Sociopathy escrita por Ille Autem


Capítulo 16
Parte III - A Caçada - XVI




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/582261/chapter/16

–Como assim, o Valério sumiu? -perguntou Roger.

–Ele desapareceu do mapa. Ninguém sabe onde ele está. - Madeline estava nervosa de um lado para o outro.- Eu vou matar aquele desgraçado, nem a missa do falecido Goldberg ele rezou.

–Nem padre de verdade ele é. Não sei nem como os fiéis aqui ficariam se descobrissem, seria uma situação engraçada.

–Não é hora para piadas, Roger. De verdade, ou não, ele sabe de mais.

–O que houve afinal no velório do Goldberg?

–Não teve nada. Rita sumiu, o corpo levaram para o crematório e vão fazer uma celebração mais reservada com o bispo. -ela parecia impaciente.- Ela deve estar na casa de Ken.

–O que você pretende fazer a respeito da manchete de hoje?

–Já telefonei para Trina, ela vai viajar essa semana para fora da cidade, vai deixar Joe na casa da mãe e George fica conosco. Mas eles vão sim, se divorciar.

–E sobre aquela matéria de Julie? Temos que achar Claire e o pequeno Maycol, eles estão sumidos desde ontem a tarde. Com a morte do Goldberg nem nos preocupamos com eles. Mas agora a imprensa vai cair em cima de nós, George é o nosso assessor de imprensa, não vão nos deixar em paz.

Claire estava sentada num dos bancos no fim da orla da praia de Trevo, o pequeno Maycol brincava na areia, escavando e achando conchas perdidas na areia e levando-as até a mãe. Ela o atendia com carinho, como sempre fazia já que o pai dele tinha morrido, ou pelo menos forjado a sua morte, mas ela tinha certeza de que Ken Isao era o mesmo Hugo Caleb de seis anos antes. O mesmo amor da vida dela, o mesmo rapaz por quem se apaixonara, simpático, bonito e apaixonado.

Ainda assim, aquilo tudo era passado. Mesmo que ela soubesse que ele estava ali dentro daquele novo e enigmático homem, ela sabia que Hugo ainda existia em algum lugar muito bem escondido e ela tinha que redescobri-lo. Mostrá-lo o filho que tinham, o amor que ela não deu a ele quando ela recebia dele. Tudo o que ela não tinha feito, mas ele, ele sim, tinha se doado por ela.

–Mamãe. -disse Maycol sorrindo, como ele se parecia com Hugo.- Quem são aqueles homens correndo?

Claire então olhou e rapidamente reconheceu os jornalistas e a imprensa correndo na direção deles. Se pôs de pé rapidamente e abraçou o filho, o que será que eles queriam? Mas não eram jornalistas, usavam preto. Ela apertou mais a visão e viu homens encapuzados com cordas nas mãos, pareciam enraivados e gritavam algo indecifrável, mas não parecia nada amigável.

–Vamos sair daqui. -ela disse e apressou o passo puxando o menino mas os rebeldes pareceram notar e apressar o passo. Não demorou para que se aproximassem e começassem a jogar objetos neles. Pedras, pedaços de madeira e até garrafas de vidro cortadas. Claire gritou por socorro, mas a praia estava quase deserta, os homens chegaram mais perto e quando ela viu estavam levando Maycol amarrado. O pobrezinho gritava e chorava, o rosto vermelho afogado em lagrimas. Os homens deram um soco nele e ele apagou.

Não!



–Ken, não é isso que você está pensando. -falou Enrico abismado.

Eu apenas ri.- Chega de hipocrisia. A casa tem câmeras de segurança e microfones, eu sei de tudo o que se passa aqui dentro. Eu sei que você não confia em mim Enrico, sei que quer me ver derrotado porque tem medo de que eu tome seu lugar na Goldberg, porque seu pai te deixou quando criança, porque sua mãe sofreu com isso, com a morte do pai e agora do filho.

–Ken...

–Não gagueje, é a verdade e eu a conheço. -eu olhei para Julie.- Já você, acha que eu tenho muito mais segredos por trás da minha aparência, acha que eu escondo mil e um segredos. Esse é o mal dos jornalistas de sucesso, acham que todos escondem alguma coisa. Realmente escondem, mas nem todos os segredos são atingíveis.

Enrico bufou e apontou a arma para mim, eu arregalei os olhos, não esperava aquela atitude dele. - Você é realmente macabro, Ken.

–Eu sei. -respondi sorrindo.- Posso ser a pior pessoa do mundo, mas você nunca vai chegar aos meus pés, não vai conseguir nem sequer atirar em mim.

–Enrico, calma. -pediu Julie apavorada.- Ele é doente.

–Vocês são doentes. -falei.- Vocês matam inocentes e conseguem dormir a noite. Eu apenas faço a justiça, -tirei as mãos do bolso e dei um passo a frente.

–O que você quer aqui, Ken? -perguntou o rapaz.- O que você veio fazer aqui?

–Acredite, não tem nada a ver com você e sua família. O que eu quero não te interessa, você se meteu no meio porque quis. Agora já é tarde de mais para voltar atrás, você já desconfia muito e tem uma curiosidade imensa, já está dentro desse jogo perigoso e agora vai ter que arcar com as consequências disso. Eu sinto muito mas você não tem escolha.

–O que você quer dizer, babaca? Você não vai durar muito mesmo.

Eu ri.- Não seja idiota, moleque. Esse lugar está cercado de microfones e câmeras, se você fizer qualquer coisa comigo vai preso. Eu sou Ken Isao, o que eu disse é lei, é verdade e irrevogável. -ele me encarou por um instante.- Já leram a matéria de hoje de manhã? Julie acusa seu irmão de seduzir a esposa do Curious.

–Eu não escrevi isso! -berrou a garota.- Do que está falando?

–Não se faça de boba, foi um sucesso. Veja nos arquivos dela, a matéria completamente pronta.

–Isso é ridículo. -ela falou apavorada.- Eu não fiz isso.

–Então mostre seus materiais ao seu namoradinho.

–Isso não faz de você um santo. -ele disse.

–Não quero a santidade, estou satisfeito aqui mesmo. -respondi.- Mas é melhor você brigar pelo o que é alcançável. Brigar comigo é como, para os supersticiosos, quebrar um espelho, derrubar sal, anos de desgraça na sua vida. Eu não sou tão ruim como você pensa, Enrico, mas posso ser muito, muito pior.

–Você ainda não me convenceu. -desafiou o menino.

–Então me dê um tiro. -e o rapaz obedeceu.



Stella estava sentada na varanda da sua casa, era numa região mais afastada da cidade, poucos sabiam onde era, nem mesmo seu sobrinho, Ken. Era fim de tarde, um clima fresco e uma brisa leve corria na cidade, tudo parecia calmo, mas ela sabia que não estava. As notícias corriam rápido e ela podia sentir a desgraça se alastrando pelo mundo, Ken estava indo bem com o seu plano apesar de que não era o melhor.

Ela sentia muito por não ter intervindo antes na vida do rapaz, poderia tê-lo ajudado assim que saiu da prisão, mas ela não conseguiu localizá-lo. Tinha mandado que matassem outro no lugar dele, pago caro por isso, mas o perdera completamente de vista, até que ele reaparecera como Ken Isao. Da primeira vez que o vira o reconhecera, o reconheceria em qualquer lugar, mesmo adotado, era muito parecido com Maycol.

Não tivera tanto contato com o irmão depois da explosão na casa deles quando novos, mas anos depois tinham se encontrado algumas vezes, pelo menos uma vez ao ano era sagrado que se encontrassem no túmulo da família para conversarem, serem irmãos novamente, eram tão bons tempos que seus olhos chegavam a marejar de saudade, saudade de como tudo era lindo e não sabiam, de como tudo poderia ter sido diferente, mas não era.

Não era nem um pouco diferente. Hugo tinha passado a ter um ódio mortal pelos que fizeram mal ao pai e queria vê-los muito piores do que mortos, queria vê-los destruídos para depois matá-los, matá-los na desgraça. Ela sabia que era um caminho sem volta, concordara em ajudá-lo, mas não pensou que ele iria tão longe, longe a ponto de matar o filho de uma das mulheres que mais lhe dera apoio na vida.

Ele tinha forjado a morte de Enzo e colocara a culpa em George, o mesmo jornalista que na época da morte de Maycol tinha o traído, prometera ajudá-lo a desvendar todo o mistério e fazer justiça, mas cedera para o sucesso, o lucro e o status da elite.

Depois disso, lançara a matéria em nome de Julie caluniando tanto George quanto o pobre e falecido Enzo que nem sabia de nada para gerar discórdia nos Goldberg e a Julie, cujo o pai tinha dado a sentença de sua prisão. Mandara Roberto, vulgo Pe. Valério para a capital de onde ele seguiria viagem para fora do país, mas lá a polícia já o estava esperando para prendê-lo por diversos crimes desde falsidade ideológica até homídios dolosos, era a manchete do dia seguinte do jornal, isso só porque a prisão ocorreu de madrugada, a edição já tinha sido impressa.

Agora ele estava com os Goldberg em sua casa, mas porquê? Rita e os gêmeos não tinham nada a ver com aquela história de vingança. Seria apenas por prazer de ver a derrota dos outros? E o que ele estava tramando para os De Lune? Até então nada os atingira, estavam intactos, apenas suportando turbulência dos outros, talvez o caso da falsa ordem de Pe. Valério. Era curioso e intrigante esse jogo de Hugo, e o pior de tudo, era que ela não podia fazer nada.

Stella olhou para o celular distraída, tinha acabado de receber uma mensagem do portal online municipal de notícias.

Policiais e uma ambulância acabam de entrar no casarão Isao, ao que parece o escritor foi baleado no lado direito do peito por Enrico Goldberg, único herdeiro das editoras Goldpress. Não se sabe o motivo, o estado do escritor não é grave. Também estavam na casa Rita Goldberg e a jornalista Julie Carter.

Ela arregalou o olhos, aquilo já estava passando dos limites.



–Claire, aonde você estava!? -perguntou Roger quando a filha entrou completamente imunda dentro de casa.- O que você estava fazendo?

–Papai! -ela chorava desenfreadamente.- Sequestraram o Maycol.

Os pais da moça se levantaram ao mesmo tempo chocados.- Mas...como?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!