Sociopathy escrita por Ille Autem


Capítulo 15
Parte III - A Caçada - XV




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Sr. Isao! -disse Madeline estressada entrando na sala de estar.- Isso são horas?

–Eu apenas vim trazer a manchete do jornal de amanhã para você, Achei que talvez fosse gostar. -eu sorri entregando a ela o primeiro exemplar do jornal diário.

Morte de Enzo Goldberg pode ter sido muito mais do que um acidente. -ela leu- O que é isso? -perguntou irada.

–Continue lendo.

Informantes anônimos afirmam terem visto o assessor de imprensa da família De Lune, George Curious, discutindo e agredindo o jovem Enzo Goldberg. Supõe-se que a amizade crescente entre o gêmeo e a esposa do jornalista, Trina Curious, tenha causado ciúme no marido que a princípio tinha sabotado os freios do carro do rapaz.Há indícios de que George sofre de distúrbios mentais e de que é muito possessivo e que Enzo Goldberg já tinha fama de mulherengo e aproveitador. A polícia já foi notificada e nesta manhã investigará a hipótese. Mesmo depois do acontecimento no Baile de Outono no casarão Isao, a suposta “encenação” do casal virou realidade. –ela me olhou horrorizada.- Por Julie Carter? -eu sorri.- Você é maluco.

–Pelo menos agora ninguém vai ter cabeça para se divorciar de ninguém.

–Isso não vai impedir Trina de se divorciar do George. Foi um acidente e nem sabemos se é verdade. -Madeline parecia irritada.- Essa jornalista de quinta categoria!

Eu sorri.



Stella estava deitada na cama da casa paroquial esperando Padre Valério voltar da cozinha com duas taças de vinho. Tinham acabado de ter mais um encontro prazeroso, mas dessa vez com segundas intenções da parte dela. Hugo tinha mandado uma mensagem dizendo que ela já poderia pôr o plano deles em prática para expulsar o falso padre da cidade de modo que ele sumisse do mapa.

–Voce é realmente incrível, Stella. -disse o homem voltando sorridente, usava apenas uma cueca samba-canção. Tinha o corpo forte, novo, bonito mas muito inocente.

–Eu que o diga, Roberto. -o homem gelou e ela riu.

–Meu nome não é Roberto.

–Não se faça de bobo, Roberto. -ela riu com mais prazer.- Eu sei que você não se chama Valério e quem nem padre você é, você mesmo disse isso. Eu pesquisei sobre você, achei todas as suas fraudes, documentos falsos, seus falsos cursos na faculdade, sei sobre seus filhos espalhados pelo país e sobre suas milhares de identidades, até mortes forjadas. -o homem já tinha deixado as duas taças caírem no chão.

–O que você quer? Pensei que você gostasse de mim.

Ela deu de ombros.- Eu gosto de você, mas tenho motivos maiores. Você se envolveu com gente que não devia ter se envolvido, Roberto. Desculpe-me, mas por mais experiente que você seja em falsas identidades, não tem experiência nenhuma com a elite.

–Eu não sei do que você está falando. -ele parecia chateado.- Você me traiu.

–Poupe-me o sentimentalismo, Roberto. Não vai funcionar comigo esse seu teatrinho. Sou muito mais velha que você e tenho mais vivência. -ela riu e se levantou vestindo-se.- Aqui. -ela tirou um envelope pardo da bolsa.- Estão todas as provas que eu tenho sobre sua vida fajuta. Também tem um cheque em branco e assinado. Você vai sumir do mapa e nunca mais vai ter contato com ninguém dessa cidade, nem com ninguém que tenha contato com alguém daqui.

–Por que você está fazendo isso?

–Não é com você o problema, é pra quem você trabalha. -ele parecia assustado.- Suma daqui, é sério. É melhor você ir se não vai ser muito pior, estou fazendo isso justamente porque gosto de você. Vá enquanto é tempo, as coisas vão piorar muito por aqui.

–Eu ainda tenho a missa no menino Enzo para celebrar amanhã cedo. Não posso sumir assim.

–Você vai sumir. -ela disse.- Não precisa levar nada com você, só sumir.

Ele respirou fundo.- Saímos em quinze minutos.



–O que houve? -perguntei me aproximando de Stella.- Rita está inquieta.

Ela sorriu discretamente.- O Pe. Valério sumiu. Ninguem sabe do paradeiro dele, estão preocupados.

–Eu não quero ficar aqui muito tempo, defuntos fedem a podre e eu preciso que eles saiam logo daqui. Julie está com Enrico aqui, ela não sabe da matéria que ela escreveu, pensei que a imprensa fosse mais rápida.

Stella se virou curiosa.- Você escreveu aquela matéria que eu li hoje na manchete? Belo plano, assim a imprensa chega e você os resgata para seu esconderijo.

–Julie e Enrico estão num complô atrás de mim. -falei indo em direção a porta e Stella me acompanhando.- Enrico nunca gostou muito de mim, eu já sabia disso, mas agora ele está mais… Abusado. Sei que eles querem descobrir mais sobre mim e vão tentar isso quando estiverem dentro da minha casa.

–Madeline não gostou muito da matéria, imagino.

–Nem um pouco. -eu sorri.- Essa é a parte interessante, apenas observe.



Rita estava sentada inquieta aguardando a chegada de Pe. Valério, ele estava sumido desde a noite anterior e ninguém sabia o seu paradeiro, tudo estava dando errado naquele dia. Uma desgraça atrás da outra; como se já não bastasse o filho morto, o padre havia sumido e ele nem podia ir em paz.

Ainda assim tinha que se concentrar e manter-se forte ao lado de Enrico, ela ainda o tinha, ainda mais que ele havia aparecido com uma moça bonita ao seu lado, a jovem Julie, jornalista importante. Era bom pra ele tê-la para se distrair, assim ela poderia sofrer em paz, viver seu luto com sossego.

–Mamãe, veja. -disse Enrico apontando para a porta. Havia um certo rebuliço e Ken vinha na frente com velocidade.- O que está havendo? -perguntou Enrico, seus olhos estavam inchados de tanto chorar pelo irmão. Não havia dormido naquela noite.

–Precisamos sair daqui. A imprensa está na porta, mas nada vai segurá-la por muito tempo. -ele respondeu olhando aflito para Rita.- Pe. Valério foi embora, sinto muito Rita. Alguns vizinhos o viram sair e a casa paroquial está vazia.

A mulher segurou o ar assustada.- Eu não acredito. -e deixou as lágrimas rolarem. Ela era uma desgraça.

–Rita, por favor. -disse Ken abaixando-se para perto dela.- Vamos embora, uma matéria no jornal de hoje chamou a atenção da imprensa. Podemos pedir que cremem o corpo de Enzo e fazer um memorial para ele no cemitério, deixar as cinzas lá, mas você não está em condições de ficar aqui.

Ela assentiu e Enrico olhou para Julie que parecia assustada.- Para onde vamos?

–Vamos para a minha casa, é a melhor opção. A srta. Carter também pode vir, se quiser.

Todos assentiram e saíram pela sacristia da igreja. Deixando a paróquia viram a quantidade de fotógrafos preocupados em entrar e curiosar sobre a morte de Enzo, da sua relação com a Sra. Curious e se realmente George tinha algum envolvimento com a morte do rapaz.



Enrico trocou um rápido olhar com Julie na viagem que revelava tudo. Naquela tarde iriam estudar Ken, ver se encontravam alguma coisa na casa. Sem dúvida ele os convidaria para passarem a noite lá, afinal, a casa deles também estava cercada por alguns jornalistas quando passaram e Rita estava desolada.

–Fiquem a vontade. -disse o escritor ao casal enquanto ele subia com Rita para um quarto de hóspedes.- Vou levar sua mãe para descansar.

Enrico assentiu e guiou Julie para a sala de estar. Estava escura com as cortinas fechadas.- Aonde você viu a tal agenda?

–O que? -ela perguntou surpresa.- Seu irmão morreu ontem, você deveria estar chorando rios de lágrimas.

–Meu irmão já se foi. -disse o rapaz seco.- Não há nada que eu possa fazer se não vingar a morte dele ou proteger mamãe Ela já está sofrendo e sofreu demais.

A moça assentiu.- Foi no escritório. -eles então se adiantaram para a porta no fundo da sala.

Enrico se espantou com o a beleza do lugar. Era organizado, uma belíssima vista para a cidade de Trevo e para o mar. Uma parede coberta de livros do chão ao teto, volumes grossos de romance e história, geografia e matemática, livros de psicologia e psiquiatria e até mesmo uma bíblia gasta. A mesa de vidro estava praticamente limpa a não ser por uma agenda preta aberta numa página amarela com vários escritos.

–Aqui tem nomes de várias pessoas importantes. -comentou o rapaz pegando a agenda.- Madeline, Trina, mamãe, Dom Leoni...

–Olha o que eu achei. -exclamou Julie abrindo uma das gavetas da mesa. Era uma pistola prateada com o cabo dourado.- Essa é das boas.

–Como você sabe disso? -perguntou Enrico olhando a arma.

–Meu pai era policial, depois se tornou juiz. -comentou a moça.- Foi ele quem condenou aquele menino, Hugo Caleb. -Enrico se lembrava sim mas aquilo não vinha ao caso. O que aquela agenda significava.

–Sabe. -disse uma voz a porta.- Da próxima vez que quiserem descobrir um podre meu, me chamem. -o casal olhou assustado. Era Ken apoiado no batente da porta terminando de dobrar a manda direita da camisa social até o cotovelo.- Eu sei muitos.


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