The Criminal escrita por Marquise Spinneret Mindfang


Capítulo 1
Traída


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem >



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– Fritz! Dois especiais da casa! - Digo para o cozinheiro a minha frente.

Fritz, apelido de Frederick Steiner, é um alemão de 58 anos que trabalha no Walker’s desde que ele foi criado, a 30 anos atrás. O cabelo loiro apresenta fios brancos, e os olhos azuis e frios cercados de rugas.

– Ya. Agora saía daqui, você está horrível. - Ele resmunga, sem olhar para mim, em seu “bom humor diário”.

– Também gosto de você. - Sorrio. Ele sussurra mais alguma coisa, dessa vez em alemão. Mas por fim olha para mim e pisca o olho. Eu reviro os olhos, mas faço uma careta de dor.

Infelizmente, alguém repara.

– Ísis? - Boo se aproxima de mim. Assim como eu, ela trabalha como garçonete aqui. - Você está bem?

Bonnie é bonita, e vivo repetindo que ela devia largar essa vida e seguir carreira de modelo, mas ela sempre arranja uma desculpa e troca de assunto. Tem apenas 18 anos. A pele é lisa e bronzeada, sem nenhuma marca de espinha que poderiam provar que ela já foi uma adolescente normal e não uma boneca humana. O cabelo castanho está em uma trança delicada de lado. Os olhos âmbar me encaram.

– Claro, por que não estaria? - Ela me encara com mais intensidade. Suspiro, derrotada. - É só uma dor de cabeça, das fortes.

– Ah... então ok.

Sorrio para ela, mas no momento em que ela dá as costas, uma tontura me atinge. Por sorte, Stuart me segura.

Stuart Walker é um dos filhos de Vincent Walker, dono do restaurante mais famoso de Derwood, onde eu trabalho. Tem o cabelo preto, a pele branca cheia de sardas e olhos também negros, e tem 21 anos. Além do queixo quadrado que faz garotas como a Bonnie suspirar. Ele é o gerente, e apesar de Boo dizer que não, sei que eles estão começando a engatar um relacionamento. Aliás, aposto que ela estaria sorrindo bobamente para ele, se seu olhar preocupado não estivesse dirigido a minha pessoa.

– Você está péssima.

– Que coisa bonita para se dizer a uma garota. - Reviro os olhos, mas isso faz minha cabeça latejar mais, então faço outra careta involuntária.

– Ísis. Você estava prestes a desmaiar. A sorte é que foi aqui na cozinha. Imagina se você realmente desmaia mas enquanto atende um cliente? Além disso, você realmente está com uma cara péssima. É melhor você ir para casa descansar.

– Mas eu tenho que trabalhar, ainda me falta uma hora inteira de expediente. - Tento argumentar.

– Srta. Nightblade, você vai para casa agora ou eu serei obrigado a te demitir. - Ele diz com uma cara séria, mas sorri logo depois, e sei que é brincadeira. - Mas sério, vá para casa.

– Os dois especiais da casa, para a mesa 14 estão prontos. - Fritz diz, com seu sotaque, sempre carregando nos “R”. Olho para ele, e em seguida para Stuart, mas Bonnie é mais rápida.

– Deixa comigo. Hoje é terça-feira, o restaurante não está muito movimentado, além disso, não sou a única garçonete aqui. Vai para casa.

Uma pontada de dor na cabeça é o que me faz assentir. Quartas, quintas e domingos são meus dias de folga, então digo “Até sexta” para todos e vou no banheiro.

Lá lavo as mãos e limpo o rosto. Olho-me no espelho. Realmente estou péssima.

Minha pele, já branca, está pálida. Os olhos verdes no reflexo parecem pertencer a uma futura zumbi em estado de transformação. Suspiro e vou trocar de roupa. Tiro o uniforme e visto minhas calças pretas, a minha blusa do Sex Pistols e meu Converse vermelho. Tiro o elástico que prendia meu cabelo loiro escuro e o deixo solto. Guardo tudo na minha bolsa e vou para casa, que fica a apenas algumas quadras do estabelecimento.

Enquanto ando, olho em volta. Derwood pode ser completamente comparado a um ovo de galinha.

A gema é o centro da cidade. É um lugar bonito. Tem lojas espalhadas, casas bonitas e um grande parque verde, onde famílias se juntam para piqueniques, pessoas passeiam com seus cachorros e encontros românticos acontecem. Aliás, foi lá meu primeiro encontro com Paul White, um dos melhores policiais de Derwood. Namoramos a um ano e seis meses. Sorrio. Ele vai ficar feliz de me ver chegar mais cedo.

A clara do ovo é a pior parte. Na cidade, é o que rodeia o centro. É a área mais pobre, e os índices de criminalidade por lá aumentam consideravelmente. Felizmente, eu só sei dessas coisas por jornal, ou pelo que Paul fala.

Nasci e sempre morei aqui, viajando de vez em quando para visitar minha família. E na verdade, não vejo por que me moraria em outro lugar. Derwood é meu lar. Infelizmente, não é assim para a minha mãe. Desde que meu pai morreu, ela ficou muito abalada. Quando se casou novamente, quando eu já tinha 18 anos, saiu da cidade e jurou que nunca mais voltaria. Agora tenho um meio irmão, eles vivem felizes, e eu os visito todos os anos no Natal.

Minha casa fica visível. Vim morar com Paul a 8 meses. Desde então vendi meu apartamento. É uma casinha pequena, apesar de ter dois andares. As paredes do lado de fora são brancas, o telhado vermelho e tem um jardinzinho na frente, protegido por um muro alto e um portão de ferro. Olho no relógio. Ainda faltava uma hora para o fim do meu expediente, mas ele já devia ter chegado a no máximo 15 minutos. Chego ao portão e sorrio, arrumando o cabelo.

A porta principal dá para a sala, mas a chave quebrou lá dentro a alguns dias, então somos obrigados a usar a porta dos fundos, que dá para a lavanderia. Tiro meu uniforme da bolsa e jogo no cesto, para lavar amanhã. A lavanderia dá para a cozinha, onde pego um comprimido para a dor de cabeça no armário e o tomo rapidamente. Só então me toco de que a TV da cozinha está ligada, mas ele não está lá.

Franzo as sobrancelhas. Ele nunca deixaria a TV ligada sem necessidade. Fico preocupada.

– Paul? - Chamo.

Ando até a sala, mas ele também não está lá. Então ouço um barulho vindo do quarto. Subo as escadas, com um frio na barriga.

Uma das piores coisas do mundo é a negação. Ela vem como uma forma de fazer você não acreditar no que está acontecendo, para voltar ao que era antes, quando tudo era tranquilo. Infelizmente, o nome diz tudo. Negação. Apenas negamos a verdade. E então a negação se transforma.

É em raiva e dor que minha negação se transforma, ao abrir a porta do meu quarto e ver uma mulher sem roupa na minha cama. E sob ela... Paul. Ele ri e fala alguma coisa para ela.

Eu grito. Grito como se estivessem enfiando uma faca em meu coração repetidamente.

Paul arregala os olhos, empurra a mulher na cama. Eu saio correndo e gritando. Ele corre atrás de mim.

– Ísis! Ísis me espera!

– SAÍ DAQUI! - Vou para a cozinha. Ele me alcança. Ele também está sem roupa.

Pela primeira vez em um ano e seis meses de namoro, sinto nojo de Paul.

– Ísis, você tem que me ouvir... - Mas eu não ouço.

– NA MINHA CAMA, PAUL? NA MINHA CAMA? - Tento me soltar, mas ele segura meus braços.

– Isso não passa de um mal entendido, por favor, me ouve...

– VOCÊ É UM CANALHA, PAUL! EU TE ODEIO! ME SOLTA, SEU FILHO DA MÃE!

Paul me beija. Eu mordo o lábio dele com força, e sangue começa a sair. Ele me solta e leva a mão à boca. Aproveito a falta de proteção e dou o maior chute possível nas partes baixas. Ele cai no chão. Inclino-me sobre ele, a fúria em meu olhar e no meu tom de voz.

–Volte a encostar um dedo em mim, seu nojento, e eu juro que vou pegar aquela faca que está em cima da mesa e cortar isso que você chama de pinto. Agora pode voltar para aquela vagabunda, acho que vocês ainda não terminaram.

Pego minha bolsa em cima da mesa, e saio de casa. Não agüento nem mais um segundo nesse lugar.

A dor de cabeça passou, mas foi substituída por uma dor maior ainda. Finalmente meus olhos ardem e eu começo a chorar. “Estúpida!” penso. “Estúpida, estúpida, estúpida”.

Vou andando sem rumo por vários minutos. Quando olho em volta, já não estou no centro da cidade. As ruas aqui têm pouca iluminação. É cheio de becos. As casas não parecem acolhedoras, pelo contrário. Estou na clara do ovo.

Pela primeira vez, não sinto medo.

Estou desnorteada.

Logo a frente, algo chama minha atenção. Um estabelecimento com janelas escuras e música alta vindo de lá. O nome brilha em Neon, em cima. “The Queen Marrie” em letras garrafais, e um pouco menor em baixo “Bar”.

Decido entrar. Um segurança está na porta. Ele é um gigante perto de mim, o que já é muito perto dos meus 1,75 m. É caucasiano, cabelo escuro e óculos típicos de um segurança. Ele me olha de cima a baixo.

– Tem certeza que quer entrar, moça? - Ele me pergunta. Apesar de assustador a primeira vista parece simpático. Ou então preocupado por saber que tipo de gente frequenta este lugar.

–Eu preciso espairecer.

–Qualquer coisa, pode me chamar.

Balanço a cabeça afirmativamente, e entro.

O local tem uma iluminação tão ruim ou pior que a da rua. Várias mesas e cadeiras de madeira e ferro estão ocupadas por gente que, se eu encontrasse na rua, com certeza acharia que eram bandidos. Não reconheço a música que toca, mas não é do tipo dançante. Na verdade, aos meus ouvidos, parece meio deprimente. No lado direito, um balcão com várias cadeiras. Bêbados gritavam, batiam na mesa, bebiam. Enfim, faziam coisas de bêbado.

Sento-me em uma dessas cadeiras livres no balcão. Um homem se próxima de mim. Ele é moreno, e tem cabelo preto meio encaracolado e um bigode. Eu lhe daria uns 40 anos.

– Pois não, moça?

Pego dinheiro na minha bolsa e olho para o homem.

– Quero o mais forte que tiver.

Ele assente. Em alguns segundos, um copo cheio surge a minha frente. Levo o copo a boca e viro o conteúdo de uma vez, com os olhos fechados.

O álcool arranha minha garganta, deixando um gosto nem um pouco suave na boca. No entanto, me sinto um pouco mais leve.

– Mais, por favor.

***

Gastei meu dinheiro todo com as bebidas, mas funcionou. Sinto-me muito melhor.

– Aí, moça, não vai mais beber não? - O cara do meu lado começa a rir. Eu começo a rir também.

– Acabou o dinheiro! - Caímos na gargalhada. - Mas eu não to nem ai! O dinheiro era daquele filho da mãe! Ele tava com uma vagabunda na minha cama!

– Mas então você merece beber mais. - Nós continuamos rindo. Por algum motivo, tudo me parece muito engraçado nesse momento. - EI! ME DÁ ALI AQUELA GARRAFA! - O homem atrás do bar trás a garrafa. - Agora, dê a garrafa para a moça, e deixa na minha conta.

– Obrigada! Eu devia ter namorado com você e não com o... o... como é o nome do imbecil? Peter, é isso! Ah, dane-se!

– É isso aí, o Patch foi um idiota por trair você!

Começamos a rir novamente. Sinto uma vontade enorme de sair do local. Despeço-me do cara que eu não sei o nome. E vou para a rua. O segurança na entrada já não é o mesmo, e esse parece não estar nem ai para mim.

Tiro a tampa da garrafa e vou andando por aí e bebendo. A rua está escura e agradável. Começo a cantarolar.

Ao meu lado tem um beco. Minha mente diz que vai ser muito divertido passar por lá. Eu vou, afinal é minha mente. Começo a cantar, e bebo mais um pouco, segurando a garrafa no alto.

– Ora, ora, ora... O que temos aqui?

Olho para trás. Não parece perto e nem longe. Minha cabeça está rodando.

– Uma mulher tão bonita como você não deveria estar aqui. - Ele toca no meu braço. É, ele está perto.

– Me solta.

– Calma, princesa. - Ele se aproxima mais.

Bato com a garrafa na cabeça dele.

– Ah, sua...

Começo a correr, mas tropeço e caio.

Ele prende meus braços com uma mão, e, com a outra, rasga minha camiseta.

Começo a gritar. Ele grita também, mas para eu ficar quieta. Dou um chute nas partes baixas dele, mas erro por pouco.

Ele pega a arma do cinto. Fecho os olhos com força, e antes de sentir, escuto o tiro.


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Notas finais do capítulo

E então, mereço comentários??



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