Já havia se passados uns três dias e eu já tava começando a me acostumar com o instituto. Se eu gostava daqui? Definitivamente não. Mas aprendi a sobreviver.

Aprendi também que os professores são tão loucos quanto os alunos e que provavelmente o de Inglês é a nossa salvação. Descobri que Leah tem rixa com a maioria das patricinhas daqui e que não mede esforços pra sair na porrada com alguém, e ate acabei me metendo numa briga por causa dela e recebendo advertência. Ficamos mais amigas depois disso, descobrimos algo em comum, aversão a patricinhas! Outra coisa que aprendi aqui. Jonah e Peter não se desgrudam um segundo e arranjam brigas a maior parte do tempo e com todo mundo. Tipo todo mundo mesmo, dos alunos ate os professores e nem os faxineiros eles dão uma folga - É um passa tempo deles - A parte ruim é que Jonah e Leah são muito próximos, Leah e eu estamos sempre juntas agora, e Peter e Jonah também. Traduzindo essa porra toda: Estou tendo que conviver com meu inimigo mais do que gostaria! Não é como ter que olhar pra cara dele em uma aula ou outra ou nos esbarrarmos no corredor. Vai alem disso. São quase 24 horas por dia, nas aulas, no almoço, no jantar no café da manha e por pura ironia, temos o mesmo psiquiatra!

Sacanagem né? Muita.

Se brigávamos muito depois daquela cena no refeitório? Acho que... Umas 283.743 vezes. Já ta ficando insuportável isso, e olha que só estou aqui a quatro dias.

Pra mim o pior momento é quando eu era obrigada há passar alguns minutos com o psicólogo. Eu odeio isso. Mas descobri que aqui se você não se abre pra eles você leva advertência. Na verdade aqui na Gobayer você leva advertência por tudo, até se respirar perto do diretor.

–Isabelle, poderia, por favor, focar no nosso assunto? - Perguntou a psicóloga enquanto eu tentava ignora-la puxando rabiscos sem nexo no meu caderninho.

–Não me chame assim! - Murmurei. Deveria ser a terceira vez que eu dizia isso a ela. - Izzy! Me chame de Izzy!

–O que ta desenhando, Izzy? - Perguntou se endireitando na cadeira. Bufei.

–Nada de especifico!

–Será que eu poderia ver? - A encarei. Seus olhos brilhavam encarando o caderninho no meu colo.

–Não! - Respondi. - Eu normalmente não deixo ninguém tocar nesse caderno.

–Por quê?

–É pessoal... Ele é como um diário. A diferença é que eu não penso em palavras em sim em figuras!

Ela me observou por mais de minutos anotando e anotando coisas em sua prancheta. Eu fazia questão de não encara-la, tentando ignora-la enquanto desenhava.

–Me diga Izzy, como esta se sentindo? Digo depois dos acontecimentos, e da sua mudança pro instituto?

Péssima...

–To bem!

–Como tem sido suas noites?

Horríveis...

–Normal!

–Hum... E quanto à escola. O que ta achando daqui!

Uma merda? Ta apenas destruindo o que sobrou da minha vida! Odeio esse lugar com todas as minhas forças.

–Estou aqui há pouco tempo. Não tenho muito que dizer!

–Sinto que não esta sendo honesta comigo Monroe! - Ela tamborilou os dedos na mesa me observando com cautela - Você tem alguma coisa que queira me dizer?

Engoli em seco encarando o relógio.

–Tchau! - Me levantei ajeitando a bolsa no ombro - Nosso horário acabou!

Eu nao queria ficar lá pra ouvir o que ela ia dizer depois. Já teria que encontra-la em menos de uma semana, então sai daquela sala como um morcego fugindo do inferno.

Oh meu Deus ninguém merece aquela mulher. Mal acabou minha seção de tortura e o sinal bateu novamente chamando a atenção dos alunos pra aula.

Entrei na sala de biologia e a professora, Senhora Rose já escrevia algo no quadro do tipo "Atividade em dupla" e as mesas estavam separadas conforme a aula. Ela estava ao lado da sua carteira guiando os alunos.

–Ah nao professora, me recuso... - A voz de Peter na entrada chamava atenção. Assim que me aproximei a professora sorriu me chamando.

–Aqui esta ela, sua dupla! - Apontou pra mim. Peter revirou os olhos e fechou a cara. Ela sorriu me segurando pelos ombros e depois me empurrou na direção dele com tanta força que ele teve que me segurar pela cintura pra eu nao cair. Tentei ignorar isso.

A professora sorria como uma psicopata. Quando disse que os professores são loucos eu nao tava brincando.

Encarei Peter e depois ela. Ta de brincadeira...

–Ah meu Deus, espera ai... - Me desencostei dele bruscamente - Eu nao vou fazer dupla com ele? Qual o problema de vocês comigo heim?

–Eu é que nao quero ficar perto de você! - Ele disse me fitando - Prefiro fazer sozinho Senhora Rose!

– Eu também! - Falei decidida. - Já nao basta ter que atura-lo todos os dias, agora você me põem pra faze dupla com ele? É alguma piada, tem dedo da minha avó nisso?

– Sua avó enfiou os dez dedos dela aqui Monroe! Essa atividade tem que ser em dupla, e parem de me encher a paciência se nao daqui a pouco eu é que vou precisar de psicólogo! - Gritou batendo palmas - E vão logo se sentar, antes que eu perca a cabeça!

Eu esperava mesmo que ela estive blefando em relação a minha vó. Então sai andando em direção a cadeira e me afundei nela cobrindo o rosto com o capus da blusa. Tava uma chuva forte e fazia muito frio.

Eu só queria voltar pro meu quarto e passar o resto do dia dormindo!

Peter se sentou do meu lado com um bico do tamanho do mundo. Nao disse nada e eu também nao. A professora passou uma folha inteira na lousa sobre pesquisa e tivemos que copiar.

É uma desgraçada mesmo né!

Passei a maior parte da aula copiando e a outra parte ela ficou explicando como deveria ser feito entre outras coisas e deu uns minutos antes de bater o sinal para falarmos sobre a pesquisa com a sua respectiva dupla.

Isso nao tem como piorar!!

–Nao pense que vou fazer essa pesquisa sozinha e te dar nota de graça Wayland!

Ele me encarou erguendo as sobrancelhas.

–Não se preocupe delinqüente, vou fazer a minha parte!

–Acho bom! Agente só tem uma semana. - Falei olhando aquela folha enorme. Soltei um suspiro já que ele nao tava me ouvindo.

–To pensando em pagar aquela garota ali pra fazer o trabalho pra gente - Disse apontando uma menina da primeira fileira - Ela é nerd!

–Nem pensar!

–Vou lá falar com ela! - Disse ameaçando se levantar.

–Eu disse nem pensar! - O puxei de volta.

–Ah por quê? Se ta afim de fazer tudo isso mesmo?

–Sinceramente? Nao! Com a sua companhia será mais torturante ainda - Ele revirou os olhos - Mas nao to afim de outra advertência! E ficar presa aqui no fim de semana! - Ele bufou

–Você é chata! - Murmurou ele. O sinal bateu e ele se levantou arrumando suas coisas - Vou aparecer no seu quarto à noite me espera lá.

–No meu quarto? - O encarei - Nao é proibido?

–Idai? - Perguntou sem olhar pra mim encarando o relógio no pulso.

–Nao pode ser de manha na biblioteca?

–Vou ta ocupado delinqüente. Já falei de noite no seu quarto!

Deu-me as costas nao querendo ouvir o que eu iria dizer depois.

–Para de me chamar assim!– Gritei tacando uma borracha nele que saiu da sala rindo da minha cara.

Espera ai. De noite no meu quarto? Engoli em seco.

Qual a necessidade disso? Ele nao poderia dizer: No meio do refeitório onde tem bastante gente, de manha em um dia caloroso? Mas nao né.

Tenham certeza de uma única coisa, vou odiar a senhora Rose pro resto da minha vida!