Aprendendo a ser pai escrita por XxLininhaxX


Capítulo 7
POV Hyoga


Notas iniciais do capítulo

Yooo pessoitas XD!!
Tô passando aqui de novo pra postar mais um cap XD!!
Tô tentando fazer o máximo q posso pra non ficar demorando mto XD!!
Até pq tem a fic com a Sarinha pra atualizar tbm, né?
Mas espero q entendam q fica foda quando tenho mto trabalho pra fazer XD!!
Msm assim, prometo fazer o possível pra non demorar XD!!
Bom, tá aí mais um cap ^^
Espero q gostem...

=**
Boa leitura



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Eu não ia ficar esperando o meu mestre descer para tomar café comigo. Eu já estava cansado de ter que ficar encarando a mágoa e a decepção em seu frívolo olhar. Aquilo acabava comigo. Eu não aguentava mais. A pressão estava muito pesada sobre meus ombros. Seja perfeito! Seja perfeito! Seja perfeito! Chega! Não suportava mais isso! Eu não podia me matar, prometi que não o faria. Mas, com as coisas daquele jeito, estava difícil manter a promessa. Minha vida já não tinha sentido, muito menos sem meu mestre. Sim, sem ele. Porque nessa última semana, mesmo estando em casa, era como se eu não existisse para ele. Acho que ele não tinha ideia do quanto aquilo me machucava. Sempre que ele me olhava com aqueles olhos desaprovadores, eu sentia uma vontade enorme de me prender em um esquife de gelo e ficar lá por todo o resto da eternidade. Eu já havia perdido a conta de quantas vezes segurei o choro quando meus olhos encontraram com os dele. Não sabia sequer de onde tirei forças para aguentar aquela torturante semana. Talvez em Milo. Ele tem sido tão gentil, tão amável, tão... pai. A esperança que eu não encontrava nos olhos de meu mestre, tinha de sobra nos olhos de Milo. O amor que eu não sentia em Camus, transbordava em Milo. Talvez isso tenha me permitido ficar de pé até agora. Eu queria retribuir. Eu queria dizer a ele que o amava como um pai. Mas do que adiantaria? Mesmo que Milo me considerasse um filho, se Camus não entrasse em sintonia, seríamos apenas uma família completamente disfuncional. Isso se pudéssemos nos considerar uma família. Eu também não acreditava que se Milo tivesse que escolher entre mim e Camus, ele me escolheria. Claro que não! Foi tão sofrido ele conseguir, finalmente, ficar com meu mestre. E eu também não teria coragem de pedir algo assim a ele. Preferia sair de cena. Quem sabe eles não encontrassem alguém que os dois pudessem chamar de filho?! Aquele pensamento apertava meu coração de tal forma que eu chegava a ficar sem ar. Se eu os perdesse, para onde iria? O que eu faria? Que outro sentido eu poderia esperar da vida? Bem, se eu os perdesse, pelo menos não teria mais que cumprir a promessa. Então poderia voltar para os braços da minha mãe.

Desci as escadarias bem devagar. Não tinha pressa para treinar. Não ia fazer a menor diferença em tempos de paz. Mas como cavaleiro eu não poderia relaxar. Eu tinha que estar preparado para qualquer coisa. Parecia até hipocrisia pensar assim depois de tentar suicídio. Eu era forte o suficiente para encarar qualquer tipo de batalha, estava pronto para entregar minha vida em prol da humanidade, mas não tinha força para encarar a rejeição. Só podia ser piada! Eu tinha orgulho suficiente para me gabar de minha força, mas não tinha dignidade para dizer que era forte. Eu não podia culpar meu mestre por ter se decepcionado comigo. Era realmente patético. Ele não merecia um pupilo como eu, quanto mais um filho. Senti um par de lágrimas teimando em cair por meu rosto. Fiz questão de limpar logo. Não queria que mais ninguém me visse daquele jeito insignificante. Só o meu mestre já foi o suficiente para me destroçar. Não precisava que mais ninguém o fizesse. Passei por todas as casas até chegar à arena. Não tinha ninguém ali. Claro! Sábado de manhã. Quem mais estaria ali? Fui até o centro e fiquei sem saber o que fazer. Já que ninguém iria até ali, eu poderia meditar. Se eu congelasse a arena, não faria diferença. Não hoje. Sentei-me na posição que Shaka havia me ensinado. Eu queria levar minha mente à outra dimensão, se possível. Se meditação não me ajudasse, quem sabe Saga pudesse. Mas não pediria ajuda antes de tentar resolver o problema por mim mesmo. Fechei meus olhos e esvaziei minha mente. Senti meu cosmos subir, mas não importava. Eu queria um pouco de paz, antes que eu cometesse alguma besteira. Esvaziar a mente. Esvaziar a mente. Esvaziar a mente.

– Ei! Acorda!

Assustei-me! Abri os olhos com o coração batendo forte. Minha visão estava meio desfocada.

– Não vai congelar a arena de novo. Deu o maior trabalho da última vez.

Esfreguei um pouco os olhos. Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Aquela voz grave que aquecia a alma.

– Ikki?

– Quem mais consegue derreter esse seu gelinho? – ele respondeu sorrindo debochado.

– Convencido. – respondi sorrindo também e levantando-me. – Você só consegue quando eu facilito.

– Sei. – ele estava sendo irônico. - Você pode ser frio o quanto quiser. Não existe gelo que o fogo da ave Fênix não derreta.

– Quer que eu te mostre? – perguntei desafiando-o.

– Pago pra ver, Pato. – ele ficou em posição de ataque.

– Pato? – ergui uma sobrancelha, cruzando os braços no peito.

– É. Pato. Algum problema? – ele continuava em posição de ataque, me provocando.

Sim. Tinha vários problemas naquilo. Que intimidade era essa que ele achava que tinha para me chamar de Pato?

– Nenhum, Galo. – coloquei-me em posição de ataque.

– Galo? – agora foi a vez dele de levantar a sobrancelha.

– É. Galo. Algum problema? – falei, sarcástico.

– E posso saber o motivo desse apelido?

– Simples. Você sabe cantar como nenhuma outra ave, mas isso é tudo. Não passa de uma avezinha qualquer. – sorri debochado.

– Ah Pato! Você vai engolir essas palavras.

Ele partiu para o ataque. Uma luta entre Ikki e eu? Ah! Com certeza isso era, no mínimo, nostálgico. Os movimentos dele sempre entravam em sintonia com os meus. Era uma bela luta para se ver. Como era apenas um treinamento, não haveria vencedor e nem perdedor. Mas seria interessante saber quem era mais forte. Claro que se fosse apenas por força física, Ikki estaria a quilômetros de distância a minha frente. Mas eu sempre fui muito perspicaz em uma luta, prevendo o movimento dos meus inimigos com perfeição. Eu era um guerreiro muito mais flexível que ele. Mas não eram somente essas coisas que contavam em uma luta, então diria que estávamos pau a pau.

Ficamos um bom tempo lutando. Devo admitir que estava divertindo-me como há muito não fazia. Fui até capaz de sorrir naturalmente. Eu sempre me impressionava com o jeito que Ikki me levava para um lugar único, onde nada mais importava. Nós não éramos muito próximos, mas minha sintonia com ele era até maior que a que eu tinha com Shun. Não precisávamos conversar horas para nos entendermos, bastava um olhar, um gesto, um sorriso. Era estranho. Eu sentia que podia ser eu mesmo com ele. Não importava o que eu mostraria, ele continuaria com aquele sorriso provocativo no rosto. Ele era claro, sincero, simples. Não precisava de idas e vindas para entendê-lo. Ele era exatamente o que mostrava ser. E isso me dava a segurança de ser exatamente como eu era. Não precisava esconder-me atrás de máscaras, não precisava ser cortês, não precisava sequer ser educado. Muitos pensavam que nos odiávamos, por presenciarem conversas nada amigáveis. Realmente, vivíamos trocando farpas. Mas era o nosso jeito de dizer que nos dávamos bem. Era estranho, mas eu gostava. Nunca quis aprofundar muito essa relação porque... Bem, nem eu mesmo sabia. Eu sempre vivi afastado de todos, estava acostumado com isso. E Ikki também era assim. Nunca foi de se misturar com ninguém. Ambos respeitávamos o espaço do outro. Ele gostava de ser livre e eu gostava de viver no meu mundo. Talvez se estreitássemos essa relação, algo diferente pudesse surgir. Mas não estava disposto a correr esse risco. Pelo menos por enquanto. Não queria estragar tudo. Não queria correr o risco de decepcionar mais alguém. Não queria me iludir pensando ser importante, para depois a realidade destroçar minhas esperanças. As coisas estavam certas daquele jeito. Eu não precisava de mais nada.

Paramos um pouco. Já devia estar perto da hora do almoço. E, depois de tanto exercício, eu estava com muita fome. Ambos estávamos arfando. Com razão. Passamos horas lutando, sem parar. O suor pingava no chão. A pele morena dele brilhava com aquele sol forte que nos castigava. Tinha que admitir, Ikki tinha uma beleza muito exótica e chamativa. Poucos conseguiam me deixar tão tentado como aquele leonino. Aquele calor tão típico dele fazia minha respiração se descompassar. Maldito! Ele que nem sonhasse com isso ou eu estaria ferrado.

– Quê que foi, Pato? Perdeu o cú na minha cara? – ele perguntou, gargalhando em seguida.

– Fico surpreso com sua sutileza. – respondi tirando minha camisa, completamente molhada.

– Se quer fazer striptease para mim, acho melhor irmos para um lugar mais apropriado. – ele disse, também retirando a camisa.

– Pode sonhar! Eu sei que você bem que gostaria. – sorri debochado.

– É. Não seria má ideia.

Ah! Ele estava me provocando. Dizer aquilo com aquele sorriso no rosto, enquanto o suor escorria pelo seu corpo completamente definido... Era muita tentação! Maldito! Mil vezes maldito! Ainda bem que minha face já estava corada com aquele sol, senão eu teria que explicar o motivo de ficar rubro.

– Tá com fome? – perguntei, mudando de assunto.

– O que você acha? – ele disse sarcástico.

– Se você fosse um pouquinho mais educado, quem sabe eu não fizesse algo para você. – respondi, saindo do centro da arena e me dirigindo para fora.

– Ei! Peraí! Quer dizer que o Pato sabe cozinhar? – ele veio até mim, andando ao meu lado.

– Acho difícil encontrar alguém melhor que eu nesse Santuário. – respondi, me gabando.

– Ora, ora. Fiquei curioso. Posso testar?

– O que quer?

– Posso pedir qualquer coisa?

– Qualquer coisa.

– Ótimo. Então pode se preparar, porque eu tenho um paladar muito apurado.

– Na minha casa ou na sua?

– Na minha.

– Então você vai até a minha, primeiro. Preciso pegar algumas coisas e avisar meu mestre e Milo.

– Não tem problema.

Seguimos até a décima primeira casa. O clima entre nós era tranquilo. Conversamos durante todo trajeto. Era agradável. Não sei se é porque eu estava mais sensível ou se realmente havia certa harmonia entre nossas personalidades, mas eu estava me sentindo extremamente confortável com a companhia de Ikki. Talvez eu nunca tenha me sentido tão à vontade ao seu lado como naquele momento. E se me pedissem para explicar, também não saberia. Mas eu não queria que aquilo acabasse. Ele conseguiu me fazer esquecer tudo que estava me perturbando. E ele não fez o menor esforço pra isso. Foi tão fácil, tão natural. Parecia até que eu estava sonhando. Bom, se fosse um sonho, eu não queria acordar. Eu não queria dar de cara com aqueles olhos frívolos. Eu não queria que o real voltasse a me assombrar. Eu queria continuar sorrindo daquele jeito. Eu queria continuar me enchendo daquela paz, daquela sensação de que nada mais importava, eu podia viver daquele jeito. Assim, não precisaria de um motivo para viver. Poderia somente passar meus dias ao lado daquela agradável companhia. Será? Será que só isso me bastaria? Eu não podia garantir. De qualquer forma, não era nisso que eu queria pensar.

Chegamos à casa de Aquário. Estava tudo muito quieto. Achei estranho. Milo sempre fazia muito barulho. Pedi para que Ikki não fizesse muito barulho. Fui adentrando a casa e encontrei Milo deitado no sofá, dormindo. Não pude evitar sorrir. Pedi para que Ikki me esperasse, subi até meu quarto e peguei uma coberta. Mesmo sem Camus e eu, aquela era a casa mais fria de todo o Santuário. Milo era grego, acostumado com o calor. Provavelmente estava com frio. Voltei para a sala e me aproximei de Milo. Ele estava todo arrepiado. Coloquei minha mão em seu braço, estava gelado. Sorri. Ele sempre fazia isso, sempre se esquecia de cobrir-se. Coloquei a coberta sobre ele. Ele estava dormindo feito pedra, como de costume. Desliguei a televisão e saí da sala, em direção à cozinha, junto com Ikki. Pelo visto meu mestre não estava em casa. Melhor para mim. Não teria que explicar nada. Além do mais, corria o risco deles não me deixarem sair, já que estava de castigo. Comecei a procurar o que eu precisava.

– Você gosta muito do Milo, não é? – Ikki me perguntou, chamando-me a atenção.

– Por que pergunta? – falei ainda procurando o que precisava.

– Pelo cuidado que você tem com ele, pelo jeito que você olha pra ele. – ele falava sério.

– Tá com ciúmes, é?

– Talvez. – ele respondeu com aquele sorriso debochado.

Novamente fiquei sem saber o que dizer. O que estava acontecendo com Ikki? A gente brincava muito de jogar charme um pro outro, mas hoje eu o estava sentindo mais sério que o normal. Como se suas brincadeiras tivessem um fundo de verdade. Ou será que eu estava apenas imaginando coisas? Provavelmente. Eu estava mais carente que o normal. Era bem possível que eu estivesse me iludindo. Mas eu não podia fazer isso. Eu já tinha me machucado demais. Não queria mais uma ferida. E se tinha uma coisa que eu havia aprendido com essa história toda é que eu, definitivamente, não sabia lidar com a rejeição. E se eu começasse a criar esperanças e não fosse nada do que eu estava pensando? Nem sei o que poderia acontecer. Era melhor eu continuar fechado no meu mundo.

– Vamos. Já peguei tudo que preciso. – disse.

Descemos até a sexta casa, de Virgem. Senti o cosmos de Shun, Shaka e Mu. Provavelmente teria que cozinhar para todos.

– Oga! Que bom te ver, meu amigo. – Shun veio logo me abraçando.

– Estou sempre aqui, Shun. Você que nunca vai me visitar. – disse retribuindo o abraço.

– Tenho treinado muito.

– Shun está treinando bastante. Sabe como é o Shaka, não é? – disse Mu, chegando abraçado com Shaka.

– Eu tenho que ser rígido. Esses cavaleiros de hoje fazem muito corpo mole. – disse Shaka.

– Assim você me ofende. – disse Shun fazendo meio que um bico.

– Não quero que fique igual seu irmão. – respondeu Shaka.

– Começou. Tava demorando pra me colocar no meio disso. – reclamou Ikki.

– Sabe que é verdade. E você pode esperar porque amanhã é meu dia de treiná-lo. Não sou como o Aiolia para deixá-lo por aí, fazendo o que bem entende.

– Não preciso de vocês para treinar. Sei muito bem me virar sozinho.

– Sabe treinar sozinho, mas não tem disciplina. A sua sorte é que, apesar de morar conosco, seu mestre é o Aiolia. E olha que eu já conversei com ele sobre isso. Espero que ele cumpra o que me prometeu.

– Ah! Sério, Shaka? Vai ficar bancando a babá agora? Vê se me erra, saco! – Ikki reclamou.

– Olha como fala comigo, rapaz! – Shaka falou num tom mais autoritário.

– Não enche! – Ikki voltou a reclamar.

Ikki! – agora Shaka lhe chamou a atenção.

– Tá bom! Já chega, não é? – disse Mu, tentando amenizar a situação. – E então, Hyoga? O que o traz até aqui? Pra que são essas coisas?

– Ah! São utensílios indispensáveis para que eu cozinhe. Será que se importariam se eu usasse a cozinha de vocês? – perguntei educadamente.

– Você quer cozinhar aqui? – Mu perguntou, um pouco confuso.

– Eu pedi, Mu. – disse Ikki.

– Mesmo? Mas é só pro Ikki ou podemos comer também? – Shun perguntou.

– Se quiserem não me importo de cozinhar para todos. – respondi.

– Eu adoraria. Milo sempre comenta o quanto você cozinha bem. – disse Mu.

– Que bom! Eu adoro sua comida, Oga! – disse Shun.

– Tudo bem, então. Shaka, você é vegetariano, não é? – perguntei.

– Sou sim.

– Vou preparar algo especial para você.

– Obrigado, Hyoga. É muito atencioso da sua parte.

– Não há de que.

– Você não precisa fazer isso, Pato. Bom que acaba com essas viadagens dele. – Ikki falou debochado.

– Você não tem um pingo de respeito, não é, moleque? – falou Shaka, mas não em tom de repreensão.

– É sério! Você pode ser gay, mas não precisa ser viado. – Ikki falou, gargalhando em seguida. Mu também riu e Shun segurou para não rir.

– Não fique incentivando isso, Mu. – Shaka falou, mas pelo tom ele estava bem humorado.

– Desculpa, mas essa foi engraçada. Você realmente é bem sistemático. – respondeu Mu.

– Bom, se me derem licença. – disse, enquanto a conversa continuava.

Saí de perto deles e fui para a cozinha. Aquele ambiente não estava me agradando. Eles pareciam uma família. Ficar ali só estava me lembrando de tudo que estava acontecendo comigo. Do quanto eu queria estar em uma família, como era ali na sexta casa. Suspirei. Eu já sabia que seria difícil me desligar da minha realidade. A quem eu queria enganar? Era impossível! Tudo me lembrava de meu mestre. Do quanto eu gostaria de ter liberdade para brincar com ele, como Ikki fazia com Shaka. Doía tanto. Doía tanto.

Comecei a preparar o almoço. Eu tinha que me concentrar ou não ficaria bom. Comecei cortando algumas verduras. Não adiantava. A imagem daquela família não me saía da cabeça. E quanto mais eu via, mais meu peito doía. Senti meus olhos arderem.

– Ai. – falei ao perceber que havia cortado o dedo.

Coloquei em baixo da torneira, para estancar o sangue. Eu precisava esquecer. Balancei a cabeça e tentei me concentrar novamente. Suspirei.

– Algum problema, Pato? – ouvi a voz grave de Ikki atrás de mim.

– Não, estou bem. – respondi, tentando não transparecer minha tristeza e continuando de costas, enquanto cortava mais verduras.

– E você acha que me engana? – ele voltou a falar.

– Eu estou bem, Ikki. Sério. – voltei a falar, torcendo para que ele não reparasse na minha voz trêmula.

– Já que não quer falar, não vou insistir. – ele falou e eu suspirei. Porém, logo em seguida, ele veio em minha direção e colocou um braço de cada lado do meu corpo, se apoiando na bancada onde eu preparava o almoço. Senti sua respiração quente em meu pescoço e seu calor emanava, embora ele não tenha encostado um músculo sequer em mim. – Hyoga, para de se fechar no seu mundinho. Você só vai se machucar mais desse jeito.

– E você acha que se eu me abrir, vai ficar tudo bem? – perguntei, usando todo meu autocontrole.

– Você só tem que encontrar a pessoa certa, Pato. – ele sussurrou em meu ouvido com sua voz grave e rouca, fazendo-me arrepiar dos pés à cabeça. Logo em seguida ele se afastou. – Vou deixar você cozinhar em paz. E vê se anda logo porque eu tô com fome.

Ele saiu da cozinha e eu sorri. Era um maldito mesmo! Mas pelo menos me acalmei um pouco. Agora podia me concentrar na cozinha. E foi o que eu fiz. Nunca me dediquei tanto a preparar a comida como naquele momento. Por que eu estava me esforçando tanto? Será que eu queria impressionar o Ikki? Fala sério! Eu estava parecendo uma senhorita da sociedade antiga tentando demonstrar seus dotes culinários para o pretendente. Ri daquele pensamento. Se aquele maldito estava pensando que ia me fazer cair naquele papinho furado, ele que me aguardasse.

Terminei. Estava tudo perfeito. Fui arrumar a mesa e coloquei a comida para que eles pudessem se servir. Eu me distraí tanto com aquilo que até perdi a fome. Mas eu os acompanharia, só para não fazer desfeita. Todos sentaram à mesa e começamos a comer.

– Hyoga, isso está divino! Milo não exagerou em nada quando disse que era um bom cozinheiro. – disse Mu.

– Tenho que concordar com Mu. Está ótimo. – disse Shaka.

– A comida do Oga é a melhor! – disse Shun.

– Dá pro gasto. – disse Ikki.

– Pode dizer que amou, Galo. Não seja tímido. – falei debochado.

– Não vou ficar enchendo sua bola, Pato. Seu ego já é grande o suficiente. – ele disse sorrindo provocativo.

– Vou considerar isso um elogio. – falei, voltando a comer.

Ikki me lançou um olhar significativo. Ele não precisava dizer, sabia que tinha gostado. Isso me deixou feliz. Perguntava-me se meu mestre também gostava da minha comida. Quer dizer, eu sempre fazia seu almoço, mas ele nunca comentou nada sobre o sabor. Será que ele gostava? Esse tempo todo eu acreditei nisso, mas agora já não tinha mais certeza. Talvez ele comesse apenas por consideração ao meu trabalho. Meu mestre nunca foi de fazer desfeita. Eu não passava de um egoísta, insistindo para que ele comesse o que eu preparava. Será que eu forçava meus sentimentos demais? Eu definitivamente não tinha certeza de mais nada.

Terminamos de comer e Ikki e eu saímos em direção à arena de novo. Eu estava um pouco mais desanimado. Durante o almoço senti aquele clima familiar de novo. E pensamentos de rejeição voltaram a me perturbar. Será que aquele inferno não acabaria nunca? Será que toda vez que eu me deparasse com aquela situação, eu ficaria me lamentando? Eu estava cansado! Cansado de ficar lamentando o quanto meu mestre não gostava de mim, o quanto ele não me considerava. Eu o havia decepcionado e corria o risco de nunca mais me reaproximar dele. Eu tinha que encarar isso como um homem! Quem sabe se eu agisse com maturidade, meu mestre não voltaria a me tratar como antes?! Pelo menos não teria que ficar encarando aquele olhar gélido. Mas eu conseguiria ignorar aquele sentimento? Eu ainda o via como pai. Mesmo tendo a certeza de que ele não me considerava mais do que como um discípulo, eu ainda o admirava. Eu não conseguiria dar as costas àquilo.

Chegamos à arena e eu sentei-me na arquibancada. Eu teria que voltar para casa, afinal, ainda estava de castigo. Mas eu não queria voltar. Não queria mais daquela mágoa, daquela decepção, daquela rejeição. Eu realmente estava cansado daquilo. Já que eu não podia mais me matar, pelo menos queria um pouco de paz. Eu já sofria o suficiente com aquele vazio em meu peito, não precisava de mais angústia para minha alma. Quanto mais eu via meu mestre, mais vontade eu tinha de não cumprir minha promessa. Eu estava sendo um estorvo. Eu realmente detestava me sentir um incômodo, um peso. Eu tinha que dar um jeito de sair dali. Quem sabe se eu conversasse com Shion ou Dohko eles não me deixariam morar no abrigo dos aspirantes a cavaleiro. Ou quem sabe voltar para a Sibéria. Talvez voltar para a Sibéria fosse mais fácil. Eu poderia dar a desculpa de patrulhar a área, não sei. Mas uma coisa eu sabia; naquela casa não dava mais para ficar.

– Vai me dizer o que você tanto pensa? – disse Ikki, tirando-me de meus devaneios.

– Nada de mais. – respondi desinteressado, fazendo-o suspirar.

Será que Ikki realmente estava disposto a me ouvir? Eu não queria contar toda a história. Talvez...

– Você já quis sair daqui? – perguntei, olhando para o nada.

– Sério que está me perguntando isso? Até parece que não me conhece. – ele falou rindo em seguida.

– É mesmo. Esqueci que você sempre teve a mania de sumir. – falei sorrindo, lembrando-me do passado.

– Eu não gosto de me prender a lugares. Gosto da sensação de liberdade. Mas nos últimos tempos tenho curtido essa vida. Fazia tempo que não ficava com Shun. Ele realmente é muito apegado a mim e eu não posso negar que também sou a ele. – ele deu uma pausa. – Mas também não posso dizer que não sinto falta dos tempos onde eu fazia o que queria, quando queria.

Fiquei calado. Aquela vida parecia ser perfeita para mim, no momento que estava vivendo. Eu precisava daquela liberdade. Precisava me libertar do meu mestre. Talvez assim, um dia, eu retornasse mais maduro. E então, poderia encarar meu mestre sem sofrer. E seria bom para ele também. Ele se veria livre do estorvo que me tornei.

– Quer experimentar? – Ikki me chamou a atenção com aquela fala.

– O que? – perguntei meio atônito.

– Você realmente está em outro mundo. – ele riu. – Quer experimentar essa liberdade?

– Se eu dissesse que não, estaria mentindo.

Ikki se levantou e espreguiçou-se. Ele me olhou profundamente e eu fiquei confuso.

– Eu te levo. – ele estendeu a mão para mim.

– Está querendo algo a mais com isso? – perguntei, provocando.

– Não tinha pensado nisso, mas se estiver disposto a me dar, vou aceitar de muito bom grado. – ele sorriu safado e não consegui não ficar vermelho, fazendo-o gargalhar.

Ikki desceu um degrau, apenas para ficar na altura do meu rosto. Ficamos nos olhando por alguns segundos. Os olhos dele brilhavam por algum motivo que eu não sabia dizer. Foi a primeira vez que vi aquele brilho em seus olhos. E era algo completamente envolvente. Ele aproximou o rosto do meu e senti minha face queimar. Ele sorriu, vitorioso. Colocou uma mão atrás da minha cabeça e me puxou para um beijo. Arregalei meus olhos de início. O que ele pensava que estava fazendo? Senti que ele puxava meus cabelos firmemente, mas de maneira suave, apenas para aprofundar o beijo. Não relutei. Fechei meus olhos e decidi me entregar. Já não tinha mais nada a perder mesmo. Pelo menos ali eu sentia um pouco de paz. Pelo menos aquela Fênix me aquecia. E calor era tudo que eu precisava naquele momento de mais pura e fria solidão.

Paramos para buscar fôlego. Eu ainda estava meio perdido, sem saber o que fazer. Ikki sorriu de novo para mim.

– Eu vou te levar para onde quiser, Pato. Só me prometa que manterá esse sorriso no rosto.

– Se você vier comigo, existe uma enorme possibilidade disso se concretizar, Galo. – falei, surpreendendo até a mim mesmo.

– Então vem.

Eu peguei em sua mão e começamos a caminhar, para fora do Santuário. Senti que não devia fazer isso com Milo, mas ele tinha meu mestre. Ele ficaria bem. E eu esperava que eu também ficasse.

Continua...


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