Além da compreensão escrita por AngelSPN


Capítulo 10
Capítulo X - Tristes Revelações


Notas iniciais do capítulo

Um big beijo aos hunter e mishamigos que não desistiram de mim.



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Victor Henriksen estava sentado em seu escritório. Ficara mais de cinco horas naquela barreira estúpida e só encontraram um carro com drogas. Malditas drogas e nada da garota.

— O senhor gostaria de um café? — A voz da assistente do xerife local o tirou de seus pensamentos.

— Não Nancy, obrigado. E se quiser ir, fica à vontade. Amanhã começaremos cedo aqui no departamento. Tivemos uma dica importante, até amanhã as coisas ficarão feias por aqui — o federal falou com tanta convicção e determinação, que Nancy apenas concordou e saiu.

Henriksen não sabia se a dica era quente ou se era mais uma perda de tempo, iria investigar. A carta anônima descrevia a garota perfeitamente. Não havia dúvidas que fora vista, claro poderia ser uma pista de uma mente doentia, já que o rosto da tal Melanie estava estampado em todos os lugares. Só que, o que mais intrigou Henriksen foi o fato que na carta um trecho dela dizia algo como “...e ela está acompanhada dos irmãos W.” O federal ainda estava remoendo essa informação. Seria os Winchester? Não, não podia ser. Dean Winchester estava morto conforme o procurador geral dos Estados Unidos o relatou tão desprezívelmente na conversa em que tiveram. Sentiu-se um idiota naquele dia.

— Malditos pomposos engravatados!

Henriksen não via nenhum sentido nisso tudo, talvez estivesse obcecado em deter os Winchester como Hansen lhe dissera, talvez o procurador teria razão. Mas seu sexto sentido lhe dizia o contrário.

— Lonzaga! — Gritou o federal repentinamente.

— Senhor!? — O homem se pôs a sua frente.

— Reúna todos os homens disponíveis. Vamos caçar monstros!

Se os Winchester estavam juntos ou não, Victor cumpriria seu dever. E quem sabe esfregaria na cara do promotor e todos os pomposos que estavam errados e ele estava certo.

***

Melanie deixou a água quente correr pelo seu corpo, fazia tanto tempo que não se sentia tão bem. Aqueles três eram estranhos, falavam coisas estranhas, demônios, fantasmas, monstros, pactos. Ela também sabia de coisas, de seres sobrenaturais de outro mundo que queriam sair, mas não imaginava que pessoas comuns sabiam de algo assim e que algumas criaturas viviam entre os seres humanos.

A garota saiu do banho e tinha uma roupa embrulhada e com um bilhete.

“Achei que gostaria de vestir algo diferente. Dean”

Melanie sorriu. Aquele cara estranho que saiu do tumulo na sua frente, era encantador. Aqueles olhos verdes a deixavam confusa e ao mesmo tempo segura. Thomas empurrou o bilhete que ela segurava em suas mãos ao chão.

— Thomas! Não seja ciumento. Já te disse para você se controlar. Mas que droga! — Melanie realmente estava furiosa.

Como resposta a sua indignação, o Thomas simplesmente desapareceu. Melanie suspirou, quem era estranho mesmo?

Dean estava tomando uma cerveja quando viu Melanie descer as escadas. Estava tão linda com a roupa que lhe dera. Era uma blusa branca, com um casaco de camurça marrom e uma calça jeans muito desbotada e que realmente realçava suas curvas. Aquele olhar a queimava por dentro. Dean rolou os olhos buscando outra coisa que não fosse o olhar da moça.

— Hã. Quer uma cerveja? Ele abriu rapidamente a velha geladeira.

— Não. Obrigada pelas roupas. Onde está seu irmão e o velho? — Melanie também sentiu a face ficar vermelha sob o olhar daquele caçador.

— Sam e Bobby foram buscar a vidente Pâmela. Talvez ela saiba quem me tirou do... — Dean travou. Era difícil explicar uma coisa dessas.

— Do inferno? — Melanie completou.

— É, pois é. Veja só na loucura que você está envolvida — ele sentou no sofá balançando a garra de cerveja entre os dedos.

— Você sabe que não sou nenhuma garota inocente. Também tenho minha cota de esquisitices — Melanie disse sentando ao lado dele.

Dean lhe sorriu. Melanie via o quanto aquele homem havia sofrido, mesmo por debaixo de todas as piadas e gracejos, ela percebia seu medo, sofrimento e confusão.

— Dean posso lhe fazer algumas perguntas? — ela estava muito curiosa com o que estava acontecendo.

— Só se for como verdade ou conseqüência — ele disse sorrindo e com aquele olhar devastador.

— Como assim? — Melanie realmente não conhecia essa “brincadeira” e Dean franziu o cenho. Se tinha alguém que escondia alguma coisa, esse alguém era ela. Resolveu entrar no jogo de perguntas e respostas.

— Ok. Faças as perguntas. Depois terei direito a fazê-las também. O que me diz? — Dean agora virou-se encarando-a diretamente nos olhos.

— Justo. Então eu começo. O que realmente vocês fazem? — Melanie esperava uma resposta como, somos tipo os caças fantasmas. Mas o contexto da resposta foi diferente de um simples caça fantasmas.

— Quando Sam tinha seis meses e eu uns quatro anos, nossa casa pegou fogo. No quarto dele. Meu pai John Winchester o tirou do berço e o colocou em meus braços e me mandou correr para fora. Lembro de ter apertado muito meu irmãozinho e corri. Logo em seguida vi meu pai nos pegando no colo e nos tirando de perto da casa. Naquele dia minha mãe Mary, morreu queimada — Dean bebeu mais um gole de cerveja, incrível que mesmo com todos aqueles anos aquilo ainda estava tão vivo em sua memória.

— Eu... eu sinto muito. Não queria que lembrasse coisas tristes.

— É, tudo bem. Eu...às vezes preciso desabafar. E você me parece uma boa ouvinte — e mais uma vez aquele sorriso encantador em seus lábios carnudos a deixou hipnotizada.

— Hã... é. Mas porque caçar coisas sobrenaturais? — A pergunta saíra automaticamente.

— Bom. Nosso pai nos criou como verdadeiros soldados. Porque o que ele viu naquele dia no incêndio mudaria a vida de todos nós.

— O incêndio foi... sobrenatural?

— É. Hoje sabemos que foi um incêndio causado pelo demônio Azazel. Minha mãe fizera um pacto com ele. John havia sido morto antes de nascermos e então... dez anos depois ele queria o Sammy e a mamãe tentou impedir e ficou presa no teto enquanto queimava e via aquele monstro colocar seu sangue na boca de Sam — Dean agora levantou-se, precisava de mais uma cerveja.

Melanie estava boquiaberta com toda aquela revelação. Ficou receosa em continuar as perguntas.

— Dean, eu... não queria... quero dizer...

— Tudo bem Melanie. Não dá para esquecer o que faz parte de nossa vida, quer uma cerveja? — o loiro estendeu a garrafa a ela e desta vez ela aceitou.

— Obrigada. E seu pai? — no instante que fizera a pergunta, ela se arrependeu. O mesmo sorriso estava nos lábios do loiro, mas era um sorriso triste e desolador.

— O pai foi pego pelo desgraçado. Eu estava morrendo e o pai... vendeu sua alma ao desgraçado em troca da minha vida. Matei o infeliz, mas acabei vendendo a minha alma para ressuscitar o Sammy. E então... um ano depois virei ração de cachorro e depois de quatro meses enterrado e rasgado... aqui estou eu falando com uma garota cheia de mistérios, tanto quanto nós, mundo pequeno, hein.

Melanie estava totalmente emocionada. Suas lágrimas corriam pela sua face rosada, aquela família passara por tantas coisas ruins e ela achava que a vida dela fosse uma droga.

— Hey. Não chora. Fui um grosso ter te revelado as coisas assim, não é. Droga sou um cretino mesmo! — Dean estava se torturando mais uma vez, estava virando um hábito pensar que a culpa era sempre sua.

— Não é sua culpa, não! Deixa de ser idiota, você é um herói! — Melanie agora alterara o tom de voz.

— Herói? Ah essa é nova — o rapaz estava constrangido e confuso.

— Se eu tivesse um irmão que cuidasse assim da família e de mim, eu o idolatraria para o resto da minha vida. Você sofreu coisas que não nos conta, mas dá para perceber o peso do mundo que você carrega em seus ombros. Mesmo com essas piadas e esse sorriso de quem não está nem aí para vida...

Melanie não conseguiu terminar o turbilhão de palavras contidas em sua garganta. O caçador a calava com um ardente beijo devastador. Esqueceram o mundo por alguns instantes, era apenas ele e ela. As roupas foram arrancadas e a blusa de seda branca da garota fora rasgada revelando seus seios fartos e intumescidos ao contato da boca do loiro. Aquilo tudo parecia loucura, um calor tomou conta do corpo de ambos, Melanie segurou aquele cabelo espetado, fazendo com que aquele aqueles olhos verdes vibrantes a encarasse e soltou um gemido de prazer ao sentir a virilidade deDean crescendo dentro dela. Em ritmos cada vez mais intensos e sentindo a língua do caçador queimar-lhe a pele, ela envergou o corpo tentando conter-se ao máximo e Dean controlava-se queria que ela sentisse o prazer mais de uma vez. Envergonhada Melanie não agüentou-se até implorar que parasse. Mas ela queria que ele continuasse o “passeio” pelo seu corpo e depois de ter gozado várias vezes, ambos chegaram ao clímax ao mesmo tempo.  Melanie jamais sentira tanto prazer em sua vida. Jamais.Antes mesmo de tomarem o controle de seus corpos em ritmo normal, roupas, e utensílios eram arremessados em cima do loiro, que enrolou-se no lençol tentando esquivar-se.

— Mas que diabos é isso!? — Dean abaixou-se a tempo de não ser atingido pelo abajur.

— Thomas! Já chega! — a garota gritou ferozmente e todas as coisas que flutuavam caíram no chão.

Dean com os olhos verdes brilhante e a boca entreaberta não conseguia entender o que acontecia.

— Melanie, quem é Thomas mesmo? Que loucura foi essa? — o loiro desconfiado olhava de soslaio ao redor dos cômodos.

— Desculpe Dean. Eu... desde que me lembro tenho a companhia de Thomas, uma entidade como vocês o chamam. Eu sinto muito, ele é um pouco ciumento e...

— Tá me dizendo que um espírito ficou nos observando enquanto nós — o loiro gesticulou, tentou falar e só conseguiu fazer Melanie sorrir com seu constrangimento.

— Enquanto fazíamos sexo? — a garota sorriu pervertidamente.

— É... é. Agora me conta direito essa história. Mas que situação.

— Como eu disse, ele é como meu protetor. Me salvou centenas de vezes, estou viva graças ao Thomas e ele me protege tanto dos humanos que me querem fazer mau, quanto dos seres de outra dimensão que querem atravessar para esse mundo. Satisfeito?

— Necessito de uma bebida. Mas antes, sabe que o que rolou aqui foi...

— Ocasional, eu sei.

— Não foi isso que iria dizer. Foi muito bom. E não me importaria se acontecesse novamente, desde que o “policial” não nos vigiasse.

Melanie sorriu. Depois de tudo aquele homem não correu dela. Ao contrário, ela sentia em seu peito que ele era sincero.

— Obrigada, Dean. E aquela bebida? — disse a garota procurando o resto de suas roupas.

— Ah sim, claro — o Winchester concordou puxando sua calça jeans.

Melanie dialogava animadamente e abertamente com aquele homem a sua frente, nunca sentiu-se tão bem e tranqüila em contar suas experiências e como fora para o FBI e porque agora era caçada por eles.

— Então resumidamente é isso Dean, fui colocada na escola de superdotados pelos meus pais adotivos. Mamãe não queria, mas meu pai tinha medo de meus poderes tele cinéticos. Até eu mesma não compreendia eles e nem os dominava muito bem. Então fui treinada, dia após dia. E nunca mais vi meus pais. Cresci achando que estava fazendo as coisas certas. Até descobrir que o FBI queria abrir o portal entre os vivos e os seres da outra dimensão. Não me restou outra alternativa a não ser desertar, fugindo com Thomas.

— Uau. E eu achando que havia infligido dor em você ao relatar sobre as coisas da minha família. Deve ter sido difícil descobrir que foi enganada por tanto tempo — disse o loiro alcançando a bebida à moça.

— Confesso que não foi fácil. Mas tenho o Thomas. Ele me acompanha sempre em tudo que faço.

— É deu para perceber... — ambos sorriram.

Melanie sorveu a bebida, relembrar sua atual situação lhe amedrontava um pouco. Não pela sua segurança, mas daqueles que estavam ao seu redor.

 — Ele está aqui? — disse Dean de supetão.

— Está. Chegou alguns minutos atrás.

— Onde? — o loiro tentava em vão sentir a presença da entidade.

— Ao seu lado esquerdo — Melanie indicou com o dedo.

— Ok. Hey... Thomas. Sou Dean Winchester, e por mais estranho que isso pareça... e está sendo estranho mesmo... não precisa me matar, ok. Sou amigo da Melanie e nós dois ao que parece queremos a mesma coisa, protegê-la, certo? — Dean correu o olhar para a garota — O que ele disse?

— Hã... nada. Está apenas parado ao seu lado. Thomas não seja infantil, diga alguma coisa.

O estouro de uma lâmpada foi tudo que o loiro ouviu.

— Hey, não precisa destruir a casa. Eu já entendi o recado — o Winchester falou indignado.

— Não foi o Thomas!

Dean manteve-se em alerta. Algo estava errado, a temperatura caíra subitamente e as luzes começaram a piscar. Da cozinha ele conseguia ouvir o EMF emitir som na potência máxima. Bobby e Sam haviam saído em busca da vidente Pâmela e não sabia ao certo o quanto iriam demorar para voltarem. A porta fora arremessada longe e um homem de terno adentrou o lugar, seus olhos negros denunciavam sua verdadeira forma.

— Ora, ora. Vejam só. Dean Winchester de volta aos vivos! Por essa eu não esperava.

Dean franziu o cenho, se o demônio também não sabia como ele havia saído do inferno, porque ele estava ali. Estaria procurando por Sam? Se fosse isso seu irmão estava correndo perigo.

— Vejo que está assustado. Achou que encontraria meu irmão sozinho?

— Seu irmão? Ele vai ter o que merece, isso você pode ter certeza. Depois de tudo que ele anda fazendo, o que é dele está guardado. Mas vim por causa da garota, me entregue ela e vou embora se causar sua morte outra vez.

Dean deu um passo a frente protegendo Melanie.

— Saia aberração, antes que eu te envie para as profundezas do inferno. Você não vai levar ninguém! — Dean agiu agilmente atirando água benta no homem.

O demônio enfurecido jogou o loiro contra a parede violentamente. Dean sentiu a dor percorrer seu corpo e não hesitou em lançar a faca contra o peito do homem corpulento. Rápido como um raio o individuo esquivou-se e como um piscar de olhos estava segurando o Winchester pelo pescoço sustentando-o com apenas uma mão, enquanto Dean lutava contra a falta de ar e tentava em vão atingir o adversário.

Um tiro fora disparado, Melanie segurava a arma, a bala disparada não fizera nem cócegas na criatura. No entanto fora suficiente para que largasse o loiro semi-consciente ao chão.

— Você me quer? Porque não tenta me pegar? — a jovem abriu os braços em desafio.

— Sério!?. Adoro garotinhas rebeldes, será uma serva e tanto ao mestre. Não sei o que você tem de especial, mas você vai morrer aqui e agora! — o homem sorriu triunfante e uma forte lufada de vento se formou.

Melanie sentiu a força nefasta da criatura contra seu corpo e se não fosse por Thomas estaria morta, tamanha a pressão daquela força demoníaca.

— Mas que diabos é isso? — o demônio não conseguia entender como uma barreira se formou ao redor da jovem.

E foi nesse momento que Dean enfiou a faca que mata demônios no coração do homem. Um clarão se ascendeu de dentro do homem, como labaredas o consumindo, e o corpo agora sem vida estava atirado ao chão. Melanie correu em socorro do amigo ferido.

— Dean, você está bem? — ela sabia que era uma pergunta idiota, o sangue no canto da boca do loiro denunciava que algo não estava certo.

Dean ergueu os olhos sorrindo.

— Bem, já estive bem pior. Me ajude a levantar — disse limpando o sangue com a manga da camisa quadriculada.

Melanie ajudou-o apoiando seu corpo ao dele, no momento que Dean pôs-se em pé a casa toda girava e ao tentar firmar-se e dar um passo em direção a cama, a dor o dominou e se não fosse pela garota cairia com tudo no chão.

— Maldição — resmungou o loiro.

— Droga, Dean! Você deve ter quebrado as costelas e pior, deve ter perfurado algum órgão, talvez o pulmão, você está com a respiração estranha.

—Arghrhr... dor maldita. Liga para o Sam. Preciso de um médico, desgraçado — disse o Winchester olhando para o corpo inerte do demônio.

Melanie tremia, estranhamente estava nervosa. Já lidara com situações piores. Só que ver Dean daquele jeito, ela teve treinamento sabia quando um ferimento era grave. Dean continuava sangrando e pior estava se afogando com próprio sangue agora.

—Hey, hey... calma. Calma. Tente respirar... Dean? Deannn!!! —ela segurou a cabeça dele que pendia para o lado.

—Tô... to a..aqui— ele lutava contra a escuridão em seus olhos.

— Isso, isso. Sam? É a Melanie, fomos atacados. Dean não está bem precisa de um médico e raios estamos sem carro! Quê? Tá...tá.

Sam desligou o telefone.

— Bobby acelera, Dean e Melanie foram atacados. E... droga, ela parecia desesperada com a situação de Dean.

— Estamos a dez minutos Sam. Falta pouco. O cara é um osso duro, vai se safar desta você vai ver — o velho caçador queria acreditar também nas próprias palavras.

— Algo não me cheira bem rapazes — disse a mulher de cabelos negros no banco de trás do carro.

                — Como assim Pâmela?  — Bobby olhou-a pelo retrovisor, pressentindo que a vidente estava prestes a revelar alguma de suas visões ou intuições.

A rodovia iluminada começou a ter as luzes sendo apagadas uma a uma. Bobby e Sam se entreolharam, havia algo errado.

— Mas que merda é essa?  — o velho caçador apertou os dedos contra o volante.

— Seja o que for Bobby, não pare. Não hesite, continue em frente e...

— Bobby, cuidado!!!

O grito de Sam fez o caçador frear bruscamente em frente a uma mulher no meio da rodovia. O carro balançou de um lado para o outro e o cheiro de pneu queimado fora sentido e com uma força sobrenatural o carro tão amado dos Winchester fora lançado para fora da pista. Antes de perder a consciência os dois caçadores e a vidente viram os olhos brancos da mulher se tornarem uma grande explosão e logo depois a escuridão e o som da buzina tomara conta da noite.

¥¥¥

Melanie sentiu um arrepio pelo corpo. Thomas aproximou-se como para dar-lhe forças e lembrar-lhe de algo. Algo que ela não o fazia a muitos anos. Mas se não o fizesse Dean morreria em seus braços.  Era obvio que utilizar esse tipo de magia abriria brechas para as trevas lhe acharem e a Thomas. Lembrou como fora difícil conter as criaturas quando usara seu poder de cura juntamente com Thomas. Naquele dia ela salvara seu tutor e poucos dias depois um vórtice abriu e criaturas nefastas mataram inocentes que não imaginavam como tudo havia acontecido. Melanie sentiu a hesitação, sentiu o medo e sentiu que perderia aquele jovem em seus braços.

— Thomas é chegada a hora de enfrentarmos nossos medos. Me ajude a salvá-lo.

Melanie fechou os olhos, de suas mãos pequenas luzes azuis se formavam ao redor da ferida do rapaz inconsciente. Melanie sentiu a sensação de irradiação em seu corpo, estava funcionando. Thomas estava ali, sempre a ajudando, salvando-a. Ambos cuidavam um do outro. E agora ambos estavam lutando para salvar uma vida. Dean sentiu uma onda de calor e uma sensação de paz percorrer-lhe cada centímetro de seu corpo. Abriu os olhos lentamente, e o que presenciou era totalmente magnífico.

A garota com sua mão suspensa sobre sua costela emanava raios azuis que tomaram conta de seu corpo e Dean sentiu a presença de um jovem ao lado dela. Seria esse o Thomas de quem ela tanto fala? A tranqüilidade, a sensação de que pela primeira vez estava sendo curado por algo bom, e não por pactos, ceifeiros ou outro tipo de coisa maligna. Minutos depois estava totalmente acordado e Melanie o olhava com um sorriso radiante. Dean queria tomá-la nos braços e beijá-la. Controlou-se, ele apenas sorriu e agradeceu com os olhos marejados de felicidade.

— Obrigado Melanie. E a você também Thomas. Como fizeram isso?

—Hey, vá com calma — disse a jovem amparando o jovem que quisera levantar-se.

— Estou ótimo. Nunca em toda minha vida me senti tão bem — Dean acariciou o belo rosto da jovem.

— Dean... eu... nós te salvamos, eu entendo sua gratidão.  Só que com isso, eu posso ter liberado fendas para as trevas adentrarem nesse mundo.

— Fendas? Como assim, tipo portais de outra dimensão? — o semblante do jovem agora anuviara-se.

— Algo assim. Thomas e eu iremos fechá-las. Ele pode senti-las e desta vez não iremos falhar. Ninguém sofrerá pelos nossos atos. Não mais, nunca mais.

Dean Winchester apoiou sua mão no ombro da jovem, dando-lhe força e coragem para enfrentar o que tivesse que encarar.

— Vocês não estão sozinhos, nós os ajudaremos e então tudo estará em paz novamente.

— Obrigada Dean. Thomas também está agradecendo.

— Vocês dois são muito parecidos, sabiam disso? — o loiro falou olhando para os móveis quebrados da casa.

— Eu e o Thomas? Você... você o viu? — Melanie chegou tão perto que Dean sentia o frescor de seu hálito de menta.

— Bom, acho que sim. Foram breves segundos enquanto vocês emanavam uma luz azulada e brilhante sobre meu ferimento — Dean viu os olhos de Melanie marejar — O que foi Melanie?

— Embora estejamos juntos quase a vida toda, nunca vi a forma de Thomas. Sinto sua presença, de alguma forma sei o que ele pensa e me diz. Mas nada além disso. Gostaria muito de vê-lo .

— Desculpa, eu não sabia.

— Ok, vamos parar com esse melodrama, certo! — disse a jovem empurrando a cabeleira para trás e limpando as lágrimas que deixara escapar.

— Concordo — o loiro afirmou olhando para o relógio — estranho, você não havia ligado para o Sam?

— Sim. Ele disse que estava perto. Você acha que aconteceu alguma coisa? — Melanie viu através daqueles olhos verdes o receio. Algo havia acontecido.

Dean continuava de um lado para o outro com o telefone no ouvido.

— Atenda Sammy. Droga!

— Onde você vai? — Melanie acompanhou-o com o olhar pegando a jaqueta e verificando se a arma estava carregada.

— Você mesma disse que ele estava próximo. Vou seguir pela rodovia, é a única via até aqui.

— Mas a pé? Vamos levar o dobro do tempo ou sei lá... — as palavras atropelavam-se e nem ela mesma sentia certeza das afirmações.

— Sim. Se eu encontrar um dando sopa pelo caminho, não teremos que nos preocupar em caminhar — o loiro falou rispidamente e logo em seguida passando a mão pelo cabelo espetado desculpou-se — Perdão . Não queria ser grosso. Mas meu irmão... é tudo para mim. Sinto aqui no peito que tem algo errado.

— Não tem porque se desculpar. Vamos, iremos te ajudar.

Dean anuiu.  Deixaram a casa e seguiram em direção a rodovia. A estrada não tinha placas, após vinte longos minutos de angústia, eles dobraram uma curva e Melanie parou subitamente falando com Thomas.

— Você tem certeza Thomas? Certo...

— O que é Melanie?

— Solicitei a Thomas que fosse em nossa frente e ele viu um carro capotado e com vários policiais e ambulância no local. Desculpa Dean, mas Thomas disse que era seu carro.

Dean sentiu o ar lhe faltar. Por culpa sua o irmão acabou se acidentando.

— Estão vivos? — Dean questionou a entidade, sem ao menos saber ao certo onde Thomas estava.

Melanie iria responder a pergunta quando uma voz masculina e autoritária os interrompeu.

— Mãos na cabeça os dois. Agora! — o policial e outros cinco engatilharam suas armas.

— Era só o que faltava. Qual é o problema amigo. Dois cidadãos não podem andar tranquilamente? Onde estão nossos direitos de ir e vir? — Dean argumentava, tentando achar uma forma de enganar os policiais.

— É, qual o problema senhor? Porque essa hostilidade? — Melanie disse antes que uma viatura avançasse em alta velocidade pela via.

 — O que está havendo? Algum acidente? — Dean queria informação, qualquer que fosse.

— Olá Dean Winchester — disse o homem negro mostrando seu rosto perto da iluminação.

—Droga, Henriksen! — o Winchester mais velho estava  preparando-se para tentar um plano de fuga. No entanto Melanie estava cercada por outros dois policiais armados até os dentes.

— Não mova sequer um dedo Winchester, ou garantirei que continue morto. Quem diria, você VIVO! Vamos seu comparsa também foi pego. Noite estranha essa não!?

Ao ouvir as palavras do federal, Dean não se agüentou em perguntar:

— Você está com Sam? Ele está bem? E Bobby?

— Como sabia do acidente? Vocês se falaram?

Ótimo, era isso que Dean queria saber. Sam então estava bem. Poderia estar machucado, no entanto vivo. Melanie só escutava tudo atentamente, viu no olhar do loiro para que ela não fizesse nada. Aguardasse seja lá o que fosse.

Victor Henriksen irritou-se. Caira nas conversas do loiro e isso o deixou ainda mais irritado.

— Levem os dois para a viatura.  Logo, logo os irmãos espertalhões não passarão de piada.

— Hey. Seu problema é comigo. Deixa a moça em paz!

— Um passo a mais e estouro seus miolos. A descrição dela bate com a mulher procurada. Parece que Deus abandonou vocês hoje. Vamos!

Dean foi empurrado até a viatura, Henriksen estava muito animado. Adoraria esfregar essa notícia nas fuças do engomado de Washington, um erro daquela magnitude, o  próprioHannsen sendo enganado em relação a morte de um homem, que pelo visto estava em plena saúde. Ah, isso iria cair como uma bomba e de bandeja levava a jovem garota, onde estaria seu poder agora? Henriksen já imaginava suas honras e glórias pelo feito desta noite.

Em menos de cinco minutos Dean espichava o pescoço em busca do irmão e de Bobby. A viatura passou pelo amado impala sendo rebocado, com a parte da frente e lateral muito danificadas. E relaxou ao ver seu querido irmão e Bobby sentados próximo a ambulância.

Henriksen não queria parar, mas um de seus subordinados estava no meio da estrada pedindo para pararem.

— Qual problema Seigi? — Victor disse ao baixa o vidro escuro da viatura.

— A mulher e o velho. Levo eles também? — Henriksen coçou o queixo. Era melhor preocupar-se apenas com os peixes grandes — Não, estão liberados. Traga o grandão aqui, vamos reunir a família de violadores de túmulos.

Dean escondeu a satisfação. Se Henriksen percebesse era certo que iria separá-los só para castigá-lo. 

Quando a tampa traseira do carro abriu e ambos os irmão se encontraram, uma alegria mútua, mesmo que a situação fosse complicada, sentiram naquele momento as forças voltando ao corpo de cada um deles.

— Cara. Que bom te ver! — disse o loiro murmurando ao moreno.

— Dean... eu...

— Silencio aí atrás, ou os coloco em viaturas separadas — Seigi gritou empurrando o moreno e fechando a tampa da viatura. E essa cena toda foi o suficiente para chamar a atenção de Bobby e sua amiga Pâmela.

— Raios. Esses moleques um dia vão me matar do coração — Bobby disse segurando o curativo no supercílio a esquerda.

— Amanhã daremos um jeito de ajudar teus meninos Bobby. Hoje preciso de um banho de sais e água quente. Minhas costas estão em frangalhos.

Bobby balançou a cabeça. A sorte estava do lado deles, mesmo o carro sendo arremessado longe, os danos foram apenas materiais. Agora estava preocupado coma seguranças dos rapazes. Aquela mulher, aquela aparição tinha uma energia tão maligna que sua cabeça quase explodira juntamente com o flash de luz nos olhos dela. Sorte que estavam com a vidente, a dica em cima da hora o ajudou a manter o foco e não desviar para o penhasco.

Victor Henriken estava explodindo de satisfação. Tanto tempo gastos em relação aos irmãos e isso lhe cai de bandeja. Sentiu um prazer impossível de descrever ao relatar ao Sr. Hansen o ocorrido e o silêncio do pomposo homem. Em alguns minutos ele estaria na delegacia e veria com seus próprios olhos a grande caçada e seu errôneo argumento sobre a morte de um dos irmãos. Victor não mediu esforços, a delegacia estava cercada e armada até os dentes. Fizera do lugar uma verdadeira fortaleza intransponível. Alguns o achavam louco, dois homens e uma garota? Era demais. No entanto ninguém ousava questionar suas ordens.

Dean e Sam estavam na mesma cela. Enquanto Melanie estava em outra de frente a eles, seria tão fácil para ela sair dali. Mas a medida que a segurança foi aumentando as dificuldades também ganharam grandes proporções. Não era sua intenção machucar pessoas inocentes, desde que não ficassem em seu caminho ou sentisse ameaçada. Fora treinada para isso e havia coisas que seu instinto de preservação agia mais rápido do que sua consciência.  Estar com Dean e Sam a deixara mais sensível e aguardava a hora certa para agir.

— Tudo bem aí Melanie? — o loiro ficou o rosto contra as grades para vê-la melhor.

— Sim. Como está você Sam? — perguntou ao moreno sentado na cama com as correntes presas nos pés junto ao irmão.

— Estou bem. Dean quase me virou do avesso procurando alguma ferida — disse sorrindo ao ouvir o irmão bufar e resmungar algo inaudível.

— E como aconteceu o acidente? — a jovem queria assunto, passar o tempo talvez fosse a melhorcoisa a se fazer, por enquanto.

— Foi tudo muito rápido, uma mulher apareceu na estrada, Bobbydesviou no entanto havia um poder sobrenatural que jogou o impalapara fora da rodovia e logo em seguida choveu de federais em nossa cola.

— Desgraçada. Machucou minha baby — disse Dean chutando a corrente que prendia sua perna.

—Baby? — Melanie estava confusa com essa afirmação.

— É o impala dele Melanie. Ele tem um amor pelo carro, um romance digamos... metálico.

—É isso mesmo, carro, som, Metallica...

— Ok, já entendi — disse a jovem elevando os braços para cima.

Dean respirou fundo tentava manter a aparência de tranquilidade só que ele sabia que estavam em uma enrascada das feias. Henriksen não era um homem de se ignorar, o cara era um maldito federal com sede de sangue. Não demorou muito para que suas preocupações começassem a se materializar.

Um homem de terno e com ar de poucos amigos adentrou o corredor da cela, percorreu o olhar e sorriu ao encontrar Melanie e os irmãos presos. O homem caminhou em direção a cela da jovem.

— Se divertindo amigo? — Dean chamou-lhe a atenção para si.

O homem parou e voltou o corpo para onde estava os irmãos.

— Dean Winchester. Um homem morto e enterrado. Agora de volta a vida. Os demônios estão se perguntando como fizestes essa façanha — o homem chegou bem perto das grades encarando o jovem loiro que se aproximava.

— O que você sabe sobre isso? — Sam franziu o cenho. Tinha algo errado. Muito errado. Normalmente pessoas comuns e federais não acreditavam em coisas sobrenaturais.

A resposta do homem foi um sorriso torto e um disparo de sua arma com silenciador. O primeiro tiro derrubou o loiro que estava a sua frente, Sam rapidamente segurava o braço do homem que continuava com os disparos, que perfuravam as paredes quase acertando o mais velho dos Winchester novamente. Sam logo começou a recitar o exorcismo ao perceber os olhos pretos do homem, este começou a se contorcer e logo em seguida chegava Henriksen, o assistente Seigi e a moça Nancy logo atrás espiando com um crucifixo na mão ao verem uma fumaça escura sair da cela.

— Largue a arma ou juro que te mato! — Victor empunhava a arma mirando-a no peito de Sam.

— Calma, calma. Tá aqui. Não fui eu que disparei, foi ele que acertou meu irmão. Vá e confira. — Sam largou a arma que havia retirado do homem ao exorciza-lo.

O assistente Seigi assentiu a ordem e foi conferir se o Sr. Hansen estava vivo.

—Está morto! Droga, ele está morto! E não há sangue é como se...

—Ele já deveria estar morto a muito tempo — disse Sam voltando sua atenção ao irmão que estava segurando o ombro e sangrava.

Seigi constatou um ferimento antigo no peito do federal, seus olhos encararam aos de Victor. Este por sua vez balançou a cabeça ao dizer:

— Mas que droga está acontecendo aqui? E não me venham com esse papo sobrenatural. Responda! — Victor estava ainda mais irritado.

— Possessão. Ele estava possuído. Essa é a verdade nua e crua. Agora pode me ajudar com meu irmão? Ou quer que ele sangre até morrer? — Sam estava pressionando o ferimento do irmão com um lenço.

—Seigi, chame as autoridades. Vou relatar o ocorrido aos nossos superiores. Eles vão ficar putos. Quero esses dois longe um do outro em cadeias de extrema segurança.

— Sim senhor.

—Hey, você não vai ajuda-los? — Melanie estava indignada.

— Cale-se moça. Tenho problemas maiores que esses chiliques de mulher.

As luzes começaram a piscar, um estrondo fora ouvido fora da delegacia.

— Melanie, não faça nada — Dean olhou-a, não queria que ela revelasse seu dom e o de Thomas.

— Eu não fiz nada. Não é eu e nem o Thomas!

Os Winchester calaram-se. O terror estava à solta na delegacia. Henriksen não deu atenção ao papo de malucos. Sabia que deveria ser reforços da gangue dos Winchester ou da jovem. Era melhor conferir. Não tinham como sitiar um lugar com tantos policiais, federais e helicópteros em constante patrulha.

—Você está bem? — Sam perguntou ao irmão, sabia que teria que dar um jeito de estancar o ferimento.

— Ah, eu tô ótimo. — Disse o loiro ironicamente tirando o lenço empapado de sangue.

Sam torceu o lábio e percebeu que a jovem Nancy os espreitava. Não perdeu a oportunidade.

— Oi, por favor. Meu irmão está sangrando, pode nos trazer uma toalha. Por favor? —os pedidos de Sam foram tão sinceros que a moça anuiu e logo em seguida chegou trazendo uma toalha e agarrada ao seu crucifixo chegou cautelosamente e estendeu a mão com a toalha a Sam.

Sam Winchester pegou a toalha e como um gato segurou a mão da jovem que começou a gritar e logo Seigi chegou em seu socorro. Antes mesmo de ameaçar o Winchester, Nancy havia sido solta.

— Mais uma gracinha como essa e considere-se um homem morto.

Sam apenas concordou e foi para junto do irmão com a toalha felpuda.

— Você ficou louco? —Dean disse cerrando os dentes ao sentir a pressão da toalha no ferimento.

—Quase isso, olha o que peguei. — Sam estendeu a mão mostrando o crucifixo.

—Quase leva bala, por causa disso? —o loiro resmungava.

— Cala a boca e deixa eu ver isso — Sam conferiu se a bala havia atravessado ou ficado no ombro do loiro.

— Ela atravessou, Sammy. Agora. Você já viu algo assim? Normalmente somos nós que os perseguimos e agora estamos sendo caçados por demônios. Tem algo errado e...

Dean não pode terminar a conversa, Seigi entrou na cela transtornado e com as chaves na mão. Abriu a cela e mandou os Winchester saírem. Os irmãos se entreolharam desconfiados.

— Cara, sabe uma coisa. Está bom aqui. Não seria melhor chamar seu superior? — Dean analisava a fisionomia do homem a sua frente.

— Meus amigos estão todos mortos. Um verdadeiro massacre e alguns deles estão se levantando e agindo estranhamente. Há sangue para todos os lados quero vocês fora da aqui — o homem antes tão centrado agora estava quase histérico.

Sam passou a mão pela testa, surpreendeu-se ao sentir o quanto estava suando. Bem lá no fundo não queria admitir, mas ele sabia que isso só poderia ser obra de Lilith e ela o queria morto. Assim como ele queria sua cabeça em uma bandeja. Pensou em como usaria seu poder contra ela se fosse necessário, queria que Ruby estivesse ali para orientá-lo. No entanto, sabia muito bem como Dean agiria se descobrisse o que estava fazendo desde o dia que ele havia sido morto pelo cão do inferno. A entrada de Henriksen empunhando a arma e ordenando que Seigi saísse de seu caminho interrompeu sua linha de raciocínio.

— Feche a celaSeigi. Agora! — Victor estava alterado.

A tensão tomava conta de todos. E Henriksen não titubeou e disparou contra o assistente ao ver que ele não seguia suas ordens. Sam aproveitou a confusão e segurou o agente enfiando sua cabeça no vaso com água que havia purificado com o terço da jovem Nancy. E sua dúvida tornou-se realidade ao ver a água sendo como ácido ao agente possuído. Só que Victor possuído tinha ainda mais força e os jogou contra a parede. Dean sentiu a dor ainda mais forte em seu ombro direito e as mãos do demônio pressionando sua garganta com uma ferocidade e força incrível.

Dean estava perdendo a consciência até que sentiu as mãos do agente se afrouxarem de seu pescoço. O homem a sua frente começou a tossir e de sua boca a fumaça negra saia aos poucos, o homem cuspia como se estivesse sendo sufocado e depois de alguns segundos o agente dobrou os joelhos e desabou no chão.

Dean elevou os olhos estarrecido com o que estava presenciando, seu irmão estava com uma das mãos estendida no ar e a outra pressionando a têmpora e sangue saiu de seu nariz.

—Sam...Sammy? —o loiro estava tentando levantar-se. Seus olhos se encontraram e dor, decepção e arrependimento se mesclavam em ambos os irmãos.

—O que... que ...aconteceu? — Victor Henriksen acordou. Sam saiu do transe que mantinha com o mais velho e ajudou o agente a levantar-se.

— Você foi possuído. Agora sabe como é a sensação. Venha eu te ajudo — Sam viu no rosto do homem o temor em lidar e descobrir coisas que jamais compreendera.

—Po...possuído... tipo possuído?—ele argumentava e gesticulava confuso e temendo a resposta que sabia muito bem qual seria.

— É.

Henriksen balançou a cabeça. Viu o assistente caído ao chão. Agachou-se e confirmou que estava morto. Morto por suas próprias mãos. Sam colocou a mão sobre seu ombro.

— Não foi sua culpa. Você não sabia.

Henriksen apenas assentiu. Pegou a chave no chão e virou-se para os irmãos.

— Como nos livramos dessa horda de... de...

— Demônios. — Completou Dean que não tirava os olhos do irmão cabisbaixo.

— É, que seja. Toda minha vida caçando monstros e os verdadeiros monstros estavam nas minhas barbas. — O homem lamentava enquanto as correntes que prendiam os Winchester caíram ao chão.

— Tentamos de avisar. — Dean alfinetou. Queria descontar em alguém, na verdade queria agarrar o irmão pelo colarinho e exigir uma explicação sobre o que acontecera. Estava tentando manter o foco, mais tarde ele teria essa conversa.

Henriksen não retrucou. Apenas questionou.

— Como podemos sair dessa com vida? — Nesse momento Nancy entrava esbaforida.

— Eles entraram. Estão todos aqui. Todos com os olhos pretos!—a moça tentava manter a calma.

As luzes piscando, o vento soprando e uma escuridão envolvendo a delegacia dava o entender que o fim do mundo estava chegando.

— Victor, onde estão nossas coisas? — Dean gritava para ser ouvido diante de tanto barulho.

— Na minha sala. Venham.

Dean caminhou até Melanie e a tirou da cela. Sam queria ajudar o irmão, sabia que ele havia perdido muito sangue e que deveria estar fraco. Mas limitou-se a seguir o agente até a sala ao perceber que Melanie estava com o mais velho.

— Dean, como isso aconteceu? Como Sam expulsou o demônio do corpo do federal? E como sabiam que eles estavam possuídos? — Melanie estava acostumada com algumas coisas sobrenaturais, agora esse tipo era novo para ela.

— Somos caçadores, nosso pai nos treinou a combater monstros e todo o mal. Depois que fui ao inferno, algo aconteceu com o Sam. Isso ele me escondeu e não sei te responder — ele queria gritar e dizer que essa situação estava corroendo-o por dentro.

Melanie não perguntou mais nada. Sentia o corpo do loiro tremer ao tocar no assunto. Não queria piorar a situação.

Tiros e explosões foram ouvido e gritos se fizeram ouvir por todos os lados. Todos correram para a sala do agente, lá teriam também a visão de câmeras espalhadas ao redor da delegacia e dentro dela.

Enquanto Sam e Henriksen vasculhavam a mochila e as armas, Dean, Melanie e Nancy olhavam as câmeras de vigilância.

— Mas que merda! — Dean bateu com a mão na mesa — É Bobby e outra mulher deve ser a Pâmela. Eles estão cercados! Temos que fazer alguma coisa ou serão destroçados.

— Dean!!! Olha!! — Nancy gritava apontando o dedo no outro monitor.

Todos pararam por alguns instantes, uma enorme nuvem negra carregada e trazendo destruição se aproximava da delegacia.

— Meu Deus, estamos perdidos! — Nancy procurou o crucifixo que carregava e não o encontrou. Lembrou de ter visto ele na privada onde haviam mergulhado a cabeça do agente possuído.

— Mantenham a calma. Henriksen essas armas não irão funcionar. Precisamos de sal, muito sal — Dean olhava ao redor.

— Na cozinha tem muito sal. Os prisioneiros que estavam aqui antes de vocês chegarem deixaram dois sacos lá — Nancy dizia nervosamente.

—Boa garota. Você deixou toda a delegacia só para nós, Victor? Quanta honra — Dean não perdeu a oportunidade.

— Vocês eram os mais procurados e perigosos criminosos que conheci, não iria vacilar. Só que eu estava errado...

Dean engoliu o sorriso. Não queria deixar o homem mal com sua conduta. Resolveu mudar de assunto.

— Enquanto Você e Sam colocam sal em cada canto desse lugar em todas as entradas possíveis, porta, janelas grandes e pequenas, Nancy e Melanie vigiam as câmeras nos mantendo informados. Henriksen onde você deixou nosso carro? —O loiro perguntou passando a mão no ombro ferido.

— Foi rebocado, está nos fundos.

— Ok. Tenho que pegar algo do porta mala— Dean pegou sua arma carregada de sal.

— Você está louco? — Sam não se aguentou.

— Eu louco? Tem certeza que quer ter essa conversa agora? —Os olhos verdes cintilavam.

— Dean seu irmão tem razão, é loucura ir sozinho. Se você for eu e Thomas vamos com você, e não adianta fazer essa cara. Fim de papo — Melanie estava determinada, não iria ceder.

— Quem é Thomas!!—Perguntaram Nancy e Victor juntos.

— Longa história — disse o loiro controlando a irritação— Está bem, mas você fica colada em mim, ok?

Melanie concordou. Sam iria retrucar, achava uma loucura. Não que seu irmão já não tivesse feito tantas insanidades. Mas isso, extrapolava ainda mais. O cara era um cabeça dura. E percebia-se que Dean estava a ponto de explodir. E Melanie tinha poderes, iria protegê-lo.

Sam e Henriksen abriram a porta que estava com menor movimentação dos demônios, Dean e Melanie correram sorrateiramente até a garagem, desviaram de três dos possuídos que batiam incessantemente na porta. O vento começou a aumentar a nuvem espessa e escura começava a aproximar-se cada vez mais, e com ela a escuridão predominava.  Dean avistou o impala, cutucou a moça e ambos correram até lá, enquanto tiros ainda se ouviam.

—Bobby e Pamela estão fazendo uma festa nessa bagunça toda — disse sussurrando o jovem para Melanie.

Dean sorriu ao ver ela balançar a cabeça. Correu até o porta mala e abriu-o. Pegou outra arma e muita munição. Depois correu o olho procurando a colt. Ela serviria para combater casos extremos.

— Me siga, vamos resgatar Bobby e a sua amiga — Dean saiu antes que a moça protestasse.

Dean chegou perto de uma enorme caixa d’água, pediu para a moça aguardá-lo e subiu os de degraus de madeira antiga. Melanie disse um palavrão indignada com os atos do rapaz. O loiro chegou ao topo segurando firme por causa da intensidade do vento e com alguns movimentos e objetos largados dentro dela começou a descer rapidamente. As coisas vistas de cima estavam ainda piores.

Enquanto os três dentro da delegacia assistiam angustiados as peripécias dos dois jovens.

— Mas que raios Dean está fazendo? — Sam murmurava inquieto. Na outra câmera a nuvem negra estava muito perto deles.

— Melanie, preciso que você e Thomas criem um escudo, algo que nos proteja até chegarmos na delegacia. Vamos buscar Bobby e Pamela agora e esse vento está começando a sugar tudo pela frente. Vocês conseguem? — Dean falou alto, era quase impossível de conversarem.

— Dean, nunca fizemos um escudo protegendo tanta gente. Sempre fomos nós dois como aquela vez que Thomas me protegeu contra aquele demônio. — Melanie estava apavorada e preocupada.

— Você consegue garota. Tenha fé. — Nem Dean acreditou tanto nessas palavras de fé como agora.

Não muito longe, os demônios perceberam a presença dos dois e logo estavam sendo perseguidos. Alguns muito próximos tombaram ao chão, de dentro da delegacia alguém atirava com uma mira telescópica nas pernas dos possuídos mais próximos. Dean levantou a sobrancelha pensativo:

“Melhor a perna do que o coração”.

 Bobby e Pamela não acreditavam no que estavam vendo e começaram a dar cobertura para os loucos que corriam desatinados em sua direção.

— Macacos me mordam! É Dean! Desgraçado maluco. — Bobby dizia, mas com um orgulho palpável sobre seu menino.

Com o barulho infernal que estava se avolumando, muitos demônios nem perceberam o que estava acontecendo e em poucos minutos Dean e Melanie estavam ao lado de Bobby e Pamela.

— Garoto, como é bom te ver ! — Bobby afirmou com aquele sorriso torto nos lábios.

— Ok, ok. Vamos temos que chegar na delegacia antes daquela desgraça de nuvem satânica — falou disse limpando os lábios da poeira que se intensificava.

— E como você acha que vamos passar por todos eles, gênio? — Bobby realmente começava a  acreditar que Dean tinha um parafuso a menos na cabeça.

— Qual é Bobby, hora do Show Time — o loiro sorriu e tirou um dispositivo do bolso.

— Mas que diabos é isso? — Bobby agora estava muito confuso — Você vai detonar essas pessoas? São pessoas Dean. Gente inocente possuída, e você vai explodi-las? — Bobby o encarava severamente.

— E porque não? — Dean falou dando de ombros.

Melanie e Pâmela não acreditavam no que estavam ouvindo. Dean realmente era um caçador sangue frio e inescrupuloso.

— Qual é gente. Acreditaram mesmo que eu fosse um assassino? — o loiro não achou que fossem acreditar em sua piada.

—Fala logo o que você está tramando com isso, não preciso lembrá-lo que estamos ficando sem tempo para suas charadinhas  — Melanie estava furiosa.

— Calma aí gata. É o seguinte vou explodir aquela caixa d’água, vai ser tudo muito rápido e ao meu sinal fiquem colados perto de Melanie e vamos todos para delegacia, entenderam? — a voz do loiro já estava ficando rouca pelo esforço.

— Você acha que um banho de água vai aterrorizar aqueles possuídos? — Melanie estendeu o braço apontado para a caixa de água.

— Seu filho da mãe abençoado! É água sagrada? — Bobby agora deixava as rugas de indignação dar lugar as de satisfação.

— Não vai machucar as pessoas, mas os demônios vão fritar um pouco. É claro, alguns realmente ficarão feridos, no entanto vivos. Prontos? — Dean segurou o detonador e no momento que todos concordaram, ele acionou o dispositivo.

Sam e os três dentro da delegacia começavam a se questionar o que estaria acontecendo, que loucura os outros estariam tramando. Ao ver todos se mantendo próximos a jovem Melanie e Dean com algo na mão e logo em seguida uma explosão.

Como o loiro previra tudo havia sido rápido demais. Os possuídos caíram gritando de dor e os quatro correram desviando dos corpos se contorcendo ao chão. 

Os jovens corriam seguindo as ordens do loiro a se manterem perto de Melanie, não sabiam o motivo. No entanto acreditavam nele.

Nancy segurou o peito com força ao olhar para a câmera de segurança, a nuvem escura estava ganhando força e em questão de alguns minutos alcançaria os quatro lá fora.

— Meu Deus, eles vão ser engolidos!

Sam e Victor se entreolharam, totalmente impotentes. Ficaram perto da porta e iriam abri-la, acreditavam ou queriam acreditar que tudo daria certo. E estariam prontos para receber os amigos.

Sam, Victor e Nancy viram suas esperanças ruírem quando a escuridão tomou o lugar por completo.

— Tenho que ir lá. Saia da frente Henriksen. Preciso ajudá-los! — Sam estava determinado a enfrentar o que quer que aquilo fosse para ajudar seu irmão e os demais.

— Você ficou louco? Você vai acabar como os outros, possuído ou morto! — o agente impedia a abertura da porta que parecia que não iria resistir por muito tempo, tamanha à pressão da força demoníaca.

— Senhor!! Olhem! Olhem! — Nancy os puxava para frente do monitor.

Os três estavam perplexos com o que presenciavam. No meio do caos uma luz ao redor dos quatro lá fora os envolvia como uma barreira protetora, impedindo que as trevas os alcançassem.

Sam respirou fundo. Seu maldito irmão tinha cada ideia. Mas teria que admitir o sucesso da mesma.

Melanie sentia que a qualquer momento seu coração iria explodir de nervosismo e ansiedade. Ela e Thomas nunca haviam realizado tal façanha e ajudar a todos estavam sendo muito gratificante. Ao chegarem na porta foram recebidos rapidamente e logo a porta se fechou e com ela a respiração e o sossego momentâneo do momento.

— Pessoal, isso foi insano! Não? — Dean falava com as mãos nos joelhos tomando fôlego.

Todos sem exceção o encararam, sabiam muito bem de quem fora as loucuras.

—Garoto, não sou mais jovem para esse tipo de aventura — Bobby sentou na primeira cadeira que vira a sua frente.

Todos riram. Estavam juntos e isso era o que realmente importava neste momento.

— Não quero estragar a felicidade de ninguém, mas ainda não acabou — Henriksen observava a porta ranger cada vez mais.

— Sim, tens razão — Pâmela disse analisando os irmãos Winchester.

— O que faremos? — Melanie perguntou olhando para a mancha de sangue escura no ombro do loiro.

Alguns segundos de silencio e o som de vidro quebrado se expandiu pelo recinto.

— Vocês ficam aqui, eu e Dean iremos verificar o que foi isso — Sam falou seguindo em frente.

Dean ainda estava puto com o irmão, mas não era hora de exigir explicação. Não agora.

Cautelosamente seguiram pelo corredor e deram de frente com uma mulher presa na armadilha do diabo.

— Você? A mulher do hotel? — Dean reconheceu de imediato a mulher que estava com seu irmão e que confundiu ele e Bobby como os cara da pizza.

— Olá Dean? — a morena sorriu sentindo a confusão na cabeça do mais velho.

— Não... não pode ser — Dean olhou para o irmão e nos seus olhos teve a confirmação — Ruby? Você é a Ruby?

— Corpo novo eu sei. Mas já digo te antecipadamente que estava desabitado, exigência de Sam — a mulher piscou ao encarar o moreno.

Dean estava perplexo. Sam estava com Ruby todo esse tempo e não revelou para ele quem era a mulher! E pior, mentiu para ele.

— Então essa vadia que te ensinou a exorcizar demônios... com... com a mente Sammy? Sério isso? — Dean encarou o caçula, havia tanto ressentimento naquela pergunta, tanta mágoa em seu olhar. Sam apenas assentiu.

— Dean, eu não queria mentir para você, eu...

Sam mal balbuciava as palavras quando o loiro em um ímpeto de ódio partiu para cima de Ruby com a faca. Ruby não esperava tal reação. E se não fosse por Sam ter empurrado o irmão para o outro lado, ela estaria morta.

— Dean! O que você esta fazendo cara? Ela me ajudou e me salvou enquanto você... você estava morto! — Sam sentiu os punhos do irmão em seu queixo, e se não fosse por Bobby o loiro não iria parar, até matar a mulher.

— Mas que droga está acontecendo aqui? Estamos quase sendo mortos pelos demônios e vocês brigando como duas mulherzinhas? Mas que bosta! — Bobby empurrava Dean chamando-o para a realidade.

— Pelo menos alguém aqui pensa. — Ruby dizia desafiadoramente.

— Eu vou te matar sua cadela. Vou acabar com toda sua laia. — Dean tirou as mãos de Bobby sobre seu ombro e saiu em direção aos demais que aguardavam na outra sala.

— O que deu nele? E essa não era a sua garota, Sam? Ela foi possuída pela névoa? — Bobby não estava entendo nada.

— Não Bobby, essa é a Ruby. E antes que a condene, foi ela quem me salvou quando eu estava perdido sem Dean. E ele não consegue me ouvir. — Sam notou o olhar de Bobby e antes que pudesse dar mais problemas, perguntou a mulher o motivo de sua vinda até a delegacia.

— Qual é Sam, não parece óbvio? Vim ajudar vocês, mas parece que não sou bem vinda. Deixe-me sair dessa armadilha.

Bobby resmungou um palavrão, mas não impediu o moreno de libertar a mulher da armadilha rompendo o símbolo com a faca.

— Bem melhor.  Agora vamos ao plano para salvar vocês — Ruby caminhou em direção a próxima sala. Sabia que o loiro estaria lá, era melhor tomar cuidado e engolir sua vontade de esfolá-lo vivo.

Após Sam ter apresentado a mulher a todos e dito que poderiam confiar nela. Foi a vez de Henriksen falar.

— E como sua amiga poderia nos ajudar? Contra todos esses monstros? — ele cruzou os braços encarando-os.

— Além de ser um demônio, eu era uma bruxa e sei de um feitiço que irá mandá-los para muito longe, inclusive eu!

Dean não estava querendo escutar e muito menos compartilhar as ideias daquela mulher. Mantinha-se voltado para o outro lado, estava tonto. A perda de sangue e toda a adrenalina de antes e a raiva de agora estava afetando seu corpo. Resolveu sentar-se, não era hora e nem o momento de ser um estorvo para ninguém. Por sorte estavam todos atentos aos planos da megera.

— Então faça. Está esperando o que? — Bobby também não gostava da ideia de depender de Ruby para sair dali. Mas se isso fosse salvar a todos, que seje.

— Preciso de um coração puro — ela não titubeou em falar.

— O quê??? — Todos falaram juntos.

— Sim. Alguém daqui além de mim terá que se sacrificar por vocês e todos aqueles que estão em sofrimento lá fora — Ruby tentava convencê-los.

— Não! — foi a vez de Sam se opor.

— Sam. Ouça-me...

— Ele não vai te ouvir cretina. Ao contrário de você, ele não é um monstro — Dean levantou-se sem importar-se com o que seu corpo lhe alertava.

— Eu cretina? Sabe quantas vezes salvei seu querido irmão da morte? Sabe quantas vezes tive que lutar ao lado dele para que se mantivesse forte enquanto você estava fora? Você não tem ideia das coisas que ele enfrentou, das coisas que ele está aprendendo comigo, se ele tivesse me dado ouvidos antes. Nada disso estaria acontecendo. Mas não ele seguiu seus conselhos seu idiota — Ruby estava farta da encenação de protegê-los, queria acabar com todos ali mesmo, seria tão fácil... mas tinha ordens de levar Sam ao que era predestinado a fazer. Conteve-se.

— Agora eu estou aqui, sua vadia. E nem mesmo você sabe quem me trouxe de volta do inferno. E isso está matando você por dentro, não é? Queria o caminho livre para levar meu irmão para a escuridão. Mas surpresa! Aqui estou eu novamente e ninguém aqui vai se sacrificar por ninguém iremos todos sair com vida juntos. Quanto a você, eu que é que você desapareça de nossas vidas. Ou eu mesmo darei esse jeito, de uma forma ou de outra — o loiro estava pronto para um confronto.

— Oh — disse Ruby batendo palmas — Você é um verdadeiro ingrato, o soldadinho do papai mesmo...

Não ouve tempo para mais nada. Dean com uma agilidade extrema, mesmo ferido, avançou como uma fera acuada para cima da mulher. A faca perfurou de raspão as costelas de Ruby. Graças a Nancy que acabou pulando em sua frente, interrompendo a ação mortífera de Dean.

— Dean você está fora de controle. Tente acalmar-se filho. Não percebe que é isso que ela quer? — Bobby tirou a faca de sua mão e o levou para o fundo da sala.

— Desgraçado. Você quer a morte de todos? Lilith está mandando essa horda de demônios porque ela quer Sam morto! — o olhar de Dean sobre ela, era essa a atenção que ela queria.

— O quê? Do que você está falando? — o loiro sentiu que as coisas iriam ficar ainda mais complicadas.

— Ruby, não. Esse não é o momento — Sam agora interrompia o diálogo.

— Ah, quer dizer que você não contou ao cabelo espetado? Sam está predestinado a ser o líder dos demônios e Lilith é claro, não quer concorrentes. Ela quer seu irmão morto e picado em pedaços. E então, o que acha? Satisfeito ou ainda quer matar a única pessoa que cuidou de Sam até agora? — Ruby viu as chamas dos olhos do Winchester mais velho se apagar.

— Eu... eu... darei meu coração. Isso vai salvar a todos e trazer as pessoas de volta, não é? — Nancy quebraram a discussão com aquele argumento.

— Sim. Todos poderão voltar para suas casinhas com cercas brancas — falou a mulher.

— Então faça!

— Não, claro que não! — Se interpôs Melanie.

— Como eu havia dito antes, ninguém vai morrer aqui — Dean aproximou-se de Melanie e Nancy.

— Ok. Vocês tem alguma ideia melhor? — disse Ruby cruzando os braços impaciente.

— Eu tenho — todos se viraram para Pâmela — Bobby me chamou até vocês para descobrir quem tirou o esquentadinho ali, do óleo fervente de volta a terra. Se a mulher aí, também não sabe quem foi, quem sabe se invocarmos essa força possa neutralizar os seres possuídos? — Pâmela aguardava as perguntas.

— Não sei se é boa ideia. E se for algo que não possamos controlar? — Bobby não tinha bons pressentimentos sobre isso.

— Bom. Não querem minha ajuda? Não vejo porque estar aqui. Depois não venham choramingar, eu estava disposta a dar minha vida por vocês — Ruby não esperou respostas e saiu indo em direção a janela de onde viera, não antes de pedir a Nancy que retirasse o sal e depois o recolocasse bloqueando o local.

— Viram? Essa é a prova que precisávamos. Ela sentiu medo. Fugiu. O que quer que tenha te tirado do inferno, Dean, os demônios temem.

Sam e os demais não tinham como argumentar, Pâmela parecia decidida. E começou os preparativos para o ritual de invocação.

— Ele... hã... foi morto mesmo e mandado para o inferno? — Victor Henriksen não conseguiu esconder a surpresa e o espanto de descobrir as coisas dessa forma.

— Foi sim. E minha amiga aqui quer invocar a coisa que o tirou de lá — Bobby tirou o boné batendo-o na perna e recolocando-o novamente.

Nancy e Henriksen entreolharam-se, o mundo parecia diferente. Um véu foi retirado bruscamente de suas vidas. Nada seria como antes, se escapassem dessa com vida.

Depois de conseguir tudo que precisava com Nancy e o agente, todos estava sentados em uma mesa improvisada, com símbolos e velas.

— Dean, preciso de algo que a “coisa” tenha tocado. — Pâmela olhou-o como se soubesse da marca que ele tinha no ombro.

Aos olhos incrédulos de todos com exceção de Bobby e Melanie, viram a mão marcada no braço do caçador. Henriksen não estava nada a vontade com tudo aquilo.

— Ok — disse a vidente colocando a mão sobre a marca — antes de começar devo avisá-los, não podem romperem a corrente e muito menos abrirem os olhos. Haja o que houver. Compreenderam? Vocês entenderam? — a mulher falou veementemente.

Todos concordaram. E com o som do vento lá fora, seguido de trovoadas e gritos dos possuídos, a mulher começou o ritual.

— Eu invoco e conjuro a você a aparecer diante deste círculo! — após varias repetições e comandos. As velas no centro da mesa se ascenderam até ficarem acima da cabeça dos presentes. Com os olhos fechados todos sentiam a vibração de algo se aproximando. No entanto, todos mantinham-se firmes. Até Pâmela começar a falar com alguém — Eu ordeno que você se mostre a mim, Castiel? Não Castiel, eu não me assusto facilmente?

— Castiel? — Dean falou quase abrindo os olhos.

— Pare Pâmela. Interrompa o ritual, agora. Ele é um anjo. Você não pode continuar! — dizia Bobby apertando a mão da amiga, alertando-a do perigo.

No entanto a mulher continuou. A curiosidade e o poder de ver aquele anjo a seduziu e o lugar inteiro encheu-se de luz e todos os presentes foram arremessados para longe da mesa.

Sam foi o primeiro a recobrar a consciência e logo em seguida os demais também levantaram-se até ouvirem Pâmela gritar.

— Meus olhos! Ai meu Deus, meus olhos! Eu estou cega! — a mulher soluçava diante a da constatação.

Dean a segurou, não havia mais olhos, apenas um profundo vazio queimado.

— Precisamos de um médico! Rápido! — Todos se entreolharam, não tinha como chamar um médico. Não havia como sair, os outros ainda estavam lá fora. Era bem verdade que algo havia acontecido lá fora. O vento forte e a escuridão da névoa demoníaca haviam se dissipado. Mas os possuídos continuavam aguardando pacientemente o vacilo dos humanos.

— Dean. Não temos como sair. Os telefones continuam mudo — Victor dizia com um leve tremor na voz.

— Bobby, segure a Pam — o loiro deixou a moça com Bobby e levantou-se pensativo.

— O que vamos fazer, Dean? — Sam estava muito preocupado com a vidente.

— Eu não sei, droga! — O Winchester passou a mão tremula pelo rosto até o queixo — Vamos deixá-los entrar.

— O que? Está louco? — Sam espantou-se com a loucura do mais velho.

— Eles querem a nós. Ficamos e daremos chance a eles. Já devíamos ter feito isso antes.

— E se não der certo? E se forem atacados e mortos? — Sam tentava mostrar ao irmão os perigos que eles poderiam enfrentar.

— Você não me entendeu. Bobby é um caçador experiente, Henriksen um agente federal e Melanie uma paranormal. Eles vão conseguir se formos as iscas — o loiro estava convicto da ideia.

— Não me importo de morrer por eles. Mas também suicídio? Cara isso é maluquice até para nós! — Sam sabia que não havia outra opção, mas tinha que argumentar.

— Eu sei. Mas não me entenda mal... — o loiro parou abruptamente ao ver um microfone e vários alto falantes — Henriksen, esses alto falantes, funcionam?

O agente chegou mais perto. O que eles queriam com alto falantes?

— Sim. O microfone fica na outra sala, onde a tal Ruby veio e saiu. Mas porque? — o agente apenas viu o rosto do caçador ficar mais sereno.

— Faremos um mega exorcismo — disse Dean a plenos pulmões.

Todos se olharam.

— Raios garoto, isso pode dar certo — Bobby concordou, com a chama reacendendo dentro de si.

— Ok. Vocês sairão pela porta dos fundos. Levem Pâmela para o hospital, caso as coisas saírem errado aqui, vocês terão uma chance — Sam dizia agora com convicção.

— Não conseguiremos sem vocês — Nancy estava tremendo de medo.

— É claro que conseguirão. Você foi corajosa o suficiente para colocar sua vida a nossa disposição.  Nada irá lhe deter garota — Dean colocou sua mão sobre os frágeis ombro da garota, dando-lhe força.

— Dean. Talvez ela esteja certa — Melanie disse melancolicamente.

— O que quer dizer? — Dean voltou sua atenção a moça.

— Tentei realizar a cura em Pâmela...

— Sério? Você conseguiu? — Dean estava indo de encontro a vidente até ouvir as tristes palavras de Melanie.

— Não. Não consegui. O poder deste anjo é muito poderoso. Consegui parar a hemorragia e amenizar a sua dor. Mas não consegui devolver sua visão e nem curá-la. Eu e Thomas estamos muito fracos, se precisarem usar nossos poderes, como o escudo,  não conseguiremos proteger todos. Eu sinto muito.

Melanie deixou-se aconchegar-se nos braços do homem que tanto mexeu com seus sentimentos. Dean afagou seus cabelos e beijou-os carinhosamente.

— Psiu, está tudo bem. Tudo vai ficar bem — ele dizia calmamente.

— Melanie, você acha que consegue criar uma barreira para você e a Pâmela?  — Sam perguntou com comoção ao ver o quanto o irmão e ela se aproximaram.

— Sim. Farei o que for preciso. Thomas e eu a protegeremos.

— Assim é que se fala, minha garota! — o loiro não resistiu aos lábios carnudos de Melanie e lascou um fulminante beijo.

Melanie por sua vez retribuiu. Dean abriu um olho enquanto beijava-a e depois sorriu ao comentar.

— Viu. Desta vez nada caiu sobre mim — disse o caçador se referindo a Thomas.

Melanie sorriu com a afirmação. Passou a mão sobre o rosto do jovem e ficou preocupada diante da constatação.

— Droga, Dean. Você está queimando. Está com febre! — Melanie agora não o largava.

— Talvez um pouco. Nada grave. Agora vá. Preciso de você lá fora.

— Não antes de curá-lo — Melanie preparava-se para ajudar o loiro.

— Nem pensar! — disse ele juntando as mãos delicadas da jovem e levando-as aos seus lábios. — Todo seu poder está quase esgotado. Se usá-lo desnecessariamente, irá condenar Pâmela, você e Thomas. Eu jamais me perdoaria. E nem você se perdoaria. Não se preocupe vai dar tudo certo.

Por mais que odiasse admitir ela sabia que Dean estava certo.

— Ok. Mas prometa se cuidar, nada de bancar o herói morto. Certo? — Melanie franziu o cenho.

— Claro. Com certeza serei prudente.  Prometo! — disse o loiro passando a mão nos cabelos de Melanie.

— Muito bem. Vamos fazer barulho!  — Bobby falou inclinando a cabeça para o lado.

Melanie segurou Pâmela e aguardava o sinal dos irmãos. Henriksen e Nancy ficaram na sala de controle e ao sinal dos Winchester acionariam o play. Bobby e Dean ficaram atrás da porta dupla, e Sam seria a isca. Sam Winchester estranhou o irmão não se opor a essa decisão, sendo sempre o cabeça dura que se machucava pelos outros.  Dean deveria estar com muita raiva dele mesmo. O que Sam não imaginava era que o irmão estava puto por não conseguir discordar. Correr, saltar e chamar a atenção dos demônios não seria fácil e em sua atual situação, onde seu corpo clamava por analgésicos e repouso, seria um tolo em arriscar a vida de todos. Seu coração estava aos saltos, mas Sam seria a melhor opção. Sem sombra de dúvida.

Melanie estava com a mão na maçaneta e assim que viu o aceno de Dean, a moça abriu a porta e saiu com a vidente sem olhar para trás.

Sam estava dando seu melhor,  centenas de possuídos começaram a persegui-lo e caso não estivesse carregando sal e atrasando-os iria ser dilacerado vivo.  Sam havia saído pela mesma porta onde Melanie saíra, e com agilidade e destreza de um caçador limpou a área , atraindo todo o resto onde Dean e Bobby aguardavam. 

— Estou chegando! — gritou o moreno alertando-os e nesse momento Bobby acionou uma improvisada alavanca.

Ao acioná-la derramaram sal e água benta próximo a porta e com o descontrole dos possuídos Sam passou por eles os derrubando como a uma bola de boliche fazendo um strike, assim que Dean e Bobby abriram as portas e se protegendo com elas.

Sam subiu um cavalete e derrubou para que os demônios não subissem facilmente. A confusão estava para se completar, ao comando do Winchester caçula os dois fecharam as portas e a trancaram rapidamente com trancas e um saco de sal em uma linha espessa.

Dean e Bobby agora estavam cercados e deram o sinal para que Henriksen fizesse sua parte e acionasse os microfones. Mas nada havia acontecido. Os três preparavam-se para o combate contra a horda de possuídos e um deles se destacou da multidão. Parecia ser o líder deles, pois todos abriram caminho para que passasse. Os olhos pretos e demoníacos predominaram e a pancadaria começou.

— Henriksen, que diabos está esperando! — Dean socava outro demônio, enquanto Sam tentava desvencilhar-se de três possuídos que subiram agilmente como se fossem gatos.

Nancy sentia a dor queimar-lhe a perna. Havia sido arremessada para longe quando tentava ajudar Victor Henriksen a livrar-se do demônio, que os atacara de surpresa. Henriksen via pelo monitor o desespero dos três que lutavam heroicamente contra uma multidão. Era só apertar o play e o desgraçado havia chegado bem na hora H.

— Agüentem rapazes — o agente dizia tentando evitar a faca que aproximava de seu peito.

Dean viu Bobby ser arremessado longe e ali ficar. O maior de todos os possuídos apenas com um sinal fez todo o bando ficar imóvel e virou-se para o loiro segurando Sam com apenas uma das mãos em sua garganta.

— É o fim de vocês Winchester. Lilith manda suas condolências — disse o possuído atirando Sam com tanta força na parede que a mesma cedeu.

— Nãooo! Seu desgraçado! — Dean tentou correr até o caçula e foi detido pelo homem.

Bobby abrira os olhos com dificuldade. Sentia que havia fraturado algumas costelas e sem conseguir fazer com que seu corpo lhe obedecesse assistia sem esperanças o derradeiro fim de todos.

Dean Winchester desvio das investidas do troglodita que era o dobro de sua altura e pura massa muscular com aditivos demoníacos.  O loiro rapidamente tentou pegar a faca e a mão do homem encontrou a sua.

— Querendo me acertar com esse espeto,  garoto? — o homem torceu o pulso do loiro que gemeu de dor deixando a faca cair e em seguida sentiu o ar faltando em seus pulmões devido a pressão de ambas as mãos do homem em seu pescoço.

Sam Winchester remexeu-se dos entulhos, a cena de seu irmão tentando lutar contra aquele monstro lhe deu forças para uma tentativa desesperadora. De onde estava levantou-se focando todo seu poder contra o ser que matava seu irmão.

Sam continuou ferozmente sentindo o sangue de seu nariz ensopar seus lábios e sorriu mostrando os dentes ensangüentados ao ver a criatura largar Dean ao chão e voltar sua atenção a ele.

— Seu inseto, miserável! O homem sentia o poder do garoto em seu corpo.

Mas ainda não era o suficiente, a força que Lilith lhe havia dado era mais forte que o jovem aprendiz.  Mesmo que passo a passo avançasse estava cada vez mais próximo do caçador, Sam estava sentindo suas forças ruírem, seus joelhos encontraram o piso e viu o homem avançando com a faca que Dean deixara cair aproximar-se. Era seu fim. Finalmente sabia que tinha muito que aperfeiçoar de seus poderes e não seria páreo para Lilith. Sam desabou ao chão, não conseguindo mais manter o controle de seus poderes sobre o homem a sua frente.

— Morra seu verme! — a faca elevou-se.

Sam fechou os olhos. Era seu fim. Ao menos morrera lutando pelos que ama. O som do tiro ecoou o lugar e a faca antes no ar agora estava caída ao chão.

Dean Winchester sustentava a colt com a mão esquerda e deixou-se cair ao chão após o disparo, ceifando a vida do homem corpulento  evitando a morte certa de  Sam.

Enquanto isso na outra sala, o demônio que estava quase conseguindo acabar com Henriksen desviou sua atenção ao som do tiro e isso foi o suficiente para que Victor tivesse a chance de inverter a situação e acertar um fulminante soco no demônio. Sem perda de tempo e aos tropeços chegou até a bancada e apertou o play do gravador.

E como o esperado o som do ritual de exorcismo surtiu efeito em todos os possuídos que saíram em debandada tentando saírem do lugar sem êxito. E ao fim do exorcismo a fumaça negra saía da boca dos humanos e explodiu no teto.

— Finalmente, Henriksen — disse Dean a um canto do enorme lugar, fechando os olhos por alguns segundos.

Nancy e Henriksen chegaram até eles, todos estavam machucados, mas vivos. Isso realmente era o que importava.

— Nossa. Vocês estão acabados — Victor sorriu ao vê-los com vida.

Aos poucos as pessoas começavam a acordar do transe, confusas e desorientadas. Nancy ajudava a todos orientando-os com a saída. Ninguém sabia o que acontecera, mas foram saindo e deixando o local pouco a pouco.

Dean, Sam e Bobby estavam sentados tomando fôlego e absorvendo toda a loucura e adrenalina de minutos atrás.

— Precisamos sair daqui — disse Dean cabisbaixo. A qualquer momento iria desabar isso ele sentia na pele sendo devorada pela febre e dor.

— Você tem razão — Victor concordou — vocês precisam de um hospital e sair daqui antes que a policia local inteira esteja aqui. Vou garantir que vocês continuem mortos.

— Como explicará tudo isso? — Sam aproximou-se de Bobby conferindo a gravidade ferimento.

— Simples. Vocês juntamente com a procurada Melanie tentaram fugir no helicóptero e acabaram batendo na caixa d’água e tudo explodiu. Só cinzas, mais nada — Henriksen apertava a mão de Dean.

— Obrigado — Dean retribuiu o aperto.

— Pessoal, uma camionete está se aproximando! — Nancy avisou esbaforida.

— Droga. Fiquem aqui. Vou ver de quem se trata — o agente saiu apressadamente.

— Temos que nos escondermos. Se for a policia estarão em cima de nós em segundos — Sam pegou Bobby pelo ombro, apoiando-o.

Antes mesmo de se levantarem, Henriksen estava de volta em companhia de uma mulher.

— Olá garotos! — disse a jovem sorrindo ao vê-los vivos.

— Melanie! — os três falaram juntos.

— Então estão prontos para deixar a cidade? — ela sorria com a chave do veículo balançando em sua mão.

— Como está Pâmela?  E como você conseguiu esses pontos? — perguntou Dean levantando-se vagarosamente de onde estava.

— A vidente continua na UTI, está fora de perigo. Mas não vai voltar a enxergar.  Sinto muito — Melanie dizia tristemente.

— Droga. Culpa nossa. Não devíamos tê-la envolvido nisso tudo — o loiro disse indignado com a situação.

— Pam sabia dos riscos. Ela não era tola. Não somos culpados, se alguém é esse alguém sou eu! — Bobby falou rispidamente. Conhecendo Dean como conhecia o cara iria ficar levando mais essa para suas costas.

— Bobby está certo. Todos corremos perigo nessa profissão. Faremos o que pudermos pela Pâmela — Sam disse ajudando o velho caçador a ir para fora da delegacia em direção a camionete.

— Venha Dean. Eu te ajudo — Melanie sabia o quanto o loiro estava se esforçando para manter o foco.

— Obrigado, minha salvadora. Depois quero saber desses pontos ai na sua testa — o caçador passou delicadamente os dedos sob aquele ferimento na testa da jovem.

Ela apenas sorriu maliciosamente. O toque dele em sua pele lhe trazia agradáveis lembranças.

— Então. Vemos-nos por aí — disse o agente a todos.

— Sim. Na próxima vez em uma rodada de cerveja. O que acha? — dizia Dean entrando no banco de trás com Melanie — Ah, e Henriksen!

— Sim? — o homem negro aproximou-se da janela do veículo.

— Quero meu carro de volta. Vamos pedir que o reboquem para nós até a oficina do Bobby — Dean afirmou categoricamente.

— Me dê o endereço. Mandarei esse ferro velho imediatamente ao seu lugar.

O agente sorriu ao ver a cara de insatisfação do loiro. E Nancy acenava vendo o veículo distanciar-se.

— Bom. Hora de fazer o relatório Nancy — ambos sorriram e entraram para dentro da delegacia.

Dean fechou os olhos e deixou-se relaxar nos braços da garota que brincava com seu cabelo, acariciando sua face.

— Agradeça ao Thomas por mim. Ele te protegeu como prometido — o loiro balbuciou antes de adormecer.

— Ele te ouviu, Dean — Melanie sentia sua mão quente ao contato da pele febril do loiro. Se não tivesse esforçado tanto os poderes de Thomas, tentaria aliviar as dores do loiro e seus amigos. Mas estava fraca. Fraca demais e não queria arriscar a vida de Thomas. Muito menos atrair espectros.

Sam olhou pelo retrovisor a cena. Todos estavam cansados, mas não havia reparado em como seu irmão estava febril. Aqueles olhos verdes tão cintilantes não era de raiva dele e sim a febre consumindo ele aos poucos. Estava tão cego com seus medos que nem percebeu o que estava diante de seus olhos.  E deixando a culpa consumi-lo nem percebeu que Ruby os espreitava pela mata. Ela deixou o veiculo passar e juntamente com outra mulher seguiram o caminho de volta a delegacia.

— Estamos quase lá, pessoal. Já estamos fora da cidade e o próximo hospital fica a uns dez quilômetros daqui. Vou deixar Bobby aqui, ele não é procurado e é melhor tratar dessas costelas rápido — Sam saiu da camionete dando a volta para ajudar o velho caçador.

— Bosta. Pareço uma menininha sendo carregada pelo príncipe encantado, deveríamos ficar todos juntos e...

— Cale a boca Bobby. Aqui, uma cadeira de rodas. Consegue? — Sam perguntou ao carrancudo teimoso a sua frente.

— Já lambi minhas feridas centenas de vezes e sozinho, moleque. Sei me cuidar. Vá você também não está lá essas coisas.

Sam sorriu. Entrou no veiculo e pelo retrovisor viu Bobby sendo socorrido pelas enfermeiras, do hospital local.

Meia hora depois estavam chegando ao local descrito por Henriksen, Sam diminuiu a velocidade na curva fechada e antes que pudesse avisar seus amigos, freou bruscamente em frente a uma espécie de portal.

— Estão todos bem? — ele perguntou olhando o banco traseiro.

— Sim. Bater a cabeça está virando rotina — disse Dean segurando a cabeça e olhando para Melanie também atordoada pelo susto.

— Ótimo, porque acho que temos um problema a nossa frente — Sam voltou a olhar para aquele centro de energia de luz azul se movimentando.

— Sam, nos tire daqui rápido!  — a voz de Melanie alertava ao perigo iminente.

Sam Winchester deu ré no veiculo, no entanto as rodas apenas giravam, algo os estava mantendo presos e em poucos instantes estavam sendo sugados pela energia desconhecida aos Winchester.

— Temos que sair da camionete, agora! — O moreno disse abrindo apressadamente a porta do veículo e ajudando Melanie e Dean a fazerem o mesmo.

Em poucos minutos feixes de luzes azuis tomaram conta do veículo, só que procuravam por uma certa pessoa.

Os três corriam o mais rápido possível longe daquele portal, e no instante seguinte Dean olhou para o próprio peito e tentou se livrar das luzes.

— Que porra é essa! — dizia ele correndo e percebendo que os feixes finos da luz azul transpassavam seu corpo.

Melanie parou abruptamente, o corpo do seu amigo estava coberto daquelas luzes. Ela sabia muito bem o que veria a seguir.

— Melanie, o que está fazendo? Continue correndo! — Dean a puxava pela mão.

— Eu sinto muito, Dean! — Ela dizia com lágrimas nos olhos.

— Do que você está falando? Vamos! — Dean gritava.

Sam estava um pouco distante e quando virou-se para ver porque Dean gritava com Melanie, ele percebeu seu irmão circundado pela aquela energia misteriosa. Sem titubear voltou para ajudar o irmão e a garota.

— Melanie, vamos. Droga aquilo vai nos engolir vivos! — O loiro balançava os ombros da jovem trazendo-a para a realidade.

— Não, pare! Me deixa! — A garota desvencilhou-se do rapaz confuso.

— Hey, hey, hey. O que está acontecendo?  — Sam também estava tentando entender o que Melanie estava querendo dizer. O vento tornava-se mais forte a cada instante.

— Temos que voltar! — A voz de Melanie soava com urgência e isso alarmou os jovens Winchester.

— Não antes de sabermos que raios deu em você? — Dean largou o braço da jovem.

— Dean. Se não entrar no mundo deles você vai morrer. Esses feixes de luz irão petrificar assim que estivermos distantes do vórtice e o que parece inofensivo agora irá aniquilá-lo em instantes. Entendeu? — Melanie voltou-se para a direção do portal.

— Ok, ok. Temos que pensar — dizia Dean passando a mão pelo queixo.

— Dean, pensar em que? Não ouviu o que ela disse? Essas coisas vão se transformar em navalhas e você parece uma árvore de natal repleto de feixes de luz, não há o que pensar! — Sam tentava convencer o irmão mais velho a seguir para dentro do portal.

— Exato — gritou Dean. Causando o efeito que queria. Tendo a atenção dos demais — Eu estou cercado dessa coisa, não vocês! Então caem fora. Eu irei e se algo der errado conto com vocês aqui. Desta forma não seremos todos pegos desprevenidos pelo desconhecido.

— Nem pensar! — disse Sam aproximando-se do loiro que lutava com todas suas forças para manter-se em pé e dizer que estava bem. Mas seus lábios arroxeados e seus olhos verdes brilhantes denunciavam a dor e a febre que o consumiam, minuto a minuto.

O loiro fez a sua melhor cara de reprovação e isso não adiantou de nada. Sam e Melanie estavam decididos e antes que pudessem continuar a discussão, um dos feixes de energia tornou-se sólido e o loiro caiu no chão, sentindo uma dor lacerante.

— Dean! — Sam agachou-se e viu a perna do loiro atravessada por algo que parecia cristal.

— Merda — o loiro tentava apoiar-se no irmão caçula.

— Não temos mais tempo. Vamos! — Melanie seguiu em frente e não havia como relutar.

O vento estava forte, ao contrário de antes o vento os sugava. Agora parecia que o vento tentava dificultar a entrada deles pelo portal. Melanie percebendo que a entidade sombria estava dificultando a entrada deles, ela formou uma espécie de proteção e mesmo enfraquecida pelas constantes batalhas foi o suficiente para prosseguirem. E os três atravessaram o portal que se fechou logo que entraram.

Melanie abriu os olhos, levantou-se lentamente um pouco atordoada com a brusca queda. Tudo ao seu redor estava tomado por uma densa neblina. Gritou o nome dos irmãos e nenhum deles respondera. Apenas o vazio e o eco de sua própria voz eram ouvidos. Deu o primeiro passo e sentiu a fumegante lama a sua frente. Cautelosamente apoiou o peso em uma crosta e rezou que aquilo sustentasse seu peso. A jovem levou a mão sobre o nariz, o cheiro forte de enxofre a estavam sufocando, pegou um lenço e lentamente seguiu em direção de um ponto de luz. Os vapores deixavam seus olhos lacrimejantes e isso dificultava sua visibilidade. Não era a primeira vez que atravessara portais, estava habituada. Só que esse parecia muito pior e o pesado ar indicava algo maligno e de grandes proporções maléficas. Esse sentimento a deixou atenta a qualquer movimento suspeito.

Enquanto Melanie passava pela lama outros vapores surgiam das bolhas de gosmas que estouravam a cada metro que avançava o jovem Sam Winchester. Para o espanto de Sam uma espécie de portal se abriu, revelando um lugar tranquilo e calmo. Era uma sensação de paz, conforto. Sensação que há muito não sentia. Um vulto chamou-lhe a atenção, estreitou os olhos no intuito de melhor visualizar. A poucos passos da entrada inebriante, Sam estacou. Era um caçador, conhecia as artimanhas do mal e sabia que poderia ser uma emboscada. Permaneceu parado em pé assistindo as melhores fases de sua vida quando adolescente, a tentação de entrar era enorme. Era bom demais. Não, aquilo não era real.

— Sam? — Aquela doce voz o despertou do transe.

— Jéssica? — O coração do caçador disparou. Ela estava linda, seu sorriso iluminando sua alma.

O Winchester avançou mais um passo em direção dos braços que lhe eram oferecidos. Parou abruptamente. Sorriu deixando as lagrimas banharem seu rosto.

—Lamento muito Jéssica — disse o jovem virando as costas e deixando o lugar repleto de paz.

Sam saiu sem olhar para trás e logo em seguida estava em frente a uma enorme árvore retorcida e dela saiam grandes feixes de luz. No topo dela, sendo segurando com todos os “tentáculos” iluminado estava seu irmão.

— Dean!!! — O moreno gritou em vão. Parecia que o mais velho estava em um profundo sono. Um sono mortal.

— Sam? — Melanie ouviu a voz do moreno e seguiu-a até encontrar com ele e se deparar com o centro de toda a energia daquele lugar.

— Melanie! O que é isso? — O moreno apontou para a grande espécie de árvore a sua frente.

— É a fonte de energia desse lugar amaldiçoado. Temos que achar uma forma de destruí-la — Melanie dizia até ser interrompida pelo moreno.

— Dean está nela! Está lá no topo. Veja! — Sam sabia que isso não era nada bom.

Melanie franziu o cenho. Não contava com isso. O que quer que fosse, sabia que o loiro era importante para ela. E estava usando-o como escudo.

Dean sentiu o corpo dormente, tentou mover as pálpebras que pareciam muito pesadas, conseguia ouvir murmúrios e entre esses murmúrios ouvira seu nome. Com uma determinação de caçador tentou combater aquele torpor, os dedos estavam enrijecidos por conta da pressão que sentia ao redor de seu corpo. Lentamente conseguira vislumbrar um vulto alto que gesticulava, era óbvio que era Sam e Melanie discutindo sobre como tirá-lo dessa enrascada, literalmente.

A enorme vontade de falar apenas resultou em palavras desconexas e sem sentido aos seus ouvidos. Estava ferrado. Muito ferrado. Então algo mudou bruscamente. A árvore antes imóvel parecia ganhar vida e de seus galhos gélidos um liquido escuro começara a passar pulsante e a voz grossa e firme da criatura emudeceu os presentes.

— Finalmente após centenas de anos de espera conseguirei invadir outro mundo. E pessoas como vocês intrometidos me detiveram por muito tempo. Agora sinto a energia percorrer por minhas membranas. Um sangue de um humano renascido do inferno e carregado de culpa. Tem algo mais delicioso que essa combinação? — A risada fantasmagórica ecoou pelo lugar nebuloso. Deixando todos os presentes em sua quietude. Até que Melanie rompeu o silêncio.

— Ora, ora. Você finalmente dá as caras? Sempre enviando seus “ratos” como cobaia — Sam encarava a jovem com certo receio.

— Minha doce garota. Te persegui por toda sua vida, mas sempre fora protegida por humanos e esse seu amiguinho Thomas. Mas você nem mesmo sabe quem é essa entidade, não é? Nem mesmo lembras de mim. Por causa de sua família estou aqui preso a essa espécie de árvore da morte.

— Do que você está falando, criatura? Nunca lhe fiz mal algum. Você e seus súditos é que tentam acabar com a terra. Com nosso mundo! E agora está mantendo meu amigo preso a você. Tem medo de lutar conosco e o mantem refém? — A jovem estava alterada, enquanto Sam tentava desesperadamente achar uma brecha para resgatar seu irmão.

— Não tenho pressa jovem Melanie. Seu amigo aqui é um ótimo alimento — a criatura falava movendo as membranas daquela espécie de galhos vivos e gélidos mostrando apenas o liquido vermelho e denso passando pelo que se pode se chamar de artérias.

— Seu desgraçado! — Sam estava totalmente impotente. Mas sentia todos os músculos de seu corpo se retesarem ao perceber que aquele liquido ao qual o monstro falava era o sangue de seu irmão.

— Sam Winchester. Vocês irmãos são muito especiais. E nem mesmo sabem disso. No entanto você Melanie, é muito mais especial. Quer ouvir sua história? Quando você estava na barriga de sua mãe, seu pai estava prestes a me libertar. Achava que a resposta para os mistérios da ciência e do tempo seriam revelados por mim. Só que ele descobriu a verdadeira intensão de nossa existência e tentou acabar com tudo. A explosão ceifou a vida dele e a minha porta fora fechada para esse mundo. Sua mãe não aguentou a triste notícia e entrou em trabalho de parto. Sabe o que foi mais intrigante? Eu de alguma forma fiquei ligado à sua família e sentia e via tudo o que se passava. Você veio ao mundo, linda e saudável. Só que algo na explosão afetou você e seu irmão no nascimento — a criatura falava com a voz arrastada e deliciou-se com as feições da jovem moça.

— Irmão? Não tenho irmão ser bestial — a garota informou sentindo um ódio intenso ao saber sobre seus pais.

— Sim, bela Melanie. Vocês são gêmeos ou eram. Ele não resistiu e morreu. Logo em seguida sua mãe veio a falecer. Deixando apenas você. Com habilidades especiais e o mais incrível de tudo. Protegida pelo seu irmão gêmeo, conhecido como Thomas.

Melanie sentia as lágrimas caírem de sua face, sentiu uma dor, uma tristeza tão profunda como jamais havia sentido antes. A criatura poderia estar mentindo? Sabia que não. Melanie procurou Thomas e não o sentiu.

— Proponho uma troca, doce Melanie. A vitalidade e o poder de Thomas pela vida de seus amigos. O que acha? Hã! É uma proposta irrecusável. Pense bem, duas vidas humanas pela de um espirito vagante. Uma alma que não consegue se desprender da sua. O que me diz? — A entidade maligna sentira a ira nos olhos da moça.

— Não. Ela não terá que escolher isso — Sam disse fixando seu olhar nos do irmão que lutava para manter-se consciente.

— Não? Por acaso não se importa de perder seu irmão? Eu te deixarei vivo para lembrar dessa escolha para o resto de sua vida, o que acha? — Dizia a monstruosidade ganhando forma conforme o tempo passava.

— Ninguém irá morrer por mim — a voz desconhecida atraiu os olhares de todos os presentes.

— Ora vejam só. Aqui você consegue se materializar, muito bem — a criatura dizia apertando seus “tentáculos” no corpo quase imóvel do loiro.

— Olá minha irmã — disse o jovem aproximando-se da garota e enxugando as lágrimas que não a deixavam em paz.

— Tho... Thomas? — A garota sentiu pela primeira vez o toque suave em seu rosto, daquele que ela jamais vira em forma tão humana.

— Sim minha querida irmã. Jamais abandonei você. Só que é chegada a hora de nos separarmos. Vá com seus amigos, darei conta do resto — a voz transmitia calma e determinação.

A jovem olhava-o, era um rapaz com sua mesma estatura e muito parecido com seu pai. As fotos eram sua única forma de lembrar de sua verdadeira família.

— Pelo visto chegamos a um acordo. Venha meu jovem. Assim que sua essência for minha... deixarei os demais seguirem — a criatura sorria através de uma imagem que se formava a cada instante.

Thomas sorriu para Sam. Olhou novamente para a irmã e seguiu a passos lentos até a tenebrosa forma retorcida.

Dean estava assistindo a tudo. Todos estavam concentrados no desenrolar da história de Melanie. Ele também ficara surpreso com a revelação, só que estava arquitetando uma forma de não ser aquele que seria um fardo para os amigos. Não sabia se iria dar certo ou não. Mas a faca da maldita Ruby estava agora em sua mão tremula e quando sentiu que a criatura deixasse seus “tentáculos” menos apertados ele desferiu com tanta violência várias estocadas que urros da criatura e uma gosma escura esvaia abundantemente.

Sam, Melanie e Thomas ficaram imóveis sem entenderem o que estava acontecendo, até perceberem que Dean estava caindo do topo daquela espécie de arvore mórbida.

A queda seria fatal. Não havia como impedir. Sam correu para colocar o próprio corpo como um amortecedor sabia que pouco iria adiantar, mas não tinha outra escolha. Viu como se fosse em câmera lenta o corpo do loiro bater e quebrar vários galhos congelados e sanguinolentos. Talvez Dean nem chegasse vivo ao chão. Como por mágica o corpo do mais velho ficou suspenso no ar até encontrar os braços do irmão mais novo.

Melanie e Thomas uniam suas forças para formar uma barreira de proteção ao redor do loiro diminuindo a velocidade da queda fatal.

A criatura agora estava desmanchando-se e criando sua forma quase humana e gigantesca. A grande batalha estava por vir.

— Maldito! Irei arrancar a sua pele lentamente. Sugarei sua alma e a de todos vocês! Desta vez não irei falhar! Não mesmo!

A neblina se intensificou e com ela um vento forte formou-se como um rodamoinho sugando-os para perto do ser monstruoso.

Sam continuava segurando o irmão cabeça dura e inconsequente.  Era incrível como o loiro conseguia fazer coisas inacreditáveis e meter-se em tantas loucuras. Mas desta vez ele conseguiu se superar. Sam apertou-o de encontro ao peito protegendo-o da feracidade da tempestade nebulosa. O moreno viu que os malditos feixes de luz vinham como navalhas ao seu encontro. Protegeu o máximo que pôde o corpo desfalecido do irmão e estava pronto a morrer se necessário fosse. Tentou usar seus poderes psíquicos e por alguns instantes as lâminas ficaram suspensas. Dean sentia o corpo inteiro sendo protegido pelo do irmão, não tinha forças para empurrá-lo e evitar que o mais moço se machucasse. Ouviu claramente a gargalhada da terrível entidade. E uma revelação ainda muito pior que todas as dores que estava sentindo em seu corpo.

— Ah, Sam Winchester! Acha que esse poder irá me deter? Teria que beber muito mais sangue de demônio do que está bebendo com sua parceira demônio. Isso é pouco meu jovem, muito pouco! — Disse a criatura satisfeita com o rompimento da proteção que o jovem tentava manter.

Dean sentiu um soco no estômago. Um mal-estar ao ouvir as afirmações da criatura. Queria ter ouvido o mais novo repudiar tal afirmação. Mas Sam apenas emudeceu e seu olhar encontrou ao do irmão. Uma profunda tristeza se abateu nos olhos verdes e o brilho antes vivido se desfazia aos poucos. Agora pouco importava viver ou morrer. A luta estava perdida e a promessa que fizera ao pai de proteger Sam, havia fracassado. Não conseguiu salvar Sam da profecia e não seria ele a dar cabo do irmão. Morreriam ali mesmo. E o loiro cerrou os olhos, deixando o cansaço e a esperança morrerem com ele.

Sam sentiu o corpo do irmão entregar-se a escuridão. Sentiu no olhar do mais velho a decepção de saber da realidade. Não era assim que o moreno queria que o mais velho soubesse. Não dessa forma. Dessa forma ele parecia um monstro, não tão diferente do que estavam lidando nesse momento. Melanie e Thomas não deixaram que as barras gélidas e pontiagudas chegassem ao seu destino. A proteção agora estava sólida. O poder dos gêmeos aumentara de forma significativa, ambos pareciam um só concentrando forças contra a terrível entidade que estava focada em destruir os Winchester.

— Sam, veja! O portal. Leve Dean com você! Agora! — Melanie gritava diante a ventania e os gritos da criatura e suas incessantes investidas sem sucesso contra os quatro jovens.

Sam ergueu-se com certa dificuldade. Tinha que trazer o loiro de volta, seria mais fácil com ele desperto. Limpou as lágrimas e determinado bateu levemente no rosto do mais velho. Um gemido, um resmungo já era o suficiente.

— Cara, vamos acorde. Depois você me mata, agora precisamos sair deste inferno. Por favor Dean, acorde!

Dean reagiu, não queria. Mas seu instinto de caçador sobressaiu ao do rancor e da tristeza. Não emitiu nenhum som de dor, apenas assentiu. Deixando-se ajudar pelo mais novo.

— E Mel...Melanie? — foi tudo que conseguiu proferir.

— Melanie e você? Venha conosco! — Sam gritou chamando-a.

— Essa luta é nossa Sam. Vamos acabar com isso. Confie em mim, agora vão embora! Iremos selar o portal! Vamos! Diga a Dean que eu o amo e que voltaremos a nos ver, isso não é o fim. Eu prometo! — Melanie estendia ambas as mãos concentrando sua força contra a criatura, que se debatia desesperadamente para evitar a saída dos Winchester.

— Desgraçados! Vocês irão morrer. O mundo de vocês irá morrer. Lilith trará o apocalipse. Romperá os demais selos, o primeiro já foi rompido. Esse loiro cuidou disso, quando aceitou ser um fatiador de almas. Ele desencadeou o apocalipse, humano fraco e deprimido — as palavras saíram como facas pontiagudas acertando em cheio um coração frágil e envolto de trevas.

Dean ficou em estado letárgico, tentava assimilar a bomba que a criatura atirara em sua face. Melanie franziu o cenho, verdade ou não eles teriam que sair dali e consertar o mundo lá fora.

 — Sam, agora! — A jovem ordenou a saída deles.

Sam concordou, sentiu os dedos do irmão segurarem sua camisa xadrez. Como forma de protesto, mas não tinha forças o suficiente para detê-lo e Sam arrastou-o para dentro do portal. Dean encontrou os olhos de Melanie e como uma criança estendeu a mão direita tentando alcança-la até que um estrondo e um flash de luz deixaram-no cego momentaneamente.

Sam abriu os olhos com extrema dificuldade e reconheceu o lugar. Estavam novamente na camionete. Olhou para o irmão em seus braços. Estava desacordado. Talvez fosse melhor assim. O moreno o carregou com cuidado até o veículo, agradeceu aos céus ao ouvir o rouco do motor ao girar a chave na ignição e partiu em alta velocidade para o hospital mais próximo.

***

Em outra dimensão Melanie e Thomas deram seu melhor. Ambos pareciam apenas um. Ágeis, velozes e determinados. A luta fora violenta, muitas criaturas surgiram assim que o portal fora fechado. Aos poucos a tentativa de vitória daquela coisa bizarra diminuía. Sem o sangue alimentando-o a criatura começava a ruir e desmanchar-se, o que garantiu a Thomas e Melanie o golpe fatal que extinguiria aquele ser para sempre de suas vidas. Como sairiam dali, não sabiam. Com a enorme explosão do corpo da criatura aquele mundo começava a se desmoronar e a chance de saírem vivos dali eram mínimas sem um portal.

— Eu te amo irmã — Thomas abraçou-a.

Melanie deixou-se abraçar. Era reconfortante e caloroso o abraço daquele que a acompanhava desde o nascimento. Um irmão. Era tudo que ela desejava.

A densa neblina estava baixando, o lugar inóspito começara a mostrar suas formas, grandes crateras e terra formavam aquele mundo sem cor. A uma certa distância deles uma fenda emitia uma luz. Melanie sabia, era a saída daquele lugar. No entanto sentiu-se tentada a não sair. Se saísse não viria Thomas, e seria como antes. O irmão leu sua mente, tocou seu ombro encorajando-a. Era hora de voltar. É chegado o momento de enfrentar novos desafios. Onde aquele portal iria dar, não sabia. Mas seja onde fosse, não estaria sozinha. Estaria acompanhada da entidade que mais amava no mundo, seu irmão. Ela retribuiu o abraço e juntos seguiram adiante. Quem sabe um dia o destino colocaria Dean Winchester em seu caminho, só que desta vez seria para desfrutar de seu amor por ele, até lá enfrentaria outros portais com seu irmão Thomas.

***

Sam estava sentado ao lado do leito onde seu irmão estava. Dean continuava desacordado, perdera muito sangue. O ferimento na perna havia infeccionado, e graças aos bons médicos seu irmão ainda respirava. Os médicos lhe haviam dito que seu irmão acordaria a qualquer momento e ficaria ali até vê-lo abrir os olhos. Sabia que não haveria um sorriso, nem um agradecimento. A verdadeira batalha estava por vir. Sam explicaria tudo. Não iria omitir mais nada de seu irmão. As escolhas que fizera fora para seguir com o negócio da família.

Dean voltara do inferno diferente, não era o irmão destemido que lembrava. Estava fraco demais para enfrentar um mal tão poderoso como Lilith. E se fosse verdade que ele havia começado o efeito dominó, estaria com a alma destroçada. Conhecia seu irmão, sabia que carregaria o peso de tudo em seus ombros. Fora muitas revelações que o marcariam para sempre. Sam passou a mão pelo queixo, teria que deter o apocalipse a qualquer custo. Mataria Lilith com a ajuda de Ruby. Seus ensinamentos haviam o ajudando em muitos aspectos. Sentia-se forte e determinado. Salvou muitas pessoas possuídas sem acabar com a vida delas e isso lhe era gratificante. O moreno pegou o controle da televisão, ligou-a deixando um desenho qualquer passar, virou-se rapidamente para a porta. Olhou para o irmão adormecido e foi em direção a mulher que lhe aguardava.

— Olá Sam — a morena passou a mão sobre o braço do jovem.

— Oi Ruby. Não é o melhor momento. Dean pode acordar a qualquer momento. Ele ficou sabendo do que faço com você de uma forma distorcida. Quero explicar a ele, todo o bem que isso está me fazendo e ajudando as pessoas — Sam continuava repetindo isso, talvez para se auto convencer de suas próprias palavras.

— Está bem. Vamos beber um café é rápido e você está um lixo — a mulher pegou a mão do moreno puxando-o para o saguão.

Sam olhou para irmão. Ele continuava dormindo tranquilamente. Pensou em desligar a televisão, mas foi puxado pela morena. Precisava de um café quente.

O vulto aguardava a saída dos dois. Sabia que isso iria acontecer a qualquer momento. O homem entrou no quarto e sentou-se onde antes Sam estava. E com uma voz rouca e determinada começou a falar.

— Acorde, Dean.

Com o toque de sua mão sobre a testa ainda febril do loiro, as pálpebras tremeluziram e logo os verdes olhos se abriram.

Passados alguns instantes para se adaptar com a claridade, seus olhos se focaram ao homem de sobretudo ao seu lado.

— Cas...Castiel? — A voz saíra abafada e entrecortada.

— Olá Dean. Desculpe-me por não ter vindo antes — o anjo balançava a cabeça lamentando e olhando para a marca de queimadura em formato de mão no ombro do caçador.

— Foi... foi você? Foi você que me tirou do inferno? — Dean começava a lembrar-se da avalanche de informações.

— Sim. Lamento pela sua amiga Pâmela. Alertei-a do perigo. Eu estava em conflito com meu receptáculo. Achei que você me escutaria, mas me enganei. Lamento — o anjo falava com nítido sentimento de culpa e pesar.

Dean Winchester queria mandar ele se danar, que sua amiga estava cega por causa dele. Mas não tinha forças para começar uma discussão, algo estava martelando a sua cabeça. Teria que saber, ser era verdade ou não. Ele teria mesmo começado o apocalipse?

— Castiel. Fui eu mesmo? — A pergunta fora evasiva.

— Sim. Lamento muito. Tentamos sitiar o inferno ao descobrirmos as reais intenções de Lilith. Mas chegamos tarde — Castiel olhou o semblante abatido do amigo.

— Eu comecei tudo isso. Se era tarde, porque me salvou? Porque não me deixou lá? — O loiro tentou sentar e não conseguiu.

— Não é culpa que recai sobre você Dean. Você é o único que pode parar o apocalipse — as palavras do anjo fizeram o loiro bufar.

—Humpf, então vocês estão ferrados. Todos nós estamos ferrados. Eu não posso Castiel, não dá. Não sou forte o suficiente. Não consegui nem salvar a Melanie. A deixei lá sozinha com aquela monstruosidade — as lágrimas teimavam em banhar sua face sofrida.

— Sua amiga está bem, saiu por outro portal, seus caminhos ainda se cruzarão. E o destino marcou você. Está escrito Dean, "O primeiro selo será quebrado quando um homem justo derramar sangue no inferno." E... “O homem que começou é o único que pode terminar”. Você tem que detê-lo — Castiel levantou-se.

— Deter quem? Lúcifer? O apocalipse? Não vai desaparecer agora seu filho da puta! Me diga, o que vocês querem de nós? — Dean ignorou os bipes que os aparelhos emitiam e sustentou o olhar azul do anjo.

— Sinto muito que tenha que passar por tamanhas provações. Você tem que deter seu irmão Dean. Ele está trilhando um caminho perigoso e sem volta. Detenha-o ou nós o faremos — e Castiel desapareceu em meio aos sons de asas.

Os bipes estavam soando, logo a enfermeira entrou verificando pulsação e outros procedimentos. Sam adentrou o local apressadamente ao ver a enfermeira correndo para o quarto de seu irmão. O que encontrou o deixou abalado, havia um homem no leito com a face banhada em lágrimas e o rosto demonstrava tamanho sofrimento. Seus olhos se encontraram, Dean não conseguiu sustentar o olhar. Com a ajuda da enfermeira virou-se para o lado, e apenas ouviu mais um golpe da vida contra sua alma já estraçalhada. O desenho dera lugar ao noticiário, uma catástrofe na delegacia havia ceifado a vida do agente Victor Henriksen e seus subordinados. Estavam todos mortos. Sam sentiu o peito arfar e seus olhos marejarem. Lilith estava por trás disso, estavam perdendo a batalha. E ele estava perdendo seu irmão.


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao final desta jornada. O que acharam? Gostaria muito de saber a opinião de vocês. Beijos.



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