Friendzone escrita por Blue, Mary


Capítulo 13
O Melhor Amigo da Noiva


Notas iniciais do capítulo

Meio que prometemos o capítulo para essa semana... Hoje ainda é essa semana?
Enfim, estamos aqui!
E não vou encher vocês de desculpas, porque sei que devem estar curiosos demais sobre a nossa Lil... Então, vamos lá!



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Eu sei o que ele espera que eu diga.

Até porque eu sou a mulher da história e é sempre a mulher quem dizer eu te amo primeiro. Mas isso não vai acontecer. Eu não passei todos esses meses fora me tornando o mais forte possível para, enfim, superar aquela noite e então agora, no final, ser aquela que baixa a guarda.

Não. Eu não sou essa pessoa.

Enquanto Tyler mantém a mão sobre meus olhos, me lembro de quando éramos crianças e ele me fez a primeira promessa que viria tentar quebrar, mas, quem diria, não conseguiria.

Estávamos deitados na casa que seu avô construiu na maior árvore do quintal dos Reed, onde sempre passávamos os verões antes das aulas voltarem. No alto dos nossos oito anos de idade não sabíamos nada sobre nada, mas pensávamos muito no futuro. Sobretudo, no nosso futuro juntos.

— Lil, quando crescer, vou me casar com você.

Senti-o do meu lado, esparramado no carpete improvisado. A lembrança é tão fresca em minha mente que é como se estivesse acontecendo agora, neste exato momento.

— Quando crescer, não vou precisar me casar com ninguém. — respondi seu comentário e ele riu, como se meu plano fosse impossível.

— Mas os adultos sempre se casam.

E então foi minha vez de rir, minha eu criança sempre foi muito esperta.

— Por quê?

— Porque é assim, oras.

Tyler era muito bobo.

— Quando eu for grande, vou morar num apartamento, sozinha. — apoiei-me sobre os cotovelos e o olhei. — Ninguém vai mandar em mim.

— Mas quem vai trabalhar?

— Eu.

— Mas são os meninos que trabalham.

— Meninas também trabalham, Ty.

Suas sobrancelhas escuras se arquearam de encontro à franja comprida que sua mãe o forçava a usar quando criança. Seu rosto de menino ainda é vívido em minha memória.

— Sério? — respondo com um aceno e ele parece surpreso em seguida: — Que máximo! — ele ficou sentado e me encarou, o sorriso enorme com um dente faltando. — Então quando eu crescer, também vou morar sozinho!

Acho que o medo de ficar sozinha começou a aflorar nessa época, pois logo depois respondi:

— Sabe, eu sei que você tem medo de escuro... — sentei e segurei em suas mãos. — Se quiser, por morar comigo.

— Então quer dizer que podemos nos casar?    

Lembrar do olhar esperançoso e animado do pequeno Tyler revira minhas entranhas agora, quase vinte anos depois.

— Se um dia eu me casar, será com você.

— Eu prometo, Lily, um dia, quando for grande, vou me casar com você. Posso até jurar de mindinho. — ele disse sorrindo.

E eu posso apostar que ele não se lembra disso.

Às vezes sinto que minhas memórias com ele não existem em sua cabeça, são apenas minhas. Acho que passei tempo demais remoendo essas coisas, principalmente durante a adolescência. E é isso que me dá coragem para dizer as palavras que estão entaladas em minha garganta:

— Vou me casar em três meses.

Elas descem queimando e por um segundo sinto que vou desmoronar, mas ao ver a falta de reação dele começo a ficar mais irritada do que triste.

— Não vai dizer nada? Nem uma palavra sequer?           

Imaginei uma série de cenários diferentes para isso. Fico envergonhada em dizer que, em mais da metade, Tyler me beijava e dizia que viver sem mim foi como viver no inferno. Mas sua reação real é só a descrença de sempre. Ele não diz nada.

— Inacreditável, Tyler. Mas eu sabia que essa seria sua reação.

De repente não consigo sequer olhar para ele. Levanto-me e vou até a cozinha por alguns segundos, preciso ficar sozinha. Tive tanto receio da reação dele ao saber da notícia e ele não diz nada? Por que me preocupo tanto?

Pego o anel, que escondi dentro do pote de biscoitos no segundo que ele tocou a campainha, e o coloco no dedo. Volto para a sala e sento de frente para ele. Vejo seus olhos grudarem no anel e posso jurar que seu rosto fica verde. Ele parece enojado. E agora eu estou enojada com sua reação patética, quero bater nele o mais forte possível e entender por que é tão inacreditável que alguém tenha a coragem de me pedir em casamento.

Mas Tyler corre para o banheiro.

Uma lágrima de raiva escorre por meu rosto enquanto escuto-o vomitar, e então a porta bate e eu respiro fundo. Aulas de teatro, cara de paisagem, fingir que essa porcaria toda não é comigo, é isso que faço. Sou pateticamente boa nisso.

Tyler volta com um aspecto de quem está prestes a desmoronar. Consigo bancar a amiga preocupada com seu estado de saúde e não magoada com sua indiferença comigo e meu anel de noivado.

— Você está bem, Ty?

Toda a conversa que temos depois é parcialmente compreendida. Só quero que ele vá embora, que suma da minha frente e volte quando for o melhor amigo que mereço. Contudo, conto a ele sobre Henry e sua personalidade comum e bonita, entrego-lhe o globo de neve e evito mais uma discussão desnecessária. Ele se levanta para ir até a cozinha e retorna segundos depois. Consigo notar que ele não agüenta mais ficar aqui e parece que a qualquer segundo vai se jogar pela janela.

Até que não seria má idéia. Não é nada que ele não mereça.

Porém, seu celular começa a tocar e já sei que ele vai embora muito em breve.

— Oi, Amanda.

Odeio como ele diz o nome dela e me olha logo em seguida. Isso é patético.

Encaro a tevê e penso que gostaria de ter muito mais amigos além de Tyler. Quem vai me ajudar agora? Minhas amigas mais próximas já não são tão próximas assim, quem convidarei para ser minha madrinha de casamento? Droga, são coisas demais para lidar agora.

A única coisa da qual posso ter certeza é de que estou sozinha.

— É, acho que aceito seu convite.

Ergo os olhos para ele, que não está me olhando. Tyler, sorrindo feito um imbecil, se curva para calçar os sapatos apoiando os pés na mesa de centro. Ele então se levanta e veste o blazer.

— Por que não vai até minha casa? Estarei te esperando.

Penso em pegar o globo jogado no sofá e tacá-lo em sua cabeça, mas me obrigo a olhar apenas para a tevê.

— Eu acabo de te contar que vou me casar e você vai embora se encontrar com alguém que nem conhece direito.

— Foi ela quem me ligou, você viu.

Finalmente olho para ele, e daqui de baixo Tyler parece genuinamente infeliz. Orgulhoso e infeliz como eu. Mas não posso ajudá-lo quando ele me trata dessa maneira, me largando sozinha quando a noite deveria ser entre melhores amigos.

— Faz apenas um dia que você voltou, mas foram seis meses que ficou fora. Foi tempo demais, Lily.

Ele me encara e eu retribuo o olhar, e não tenho certeza se consigo esconder a raiva que sinto ao ouvir isso.

— O que quer dizer com isso? — pergunto.

Tyler para com a mão na maçaneta, prestes a abrir a porta e sair. Torço para que ele entre no elevador e assim que as portas metálicas abrirem, ele dê de cara com a porta para o inferno. Por que ele está se comportando assim?

— Quantas vezes nos falamos enquanto esteve fora? — ele pergunta sem olhar para mim.

— Você também poderia ter me ligado, Tyler. Não tente jogar qualquer culpa sobre mim.

— E quem falou sobre culpa?

— Você devia ir logo. A tal Amanda já deve estar esperando nua na sua cama. — respondo quase bufando de raiva.

— Como você?

A sensação de ouvir isso é como levar um choque. Ele percorre por meu corpo e me dá arrepios. Eu podia esperar qualquer resposta, menos essa. Aquilo ia além do comportamento idiota e normal de Tyler.

— O quê?

Sequer sei que sentimentos transparecem em minha expressão fácil, só sei que estou tão furiosa quanto magoada quando sinto minhas unhas cravadas nas palmas das mãos.

— Não faz diferença.

Tyler finalmente vai embora e eu queria me sentir melhor assim que ele sai, mas não consigo. É patético se importar tanto com alguém como me importo com ele e receber isso em troca. Conto que me casarei e ele não mostra o mínimo de interesse em saber se estou feliz ou sobre quem é meu noivo. Tyler é um cretino egoísta.

...

Acordo na manhã seguinte e fico alguns minutos apreciando a penumbra do meu quarto. É tão confortável que me faz pensar em permanecer pelo resto do dia, mas não o faço. Esfrego os olhos e sinto o anel enorme em meu dedo anelar, a presença dele ainda é novidade para mim. Não demoro em sair do quarto e tomar um longo banho para me preparar para o dia.

A verdade é que nem sei como será meu dia, ainda me sinto fora de órbita e agradeço por ser sábado. Penso no tanto de relatórios que terei que ler ao voltar ao trabalho. Pedi a Lucy que os elaborasse para quando eu voltasse de Londres.

Ah, a bela e gelada Londres que deu Henry de presente, que me deu sua calma de presente. Sinto falta dela, da calma e tranqüilidade de Henry. Apesar de toda a tragédia que foi contar sobre o noivado a Tyler e dos sentimentos ruins e pesados que me fez sentir, a ansiedade para ver Henry me alegra.

Penso em telefonar para ele, mas desisto. Enquanto olho minha querida cidade pela janela, penso em Tyler pela segunda vez no dia. Henry ouviu tanto sobre ele que está ansioso para conhecê-lo. E eu sei que preciso falar de Henry para Tyler, ele me deve isso.

Depois de finalmente me decidir, vou até a padaria mais próxima e tomo um rápido café da manhã, e em seguida sigo para o apartamento de Tyler. Ele não merece a melhor amiga que tem, mas durante a caminhada penso em como foi para ele receber a notícia do noivado. Lembro-me de quando ele me disse que iria pedir Diana em casamento e de como fiquei feliz por ele, apesar de saber que Diana já não o correspondia como antes. Parte de mim se sentiria sozinha, mas eu tinha Edward naquela época.

Tyler não tem ninguém hoje. E eu tenho Henry. 

E então eu entendo tudo.

Chego ao prédio e atravesso a portaria cumprimentando o porteiro com um aceno, mas ele grita e eu me viro para olhá-lo.

— Srta.Carter, espere!

— Pois não?

— O Sr.Reed saiu há uma meia hora, disse que demoraria um pouco.

— Bom, será que posso esperar lá em cima?

— Mas é claro!

Agradeço com um aceno e um sorriso e sigo para o elevador onde um Dimitri surpreso me encara.

— Srta.Carter, quanto tempo!

— Olá, Dimitri. Estive fora a trabalho.

— Agora tudo faz sentido. Foram meses difíceis sem a senhorita por aqui.

Penso em perguntar por que, mas não sei se quero saber. Finalmente o elevador para e o cheiro de cachorro misturado com produto de limpeza me recebe. Lembro-me de quando Tyler comprou a cobertura e disse: “A melhor casa na árvore de todos os tempos!”.

— Para ser uma casa na árvore precisa estar em uma.

— Disse alguma coisa, senhorita?

— Eu disse obrigada, Dimitri. Até mais.

Saio do elevador direto para o apartamento de Tyler que não mudou nada, nem o cheiro de cachorro, apesar de eu ainda não ter visto sinal de Slash pelo lugar. Talvez Tyler tenha o levado para passear, por isso a demora. Circulo pelo apartamento silencioso e paro na cozinha. A lembrança de nós dois ali me assombra, ainda me lembro da sensação como se estivesse gravada em mim.

E tento me esquecer dela desde então.

Volto para a sala e paro em frente a parede e porta-retratos. Tyler contratou um decorador quando comprou a cobertura, mas de todos os cômodos e paredes, essa foi a única que ele mesmo montou como quis. As fotos e pessoas mais especiais estavam ali naquela parede. Eu estava em cinco quadros, dois deles com sete anos de idade, outros dois na adolescência, no colégio, e um quadro em que já somos adultos, quando conseguimos fazer a R&C ser real.

Olho com mais atenção e noto uma nova foto, e é minha. Estou de lado e pareço rir descontroladamente, meus olhos estão fechados e meus cabelos bagunçados. É uma foto bonita da qual não me lembro. Mas o mais surpreendente é ver que esse retrato está logo ao lado da foto de Tyler com Michael Jordan, ele surtou quando o conheceu e conseguiu um registro.

Sorrio sozinha ao ver as variações de idade, tamanho e feição de Tyler nas fotos e volto a percorrer a sala. Paro na escada e subo alguns degraus até me sentar em um deles. Escuto o barulho do elevador e espero por ele. Vejo-o ir à cozinha e espero que volte para anunciar minha presença.

Ele ergue a cabeça quando pigarreio de propósito para que me veja.

— Oi. — digo.

— Podia ter avisado que viria.

Mexo-me, desconfortável, e abraço as pernas e me encolho no canto da escada.

— Decidi no último minuto.

— Eu vim caminhando, então se importa de eu tomar uma ducha antes?

Não consigo evitar a imagem dele nu em minha mente, mas me esforço para afastar o que seria a visão do inferno e assinto. Ele sobe as escadas e me deixa sozinha mais uma vez. Quando volta, quase vinte minutos depois, estou parada em frente a estante encarando os VHS com filmagens caseiras de nossas infâncias.

Acomodamos-nos no sofá e dou início à conversa sabendo que por ele nada mudará.

— Quero conversar sobre nós.

— Nós?

— É óbvio que a notícia do meu casamento te abalou. E eu te entendo por isso.

— Você me entende?

— Você tem medo, Tyler. Eu vou me casar em três meses e isso te faz pensar que vai ficar sozinho.

A maneira com que para e absorve minhas palavras me dá a certeza que eu precisava. Tyler é egoísta, mas não ao ponto de não ficar feliz por mim. Ele só é medroso demais e acha que ficará completamente sozinho agora que tenho alguém.

— Acho que sim.

— Então você precisa saber que jamais ficará sozinho. Não é por que vou me casar que vou abandonar você ou a nossa empresa. — seguro sua mão e lhe mostro meu melhor sorriso encorajador. Essa não é uma promessa, já que, ao estar ao lado dele, também o terei ao meu. Apesar de tudo de estranho que já aconteceu em vinte e sete anos de amizade, sempre acabamos juntos e bem.

— Está tudo bem, Lily. Eu só quero que você seja feliz.

Não evito sorrir com o que diz e completo:

— É bom ouvir isso, Tyler. Você sempre fez parte da minha felicidade, a diferença agora é que Henry também é parte dela. Ele está ansioso para te conhecer. — dou risada ao me lembrar dos comentários chocados que Henry fazia ao me ouvir contar as histórias sobre Tyler.

Ele fica me encarando, mas acaba rindo.

— Então estou ansioso para conhecê-lo.

— Você vai adorá-lo. Ele vai chegar daqui dois dias.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?

Vocês precisavam ver como esse capítulo estava triste, gente do céu! Demoramos um mês pra deixá-lo desse jeitinho! Lily megera super indomada é outro nível!

Bom, a promessa para o próximo são muitas risadas e intrigas! A Blue adora uma intriga... Eu também ;) Adoramos ainda mais os reviews maravilhosos dos últimos capítulos ♥ Obrigada!



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