7 Heranças escrita por Pedro_Almada


Capítulo 5
A História - Novas Presas, Velhos Caçadores




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A História - Novas Presas, Velhos Caçadores

 

            Roma. Uma nação que daria início à culturas, costumes e toda a sorte de pensamentos revolucionários. Mas também um cesto de mitos, lendas encantadoras ou perversas. Assim foi a fundação de Roma, em 750 a.C. Ainda hoje suas ruínas transpiram a história milenar e atrativa, que ainda esconde muitos segredos. Segredos que jamais deveriam ser revelados.

            Toda a história da humanidade tem o seu início, chega ao seu ápice e, então, a sua resolução. Com aquela cidade não poderia ser diferente. Não exatamente, na verdade. Diferente ela sempre foi. Até demais. Seus mistérios ainda rondam as redondezas, e o seu passado é tão sólido quanto o futuro. Eles ainda estão ali, os homens que escreveram as histórias. Suas mentes e essências ainda estavam cravadas no coração da cidade.

 

            Roma fora construída sobre sete colinas, conhecidas por: Monte Aventino; Monte Capitolino; Monte Célio; Monte Esquilino; Monte Quirinal; Monte Viminal; e Monte Palatino.

            Mas, antes mesmo a própria Roma, um vasto vilarejo ocupava a região, subdivido em sete feudos com o nome de seus respectivos montes. Cada pequeno império era regido por uma força, um ser poderoso que mantinha a ordem, deixando todos sujeitos aos seus julgamentos.

            Em cada um dos vilarejos, imperadores poderosos, desumanos. De fato, não eram humanos.

            As famílias mais influentes e poderosas compunham esse forte esquema de supremo poder, mantendo a ordem segundo suas vontades. Cada família formava um clã. Aqueles com o mesmo Pater gentis, mesmo antepassado de destaque, formava o chamado Gen, grupo de famílias cujo passado fosse ligado pelo mesmo sangue inicial. Os membros de cada família eram classificados segundo sua proximidade com o Pater Gentis.

Os Eupátridas eram considerados os “bem-nascidos”, eram os mais próximos do Pater, cuja linhagem era a mais “pura”. Estes eram agraciados com as melhores posses quando atingiam a maioridade.

Os GeorGois eram os artesãos e agricultores, trabalhadores aptos a uma vida digna, mas com distante parentesco com o Pater. Não possuíam os mesmos privilégios, mas eram respeitados por possuírem no sangue o “resquício de Pater”.

Por último e, de fato, menos importantes, os Thethais. Eram marginalizados, excluídos da vida pública tradicional. Era a pior classificação a ser taxado.

Mas tudo isso era uma fachada, um meio de esconder o verdadeiro mistério por trás de tanta burocracia. Um mundo que os olhos de pessoas sem importância não poderiam compreender. Um mundo onde a mente mais aberta e limpa poderia se perder facilmente.

 

Cada feudo era representado por uma Liga secreta. Sendo assim, existiam sete ligas secretas antes da formação de Roma, formada pelas famílias mais importantes. Elas tinham o dever de manter o mundo seguro de sete feras aprisionadas no interior das colinas, acorrentadas e firmemente presas ao núcleo da terra, onde havia força e resistência o suficiente para manter as sete monstruosidades longe do mundo. A nação estaria a salvo enquanto as sete ligas fizessem seu trabalho.

Os membros das ligas tinham dons especiais, habilidades nenhum pouco humanas, capazes de conter as forças que caminhavam pelas sombras, assombrando vidas e devorando-as.

Durante o processo de formação de Roma, as Sete Ligas se reuniram para discutir o crescimento da região. A formação de uma cidade, a união dos feudos, significaria problemas, isso só tornaria a tarefa das Ligas ainda mais árdua.

Como se não bastasse, o pior aconteceu.

Kawnitcha d’Angoulême. A condessa do Palatino. Era considerada membro insubstituível no meio em que vivia. Seu conhecimento sobre as antigas ruínas escondidas, e sua magia peculiar assombrava e fascinava a todos. As duas famílias, Angoulême e Wolfgang, eram as mais respeitadas. Dessa forma, as palavras dos líderes de ambas as famílias eram tidas como lei.

Mas as palavras da Condessa foram palavras de morte. Condenou a todos o dia em que decidiu agir por si só.

Kawnitcha conhecia todas as antigas línguas, e seu passatempo era traduzir os livros deixados pelos antepassados. Em uma de suas pesquisas sem motivo aparente, acabou por encontrar a chave que abriria uma porta sem precedentes. Um evento que o mundo não conhecia.

Ela passou a visitar todos os feudos, oferecendo ajuda com as traduções. Mas o que ela sabia era algo ainda maior.

Kawnitcha, ainda com seus poucos dezenove anos, obteve um livro que todos consideravam ser inútil. Um antigo conto de fadas sobre um dragão que se apaixonara perdidamente por uma humana. Mas havia algo errado, a história não tinha um fim.

A curiosidade da Condessa foi despertada. Ela compreendeu, nas entrelinhas, que havia um talismã forjado pelo fogo do próprio dragão, e agora o mesmo estava escondido com o animal, nas profundezas da montanha.

Suas viagens se tornaram freqüentes a partir daí. Se existe um talismã do dragão, poderiam existir outros, pensou ela. Reuniu uma pequena tropa de seus leais seguidores, incluindo um jovem que a amava perdidademente, Armand Byron.

Ele possuía o mesmo talento misterioso de Kawnitcha. O dom, se é que assim poderia ser chamado, da morte. Os lábios do jovem Armand guardavam o “último suspiro”. Kawnitcha, no entanto, jamais revelara a forma de seu poder. Gostava do elemento surpresa.

Ambos se dirigiram ao condado mais próximo, no monte Celio. Suas especulações sobre histórias de contos de fadas jamais levantariam suspeitas, e isso a dava uma vantagem a mais.

Após quase dez anos de viagem, os documentos reunidos por Kawnitcha eram o suficientes para descobrir a verdade. Acabara de descobrir a fonte de um poder que nenhum outro homem poderia ter imaginado. Nesse momento, a Condessa já estava tomada pelo seu desejo de obter poder, e ela sabia, nem mesmo a morte estava apta a detê-la.

 

Cada uma das colinas guardava uma diferente criatura, um ser desumano com ambições, sentimentos e um ressentimento muito grande. Banidos do próprio mundo pelos humanos, tudo o que as sete feras queriam era reaver o sol mais uma vez, tocar na terra onde, um dia, viveram pacificamente.

Mas os homens haviam lacrado uma verdadeira caixa de pandora. E Kawnitcha estava prestes a abri-la.

Cada criatura guardava um antigo talismã, fonte de seu equilíbrio virtuoso. Haviam sete talismãs, e todos estavam desaparecidos.

 

Era o último dia de inverno. Condessa d’Angoulême tomara uma decisão. Faria uma visita ao seu confinado, o dragão.

Kawnitcha usou de sua influência para passar pelos soldados, caminhou até o fim do palácio, descendo as masmorras e chegando a um porão, uma espécie de cripta escura. Suas paredes cheias de tijolos, covas e ornamentos de pequenas gárgulas compunham o ambiente fúnebre. Mas d’Angoulême não parecia se incomodar com nada disso. Estava acostumada com esse mundo. Desceu por uma das covas, onde havia uma escada secreta. Lá, consumou o seu objetivo.

 

Os murmúrios correram por toda a região, como uma erva daninha. “Condessa de Palatino, irmã de Veronique d’Angoulême, Condessa de Capitólio, fora visitar o dragão”. Era um crime hediondo, tanto quanto matar ou torturar. Colocar em risco a segurança da prisão da fera destrutiva era desrespeitar toda uma nação. Kawnitcha o havia feito. Mas com um objetivo.

Descobrira como e onde encontrar os talismãs. Sua caçada iria começar.

 

A notícia se espalhou e o temor que os líderes tinham se tornou real. Alguém havia descoberto o quão poderoso poderiam ser os quatro talismãs reunidos. E, agora, cabia às Sete Ligas impedir essa rebelião.

 

O mistério dos Sete Talismãs

 

Cada Colina, unidades de Roma, possuíam um determinado talismã. Uma espécie de medalhão concedida à pessoa mais qualificada a obtê-lo, segundo sua virtude. Os sete artefatos não estavam escondidos com tesouros perdidos, ou no fundo de oceanos. Estavam perambulando pelas ruas, dentro de seus herdeiros, literalmente, sem que eles mesmos soubessem. 

O talismã do Dragão simbolizava a coragem, o seu fogo era a marca da determinação e espírito destemido. O homem cujo coração fosse o mais corajoso, seria digno da herança do dragão, e seu coração passaria a ser abrigo para o talismã.

O talismã da Esfinge simbolizava a inteligência, o brilhantismo e o conhecimento. A mente com tais habilidades mereceria obter essa herança. Seu cérebro seria o abrigo do talismã do brilhantismo.

O talismã do Grifo representava o equilíbrio, a temperança e o auto-controle. A mente que possuísse tais atributos seria merecedora do talismã do equilíbrio, e seu cérebro seria o recipiente a guardar tal herança.

A força e invulnerabilidade eram representadas pelo talismã do Minotauro. O punho mais forte, capaz de esmagar tudo a sua volta, seria merecedor do talismã da força, e seu pulso seria o cofre indestrutível dessa herança.

O coração mais gentil e solidário seria possuidor do talismã do Kitsune. O talismã da Bondade e gentileza, cuja misericórdia estaria sempre presente. Tal coração seria habitado pela herança concedida por Kitsune.

Esses cinco eram as Cinco Virtudes, cuja nobreza seria considerada uma benção. Mas havia também as duas últimas heranças, consideradas malditas, por reterem as “virtudes”, assim chamadas, mais desprezíveis.

O primeiro era o talismã de Aswang. O coração mais frio e insensível guardaria tal herança e, tal atributo, viria acompanhado de uma vida sem nenhum calor humano.

O segundo talismã se tratava da herança de Wendigo, cujo herdeiro deveria ter a mente mais cruel para merecer o artefato. Seus pensamentos seriam voltados para a destruição e devastação. Era considerada a “virtude perdida”.

Destruir os cinco talismãs virtuosos significava corromper a própria vida. O homem que o fizesse seria confinado no Corredor do Esquecimento, um lugar perturbador, nunca visto por olhos vivos. Ninguém poderia descrever o lugar.

            Foi o que aconteceu com Lady Kawnitcha d’Angoulême. Sua fé sega em si própria não foi capaz de fazê-la enxergar o coração mais corajoso, Armand Byron, seu subordinado traidor. Ela o destruiu, e condenou a si mesma, sendo carregada para o Corredor do Esquecimento por Asqueros, criaturas habitantes desse lugar tenebroso.

            Asqueros eram responsáveis pela limpeza. Não podiam perambular entre um mundo e outro quando bem entendiam. Apenas se projetavam em nosso mundo quando eram chamados. Mas, quando um ser corrompia as cinco virtudes, eles usavam o corpo do mesmo indivíduo como portal, carregando-o para o Corredor do Esquecimento.

           

            Os Donos dos Talismãs

 

            Talismãs eram amuletos raros, não podiam ser produzidas por mãos. Seus donos originais eram as sete criaturas. Cada uma havia projetado seu próprio poder em moedas de ouro. A intenção inicial era conceder parte de seus poderes a homens que desejassem lutar em seu lado.

Elas eram inimigas entre si. Logo, possuíam suas próprias tropas e batalhavam por espaço no vasto território planetário.

Até o dia em que as tropas perceberam o quão perigoso eram conviver com tais criaturas gananciosas, usando humanos como armas de destruição. Usando os sete amuletos, os homens derrubaram as criaturas e prenderam-nas dentro das Sete Colinas. Tentaram, por vezes, matá-las, queimar os corpos. Mas era impossível.

Lanças e fogo não tinham efeito. Logo, eliminá-las estava fora de cogitação. Prisão era a única medida a se tomar. Mas isso custou a eles o poder.

Com a prisão das sete feras, os medalhões foram consumidos até restar apenas o pó de suas existências, carregado pelo vento.

A partir daí, surgiram os herdeiros. Mentes, corações e punhos com o dom de suas virtudes.

Mas, com isso, veio também os caçadores, homens que buscavam os herdeiros, arrancavam-lhe os talismãs, tudo em prol de poder egoísta e destrutivo.

A partir desse momento, As Sete Ligas se dividiram efetivamente, formando categorias em cada uma delas.

Havia uma subdivisão em seis categorias, sendo elas: Guardiões dos Portões; Mortíferos; Rastreadores; Mensageiros; Arquitetos; Professores. Todos os integrantes das famílias eram divididos entre cada categoria.

Guardiões dos Portões eram responsáveis pela interceptação de invasores que passavam pelos portões do Corredor dos Esquecidos. Freqüentemente os Asqueros tentavam invadir o mundo, pois eram criaturas que se alimentavam de sangue humano. Os Guardiões os enfrentavam e continham a confusão. Eram, também, responsáveis por protegerem os herdeiros. Era considerada a categoria mais perigosa, onde a morte de soldados era mais freqüente.

Mortíferos eram responsáveis por eliminar os Arqueros que conseguiam passar pela guarnição dos Guardiões. Sua outra função era penetrar nos domínios dos Esquecidos. Apenas Guardiões experientes e extremamente hábeis com suas armas eram capazes de alcançar essa posição categórica.

Rastreadores eram membros das Ligas responsáveis por localizar herdeiros e inimigos, além de se infiltrar no campo inimigo e colher informações. Era considerada a segunda tarefa mais perigosa, até mesmo mais do que Mortíferos. Estavam sempre acompanhados de Mensageiros.

Mensageiro era uma categoria destinada aos mais rápidos. Munidos de arsenal defensivo e capacidade de rápida locomoção, recebiam as informações obtidas por Rastreadores e levavam-nas até os líderes, que tomariam suas decisões.

Arquitetos eram membros das ligas responsáveis por projetarem armas, construções e veículos de combate. Eram popularmente conhecidos como “Senhores das Armas”. Era uma das categorias mais essenciais, pois dominavam conhecimento dos segredos da Antiga Roma e criavam as mais variadas armas de luta, úteis ao combate contra Asqueros e traidores.

Professores eram responsáveis por treinarem os recrutas, os filhos das famílias importantes que, futuramente, seriam nomeados conforme as categorias. Professores era uma espécie de “Mortíferos Aposentados”, aptos a ensinar praticamente tudo a esses futuros soldados das Sete Ligas.

A forma de introduzir os recrutas em suas respectivas categorias seria um critério do professor. Mas os Eupátridas, familiares próximos do Pater Gentis, poderiam escolher qualquer uma das categorias conforme sua vontade. Eupátridas que decidiam se tornar Guardiões eram os mais respeitados, visto que escolhiam a tarefa mais árdua e perigosa.

Era tido como uma profissão. Todos recebiam uma espécie de salário, cogitado em jóias e barras de ouro. Eram famílias muito ricas que, desde muito cedo, já dominavam o mercado rústico.

 

Os anos se passaram, e esse quadro não mudou. Em pleno século XXI, membros respeitados das famílias tradicionalmente secretas de Roma ainda dominam o mercado, donos de empresas com ações milionárias. De fato, era uma tarefa que custava muito dinheiro.

Com o passar do tempo, novos herdeiros foram surgindo. Quando um chegava a óbito, sua herança era passada para o próximo individuo com os atributos necessários. E, durante muito tempo, os Guardiões buscavam protegê-los.

 

Após a destruição dos sete talismãs, causado por Kawnitcha d’Angoulême, as heranças encontraram outros herdeiros. Novos “recipientes vivos” passaram a abrigar esse poder. E, com isso, velhos caçadores tiveram seus instintos despertos. Com a saída de Kawnitcha do páreo, muitos outros buscariam os sete artefatos.

Os predadores eram os mesmos, milenares, com grande conhecimento. Uma nova temporada de caça aos herdeiros estava para começar.


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Notas finais do capítulo

review! xD



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