Ele Está de Volta escrita por ShadowReaper


Capítulo 2
Rio de Janeiro




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E lá tinha chegado, novamente em solo brasileiro.

–Pronto - falei, retirando um saco de terra que estava em meu bolso e o esvaziando no chão - Não preciso mais disso.

Eu não fazia ideia de quanto tempo tinha ficado desacordado. Pelo o que ouvi no navio, poderiam ser duas semanas, no máximo. A minha teoria era que eu tivesse batido a cabeça quando entrei no navio e então desmaiei no almoxarifado. Mas isso não importava agora, precisava chegar ao Palácio Imperial de Petrópolis e reassumir o trono, que devia estar agora com Dom Augusto. Quando saio do píer, vejo que a cidade do Rio, então com poucas ruas ladrilhadas e cheia de pequenas casas, se tornou grande, com enormes arranha-céus que chegavam perto dos de Londres.

–É - suspirei - Parece que Deodoro fez um bom trabalho aqui.

Estranhei o fato da cavalaria imperial não estar ali me esperando, mas logo pensei que pudesse estar levando o resto da família imperial para o palácio. Encontrei nenhum Benz Velo transportador, nem mesmo minha Berlinda de Aparato. um homem me chamou e disse que podia me levar de "táxi" para qualquer lugar por um preço.

–Poderia me levar ao Palácio Imperial de Petrópolis?

–Ah, o museu, mas é claro senhor!

O museu. Em meros dois anos o maldito do Deodoro transforma o Palácio Imperial em um mero museu, além de que, de alguma forma, fez ninguém daqui me reconhecer. Bem, eu mandaria uma divisão da armada caçar aquele traste em Alagoas assim que reassumisse o governo. Olhando pela janela do táxi, vi a temperatura: 27ºC. Estava fresco, fresco demais para ser uma tarde de 5 de dezembro no Rio, ou 21, se contar com as semanas que fiquei desacordado. Um tempo depois, o táxi para em Petrópolis. O motorista então vira pra mim e me fala:

–São 40 reais, senhor.

–Ah aqui estão - disse-lhe, tirando moedas douradas estampadas com meu rosto do bolso e lhe entregando.

–Mas o quê? - disse ele, examinando as moedas - Isso aqui é dinheiro antigo! Eu quero em dinheiro atual!

–Desculpe, senhor - respondi, saindo do carro - Estive fora do país, e não sabia que Deodoro já havia mudado o dinheiro.

–Pega ladrão! - gritou ele, correndo atrás de mim. Eu já estava velho, porém conseguia correr com certa dificuldade. Já ele era mais jovem e mais ágil. Quando cheguei na esquina, ele então agarra meu braço, me vira pra frente dele e me mostra o punho. Estava prestes a bater quando vê três jovens, com bonés e óculos coloridos, roubando seu carro.

–Puta merda, meu carro! - e então me larga na esquina da rua e vai correndo atrás de seu táxi.

Olhei os arredores. Em minha frente, estava o Palácio. Ao lado, uma panificadora, foi lá que entrei. Ao entrar, vi uma mulher, que aparentava ter quarenta e pouco anos fazendo uma massa. Me perguntei se enquanto estive fora Deodoro não teria desabolido a escravidão, afinal os monarquistas sempre diziam que os republicanos eram escravistas, então era bem provável. Então perguntei à ela:

–Bom dia, a senhora viu o Príncipe Dom Augusto por algum lugar aí?

–Dom Augusto? Hã...Não. Tem o Dom Bertrand, serve?

–Não sei que é esse.

–Só por curiosidade, qual é seu nome?

–Pedro de Alcântra.

–Ah, é um ator, certo?

–Um o quê?

–É que o senhor parece muito com o antigo Imperador, o Dom Pedro.

–Escute aqui minha senhora, essa república em que vocês estavam vivendo era muito corrupta e cheia de mentiras. Preste atenção, em dois anos eles conseguiram restaurar a escravidão, falir a moeda, o que lhes obrigou a fazer uma nova, e ainda fizeram vocês esquecerem de nós, a família real. Hoje mesmo cheguei ao Brasil e já fui chamado de "senhor" "vovô" "ladrão" e agora "ator". Sorte que meu neto já deu um golpe e conseguiu restaurar a monarquia, tirada dessa república ilegítima, feita por forma de golpe. Acorde, mulher, a monarquia é a solução real!

A mulher ficou parada, olhando fixamente para mim, sem dizer nada. Então eu deixei algumas moedas imperiais para pagar a conta, não estavam em circulação, mas logo estariam quando eu reassumisse o poder. Logo me lembrei que devia reassumir o trono, então olhei para o Palácio Imperial do outro lado da rua, estava cheio. Então fui até lá.

Na multidão na frente do palácio, procurei por Augusto. Achei estranho não ter encontrado-os em cima do Pórtico de Entrada, em seu lugar estava um homem calvo, aparentando ser mais velho do que eu, ao lado da porta. Augusto devia ter contratado os veteranos da Guerra do Paraguai para a guarda imperial, o que era bem improvável, até porque a expectativa de vida era de 34 anos e a maioria dos veteranos já tinha morrido. Uma outra indígena, dessa vez vestida de amarelo me perguntou se estava precisando de ajuda.

–Estou procurando meu neto.

–Certo, fale o nome dele que usaremos o microfone para chamá-lo.

–Micro-o quê?

–Microfone, senhor. É um aparelho usado para amplificar a voz, assim ele poderá escutar o nome dele à uma longa distância.

–Certo, deixe que eu falo - e então peguei o microfone - Alguém aí por acaso viu Augusto Leopoldo Filipe Maria Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Saxe-Coburgo e Bragança?

Todos se viraram para mim. Aquele guarda calvo que estava em cima do Pórtico me olhou e logo entrou dentro do palácio. Provavelmente para chamar Dom Augusto, e então continuei:

–Repetindo, alguém viu Augusto Leopoldo Filipe Maria Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Saxe-Coburgo e Bragança?

O homem calvo veio em minha direção, furioso.

–O que o senhor pensa que está fazendo? - gritou.

–Muito prazer, senhor guarda, sou seu Imperador, Dom Pedro II de Órleans e Bragança, o magânimo - respondi - Estou procurando o meu neto, por acaso o senhor viu o Augusto Leopoldo Filipe Maria Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Saxe-Coburgo e Bragança em algum lugar por aí?

–Olhe aqui, esse lugar é muito sério para ter palhaços como você - disse ele - saia logo ou será retirado à força!

–Não sairei sem a coroa que tenho direito!

–Seguranças! - gritou ele. E então um par de homens, grandes como aquele que me tirou do almoxarifado, me pegaram pelos meus braços finos e foram me arrastando para fora do palácio.

–Apenas me diga seu nome, para que seja o segundo a ser expurgado quando eu reassumir o trono! - gritei.

–Com prazer - disse ele - Sua alteza, Dom Luís Gastão de Órleans e Bragança, o herdeiro direto do trono.

E então os seguranças me jogaram na calçada do outro lado da rua. Seja lá como esse Dom Luís tomou o poder, eu teria que descobrir.


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