Pov. Peter

Segui a senhora Addans de volta para o casarão. Ela me levou até uma sala onde a professora Rose usava para fazer os trabalhos da escola desde que chegamos. Ela mesma me esperava na sala quando eu entrei.

–Bom dia Sr. Wayland, seu pai esta ao telefone... Impaciente! – ela sorriu e apontou para o telefone em cima da mesa – Vou deixá-lo sozinho.

Ela saiu da sala me deixando naquele silencio. Encarei o telefone por longos segundos, segundos dolorosos na verdade. Pois eu sabia que depois que atendesse aquele maldito telefone, meu dia iria de mal a pior.

...

Pov. Izzy

Voltei para a cachoeira e a maioria do pessoal se divertia na água, mas eu não tava com todo esse clima. Apenas me sentei e fiquei os observando.

–E ai Izzy! – Jonah se sentou do meu lado enquanto se secava com uma toalha.

–Oi Jonah!

–Onde esta o Peter? – Perguntou olhando pros lados pra vê se o achava - Vi vocês na briga matinal há pouco tempo na água. Cadê ele heim?

–Hm. A senhora Addans veio chamá-lo, acho que o pai dele esta no telefone e quer falar com ele, algo assim. – Jonah parou o que estava fazendo e me encarou serio. – O que foi?

–O pai dele? No telefone?

–È, por quê?

–Hamm... Por nada. – Ele deu de ombros e fitou a água com um olhar distante. Tinha alguma coisa errada.

–Você ta me escondendo alguma coisa Jonah. Fala! – O puxei pela camisa pra que me encarasse.

Ele suspirou contrariado.

–Olha só, o Peter não tem uma boa relação com o pai, entende. Então provavelmente ele vai ficar um porre depois dessa ligação!

Ele ainda estava tenso, aquela pose dele de brincalhão havia sumido no segundo que eu respondi sua pergunta. Aquilo me incomodou por que eu sabia que ele não tava me dizendo tudo.

–Você ta mentindo pra mim. – Ele me encarou – Fala Jonah, to cansada das pessoas me escondendo tudo sobre o Peter! Qual o problema dele?

–Vários...

Foi só o que ele disse antes de me Marina chama-lo. Ele deu um beijo na minha bochecha e me deixou sozinha.

Ótimo! Tudo mundo resolveu fazer suspense pra mim. Primeiro a ligação, agora essa reação do Jonah super suspeita. Tem alguma coisa errada, eu sei que tem!

Passar o dia vendo as pessoas se divertirem não era nada legal, não quando você esta com a cabeça a milhão cheia de perguntas e não recebe nenhuma resposta.

Depois de tarde a professora avisou que iria fazer uma fogueira de noite e pronto. Todo mundo já ficou eufórico. Normalmente é assim que ficam os adolescentes que não fazem nada da vida alem de tomar remédios e ir à consulta com psiquiatras. Qualquer coisa é novidade!

Já era de noite e todos estavam em volta da fogueira. Os alunos ajudaram a professora a fazer e até que ficou legal. Nessa noite fria pra caralho uma fogueira ajuda bastante.

Pela primeira vez depois daquela briga eu vi o Peter, ele estava sentado segurando um galho com marshmellow, encarava o fogo tão intensamente, ele nem piscava. Parecia em outro mundo.

Já esse povo do meu lado, não parava de falar. O assunto que corria era o que eu mais fugia. A saída do Liam do instituto e como sempre a culpa me pegava de jeito quando eles começavam a falar. Então eu decidi sair dali, queria ficar o mais longe possível desse assunto.

...

Pov. Peter

Sabe aquele momento em que tudo pode piorar? Bem, pra mim sempre pode piorar. Não importa o quão ruim esteja a minha vida ou quão fundo eu esteja no poço, sempre vai ter algo pra me empurrar mais pra baixo. Sempre.

–Hey – Jonah me cutucou.

–Que susto! – Sussurrei e ele me encarou sorrindo.

–É a terceira vez que eu te chamo cara, em que mundo você ta? – Ele perguntou e eu dei de ombros enquanto enfiava o marshmallow na boca. Ele continuou me olhando. – Você ta bem?

–To ótimo!

–Peter! – Eu o encarei – Perguntei se você ta bem?

–E eu respondi que to ótimo!

–Hm. Sei. Fiquei sabendo que seu pai te ligou? O que vocês conversaram?

Eu soltei tanto ar quando ele me perguntou aquilo que fiquei um pouco tonto. Fitei a fogueira na minha frente e dei de ombros de novo.

–Nada demais!

–Não quer falar pra mim né? – Eu apenas revirei os olhos.

Não. Eu não queria falar, não falo dos meus problemas nem pro meu psicólogo quem dirá pro meu amigo.

–Se você me dissesse talvez eu pudesse te ajudar e... – ele insistiu.

–Não Jonathan! Você não pode me ajudar, ninguém pode. Você já é problemático o bastante, não quero piorar a sua situação com os meus problemas!

Levantei-me largando o galho no chão. A professora me encarou quando viu eu me dirigir pra floresta, ela gritou meu nome tentando me impedir, mas eu não dei atenção.

Odeio quando as pessoas ficam me pressionando, sei que o Jonah ta preocupado e tudo, mas se ele me conhece o bastante pra saber que eu não gosto de falar, ele poderia poupar a nos dois desse interrogatório insuportável.

Comecei a fazer o caminho da cachoeira, afinal era o único caminho que eu sabia e não tava a fim de me perder. Mas eu levei um susto quando cheguei lá.

–Isso são horas pra uma garota estar aqui sozinha? – Perguntei assim que me aproximei.

Isabelle tava sentada na pedra encarando o chão. Levou um susto quando me ouviu e quase caiu dentro da água.

–Que droga Peter, ficou maluco? – Ele, pois a mão no peito – Você e essa mania de fazer isso comigo!

–Ué, você ta aqui sozinha e eu que sou maluco? – Ela me ignorou revirando os olhos e voltando a olhar as pedras no chão. – O que você ta fazendo aqui?

–O que você ta fazendo aqui?

–Aquela fogueira ta meio desanimada!

–Hm. Jonah ta te fazendo um interrogatório não é? – Ela levantou os olhos na minha direção e sorriu.

–Como você sabe?

–Leah. Ela é igualzinha – Bufou.

Ela pegou uma pedra do chão e tacou com tanta força na água que ela quicou umas 2 vezes até afundar na água. Encheu a mão de pedras e a estendeu na minha direção.

A encarei confuso e ela sorriu.

–Pega logo!

Bom, parecia uma idéia melhor do que ficar no casarão e passar por um interrogatório. Peguei uma parte das pedras da sua mão e me sentei do seu lado. Começamos a tacar na água em silencio, só o som das pedras batendo na água e afundando era o que eu ouvia.

–Porque você ta aqui? – Perguntei quebrando o silencio.

–Não to muito sociável hoje – Ela deu de ombros.

–Você nunca ta sociável delinqüente – Disse rindo e senti uma pedra acertar meu braço.

–Você ta muito encrencado é? – A olhei – Com a professora Rose, quero dizer!

–Não. Mas preferia mil vezes me encrencar com ela do que... – Me cortei antes de terminar e taquei outra pedra na água com tanta força que espirrou água perto de nos.

–Do que? – Izzy me encarou me encorajando, eu não queria droga eu não posso.

–Do que com o meu pai – Disse. Porque eu tava falando pra ela? Não era pra eu ta falando nada! Nada!

Ela suspirou pesadamente sem me olhar. Seus olhos fixos na água e seus dedos brincavam com as pedras nas mãos.

–Ele ficou muito bravo pela confusão de ontem?

–Não exatamente!

–O que é então?

Pela primeira vez ela olhou dentro dos meus olhos. Eu não queria falar, serio. Eu nunca falo disso pra ninguém, às vezes não admito nem pra mim mesmo. Mas tinha alguma coisa naquele olhar dela que praticamente me obrigava a falar meus segredos mais profundos.