARIONETE! — ela revela o rosto, avermelhado, com olhos marejados. Ela continuou a chorar.

Hikaru ficou apenas olhando a menina, sem poder fazer nada. Michiru continuou a falar:

— Eu sabia que não ficaria muito tempo sem controlar alguém. Todo mundo ao meu redor está destinado a virar um fantoche, algo sem vontade própria. Hikaru, eu já fiz coisas piores do que a que eu fiz com aquele cara.

— Não exagere, não pode ter sido tão ruim...

Michiru enxuga as lágrimas.

— Eu vou te contar. Vou te contar várias coisas sobre mim. Você vai ver como eu sou uma pessoa horrível.

— Você tem certeza disso?

— Sim. Bem, vou começar agora. Meus pais são donos da corporação Kamio.

— Corporação Kamio? Não é aquela empresa multinacional bem famosa e bem sucedida?

— Isso mesmo. Eu sou a segunda filha dos donos. A minha irmã mais velha, Miyuki, era a antiga presidente do conselho estudantil do Colégio Kenzaki e planeja ser a da nova escola dela também. Ela é tudo que eu sempre quis ser: popular, inteligente, atlética e cheia de amigos. Além disso, quando ela se formar na faculdade, ela vai ser a nova presidente da Corporação Kamio. Já a minha irmã mais nova, Momoko, é mimada pelos meus pais e outras pessoas. Ela sempre ganha o que quer, principalmente doces e brinquedos. Às vezes algumas pessoas acham que ela é mais velha que eu só porque é mais alta. Mas eu sou só a filha do meio. Eu não recebo altas expectativas nem qualquer coisa que eu quiser. Eu sinto como se eu não tivesse importância. Não é que meus pais não gostem de mim, eles amam eu e minhas irmãs igualmente. Mas me sinto tão insignificante com relação a elas. Eu odeio ser filha do meio. Mas não é apenas isso. Elas sempre tiveram uma vida feliz, cheias de amigos... Enquanto eu...

...

Michiru, com quase sete anos, estava andando pelos corredores da escola, em seu primeiro dia de aula no primário.

— Ei, olha só! — disse alguém atrás dela. Eram duas meninas, que tinham a mesma idade de Michiru. Mas eram mais altas que ela, que tinha a altura média de uma criança de cinco anos. Michiru vira para trás. — É a nerd!

— Como você foi pro primeiro ano com essa idade? — perguntou sarcasticamente a outra menina.

— Eu vou fazer sete anos! É a mesma idade que vocês... Eu não pulei de ano. — Michiru respondeu timidamente.

— Ah tá, então ela é anã mesmo, Rina. — disse Kaede a sua amiga Rina, e as duas começaram a debochar de Michiru.

— Mas eu não sou anã!

— Sério? Não é o que sua altura diz, sua baixinha! — disse Rina. Michiru queria sair dali, mas outra menina havia chegado.

— Oi meninas! — disse Suzuka, falando com Kaede e Rina. Ela ignorava completamente Michiru. Ela olha para Michiru. — Oh desculpa, eu não te vi...

Michiru deu um leve sorriso para a menina, antes de esta completar a frase:

— Você é tão pequena, quase não dá pra te ver! — ela começou a rir de Michiru junto com as amigas.

Michiru começou a chorar, magoada.

— Own, a nenê vai chorar? — disse Kaede, enquanto continuava a rir junto com Rina e Suzuka.

— V-vocês são horríveis! Eu odeio vocês três!

As meninas empurram Michiru no chão e vão embora. Michiru queria apenas que seu primeiro dia de aula fosse legal, mas acabou por ser um dos piores da vida dela. Quando chegou o final da aula, a limusine da família estava esperando Michiru e sua irmã Miyuki, que estava no quarto ano. Miyuki percebeu que a irmã estava com uma expressão diferente da de manhã cedo. Ela pergunta a Michiru se ela estava bem, mas Michiru apenas assentiu. Quando chegou em casa, Michiru ficou pensando nas palavras que aquelas garotas haviam dito a ela. Ela tenta relaxar um pouco, dizendo a si mesma que aquilo só aconteceria uma vez. Elas talvez não fossem incomodar ela de novo.

Mas ao decorrer do ano, elas continuaram incomodando Michiru. Ela não conseguia se defender sozinha daquelas garotas, e não tinha coragem pra falar com alguém sobre aquilo. Um ano se passou desde o primeiro deboche. Só que agora, era mais do que um simples deboche ou empurrão.

— Oi nanica! — disse Kaede. — O que é isso aqui? — ela puxa o lanche que Michiru estava segurando.

— Meu lanche! Devolve! — Michiru estava prestes a choramingar.

— Eu esqueci o meu lanche, então eu vou ficar com o seu!

— Não se preocupe, duende, você ainda pode comer as frutinhas da floresta! — disse Rina.

Ela, Kaede e Suzuka saíram rindo, fazendo Michiru ficar sem ter o que comer durante o recreio.

Um garoto passou por perto e viu Michiru andando pelo corredor, sozinha e triste, mas ele a ignorou e continuou andando.

Michiru sempre voltava triste da escola. Miyuki queria saber o porquê disso, mas Michiru se recusava a dizer, alegando que estava tudo bem.

No dia seguinte, lá estavam Kaede, Rina e Suzuka, incomodando Michiru de novo. — Olha só, é um coelho de pelúcia! Ela leva isso pra escola! — Suzuka havia encontrado um coelho de pelúcia na mochila de Michiru, que havia colocado o brinquedo por engano na bolsa.

Rina fez uma sugestão:

— Vamos fazer um favor pra nanica e jogar esse troço de nenê fora!

— Isso mesmo! — disseram Kaede e Suzuka.

As três saíram correndo para o lado de fora. Michiru tentou seguir elas, mas tropeçou no chão e caiu. Ela começou a chorar, mas não porque tinha caído. Aquelas garotas haviam pegado uma coisa muito valiosa para ela.

...

— Minha caixa chegou! — disse Momoko, a irmã mais nova de Michiru, que havia acabado de receber uma encomenda.

Momoko abriu a caixa, mas percebeu algo estranho. Ela chama por Michiru:

— Michiru-nee, vem aqui!

— O que foi, Momoko?

Momoko tira da caixa um coelho de pelúcia e dá para a irmã.

— Eu deixo você ficar com esse coelhinho! Tinha dois na caixa, mas eu só quero um.

Michiru adorou aquele presente. Ela amava coelhos, e o fato de Momoko ter dado aquele coelho de pelúcia para ela ao invés de Miyuki a deixou ainda mais feliz.

— Obrigada Momo-chan! — ela abraçou alegremente a irmã mais nova, que se sentia só um pouco incomodada com aquele abraço apertado.

...

As meninas tinham rasgado o coelho de Michiru e o afundaram várias vezes na lama. Elas foram embora quando começou a chover, e deixaram o coelho ali mesmo no chão molhado e lamacento.

Alguém pega o coelho.

No dia seguinte, Michiru estava sentada sozinha no recreio, em um banco no lado de fora da escola. Ela era muito tímida pra falar com as outras crianças, e o fato de que às vezes Kaede, Rina e Suzuka espalhavam boatos sobre ela não ajudava.

De repente, ela sente que alguém se aproximava dela. Ela entrou em pânico, pois ela tinha certeza de que eram as meninas que sempre a importunavam. Ela levantou-se rapidamente do Baco e tentou fugir, mas acabou caindo de joelhos no chão.

Michiru ficou desesperada. Ela sentia que elas já estavam atrás dela.

— Por favor, parem com isso!! Eu não aguento mais!! — ela implorou por piedade.

— Calma.

Michiru notou que não era a voz de nenhuma delas. Era uma voz tranquila e relaxada. Ela olhou para trás e viu alguém completamente diferente.

— Eu só vim devolver isso pra você.

Era um menino de cabelos verdes e bagunçados, quase cinzentos e ao mesmo tempo quase castanhos. Ele tinha uma pele bem clara, possuía sonolentos olhos verde-água e aparentava ser uma pessoa calma. Ele segurava o coelho de pelúcia de Michiru, que estava novinho em folha. Ela gentilmente pegou o coelho.

— Mas como é que você...

— Aquelas meninas estavam rasgando e sujando ele. Elas o deixaram no chão e saíra assim que começou a chover. Eu peguei e consertei. — para alguém de oito anos, ele parecia ser bem inteligente.

— Como você sabia que era meu?

— Eu vi elas correndo com o coelho no corredor e vi você chorando na direção oposta. Foi fácil deduzi que era seu.

— É... O que é “deduzir”? — Michiru não tinha um vocabulário tão extenso assim.

— Esquece. — o garoto percebe a ignorância de Michiru.

— Tá... É... Obrigada. — ela tinha um pouco de dificuldade para falar, mas ela tinha que se apresentar. — Meu nome é... Michiru Kamio, e você é...?

— Ryou Tsukiyomi. — ele vira de costas e começa a andar. — Bem, eu vou indo agora.

— Espera! — disse Michiru. Ryou para de andar e vira a cabeça para ver o que ela tinha a dizer. — Você... Quer brincar comigo?

O menino ficou encarando-a por alguns segundos, sem dizer uma palavra sequer. Michiru achou que o garoto não iria querer brincar com uma menina tão sem graça como ela:

— Esquece! Eu sabia que era uma pergunta idio-

— Não, não é isso! — ele começou a balançar as mãos em sentido de negação e depois coçou um pouco o cabelo. — É que... Ninguém nunca me chamou pra brincar antes...

A expressão triste de Michiru, após essa frase, tornou-se um raio de alegria.

— Então vamos! Vai ser muito divertido!

Ela pega a mão de Ryou e o leva para um lugar perto de uma árvore, onde eles podiam brincar mais à vontade.

Na saída da escola, Miyuki notou que a irmã estava diferente. Ela não estava mais triste e calada, ela estava sorridente e não parava de falar sobre várias coisas. Michiru mal podia esperar pelo dia seguinte.

Michiru andava tranquilamente pelo corredor, indo até a sala de Ryou.

— Oi nanica. — Suzuka, Kaede e Rina tinham surpreendido Michiru, que já começou a se tremer.

— Ela não tá com nenhum lanche ou brinquedo, o que a gente vai pegar dela? — perguntou Kaede às amigas.

Rina olhou para os sapatos de Michiru:

— Que tal esses sapatos? — ela sugeriu.

— Ótima idéia! — disse Suzuka, que já estava prestes a pegar os sapatos de Michiru. — Ela não vai sentir falta, a família dela pode comprar um monte desses da-

— Ei, ninguém ensinou a vocês que é feio roubar? — Ryou surpreendeu Michiru e as três garotas. — Se vocês continuarem com isso, eu vou chamar a professora e dizer o que vocês já fizeram com ela. Vocês não querem isso né? Então saiam daqui.

As meninas eram teimosas, mas acabaram indo embora, temendo o pior.

— Obrigada Ryou! — agradeceu Michiru. — Você é mesmo muito le-

— Você sabe que poderia contar o que elas faziam com você pra alguém, por que você não fez isso? — ele interrogou Michiru.

— Bem, é que... Eu fiquei com medo delas se vingarem de mim... Desculpa...

— Sabe, às vezes, você precisa enfrentar seus medos, porque se você deixar que eles te dominem, você nunca vai conseguir ser feliz.

— É... O quê? — Michiru não tinha entendido muito bem.

— Ah, esquece!

Então, Michiru e Ryou viraram amigos. Ele era o primeiro amigo dela, então, ela passava bastante tempo com ele. Um dia, Michiru chamou Ryou para ir na casa dela:

— Essa é sua casa, né? É bem grande.

— Então, você vai adorar o lugar que eu vou te mostrar!

Michiru levou Ryou até uma porta. Michiru pediu que ele fechasse os olhos. Ela o guiou até a parte de dentro do lugar.

— Pode abrir os olhos agora!

Quando abriu os olhos, Ryou percebeu que estava em uma sala enorme, onde havia um enorme playground, várias estantes cheias de brinquedos, uma piscina de bolinhas gigante, uma cama elástica, uma TV tela plana de 70 polegadas, vários consoles, um armário cheio de jogos, uma pista de mini kart e até mesmo uma pequena roda gigante. Aquele lugar era o sonho de qualquer criança, ou de qualquer pessoa com alma de uma. Ryou ficou de boca aberta diante daquele lugar.

— Essa é a Sala de Diversão! — disse Michiru — Bem, metade desses brinquedos é da Momoko, mas ela sabe dividir!

Foi um longo dia de brincadeiras para os dois amigos. Momoko chegou a ir brincar com eles, mas foi apenas por uma hora, pois o anime favorito dela, Magical Kanata, tinha começado. Michiru também queria ter ido assistir, mas ela preferiu continuar na Sala de Diversão com Ryou. Ao final no dia, os dois já estavam exautos.

— Foi muito legal! — disse Michiru.

— É, foi mesmo. — disse Ryou.

— Eu sempre brinquei lá com as minhas irmãs ou sozinha... Mas brincar lá sozinha não é tão divertido... Papai e mamãe disseram que eu podia trazer amigos, mas eu não conseguia falar direito com alguém. Ainda bem que somos amigos agora, Ryou!

Ryou apenas concordou com ela. Fazia parte do jeito dele não expressar muito o que ele sentia.

— Bem, acho que eu já vou pra casa. — disse ele, enquanto abria as portas da mansão.

— Você não quer que meu motorista te leve? — perguntou Michiru.

— Não precisa, minha casa não é muito longe daqui. Uhm... Thau. — respondeu ele.

Michiru ficou calada por alguns segundos, pensando se o que ela iria falar seria importante. Mas ela acabou dizendo, de qualquer jeito:

— Até mais, Ryou! — disse ela, com um sorriso no rosto.

Os anos se passaram, e os dois eram melhores amigos. Michiru crescia, mas ainda continuava muito baixa em comparação com outras crianças da idade dela. Ela com o tempo ficou mais tagarela e animada, já que se dependesse de Ryou, as conversas deles iam ser um tédio total. Para ela, agora não era não difícil falar com as pessoas, mas ela não tinha muito interesse em ter outros amigos além de Ryou. Apenas ele estava ok.

Ryou ainda continuava o mesmo: Muito inteligente pra idade, cabelo meio grande e bagunçado, calmo, olhos sonolentos, ar misterioso e às vezes meio caladão. Eles eram muito diferentes, mas é como se essas diferenças os aproximassem cada vez mais.

Mas no último dia de aula da sexta série:

— A partir do próximo ano, vamos estar no Ginásio! — ela dizia animadamente, enquanto saía da escola com o melhor amigo — VAI SER MUITO LEGAL!

— Michiru... Eu quero te contar uma coisa... — ele tentava falar com a garota, mas ela estava tão excitada com os próprios pensamentos que não ouviu.

— Quem sabe não acontece um surto de crescimento comigo nessas férias? Seria muito daora! Já tô cansada de ser confundida com alguém do 3º ano...

— É, Michiru... — ele insistia, mas ela ainda não ouvia.

— Parece que quase todos da nossa classe vão pro Colégio Kenzaki. A minha irmã Miyuki foi pra lá também, então eu acho que eu vou pra lá mesmo... É claro que você vai pra lá também, é uma boa escola pelo que eu vi...

— Ô Michiru... — a paciência de Ryou estava acabando.

— E se lá eles souberem que sou irmã da Miyuki Kamio, a grande e respeitável ex-presidente do conselho estudantil? Ai, posso até ver eles me chamando de Senhorita Michi-

— MICHIRU!! — gritou Ryou, já que essa era a única maneira de Michiru o escutar.

— O que foi Ryou? — ela finalmente escutou.

Ryou parecia triste, o que era estranho, já que normalmente ele não costumava demonstrar muito suas emoções. Isso fez Michiru ficar um pouco preocupada.

— Vai logo! Você tá me deixando impaciente!

— Eu... Eu... — ele suspirou — Vou ir para outra escola.

Michiru ficou paralizada diante daquelas palavras. Ela teria que ficar sozinha e sem o melhor amigo no Colégio Kenzaki? Michiru tentou se acalmar e perguntou a ele:

— M-mas nós ainda vamos nos ver, certo? A gente pode se encontrar depois da escola, nos fins de semana e...

— Michiru, é um colégio interno!

— Não... Tá de brincadeira, né?! — ela começou a ceder. Michiru achava que não tinha como a situação piorar.

— E eu vou ter que viajar durante as férias, então, acho que não vamos nos ver durante um bom tempo... — ele estava um pouco decepcionado.

Michiru ficou desesperada. Ela não sabia lidar com essa situação.

—Que escola é essa, Ryou? Vai, me diga!

— Eu... Não posso dizer.

— COMO ASSIM NÃO PODE DIZER?! O que tem de errado em querer entrar na sua nova escola?

— I-isso não é da sua conta, Michiru!

— NÃO É DA MINHA CONTA?! — ela gritou com Ryou. — Você tá pouco se lixando pro fato de que vou ficar sozinha de novo! Você tem ideia de o quão eu odiava a minha vida antes de você ser meu amigo? Se não fosse por você, eu ainda seria aquela menininha frágil e solitária que ninguém gostava!

— Michiru, já está na hora de você desgrudar de mim e seguir a sua vida! Você não é mais aquela garotinha! Você vai conseguir novos amigos lá, do jeito que você é tagarela. Você provavelmente já deve ter cogitado a possibilidade nós irmos para escolas diferentes, mas pra você era algo tão horrível que nem decidiu seguir adiante com esse pensamento!

— Lá vem você com essas coisas de nerd! Por que não cala a boca e só me diz o nome dessa escola idiota!

— Não posso dizer!

— Me diz logo o nome da escola!

— EU JÁ DISSE QUE NÃO POSSO DIZER! — Ryou nunca havia gritado com ninguém antes. Era como se aquilo fosse o ponto final daquela conversa.

— Eu... Eu vou embora! — Michiru saiu correndo e chorando dali.

Ryou olhou para trás. Ele se sentiu culpado por ter gritado com Michiru e queria pedir desculpas pela grosseria, mas talvez Michiru sequer quisesse olhar para a cara dela de novo. Então, ele sussurrou baixinho:

— Me desculpe, Michiru. Mas eu realmente não podia te dizer nada.

Assim que a limusine chegou, Momoko chamou a irmã. Michiru entrou no carro junto com ela, mas Momoko e Miyuki (que já estava dentro do carro antes delas) notaram que a irmã estava calada, e parecia triste.

— Miyu-nee, o que ouve com ela?

— Eu não sei. Faz anos que não vejo a Michiru chegar da escola assim. O que será que aconteceu?

Ao chegar em casa, Michiru foi direto pro quarto e deitou-se na cama. Ela pegou um bicho de pelúcia e começou a olhar melancolicamente para ele. Era o coelho que Momoko tinha dado a ela, que havia sido tomado dela, mas havia sido recuperado e consertado por Ryou. Aquele coelho de pelúcia era um objeto valioso para Michiru. Significava dois momentos nos quais ela dava muito valor, mesmo que pareça que Momoko e Ryou não sintam o mesmo em relação a eles.

E ela não conseguia parar de lembrar um desses momentos.


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Notas finais do capítulo

Espero que eu tenha destruído bem seus feels!



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