We could be heroes escrita por Maniper


Capítulo 2
Capítulo 01 - Seja bem-vinda à Toronto!


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem pela demora! Nos últimos dias nem entrei aqui kk mas está ai!

Boa leitura!



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— Eu já disse que não vou!

Peguei algumas malas que estavam no carro e levei-as para a sala. Eu estava sendo dramática, sabia disso, mas não queria deixar Vancouver, nem os meus amigos e muito menos os meus tios. Fico me perguntando onde eu estava com a cabeça quando concordei ir para U of T¹.

— A cidade é incrível querida - minha tia pegou minhas malas e colocou novamente no carro, com a ajuda do tio Walter, claro.

Eles pareciam mais tristes que eu e não entendia como gostavam de mim. Depois que fui simplesmente jogada na casa deles com 3 anos de idade. Fui um peso e tanto! Mas nunca deixaram faltar amor e educação, essa eu tinha de sobra.

— Melita - meu tio arrumou os óculos e me abraçou - Você não pode dar com o pé atrás agora.

— Mas tio, eu não conheço ninguém naquela cidade! Todos os meus amigos vão estudar aqui - vi o meu primo aparecer com seu skate no outro lado da rua - até o Tyler!

— Não me ponha nessa história, Melitinha - ele piscou e sumiu para dentro da casa.

— Como vou para um lugar onde me chamaram para estudar? Nem me interessei por eles e de repente recebo uma carta dizendo que fui aceita? Como isso é possível?

— Seus pais estudaram nessa universidade e deixaram bem claro que gostariam de te ver lá - minha tia pigarreou ao terminar.

— Meus pais? - gargalhei.

Que piada. Nunca vi os meus pais e pelo que sei, eles nunca se importaram em saber se eu estava bem ou precisava de alguma coisa, mesmo sendo poderosos e podres de ricos. Então depois de 17 anos eles resolvem se intrometerem na minha vida? Agora que eu não ia mesmo.

— Não vou - bati o pé.

— Você vai sim - Tyler sorriu ao me ver subindo as escadas - e faça amigas bonitas, vou te visitar em breve!

— Babaca!

— Eu sei que você também me ama, priminha.

Tyler me pegou no colo e me levou para o seu quarto. Fechei os olhos sentindo o ar quente invadir as minhas narinas. Como sentiria falta daquele lugar! A mobília retrô e ao mesmo tempo totalmente nova.

— Quantas noites não invadi seu quarto com medo dos trovões, hein? - comentei enquanto caminhava lentamente até a cama.

— São ótimas memórias. Naquela época eu me sentia o mais velho - riu pelo nariz - vou sentir sua falta Melitinha.

— Eu também Ty, eu também - abracei-o fortemente.

— Sei que está sendo difícil - ele me puxou para deitar em seu peito - nos deixar e ter que morar com os seus pais que você mal conhece, mas ás vezes essa mudança seja para algo bom, não acha? É como se estivesse tendo a chance de recomeçar, coisa que eu não tive oportunidade de fazer.

— E o que eu faço com esse medo gritando aqui dentro? Tyler, eu não posso simplesmente fingir que não tinha uma vida antes de ir para lá, entende? Amo essa cidade, queria ficar aqui com vocês.

— Se fosse eu no seu lugar, me arriscaria de cabeça, me preocuparia pouco com as consequências e principalmente me divertiria.

— Vou pensar nisso quando ir para a toca dos leões - imitei um rugido, ele riu.

Eu amava o Tyler. O moreno sarado de quase 2 metros de altura que me fazia sentir como uma anã. Há alguns meses tinha feito um tribal enorme em seu braço esquerdo e aquilo realçava ainda mais seus músculos bem definidos. Ele nunca foi do tipo popular mas fazia sucesso com as garotas. Me defendia de caras idiotas e morria de ciúmes quando eu saía com alguém.

Ficamos deitados conversando por quase uma hora e só nos levantamos quando faltava menos de 3 horas para o meu voo sair e então eu teria mais 4 horas de viagem. Estava morrendo de ansiedade e ao mesmo tempo com vontade de me trancar no quarto e nunca mais sair. É claro que isso estava fora de cogitação.

Foi a família toda me levar para o aeroporto, os meus amigos não estariam lá pois estavam ocupados resolvendo suas novas vidas e eu já tinha me despedido deles no dia anterior.

Tio Walter foi o primeiro a me abraçar. Sua expressão era séria e suas rugas mostravam um pouco de preocupação.

— Eu te amo querida - depositou um beijo demorado no topo da minha testa - sabe que pode vir nos visitar quando quiser, não é? Se tiver problemas com dinheiro, nós mesmo compramos sua passagem.

— Também te amo, pai - sorri enquanto uma lágrima solitária escorria pelo meu rosto - não se preocupe com dinheiro, eles tem o bastante para que eu venha aqui por pelo menos uns 3 mil anos - rimos em conjunto - me esperem nas férias.

— Minha vez - tia Marlene me abraçou já em prantos, ela era muito emotiva - fica bem, minha filha - beijou minha bochecha.

— Mãe - revirei os olhos - eu vou ficar bem.

— Sei que sim - ela sorriu.

— E o meu abraço? - Tyler tinha um sorriso triste nos lábios - fuja assim que tiver uma oportunidade.

— Tyler! - Marlene repreendeu o filho.

— É brincadeira - desmenti mas no fundo tinha um pingo de verdade.

Abracei meu primo e assim que o fiz ouvi o meu voo ser chamado. Fui para o portão de embarque e finalmente entrei no avião. Não lembro de nada, apaguei assim que mandaram colocar os cintos.

Tive um sonho sinistro. Havia um homem e uma mulher, eles estavam animados e pareciam ansiosos. Organizavam uma festa de boas vindas para sua filha. Tinha muitas pessoas e pelo modo como se vestiam, eram importantes. Acordei assim que percebi que eu era a filha que eles estavam esperando. Mas que merda era aquela?

Levantei do meu assento assim que as portas foram abertas e corri para pegar as minhas bagagens. Era pouca coisa, eu não tinha muitas roupas que estivessem a altura de uma cidade como aquela, onde todos pareciam muito bem vestidos em qualquer momento. Meus amigos ririam se eu contasse isso á eles.

Peguei um carrinho para colocar as malas e encontrei um homem de terno segurando uma placa com o meu nome. Ele era alto, tinha cabelos pretos e olhos cor de jabuticaba.

Por um momento pensei em fingir que não era comigo, mas para onde eu iria? Na verdade, se algum momento imaginei fugir, o homem sabia bem que era eu, pois veio a meu encontro sorrindo.

— Como me conhece? - perguntei com a sobrancelha arqueada.

— Cabelos e olhos castanhos, média estatura e usa roupas confortáveis em Toronto - respondeu sorrindo.

— Roupas confortáveis? - ri pelo nariz.

— Prefere informais? - puxou o meu carrinho e o segui.

— E qual o seu nome?

— Perdão? - ele parou ao lado de uma limousine preta e parecia surpreso com a minha pergunta.

— Você não me disse o seu nome.

— Sou John Vito, mas isso não importa - sorriu de lado.

— Como assim?

— Patrões não precisam ter contato algum com os funcionários.

Fiquei boquiaberta. Eu era patroa? Desde quando? Eu sabia que meus pais biológicos eram ricos, mas isso era mais do que esperava, bem mais. E que tipo de pessoas tratam os funcionários como objetos?

— Isso é desumano - comentei enquanto ele abria a porta para que eu entrasse.

O banco de couro todo preto me fez deslizar para o outro lado, onde encontrei um vestido pendurado.

— Se troque antes de chegarmos - alertou John - eles vão pirar se virem você vestir isso.

— Qual o problema com as minhas roupas?

— Nenhum senhorita.

— Então por que devo me trocar?

— Só recebo as ordens e se eu fosse você, obedeceria sem pensar duas vezes. Não vai querer vê-los irritados.

— Quem são eles? - franzi o cenho.

— Seus pais.

— Meus pais moram em Vancouver - bufei e ele fechou a porta.

Coloquei o vestido com dificuldade, mesmo com muito espaço, eu não estava acostumada a me trocar em um carro em movimento. Era vermelho e rendado, alguma coisa me dizia que aquilo custava o olho da cara. Fiz uma trança para tentar abaixar o volume do meu cabelo e vi um colar pendurado. Muito bonito, com pedras vermelhas. Eram rubis? Prendi-o no meu pescoço. Coloquei o salto alto perolado e assim que o fiz, senti o carro parar.

Olhava no espelho a minha frente e não acreditava no que via. Eu estava diferente e bonita sem ser vulgar.

A porta ao meu lado se abriu e John assentiu ao ver que tinha seguido seu conselho. Me ajudou a descer.

— Bem-vinda á sua nova casa - disse em tom formal.

Ele começou a caminhar mas não o segui. Estava paralisada com o tamanho da minha nova casa, se é que aquilo podia ser chamado de lar. Era uma mansão e dava umas 20 casas da minha antiga. Tinha um jardim enorme antes da entrada e havia várias estátuas e fontes espalhadas, ao longe pude ver árvores enormes e parecia o começo de uma floresta. Mesmo sendo exagerado, não deixava de ser lindo. Fiquei encantada.

— Meu Deus - não conseguia fechar a boca.

— Senhorita - John tocou o meu braço - nós precisamos ir.

Assenti e caminhei ao seu lado. Assim que chegamos na porta de entrada, vi muitas pessoas conversando animadamente e com taças de champagne. Alguns garçons caminhavam entre elas.

A minha maior surpresa foi ao olhar a minha frente e ver o homem e a mulher do meu sonho. Vestiam a mesma roupa que eu vi e tinha as mesmas expressões nos rostos. A decoração era idêntica, não dava para colocar nada. Eu tinha tido um baita de um déjà vu.

— Aposto que já sabia da nossa festa de boas vindas - o homem comentou com um sorriso de canto. Era alto, tinha cabelos loiros e olhos castanhos, iguais aos meus - não se assuste, é assim no começo. Um pouco fragmentado mas vai melhorar com o tempo.

— Hugo - a mulher repreendeu seu possível marido - vai assustá-la.

Ela tinha os meus cabelos mas incríveis olhos verdes. Pele branca como neve.

— É verdade - sorriu em forma de desculpa - eu e a Judith vamos ter muito tempo para poder conversar sobre isso.

— Quem são vocês? - perguntei perdida naquela situação toda. E por que parecia que já me conheciam?

— Sei que está confusa - o tal Hugo disse - que tal só curtirmos a festa?

— Diz isso por você - respondi irritada - uma festa com pessoas que nunca vi na vida e mais, se querem ao menos serem meus amigos deveriam saber que odeio champagne e comida de rico.

— Nós sabemos - Judith tinha um sorriso brincalhão nos lábios - por isso a comida será lasanha com creme branco e o seu vinho preferido.

— É mesmo? Já que acertaram na comida, pode me dizer qual o meu vinho preferido?

— Hewitt Cabernet Sauvignon Rutherford² - Hugo respondeu como se fosse óbvio.

— Eu quero ir pra casa - protestei.

— Acertamos, não é? - ele tinha um sorriso vitorioso no rosto.

— Quem se importa? - fiz pouco caso.

— Vou mandar servir o jantar - a mulher sumiu graciosamente no meio da multidão.

Como eles sabiam tanto sobre mim? E por que eu havia sonhado com tudo aquilo? O que ele quis dizer sobre ser assim no começo?

— Não vai querer saber as respostas dessas perguntas agora, não é mesmo? - Hugo estava me observando.

— Quais perguntas? - franzi o cenho.

— As 3 que você acabou de fazer nessa cabecinha - piscou.

Arrepiei dos pés á cabeça. O que estava acontecendo? Eles eram sinistros. Eu ia seguir o conselho do Tyler, fugir assim que tivesse uma oportunidade.


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Notas finais do capítulo

Vocabulário:

¹ U of T: Universidade de Toronto. É uma universidade pública.

² Hewitt Cabernet Sauvignon Rutherford: O Cabernet encorpado é produzido com uvas cultivadas em um sítio na base das Montanhas Mayacamas na borda ocidental do Napa Valley, Califórnia. De sabor rico e profundo, traz em sua composição amoras e alcaçuz.

Continuo?

Beeeijos!



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