Choose Your Pack escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 5
Homecoming


Notas iniciais do capítulo

Gente o EP ESTÁ ATUALIZADO! BOA LEITURA ! MATH AMA VCS!



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As costas de Fernando foram de encontro ao asfalto - de novo. Ele se sentou com dificuldade enquanto encarava a ex-chefa dos Atiradores.

Carolina sorriu para ele de lado e logo depois virou seu rosto medíocre para Erick, que regozijava no chão do outro lado do estacionamento. Ele não acreditaria que ela havia derrubado os dois apenas usando os punhos firmes e as pernas longas. A Atiradora sabia lutar mano a mano, afinal de contas.

— Acho que por essa - Carolina estalou os dedos. - Vocês felinos não esperavam.

Ainda não conseguia acreditar como ela, sozinha, conseguira desviar dos dois rapidamente quando atacaram. O jeito como havia lutado lembrava a uma dança ensaiada, e quando ela chutou, socou e arremessou os dois um contra o outro, pareceu se divertir ao mesmo tempo.

— Você já lutou assim antes - Fernando disse e não era uma pergunta.

— Bem observado, Matos - A Atiradora retrucou. - Acho que a Chefinha Anna de vocês não vem contando nada a nenhum de vocês.

— Contar o quê? - Erick cuspiu sangue. Parecia com raiva por sangrar e não por ter apanhado de uma mulher.

— Fui uma das lutadoras mais excelentes nos meus melhores dias. Eu era admirada - acrescentou, quase soando nostálgica.

— Não diga - Fernando provocou. - Isso foi o que? Dois anos antes ou depois de Cristo?

Carolina fechou a cara.

— Me pergunto como uma lutadora tão admirada se transformou em uma vadia sociopata da noite para o dia.

A Atiradora sorriu.

— Nunca disse que havia sido boa. Acho que por isso deviam se perguntar como Anna conhece tanto sobre mim.

Fernando se levantou e Carolina fechou os punhos automaticamente.

— Chega de histórias lésbicas!

— Eu já sou obrigado a lidar com duas todo dia - Erick assentiu.

— Mais dança meninos? - ela riu. - Não se cansam de apanhar?

— Não, somos sobrenaturais - Fernando esclareceu. - Podemos dançar o dia todo. Agora me pergunto se você vai ter o mesmo fôlego - acrescentou com maldade.

Carolina resmungou e olhou dele para Erick, que estava com os olhos vermelhos de Alfa acesos. Por mais "boa" que ela fosse, sabia que não ia aguentar por muito tempo.

— Foi burrice sua vir sozinha.

Ela grunhiu e passou a mão nas próprias costas para trazer sua segunda arma. Esta era grande, como uma vassoura.

— Onde você esconde isso? - o Alfa Erick gemeu.

— Chega - A Atiradora se enfureceu e apontou de um para o outro. - Não vou perder mais meu tempo com vocês!

Fernando se curvou e suas garras cresceram instintivamente.

— Você não vai a lugar nenhum enquanto não me disser o que você quer com o Rafa!

— Ha-ha! Problemas no paraíso? Devo começar a shippar o novo casal ou esperar mais duas temporadas?

— A única coisa que você deve fazer é nos revelar a identidade daquele capuz que salvou você e Sabrina, antes que eu ship a sua cara com o meu punho!

O sorriso de Carolina sumiu.

— Era só um Atirador...

— Mentira! - Erick grunhiu. - Nós todos sabemos que não existe mais nenhum vivo além de você! Quem é o Capuz? É seu amigo?

Carolina se manteve calada, mas a mão que segurava arma tremeu na direção de Erick. Fernando foi automaticamente para frente.

— É seu chefe?

A Atiradora entrou em êxtase e parecia prestes a implodir com a teoria de Fernando.

Mas então em milésimos de segundos, Carolina foi parar no chão com um estalo audível.

Rebobinando em sua mente, Fernando viu a grande arma sumir da mão de Carolina e girar longe dela no chão. Depois, um vulto surgiu do lado dela e a socou no rosto com uma força surpreendente.

Agora a Atiradora sangrava pela boca, ofegando audivelmente no asfalto.

Fernando encarou enquanto o individuo se virava para encará-los, os olhos brilhando.

— Vocês estão bem? - perguntou o garoto.

— Rafa - Fernando sussurrou, surpreso. - Como fez isso?

Rafa parecia disposto a responder quando Carolina se levantou rapidamente com duas armas apontas no recém-chegado. Fernando quis tentar se colocar na frente, mas ficou surpreso quando o garoto ergueu a mão para impedi-lo. O que diabos ele pensava que estava fazendo?

Ao invés de atirar, Carolina encarou cada um dos garotos e sorriu com uma última encarada antes de uma fumaça escura e cinzenta surgir do chão e a cercar por inteiro.

Depois que a fumaça sumiu, a Atiradora havia sumido também.

***

— E ela estava lutando tão bem, parecia que tinha feito aquilo a vida toda.

Os três garotos tinham se sentado na escadinha que dava acesso à escola e Fernando resumia a aparição toda de Carolina. Rafa ouvia tudo atentamente, os olhos castanhos focados na marca de tiro no chão do estacionamento. Erick comia a batata suprema que Rafa tinha guardado em seu armário antes de perder a fome ao ver a Atiradora.

— Tentei arranhar a vadia pelo calcanhar - Erick contou de boca cheia. - Mas ela esmagou minha mão com aquela bota velha!

— Pelo calcanhar? - Rafa questionou.

— É - Fernando assentiu. - É assim que os Lobos enfraquecem sua presa antes de matar. Não lembra que a Érika fez o mesmo quando fomos atrás dela?

Rafael estremeceu com a lembrança, mas fez que sim com a cabeça.

— O que ela queria aqui? - perguntou.

— Apenas estudar! - Erick se exaltou. - Ela merece uma vida normal também apesar de ser uma Loba, sabia?

— Eu quis dizer Carolina, Erick - Rafa ergueu as sobrancelhas.

— Encher o saco, talvez - Fernando deu de ombros. - Mas fosse o que fosse, não fez com que ela e Leticia ficassem muito tempo.

— Acham que elas estão trabalhando juntas? - Rafael questionou com os olhos na floresta. - Será que Leticia é o Capuz?

— Leticia pode ser uma Bruxa, mas com certeza não tem vocação para ser Chefe. Lembre-se do que ela te disse no ano passado, é alguém próximo a você que esta te traindo. Um amigo.

Os olhos de Rafa se perderam por um instante no vazio e ficaram arregalados repentinamente. Fernando o cutucou e ele pulou assustado.

— O que foi? O que esta pensando?

— Nada - ele piscou. - Só é difícil pensar em alguém que conheço querendo tanto mal assim pra mim.

— Não precisa ser um amigo necessariamente - Erick explicou. - Pode ser alguém chato como aquela tal de Taffara.

Rafa balançou a cabeça.

— Taffara pode me odiar muito, mas já tem suas razões para isso. Não, não é ela o Capuz. Tem que ser alguém que esta agindo estranho ultimamente.

— Isso significa que temos que verificar todo mundo - Fernando girou a adaga nos dedos enquanto falava. - Vick, Rogério, Taffara, Diogo, Camilla's, Rael e aquele seu...

— Roberto - Rafa o encarou. - O nome dele é Roberto e ele é meu namorado.

Fernando assentiu.

— Temos conhecimento disso.

Rafa franziu a testa e Erick olhou de um para o outro.

— Então Rita e Marco estão fora da lista? - perguntou com um tom esperançoso.

— É possível, mas não vamos tirá-los da lista por segurança.

Rafa bufou.

— Não consigo ver Rita em um capuz preto correndo para nos matar!

Foi a vez de Fernando encará-lo de um jeito sério.

— Você ficaria surpreso com a capacidade de alguém em mentir.

Não teve certeza, mas Rafa pareceu pegar o comentário para si enquanto olhava pensativo para as portas da escola. Será que ele tinha uma ideia de quem poderia ser o Capuz?

E ele podia estar certo?

Quando as aulas do dia acabado para Vick, ela dispensou a carona de Camila para ir em seu carro. Preferiu ir a pé e também tinha que deixar alguns livros em seu armário.

O dia tinha sido normal, apesar dos acontecimentos que a contornaram por completo. A volta de Henrique foi chocante e agora ela estava confusa se Rafa havia sido tão sincero como havia soado no Natal. Por que mentiria que ele havia morrido? Será que Henrique tinha sido capaz de pedir que ele mante-se em sigilo?

Também tinha escutado que Taffara havia batido no ex-namorado-desaparecido e que Rael havia sido ameaçado. Todas aquelas novidades faziam com que ela pensasse em ir atrás de Rafa para pedir explicações, mas a verdade era que só havia uma pessoa que ela queria ver no momento.

Lucas.

Se o amigo estivesse ali, ela teria o resumo de tudo em primeira mão e, talvez juntos, pudessem ir atrás das respostas sozinhos, como nos velhos tempos. Mas o tempo havia passado, a escola tinha sido pintada com novas cores e ninguém tinha nenhum sinal dele.

Com a dor no peito se intensificando, Vick encostou a cabeça no armário, tentando se controlar. Não podia perder a cabeça. Não ali.

— Cólicas? - perguntou uma voz anasalada e familiar.

Vick abriu os olhos e se recompôs imediatamente quando encarou o garoto na sua frente.

— Vá embora, Diogo!

— Não - o moreno sorriu maliciosamente. - Essa é uma escola pública, eu posso ficar aqui se eu quiser.

— Ótimo - ela ajeitou a bolsa no ombro. - Então fique sozinho - e começou a se virar para ir embora.

— Já ficou sabendo qual filho pródigo voltou hoje? - Será que ela estava imaginando o barulho dos tênis dele enquanto a seguia? - Achei que fantasmas não existissem!

— Se isso fosse mesmo verdade, eu não estaria lidando com você! - ela rebateu.

Diogo a alcançou e a atirou contra a porta de um dos armários. Não doeu, mas também não foi muito bom.

— Você acha que não saquei a sua? - o rosto grotesco dele estava perto quando falou. - Acha que só porque ele magicamente falou você esta livre? Você ainda é minha Vick!

Há anos ela sonhara com o momento em que ele se cansaria dela e contaria a todos o que acontecera com Henrique. Mas no momento em que o moreno voltara a vida ele tinha perdido todo o seu poder automaticamente. E sabia disso, por isso estava daquele jeito.

— Eu nunca fui sua - ela estufou o peito. - Você só não sabia disso antes. E fique feliz com suas lembranças grotescas de mim é só o que você vai ter!

Diogo estava vermelho como um pimentão, de alguma forma.

— Acha que acabou? Você, Rafa, Rael e todo o resto dos seus amigos vão pagar! Vão pagar tudo!

Vick o encarou e viu que ele não estava usando sua notória agressão. Estava apenas falando e falando.

— O que esta armando Diogo? - ela se aproximou. - Com quem?

O outro parecia querer sorrir pela segunda vez aquele dia, mas duas sombras se projetaram no final do corredor.

— Vick? Esta tudo bem por aqui?

De um lado Henrique estava mais alto do que a ultima vez que o tinha visto e mais forte, usando uma camisa preta sem mangás que deixava seus bíceps amostra.

Do outro, um garoto de cabelo castanho mais baixo que lembrava muito ele com uma jaqueta bege de aviador seguia seus passos. Seria o tal irmão que estavam todos falando?

Os dois olharam de Diogo para ela.

— Está sim - ela respondeu se livrando do aperto do ex. - Diogo já estava de saída.

Diogo a fuzilou com os olhos.

— Mesmo? - Henrique cruzou os braços e olhou Diogo. - E o que esta esperando para ir logo?

Mesmo sabendo que estava encurralado, Diogo sorriu com deleite de um para o outro antes de começar a andar na direção dos dois rapazes.

— Isso mesmo, aproveitem o quanto podem! Não vai durar muito.

E com a ameaça passou trotando por Henrique e pelo irmão mais novo, dando uma última encarada nele antes de partir.

— Quer me contar o que estava acontecendo? - Henrique perguntou, em um tom muito mais leve.

Vick sabia que deveria contar, mas a verdade é que não queria. Não queria mesmo.

No meio dos nadadores saindo pelas portas do fundo da escola, Rafa conseguiu avistar uma cabeça loira alta. Roberto se apressava para sair da escola, a bolsa de estilo carteiro balançando com o quadril.

Se um garoto esta puto com você, existe a possibilidade de o humor dele estar bom o suficiente para ele te perdoar. Uma garota, pelo contrário, não perdoa e não esquece. Pelo menos na opinião de Rafa.

Mesmo não sabendo se o namorado estava puto ou não, Rafa sabia que precisava tentar falar com ele antes que fosse tarde. O Pack podia ter voltado, mas isso não significava que seu relacionamento deveria acabar.

— Hey - ele o cutucou de leve no ombro, torcendo para que ele não continuasse andando.
— Hey - Roberto o mediu com cautela, os olhos ficando mais claros com a luz do sol. - Estava te procurando.

— Sério? - tentou não parecer muito surpreso. O namorado era do tipo que mesmo brigado mostrava o que estava sentindo. - A verdade é que eu estava pensando sobre nós dois.

— Tudo bem - o mais alto assentiu. - E no que estava pensando?

Rafa tomou fôlego e continuou.

— Você estava certo, eu quebrei minha promessa com você. Mal começamos no primeiro dia e já estou sumindo sem te dar explicações.

Roberto assentiu calado, um sinal de de que concordava com o que ele dizia. Perfeito.

— Não vou prometer que não vou mais fazer isso, porque ficou claro que eu não vou conseguir cumprir.

Um suspiro veio de Roberto, mas o garoto também sorriu um pouco. Parecia estar aceitando.

— Mas eu te prometo uma coisa que eu sei que sou capaz de cumprir: Não vou te decepcionar, e o que você precisar saber e o que você quiser saber, eu vou contar. Eu prometo, sem mais segredos.

Roberto assentiu, um pouco emocionado e o pegou pela cintura para trazer seu corpo para mais perto.

— Isso significa que você vai começar a sussurrar coisas no pé do meu ouvido?

Rafa sorriu e o socou de leve no peito.

— Se você quiser.

— Ah, eu vou querer sim! - sorriu de volta e o beijou carinhosamente no rosto. - Sem mais segredos?

Rafa fez que sim com a cabeça e se inclinou para um beijo. Mas então sentiu um leve empurrãozinho. Roberto o encarava.
— Mais uma coisa - sua testa estava franzida. - Por que todo mundo nessa escola não para de falar dos meus irmãos?
— Se-seus irmãos? - Rafa gaguejou. - Como assim?
— Estão todos falando sobre o Rick - os olhos do outro eram fixos. - E ao que parece ele namorou a Taffara no passado e traiu ela com seu ex, o Rael... Não estava sabendo disso?

Rafa suou a camisa só de pensar no quão chegaram perto da verdade. No quão perto Roberto chegou da verdade.
No momento em que ele ia inventar alguma mentira, um carro cinza com vidro fumê parou ao lado dos dois com um zunido.

Ele reconheceu a motorista.

— Marta?! - ele arfou. - O que está fazendo aqui?

Marta riu sarcasticamente, abaixando os óculos escuros e tocando os cachos perfeitos de seu cabelo afro.

— Como assim o que estou fazendo aqui? Essa é a minha escola.

— É, mas você esta sendo procurada - ele informou e Roberto ao seu lado enrijeceu. - É verdade o que estão falando? Que você pagou...

— A policia acredita no que quiser acreditar - ela revirou os olhos escuros. - Mas chega de falar de coisas ruins. Eu vim chamar vocês dois para uma festa.

— Festa? - ela era procurada e ainda iria à uma festa. - Qual festa?

— A minha bobinho! - ela repicou a voz. - Eu sempre faço as festas de voltas às aulas!

Isso era verdade, Rafa pensou, mas isso tinha sido um ano antes de tudo acontecer e tudo mudar.

— E o meu convite é aberto - ela deu um sorriso platinado para ele, depois para Roberto. - O tema será Casa de Bonecas! — ela aplaudiu.

Casa de Bonecas - Roberto repetiu inexpressivamente.

— Criativo, não? - ela bateu palmas. - Mas então, posso contar com você lá?

Rafa olhou o namorado de lado, em busca de suporte, mas este apenas deu de ombros quando o que mais parecia querer dizer era "só uma festa, para sabermos o que esta acontecendo".

Decidido, ele confirmou com um sorriso lisonjeiro.

— Claro que pode. Eu vou estar lá.

— Ótimo, começa às oito! Vejo os dois pombinhos lá!

Os dois riram e observaram enquanto ela fechava a janela e dava partida no carro. Parecia dirigir com muita pressa.

Rafa e Roberto se olharam uma vez, sem dizer nada, mas pensando a mesma coisa.

Ou talvez não.

— Qual é o tema mesmo daquela festa? Casa de Bonecas? - a voz de eletrônica de Roberto ecoou por todo o quarto de Rafa, que tinha acabado de acrescentar uma camiseta cinza a pilha de roupas rejeitadas por ele.

— Isso mesmo, Casa de Bonecas - ele confirmou, bufando para um short jeans curto de cor bege que não usava desde o ano passado.

Isso quer dizer que vou ter que me vestir de Barbie? - questionou o namorado.

— Isso quer dizer que você vai ter que se vestir de Ken - Rafa explicou para o celular em cima do criado mudo. - Relaxa Rob, só porque o tema tem a ver com bonecas não significa que temos que vestir Monster High!

Mas certamente vão ter pessoas assim, certo?

— Provavelmente - respondeu ao se sentar na cama.

Por que estou te ouvindo bufar tanto? - perguntou Roberto. - Tem algo te chateando?

— Pode se dizer que sim - ele se levantou e se encarou no espelho de corpo inteiro. - Não sei o que vou usar para hoje à noite.

Houve um momento de silêncio na linha.

— E isso é algum tipo de emergência, certo?

Rafa revirou os olhos, feliz por ele não estar ali para ver isso.

— Não comece a tentar me banalizar com o estereótipo gay - ele puxou o próprio cabelo revolto. - Eu só estou indeciso. Isso é totalmente hetero e normal. E chato também, como todo hétero.

Não estou dizendo que isso é gay! - riu o garoto do outro lado da linha. - Só fico imaginando como deve estar sua cara de frustração!

Rafa riu e passou por cima da pilha para pegar o celular e o colocar no ouvido.

— Você acaba de falar como um daqueles caras que pedem nudes. Quer que eu faça uma chamada de vídeo também?

Grito! — Roberto começou a rir, mas parecia nervoso. - Eu não sei você quer ligar?

Se sentindo um pouco levado, deixou o dedo pairar no botão CHAMADA DE VÍDEO.

— Não sei - murmurou. - Não quer começar me perguntando o que estou usando por baixo?

Conseguiu ouvir o namorado respirando fundo do outro lado e começou a se sentir agitado. Será que Roberto seria desse tipo? Já tinha namorado garotos safados antes - Rael era um belo exemplo - mas até o final de semana na casa dos avós do atual, ele tinha se mantido um santo. Será que a intimidade havia feito tudo mudar?

A resposta para aquela pergunta foi interrompida por um baque e Rafa se virou para encontrar a janela do seu quarto aberta. Quando viu alguém parado ali, quase gritou.

Quase, se não conhecesse o garoto loiro de camisa azul-escuro...

O que foi isso? — Roberto perguntou, parecendo preocupado no começo e depois ficando mais agitado. - Esse foi você tirando a roupa?

— Ah, não - Rafa coçou a nuca, encarando o celular. - Na verdade foi o meu carregador caindo. Olha, amor, eu ainda tenho que tomar um banho, então se importa se...

— Claro - Roberto suspirou. - Nos vemos na festa. Me manda uma mensagem quando estiver indo.

— Mando sim - Rafa disse e encerrou a ligação. - O que você pensa que está fazendo aqui?

— Já é seguro falar? - Fernando brincou olhando a pilha de roupas. - Está planejando alguma viagem?

— Estou planejando meu guarda-roupa - Rafa retrucou, sem-graça. - Posso saber o que é tão importante pra você invadir meu quarto pela janela? E não usar a campainha?

O loiro deu de ombros.

— Homenagem aos velhos tempos? Me desculpe, eu espero não ter interrompido nada de muito importante - seus olhos azuis desceram para o celular na palma dele.

Rafa semicerrou os olhos.

— Não era nada disso. Só estávamos conversando.

— Ei, não precisa me dar explicações - o outro usou um tom de voz indiferente. - Eu entendo vocês são namorados. Você só precisa saber onde colocar sua lealdade.

— O que quer dizer com isso? - perguntou, se sentando na cama. - Está dizendo que é meu dever desligar o celular só porque vejo um de vocês invadindo meu quarto?

— Dá pra parar com o sarcasmo?

— Dá pra pedir com educação?

— Dá pra parar com o sarcasmo, por favor? - Fernando sorriu forçadamente. - E sim, foi isso que quis dizer.

— Eu não... - Rafa foi logo levantando.

— Rafa, eu sei que você tem uma vida, todos nós temos. Mas você precisa entender que isso é mais importante. A qualquer minuto uma vida pode estar em risco e eu não vou ficar esperando você mandar emojis de beijos e corações enquanto alguém morre.

Rafa assentiu, sentindo como se Fernando tivesse envelhecido mais dez anos e usasse um terno vagabundo e barato de segunda mão, como seus professores faziam.

— Eu sei disso, não precisa falar assim - ele olhou para o celular agora jogado na cama. - Já deixei tudo claro para ele também.

— Espera - Fernando ergueu a mão, ficando pálido. - Contou tudo a ele?

— Não seja estúpido! - bufou. - Lógico que não... Só fui honesto quanto a não poder dizer nada.

O loiro parecia estar fazendo contas mentais enquanto digeria cada palavra que ele disse.

— Então você meio que contou... Sem na verdade contar? - arriscou.

— Basicamente isso.

Fernando assentiu e depois de alguns segundos encarando o quarto dele, espalmou as mãos, como Eduardo às vezes fazia.

— E então, quando é a festa?

Rafa o encarou confuso por alguns segundos e o loiro o encarou de volta, confuso também por sua confusão.

— Festa? - Rafael questionou. - Você quer dizer a festa da Marta? Como soube...

Fernando apenas fez cara de paisagem.

— Você ouviu minha conversa inteira?! - Rafa surtou e, logo depois de um instante, corou. - Eu não acredito nisso!

— Ei, ei, ei - Fernando encarou suas mãos erguidas no alto. - Cuidado com isso ai, você não sabe bem o que faz.

— Ah, pode ter certeza que eu sei!

— Foi como eu disse - o loiro tentou se explicar. - Esta é meio que uma situação de necessidade, não temos tempo em sermos decentes.

— Ah não? E qual a novidade agora? - Rafa riu. - O que vocês iam querer com a festa da Marta?

— Só pra esclarecer, eu não faço a menor ideia de quem é essa garota... Mas nós sabemos que Carolina e Letícia ainda podem estar por aí querendo te pegar... E o Chefe delas também. Então se vai haver alguma festa, precisamos ficar de olho.

— De olho em mim, você quis dizer?

Fernando o encarou por um momento antes de confirmar com a cabeça.

— Eu lamento que seja o alvo principal deles.

Rafa riu histericamente.

— Eu não tinha pensando assim antes, mas tudo bem! Vou acrescentar essa a minha lista pessoal de coisas que me apavoram!

— Você tem uma também? - o loiro balançou a cabeça. - Nós estaremos lá, nada vai acontecer enquanto estivermos juntos.

— Tudo bem. E você vai estar como?

Fernando franziu o cenho.

— Como assim como vou estar?

— A festa começa ás oito da noite, caso não tenha escutado o suficiente - informou com um toque irônico. - Eu sei que você não será você porque vai estar a noite.

O caçador pareceu um pouco afetado pelo jeito como ele havia dito sobre sua habilidade de Metamorfo - diferente dos demais que Rafa ainda não havia conhecido, Fernando tinha a maldição de se transformar em algum animal assim que a noite caía.

— Um corvo, talvez - respondeu, parecendo distante. - Isso vai ser alguma festa a fantasia por acaso? - comentou olhando a pilha de roupas.

— Mais ou menos. Ei, você vai chamar a Dessa e o Edu também?

— Lógico. Estava prestes a ligar para eles, parece que foram até o novo loft da Carla e da Érika.

— Um loft - Rafa repetiu. - Por acaso o orçamento da Anna é...

— Não me pergunte, eu não quero saber. Agora é sério, Rafael - como ele odiava quando ele o chamava assim. - Estaremos lá a noite, então tome bastante cuidado.

— Vocês também - desejou, sabendo que eles não precisavam de tanto assim.

Fernando parecia prestes a se retirar, mas então deu uma olhada intensa para a pilha de roupas e depois para Rafa. Parecia pensar em algo.

— Cinza - disse afinal.

— O quê? O que foi?

— Você deveria vestir algo cinza - ele começou a recuar até a janela. - Combina bastante com você - e então pulou.

Rafa se virou para a pilha de roupas e pegou a peça antes rejeitada, encarando ela com um novo par de olhos. Pegou então o celular e começou a digitar uma mensagem:

To: Roberto Amor

E se eu for de Cinza?

— R. Capoci

— Rael! Rael espera, por favor! Rael?! Pode por favor, me esperar e ouvir?

Tinha sido assim no caminho todo da Vallywood High School até sua casa. Ele tinha tentado atravessar o farol correndo, andar rápido pela calçada e ignorar qualquer um que o encarasse na rua. Foda-se, Rael pensava e continuava andando. Depois de ter escutado a conversa de Gabriel com uma garota, uma tal de Deb, pelo celular, ele tinha saído da escola sem nem se importar se faltavam dois ou três minutos para sair. Não queria passar nem mais um minuto perto daquele que o fizera se sentir enojado por dentro.

Mas apesar de ter deixado claro que não ia deixar ele se explicar ou se desculpar, o traidor o seguiu mesmo assim até o estacionamento da escola, até a avenida inteira, rua por rua até eles chegarem na rua da casa dele. A casa de Rael se erguia simples, mas arrojada, no final dela.

— Eu sei que pode me escutar, Rael! - Gabriel persistia. - Não pode me ignorar pra sempre!

Ele se virou para o canalha e trincou o queixo como se dissesse "Quer pagar pra ver?". O olhar de resposta dele parecia de alguém sendo torturado, mas ele não podia dar a mínima para aquilo. Foda-se, recitou novamente.

— Eu posso explicar tudo, eu juro que posso, mas você precisa parar e me ouvir!

— Explicar o quê? - ele não suportou mais e deu dois passos à frente. - Vai me explicar tudo que eu já sei? Porque se for isso, eu espero que você me poupe.

— Você não entende... - Gabriel piscava os olhos rapidamente enquanto falava. - Eu tenho...

— Você tem uma namorada. Todo esse tempo você teve uma namorada e me fez ficar afim de você... E depois me beijou, e ainda estava namorando com ela.

— Você não entende - Gabriel insistiu. - Ela mora longe.

Rael jogou os braços para o alto. E?

— Acha que só porque estão namorando a distância você tem direito de fazer o que fez?

— Não, mas eu gostei do que fiz. Não era minha intenção estragar tudo quando você soubesse.

— Você não entende que já tinha estragado tudo antes no momento em que decidiu dizer "oi"?

Gabriel ficou em silêncio, os pés parecendo não se firmarem no chão, como se ele fosse cair a qualquer momento.

— Eu vou poupar você e deixar as coisas de um jeito mais simples - disse Rael, mais decidido e calmo. - Vamos esquecer isso e você continua com sua vida aqui. Sua querida Deb não precisa saber o que você fez. O que nós fizemos.

Gabriel pareceu aliviado, apesar de estar tentando aparentar discreto. Canalha, canalha, canalha.

— Mas você nunca mais vai poder vir falar comigo - acrescentou e o outro o encarou.

— Rael, você não pode fazer isso!

Oi? Rael piscou, olhando duas vezes para frente.

— É claro que posso. Não quero ter nada com alguém como você.

— Esta me dizendo que não gostou do beijo?

— Sim - aquilo não era exatamente verdade, mas se dissesse que não estaria começando a fazer tudo errado de novo. Sendo trouxa de novo, e não queria isso.

Gabriel o encarava com os olhos semicerrados, parecendo não acreditar.

— Eu tenho quase certeza que você está mentindo.

Rael riu. Aquilo por um lado era engraçado.

— Você se acha demais, né garoto? Eu não dou a minima se o seu beijo foi experiente ou foi bom. O que você fez foi errado e você não vai me levar nessa com você!

Gabriel balançou as mãos ao lado do corpo, olhou para uma árvore distante e depois o encarou com os olhos castanhos claros.

— Eu gostei do beijo e também gostei de você.

A torrente de sentimentos que Rael sentiu depois de ouvir tudo aquilo foi forte. Primeiro veio raiva por si mesmo e não soube bem por que. Depois algo lá no fundo, que fez com que ele sentisse pena e ao mesmo tempo desejo por Gabriel novamente. E depois raiva de novo, mas não por si mesmo.

— Me esquece! - ele guinchou e saiu andando até sua casa.

No meio do caminho, olhou para trás e viu que Gabriel também estava começando a voltar do caminho que havia feito. Talvez estivesse começando a fazer o que ele havia dito.

— O Henrique fez o quê? - Camila Alves quase cuspiu o latte que estava tomando quando Vick terminou de contar o que havia acontecido mais cedo na escola. As duas estavam no Dropcoff, a melhor cafeteria de Vallywood, que também estava cheia de cartazes de DESAPARECIDO de Lucas.

— Fala baixo - ela sussurrou para a amiga e apertou sua mão na mesa. - Temos várias fãs da Taffara que podem entrar no Twitter e postar sobre tudo o que estamos falando!

 

— O Henrique fez o quê? - Camila Alves quase cuspiu o latte que estava tomando quando Vick terminou de contar o que havia acontecido mais cedo na escola. As duas estavam no Dropcoff, a melhor cafeteria de Vallywood, que também estava cheia de cartazes de DESAPARECIDO de Lucas.

— Fala baixo - ela sussurrou para a amiga e apertou sua mão na mesa. - Temos várias fãs da Taffara que podem entrar no Twitter e postar sobre tudo o que estamos falando!

— Oookay - Camila largou sua mão e olhou para uma garota de rabo de cavalo loiro que mais lembrava uma paquita. - Isso quer dizer que famosas ficaremos, pelo menos. Mas me conta de novo, o que o Henrique queria nada.

— O Henrique não queria nada, quem queria era o Diogo.

— E o que ele queria? - perguntou ela, mas então balançou a cabeça. - Espera, não me diga, ele estava querendo encher o saco.

— Sempre - Vick suspirou. - E ele estava todo cheio de ameaças, dizendo que não importava se o Henrique estava de volta ou não... Eu ficaria presa com ele de qualquer jeito.

— Deus me livre! Esse cara não desiste nunca! - ela bebericou o latte antes de continuar. - E depois?

— E então, quando ele já tinha me jogado contra o armário e feito mais de uma dúzia de ameaças, Henrique chegou com um garoto baixinho que era a cara dele.

— Neemias - Camila sorriu como quem se divertia ao pegar o celular. - Eu e um bando de garotas da minha turma de matemática stalkeamos eles a aula inteira! Neemias é Selenator, veio do sul de Chicago e é interessado por cultos demoníacos!

— Camis - ela pigarreou. - Foco.

— Ah okay, estamos sérias hoje - Camila largou o celular. - E o que eles fizeram? Bateram no Diogo?

— Quem me dera? O idiota se tocou que não ia conseguir arrancar nada de mim e deu o fora dali!

— Espera - Camila retorceu o rosto. - Arrancar o que de você?

Vick passou a mão no próprio queixo e olhou para os lados para ver se alguém poderia estar escutando. Quando teve certeza que não, se aproximou mais um pouco:

— Eu não sei bem o que ele queria, mas me pareceu por um momento que ele... Que o Diogo estava armando alguma coisa.

— Armando alguma coisa? - a amiga sussurrou. - Diogo?

— Pois é! Ele estava agindo o tempo todo como se soubesse algo mais de mim, como se soubesse alguma coisa que pudesse me prejudicar! Quando Henrique chegou naquela hora ele começou a dizer coisas do tipo "aproveitem enquanto ainda podem, enquanto ainda podem ficar no poder" "não vai durar muito".

Camila pareceu pensativa.

— E você tem? - perguntou.

— O quê? - questionou Vick.

— Coisas que podem te prejudicar?

— Não.

— Diogo é estranho. Ele não poderia estar armando com alguém?

— Pensei nisso por um instante - ela confessou. - Mas talvez ele só tenha sido um idiota.

— É, pode... - Camila parecia querer dizer algo, mas então interrompeu a si mesma. - Ah, não.

— O que foi?

— Você disse que ele só começou a falar essas coisas depois que o Henrique apareceu, não foi?

— Sim. O que é que tem?

— Acontece que você passou mais de um ano fingindo ser namorada do babaca do Diogo só para ele não abrir a boca sobre o que aconteceu no Natal. Ou seja, de alguma forma, você ajudou Rafa a encobrir a história. Ele pode estar planejando contar ao Henrique.

Vick se arrepiou ao pensar no garoto de cabelo escuro olhando ferozmente dela para Diogo, de Diogo para ela.

— Isso quer dizer que Diogo e ele... Podem se vingar de mim e de todos que tentaram esconder o que aconteceu no Natal. Henrique ele podem começar a trabalhar juntos.

— Bizarro - Camila parecia querer sorrir. - Não tinha passado na minha cabeça que Henrique era desse tipo.

— Bom, nós já sabemos que ele ameaçou Rael. O que impediria ele de me ameaçar também?

— As pessoas deveriam tentar falar mais baixo nesse lugar - pigarreou uma voz vinda do balcão.

Vick e Camila se viraram a tempo de encarar uma Camila Polli recostada no meio do saguão da cafeteria, enquanto esperava seu pedido. Não olhava diretamente para as duas, mas sorria de um jeito malicioso.

Camila se virou para a amiga.

— Há quanto tempo ela está escutando? - perguntou, as sobrancelhas se formando como um V acima dos olhos.

Vick deu de ombros.

— Nem vi ela entrando.

— Para a viagem - respondeu Camilla Polli para o barista.

— É impressão minha ou ela está nos seguindo?

— Não ficaria muito surpresa se fosse isso - respondeu Vick. - Agora que ela é a nova cachorrinha da Taffara, vai querer fazer tudo que ela fez com a gente também.

Camila Alves encarou a ex-amiga. Vestia um conjunto de terninho e saia rosa, com uma bolsa em tom pastel. Debaixo do cabelo ruivo, brincos de argola balançavam. Ela era a cópia fiel de Taffara, com certeza.

Camila, a outra, começou a se retirar da cafeteria, passando bem do lado da mesa delas. Vick espirrou ao sentir o cheiro do perfume dela e encarou Camila Alves de um jeito significativo.

— Ela estava escutando, definitivamente.

— Quer ir atrás dela? - Camila propôs.

Vick olhou enquanto ela passava do lado de fora da cafeteria, desfilando no salto alto. A Camila que antes andava com elas curtia Jessie J e usava jeans e camisetas com dizeres engraçados. Esperou mais um pouco e então se levantou.

— Vamos.

As duas se retiraram da mesa, logo depois de Camila depositar uma nota de vinte nela, e passaram por entre as portas barulhentas do Dropcoff.

Camila Polli ainda desfilava até a próxima esquina, as pernas com cochas grossas se movendo logo à frente. Vick acelerou um pouco mais o passo e sentiu que Camila Alves aumentou o passo junto dela.

A ex-amiga já tinha virado a rua quando conseguiram alcança-la. Camila Polli se tocou e se virou, mas já era tarde quando Camila Alves passou por ela e cruzou os braços. Vick seguiu seu exemplo e fez o mesmo.

Camila Polli olhou de uma para a outra com um sorriso histérico e olhos um pouco arregalados.

— É sério isso?

Camila Alves empinou o queixo em resposta.

— Nós sabemos que você escutou toda a nossa conversa.

— O que? - Polli riu, mas então deu de ombros. - E daí? Tinha algo de mais na conversa patética de vocês para começarem a agir como as Três Espiãs Demais pra cima de mim?

— Não seja dramática, amiga — Camila semicerrou os olhos. - Você estava lá escutando tudo só pra depois passar pra naja da Taffara! Nós não vamos deixar você fazer isso!

Camila Polli bufou.

— Okay, Lucy Liu, já pode parar. Taffara não esta dando a mínima para o que vocês andam fazendo e eu muito menos - disse e começou a se virar. - Agora se me dão licença...

— Você não vai a lugar algum enquanto não nos disser o que estão armando contra nós. E não adianta negar, nós vimos Taffara indo se encontrar com alguém naquele dia em que seguimos vocês duas.

Dessa vez a ex-amiga toda pintada de rosa apenas umedeceu os lábios e olhou de uma para a outra novamente.

— Só o que vocês precisam saber sobre isso é que é um garoto. E nada mais.

— Um garoto? - Camila se colocou mais para frente. - Seria o Henrique?

— Eu não deveria dizer nada disso a vocês duas estranhas, mas eu não faço a menor ideia - confessou parecendo cabulada. - Ao que parece não sou tão confiável assim para Taffara me dizer qualquer coisa.

— E só agora você percebeu isso? - provocou Camila Alves.

— Quem é esse garoto? - Vick pressionou. - E por que ela iria querer encontrar ele às escondidas de todo mundo assim?

— Não faço a menor ideia, mas ele vem se falando a semana e o que me pareceu é que ele sabe de algo que pode ajudar ela.

— Tipo uma informação?

— Algo do tipo - Camila assentiu. - Hoje a noite, na festa da Marta Joane, ela combinou de encontrá-lo e ao que parece ele vai dizer tudo o que sabe.

Vick pensou naquilo por um instante, surpresa por estar tão surpresa. Quem era aquele garoto que estava se encontrando com Taffara? E o que ele poderia saber de tão importante que poderia ajudar ela?

— Por que esta nos contando tão facilmente tudo isso? - Camila Alves perguntou e a trouxe de volta à realidade. Estava com tantas perguntas na cabeça, que não parou pra pensar que a ex-amiga estava facilitando demais aquelas informações.

— Porque eu tenho meus motivos - suspirou Polli. - E além do mais, quero que fiquem preparadas porque Taff esta armando algo grande dessa vez, algo maior do que aquela armaçãozinha com o Roberto. E é bom que vocês todos estejam preparados.

— Nós todos? - Camila arquejou. - Nós todos quem?

— Vocês, Rafa, Diogo e todos aqueles que sabem sobre o que aconteceu no Natal com Henrique e não disseram absolutamente nada... Ela esta disposta a fazer todos vocês pagarem.

Em outra circunstância, Vick teria rido e não dado bola. Mas com Lucas desparecido e Rafa um pouco distante sabia que não poderia ignorar a ameaça de Taffara - ela podia ser má e estúpida as vezes, mas quando se queria se vingar, Taffara se vingava.

— E onde você vai estar quando tudo isso acontecer? - questionou.

Camila Polli sorriu e Vick pode ver que a guarda dela não estava mais baixa como antes.

— Eu vou me certificar de ficar no lado que não vai sofrer nada por isso.

Disse isso e, antes que Vick ou Camila a impedisse, começou a atravessar a rua sem pressa alguma. Sabia que elas não iriam atrás dela novamente. Já tinham conseguido todas as informações que queriam.

Carla terminou de desempacotar a última caixa do quarto de Érika no novo loft. O antigo loft havia sido destruído pelos Atiradores no ano passado, enchendo o lugar cinzento de buracos, poeiras e móveis já velhos quebrados. Com a correria toda para fugir deles, ela acabou abandonado o lugar e fugindo para La Iglesia. Uma vez lá, tinha feito um lar com Érika e Erick por meses. Maravilhosos meses.

Agora de volta a Vallywood, suas lembranças com Érika ali dentro começaram a voltar uma por uma. E não eram poucas. O motivo pelo qual estavam de volta à cidade era ela. A loira merecia ter uma vida quase normal - todos eles mereciam.

Olhou para a cama batida de ferro e observou a colcha em que Érika dormia às vezes em La Iglesia e quando não era ali, Carla dividia a sua com ela para que dormissem de conchinha.

Aproximou-se da cama e passou a mão em cima da fronha, pensando em como ela deveria estar indo na escola. Decidiu deitar e uma vez ali, com a cabeça pousada no travesseiro, sentiu algo machucar.

Ela se sentou e viu a leve protuberância ali. Carla não quis dar uma de namorada intrometida, mas era só uma leve espiada. Que coisa grande Érika poderia esconder dela? O relacionamento das duas era mais forte que a ligação entre Alfa e Beta.

E o que é isso dentro do travesseiro dela então? insistiu uma vozinha em sua cabeça. Pensou em como ela estava estranha ultimamente, desde a semana do teste de Rafa e alguns dias depois daquilo.

A cabeça dela latejou de curiosidade e antes que percebesse estava com ele no colo, enfiando a mão por dentro da fronha. Seus dedos finos encontraram um material de plástico e vidro pequeno.

Quando trouxe a mão para fora sentiu seu rosto se retorcer, confuso. Um par de óculos escuros estava meticulosamente dobrado.

Antes que Carla tivesse tempo para pensar sobre aquilo, vozes altas e o barulho das portas do loft sendo abertas conseguiram ser pegos por sua audição.

Em um átimo, ela se levantou da cama, guardou os óculos dentro do pano e o colocou de volta no alto da cama. Milésimos de segundo depois ela estava descendo as escadas para o primeiro andar na sala cozinha, onde Erick e Érika discutiam.

— Me deixa Erick! - a loira grunhia. - Por que não volta pra aquilo que chama de escola e fica com a Rita?

— Tsc, tsc - Erick cruzava os braços. - Esperta da sua parte tentar fazer isso ser sobre mim mas não vai funcionar! Onde você foi depois da aula?!

— Vai tomar no...

— Ei, ei, ei - Carla interviu. - O que está acontecendo aqui?

— Essa espertinha da Érika fica sumindo!

— Cala boca, Erick!

— Sumindo? - Carla questionou olhando a loira. - Quer me explicar isso direito?

O olhar de resposta de Érika não foi nem de raiva e nem de ódio. E sim de traição. Seus lábios cerrados eram uma linha fina no rosto.

— Ela foi atacada por uma Bruxa - comentou Erick.

— Uma Bruxa? Por que uma Bruxa te atacou?

— Eu gostaria de saber, acredite - respondeu Érika. - Essa tal de Leticia chegou perto de mim pedindo ajuda pra achar o ginásio e então começou com um papo estranho sobre me conhecer.

— E você acreditou nela?

Érika deu de ombros.

— Não lembro de nada da minha vida antiga... Como não ia acreditar?

Um arrepio passou pelas costas de Carla antes de ela falar novamente. Érika acreditou em uma Bruxa que não conhecia. Isso só podia significar que ela estava caçando aquilo.

— Não pode confiar em qualquer um - disse enfim. - Não pode confiar em nada do que não se lembra.

— Ouviu alguma coisa do que eu disse agora pouco? Eu não me lembro de nada, Carla!

— Eu já te disse, é um processo - respondeu Carla. - Com o tempo suas memórias vão voltar, eu prometo.

— Tempo geralmente implica em ser exato - rebateu. - Quanto? Seis meses? Um ano? Dois?

Carla não soube o que responder e pôde sentir que Erick ao seu lado nem conseguir comentar.

— Quanto tempo até algo pior que uma Bruxa vir brincar comigo sobre meu passado de novo?

Ela estava brava, mas estava totalmente certa. Como Leticia sabia que Érika não se lembrava do próprio passado? Ela tinha espionado elas todo o tempo em La Iglesia? Como isso era possível?

— Nós vamos descobrir como ela conseguiu saber tanto sobre você - Carla prometeu. - Mas por enquanto vou recomendar que você não procure saber mais nada sobre isso. Entendeu?

Érika riu sarcasticamente e começou a se afastar para o segundo andar, mas antes que ela chegasse até lá, Carla de lembrou de algo.

— Ei, Érika - chamou a loira e se virou.

— O que foi?

— Quer me contar algo? - pensou no que tinha encontrado no segundo andar.

Achou que Érika ia bufar e reclamar, mas loira de repente hesitou e desviou do olhar de Carla.

— Por que a pergunta? - questionou parecendo estar na defensiva.

Carla deu de ombros, entrando no jogo dela.

— Sabe que pode me contar qualquer coisa, né?

Érika simplesmente ergueu as sobrancelhas.

— O que eu sei é que você é minha Alfa... Se quiser saber de algo, use seu poder.

— Você sabe que eu nunca faria isso com você. Seria falta de respeito.

Érika tocou o cabelo sedoso enquanto absorvia aquilo. No contraste da luz do loft parecia um anjo, mas a qualquer momento seus olhos mudariam de cor e ela mostraria quem realmente era.

— Que seja - disse por fim.

Carla estava prestes a reclamar e exigir mais do "Que seja" quando escutou passos rápidos e decisivos se aproximando do loft. Em questão de segundos, duas figuras usando roupas escuras abriram as portas da sala sem pedir licença.

— Saudações, lobinhos - Andressa sorriu e encarou todos com os olhos astutos. - Estão afins de uma festa?

Erick que estava mais próximo da porta e de Edu que havia chegado logo atrás, se limitou a farejar o ar na direção deles.

— Por que sinto cheiro de encrenca toda vez que vocês aparecem?

Eduardo riu com desdém.

— Ainda guardam rancor por termos atraído os Atiradores até o velho loft de vocês, não é?

Do segundo andar, Érika respondeu:

— Foi preciso de uma reforma toda pra reparar nisso, Edu?

O caçador correu os olhos até a garota e sorriu.

— Tenho problemas com detalhes.

Confusa, Carla se dirigiu a Andressa, sabendo que ela seria mais direta.

— Que história é essa de festa?

— Uma amiga próxima do Rafa vai dar uma festa de tema estranho hoje - Andressa respondeu enquanto invadia mais o lugar e tocava os móveis ao redor da sala distraidamente. - E Fernando acha que é uma oportunidade boa para ficarmos de olho em tudo.

— Em tudo? Você quer dizer, ficar de olho no Capuz?

Eduardo assentiu.

— Seja quem for que ajudou Carolina e Sabrina a fugir, pode estar próximo de Rafa. E vai estar na festa também.

— Então é provável que lutemos de novo hoje? - Erick questionou pensativo. De novo?

— De novo? - Andressa ecoou seus pensamentos. - Ah, sim, Carolina estava na escola.

— Carolina? - Carla indagou.

— É ela esteve - Erick lançou a Andressa e Eduardo uma encarada. - Os dois aqui estavam meio ocupados nessa hora.

— Isso é assunto de conhecimento privado, Lobo! - Andressa enrubesceu.

— Escolas não são nada privadas, Caçadora - retrucou Erick.

— Ei, ei - Eduardo interviu. - Vamos focar na ameaça iminente, ok?

— Agora ele quer foco - murmurou Érika do segundo andar.

— Tudo bem, nós vamos ajudar - Carla juntou as duas mãos e se virou para Andressa que, por mais estranho que parecesse, era a mais sensata dali. - Qual o tema da festa mesmo?

Cheap Thrills da Sia saia dos alto-falantes do Audi que Rita dirigia naquele começo de noite. Se fosse um dia comum como qualquer outro, ele reclamaria da música e exigiria pela milésima vez que ela o deixasse dirigir.

Mas aquele dia estava longe de ser normal.

— Estamos engraçados - Rita disse com uma risada abafada.

Marco concordou com a irmã ao medir seu próprio visual que era uma camiseta florida havaiana, bermuda azul e sandálias. Os óculos escuros em cima da cabeça, e o bronzeado falso ao redor da pele.

Ele se sentia engraçado, mas seu humor não era um dos melhores.

— Quero matar você se o tema não for esse - ele disse.

Há duas horas Rita havia entrado em seu quarto (mesmo que na porta estivesse uma placa avisando que garotas não deviam entrar, mas enfim) dizendo que o Lobo por quem ela só podia estar apaixonada secretamente havia dito que precisava que eles fossem até a festa de Marta, uma amiga próxima de Rafa.

O tal Capuz que eles estavam loucos para saber a identidade podia estar lá, uma vez que todos estariam lá.

Mas Marco dissera "E dai? O que nós humanos normais podemos fazer se ele estiver mesmo?", e Rita insistira que eles precisavam ir ou seriam suspeitos também. Palhaçada.

Se o Lobo queria uma desculpa para pegar sua irmã mais velha que criasse uma desculpa mais criativa.

Por mais que festas fosse o habitat natural de Marco, ele não estava com cabeça para nada naquele momento. Queria deitar sua cabeça no travesseiro e pensar no beijo que haviam roubado dele.

Gabriella havia fugido em seu carro escuro sem dizer nada além de "não conte" e depois o deixara sozinho. Nos minutos seguintes ao voltar a pé para casa ele não conseguia pensar ou pisar seus pés na calçada sem tropeçar. Ele era do tipo que ficava horrível no físico se o mental estava bagunçado, e graças a Detetive seu mental não parava de repetir a imagem do rosto dela próximo ao dele.

Ele sempre provocava as pessoas quando as conhecia, fazendo com que se irritassem fácil com sua presença. Mas Gabriella havia sido diferente, ela conseguia ser mais presente e inesquecível que ele.

Por que ela beijou ele? Logo ele?

— Marco, ei - Rita o trouxe de volta para dentro do Audi.
— O-oi - ele piscou e se virou de lado no banco. - O que foi?
— Ouviu o que eu disse?
— Claro e eu acho que sim.

Rita semicerrou os olhos.

— Eu perguntei se você era gay - disse. - Você não estava escutando.

— Claro que estava! - ele retrucou. - Eu acho que eu possa ser talvez gay sim!

— No que estava pensando? - Rita ignorou sua mentira banal. - Meu Deus, nunca pensei que ia te perguntar isso um dia.

— Deixa de ser estúpida Rita, eu não respondi por que você esta vestida de Ariel, aquela sereia puta!

— A cauda da Ariel é vermelha - a irmã tinha os olhos na frente do volante, mas sabia o que estava falando. Usava um vestido longo dourado, com um laço berrante da mesma cor na cintura. Havia glitter ao redor do corpo também, para deixar tudo mais berrante.

— É isso ai.

— Você estava mesmo pegando algo, não é? O que é? Uma garota?
Droga de sexto sentido feminino, ele pensou.

— Não.

— Você mal começou na nova escola e já seapaixonou? Que recorde!

 

— Cala boca, Rita! Você não sabe de nada!

— Calma - ela parou o carro quando o sinal ficou vermelho. - Só estou zoando com você, mas tudo bem... Se não quiser não fale.

Ele não respondeu e Rita ficou em silêncio até o sinal abrir de novo.

— Não quer ir até a festa?

— Quero - Não e, por favor, só me leve até a delegacia de Vallywood.·.

— Se quiser voltar pra casa...

E pensar mais na Gabriella? Não mesmo! Ou talvez...

— Não, estou bem - ele se recostou no banco.

— Ok, mas se quiser mudar de ideia ainda dá tempo. A casa da tal Marta é daqui uma quadra.·.

Marco seguiu o olhar dela até o GPS e a luz vermelha piscando brilhava no painel.

— Rafa precisa da gente.

Pelo canto do olho, conseguiu ver que ela assentia.

— Precisa mesmo.

Rita virou em uma rua cheia de casas Vitorianas com sacadas ao estilo suburbano. Marco morreria antes de se tornar proprietário de uma daquelas casas.

A casa de Marta era branca, como todas as outras e roxa nas laterais. De onde o carro ainda estava sendo estacionado ele pôde ver a porta aberta e luzes saindo das janelas da frente enquanto uma comoção de pessoas entrava e saía pela varanda.·.

— E lá vamos nós - Rita disse e começou a tirar o cinto de segurança.

Marco tirou o seu próprio e começou a descer à calçada enquanto a irmã fechava o carro, se virou com uma náusea na barriga.

— O que ela veio fazer aqui?

Ele se virou e viu que Rita olhava algo do outro lado da calçada. Seguiu seu olhar e seu coração quase saiu pela boca. A viatura estava estacionada no meio-fio com as janelas abertas.

— Será que ela sabe de algo que não sabemos? Não tem motivo para ela estar aqui, certo?

— Não, não tem - respondeu torcendo para que ela não notasse seu tom.

— Vamos - Rita jogou a chave dentro da bolsa e começou a puxá-lo.

— Relaxa - Marco a impediu.

— O quê? Não vai entrar?

— Eu tenho que urinar - ele mentiu e lançou um olhar perdido no gramado.

— Que nojo, Marco! Devem ter uns treze banheiros só nessa casa!

— Não ligo! A bexiga é minha e eu quero entrar na festa com ela vazia!

Achou que a irmã não ia acreditar e ser esperta o suficiente para ligar ele a Gabriella. Mas Rita apenas balançou a cabeça.

— Você esta muito estranho hoje - observou ela.

— É pra combinar com o clima da festa.

Cansada de tentar entender, ela se despediu e disse que o esperaria lá dentro. Marco foi para perto de uma arvore plantada no jardim e ficou esperando até que o laço estranho na cintura dela sumisse dentro da casa.

Quando ela sumiu, Marco já estava subindo a rua. Ao olhar a viatura enquanto andava, notou o olhar de Gabriella seguindo ele e isso quase desencorajou suas pernas a continuar se movimentando.

Não, pensou, precisava falar com ela custe o que custasse.·.

Toda sua determinação se esgotou quando notou que a Detetive não estava com uma cara muito boa.

— Tem uma festa rolando, Sr. Marco Antônio - disse em um tom seco. - O que está fazendo aqui fora?

— O que você esta fazendo aqui fora? - ele contra-atacou, se sentindo na defensiva.
— Boa tentativa, mas eu perguntei primeiro.

Ele a fitou por tempo o suficiente até que os dois ficassem rubros e desviassem o olhar.

— Queria falar sobre ontem.

Olhou corajoso para Gabriella, mas ela continuava fitando o vazio à sua frente com uma cara de constipação.

— O que é que tem ontem?

Marco jogou as mãos para o alto, perplexo.

— Como assim o que teve ontem? Você me beijou.

Gabriella apenas assentiu, sem olhar, mas ele notou que seus lábios se fecharam com força demais.

— O que você quer? - ela perguntou com as mãos pousadas no painel.

— No momento? Saber por que fez aquilo - disse com sinceridade e se recostou na borda da janela para olhar o rosto dela mais de perto.

Gabriella virou seus olhos castanhos e eles assumiram o brilho da luz do poste.·.

— Não pode contar a ninguém.

Marco foi um pouco para trás com o que ela disse. Ela não o estava evitando, estava com medo dele. Com medo dele?

— Eu não ia - respondeu.

— Então por que...

— Gabriella, você me beijou por que gosta de mim?

Surpresa tomou conta da expressão dela e ele se esqueceu de que eles estavam na rua. Marco notou também que estava com a cabeça mais para dentro do carro.

— Não vai acontecer de novo.

Marco não sabia o que esperava escutar, mas com certeza não era aquilo.

— Não vou dizer nada a corregedoria sobre o que você me disse sobre Lucas.

— Eu não ligo para o que você dizer ou não para a corregedoria.

— E o que você quer? - ela aumentou a voz.

— Saber por que você me beijou, já disse.·.

— Por quê?

— Porque eu gostei do beijo e quero saber se você gostou também.

O vento passando na rua foi mais alto do que a respiração dos dois. Gabriella pegou uma caixa pequena de dentro do porta-luvas e a abriu. Ela tirou os óculos que davam a ela uma idade mais avançada que a dele.

— Faz muito tempo que não me permito gostar de ninguém, Marco. Eu quase nem me lembro de como é essa sensação.

O coração pulsante de Marco era capaz de ser escutado por ele mesmo.

— Que sensação?

— A de querer beijar alguém - Gabriella explicou olhando de lado. - Faz um tempão que não sabia o que era isso.

— Então você quis me beijar - não era uma pergunta, apenas saiu da boca dele automaticamente.

— Como não poderia? Você é muito bonito, Marco Antônio.

— Você também é muito bonita - ele suspirou. - Mas precisa parar de me chamar assim.

Gabriella não riu do comentário.

— Mas não é certo o que eu fiz.

— O quê? – ele sentiu como se uma mágica toda fizesse o mundo acabar.

— Você só tem quinze anos e eu sou uma Policial que tem que defender o lugar onde você mora.

— Eu não moro em Vallywood, tecnicamente – ele a lembrou.

— Não seja engraçadinho.

— Você não me quer? – ele perguntou decidido.

— Sim – ela piscou. – E esse é o problema, é errado.

— Quem se importa? Eu certamente não.

Gabriella balançou a cabeça e se recostou para ficar mais longe dele no carro – ele também não tinha notado que estava tão próximo.

— Nós podemos fazer isso, eu e você – ele gesticulou com as duas mãos. – Se é o que queremos nada vai precisar mudar Gabi.

Por um minuto ela o olhou e parecia querer acreditar no que ele disse. Mas então uma olhadela para a Casa Vitoriana atrás dele e ela já estava colando o par de óculos transparentes.

— Sim, precisa sim.

— Nós temos que decidir isso juntos. Me deixa entrar – ele passou a mão para dentro do carro.

— Marco, não – disse em um tom sério e apertou um dos botões no painel do carro. Ela trancou o carro. – Eu quero que você vá embora, Marco!

— Gabi, por favor...

— Não, não me peça.

Ele retirou a mão como se de repente tudo tivesse virado lava dentro do carro. Gabriella agradeceu e começou a fechar a janela. As duas. Nossa.

"Vá embora" ela gesticulou com os lábios decididos. Os olhos castanhos porém, pareciam tristes com suas próprias palavras.

A casa de Marta mais parecia uma rave completamente gay de tantos feixes rosas, roxos e azuis jogados no vestíbulo da casa. Nos alto-falantes plugados em todos os cômodos, Zayn ecoava seu Pillowtalk enquanto pessoas bizarras bebiam e dançavam com suas fantasias.

O tema da festa foi seguido com exemplo por garotas usando roupas das bonecas Monster High, Barbie e Polis. Os garotos também disputavam em seus melhores trajes como Ken ou Max Steel. Havia uma sósia de Melanie Martinez afundando a mão em um engradado de Skol Beats e um Marinheiro Popeye flertando com um Bob, O Construtor logo ao lado.

Rafa olhou para o seu próprio visual, que era uma camisa social cinza com todos os botões fechados, um par de shorts cor cáqui e o cabelo preto lambido. Bizarro e gay, como o verdadeiro Ken.

— Viado, você veio?

Marta vinha em sua direção no salão antes mesmo que ele notasse. Usava uma tiara preta com roxo, vestido lilás muito escuro com babados, ombreiras cinzentas e o que pareciam ser cobras verdes pintadas em sua pele com tom de azeitona. Seus olhos também eram de um Vermelho vivo.

— Eu não perderia essa festa por nada! – ele sorriu e pegou a mão da velha amiga, notando a luva de veludo. – Você está demais!

— Que nada, gato, teu irmão roubou minha cena! – ela acenou com a cabeça para o vestíbulo, onde Rogério entrava com uma réplica perfeita do Caubói de Toy Story, se não fosse pelo cabelo loiro, seria o Udi perfeito. Rodolfo ao seu lado usava as mesmas roupas da última festa dos Capoci (ler 1x05: "Alpha Party"), mas sua cabeça era ocupada pelo capacete enorme de Darth Vader.

— Ele rouba a cena. Esse foi o melhor tema de todos que você poderia inventar!

— Não é não, Guri? – Marta arregalou os olhos vermelhos, mas então os desviou para um dos outros cômodos da casa. – Peraí, meu amor, tenho que resolver um negócio!

Ele murmurou um "claro" e ela se virou para ir falar com uma Cisne Negro com pernas longas. Um pato gigante as seguiu.

— Minha nossa senhora da Caixa dos Brinquedos, você está sexy!

Rafa se virou para um coringa alto de cabelo loiro e alto.

— Amor – ele entrelaçou sua mão com a de Roberto. – Você está irreconhecível!

— Demais! – Roberto sorriu e passou o indicador na palma dele. Rafa riu.

Um pigarreio veio detrás do Coringa e quando ele se virou, o verdadeiro Roberto usando suspensório, chapéu, óculos de grau e sapatos olhou de uma para o outro.

O coringa saiu rindo ao largar a mão de Rafa, que agora era encarado pelo namorado loiro de olhos verdes.
— Me desculpa - ele riu. - Devia ter pintado minha cara toda!
— Não, Rob - ele o pegou pelas alças do suspensório. - Me desculpa, eu não devia ter me confundido!
— Tudo bem - Roberto fez um biquinho. - Mas só porque ele era hétero.
Ele pensou no indicador roçando sua palma, mas engoliu em seco e deixou aquilo para lá.
— Sua fantasia ficou perfeita - ele indicou os suspensórios. - Me dá algumas ideias.
Roberto sacou a malicia e se inclinou para o beijo. O corpo de Rafa se acendeu enquanto ele cruzava os dedos na parte de trás da cabeça do outro. Ele tinha os lábios mais doces e mal podia esperar para ficar sozinho com ele de novo.
— Essa festa me desencorajou - Roberto comentou depois que se separaram. - Mas eu quis vir por você.
— E eu fico feliz por isso - Rafa entrelaçou suas mãos. - Vamos?
Roberto ficou pálido e balançou a cabeça nervosamente. Rafa o achou hilário, mas o puxou mesmo assim. Os dois tropeçaram nos próprios pés e empurraram umas trezentas pessoas quando Work da Rihanna abafou o salão.
Longe dali, um bando de garotas do primeiro ano imploravam para que o Dj, um garoto com fones vestido de Rupal colocasse Dollhouse para tocar, o que ele achou irônico.
A festa parecia longe de flopar quando ele de repente notou cinco silhuetas familiares invadirem o salão de forma ansiosa. Roberto, que olhava para seu rosto de segundo a segundo, seguiu seu olhar.
— Eles de novo - disse num tom seco.
— É - Rafa fez o possível para parecer surpreso. - Estão em todo lugar pelo visto.
Roberto semicerrou os olhos, sem ser sútil na encarada.
— Nunca vi aquela loira e aquela morena antes... E aquilo é um Max Steel? - questionou se referindo a Carla, Érika e Erick. - São da cidade deles?
Para Rafa era estranho ele não fazer ideia de quem eram os Lobos já que conhecia seus rostos desde o ano passado. Mas seu cérebro fez questão de lembra-lo que enquanto ele e o Pack salvaram Carla das Bruxas Possuídas, caçavam Érika e lidavam com a perseguição de Erick, Roberto estava correndo atrás dele como louco. Mesmo mês, diferentes mundos se cruzando.
Essa era a vida de Rafa.
— Rafa?
— Sim, acho que sim - ele pigarreou e olhou pela janela, imaginando o Corvo que Fernando deveria ser naquela noite. - Acho que são.

Andressa chegou à festa da amiga de Rafacom Eduardo e Erick em seu flanco. Logo atrás dos dois, Érika e Carla tambémestavam ali, de mãos dadas. Um bando de fantasiados musculosos assobiou para as duas quando passaram por elas.

 

Carla olhou confusa para frente.
— O que é um Ménage à Tróis?
Eduardo riu, mas uma encarada feia de Andressa o silenciou.
— Não é nada - ela respondeu. - Só vamos nos misturar daqui pra frente, não tenho certeza do que estamos enfrentando.
— Nos misturar, saquei - murmurou Erick, seguindo uma garota com fantasia de Empregada sexy com o olhar. A polpa da bunda da garota aparecia. - Quão longe devemos ir?
Carla revirou os olhos e o ignorou.
— Devemos ficar de olho no Capoci ou na ameaça desse tal Capuz?
— Nos dois - disseram Andressa e Eduardo ao mesmo tempo. E riram com isso.
— Rafa pode ser o alvo, mas o Capuz pode ser qualquer um - Edu prosseguiu. - Não podemos baixar nossa guarda.
— Nos misturar - Erick repetiu, com um olhar distante dali. - Ok. Então acho que eu vou para um lado e vocês vão para o outro - Erick não ficou ali para ouvir a resposta.
— Ao menos alguém esta se divertindo - Érika comentou.
— Como assim? - Carla questionou. - Não queria estar aqui?
— Relaxa - a Beta piscou. - Não estraguemos a festa, ok?
Andressa olhou de uma para a outra. Carla usava um vestido preto que ia até a coxa, o cabelo escuro preso num coque. Érika vestia um branco, que mais lembrava um pijama, o cabelo loiro brilhante solto e selvagem. As duas eram um perfeito contraste de suas emoções naquele momento.
Ela olhou para Edu, que continuava imóvel, ignorando as duas garotas lésbicas. Como os dois podiam ter sido criados juntos e serem tão diferentes um do outro?

— Sabe o que faltava nesse visual? - ela questionou e ele a encarou. Usava as mesmas roupas de sempre, mas estava sem a costumeira jaqueta preta e o cabelo negro lambido para o lado. - Um par de óculos escuros.
Eduardo, em resposta, se moveu um pouco para o lado.
— Eu até tinha uns, mas os perdi de vista.
Andressa tentou entender do que ele estava falando quando Carla, de repente, parecendo mais nervos que antes, jogou seu cabelo escuro atrás do ombro.
— Me deem um minuto - e então começou a seguir caminho entre os outros convidados até achar o banheiro.
Eduardo se virou para Érika com um olhar confuso.
— Está tudo bem com ela?
— Sim, está - Érika deu de ombros. - Ela só esta puta comigo por toda aquela coisa com a Bruxa que aconteceu hoje.
— Puta com você por ter sido atacada? - Edu assoviou. - Que horrível você é Alapulof!
— Pare de fazer o cínico - Andressa semicerrou os olhos. - Eu sei que o real motivo por ela estar brava é que você anda sumindo. Erick me contou.
— Aquele viado - a loira grunhiu. - Se não fosse um Alfa, eu enfiava uma estaca no meio das bolas dele enquanto ele se transformava!
— Por falar em transformação - Andressa se virou para Edu. - O que Fenando está fazendo lá fora? Não é nem época de corvos, as pessoas vão suspeitar!
— Deixa o menino, ele tem muito com o que se preocupar - disse o outro num tom sério.
— Você quis dizer quem, né? - ela balançou a cabeça. - O Caubói do Rafa já está bem grandinho! Já detonou a Carolina sozinho!
— Será que ainda vamos saber todos os poderes que ele têm? - questionou o Edu. - E de onde eles vieram?
— Bom, ele é o garoto que abriu a caixa - disse olhando Rafa conversando com Roberto. - Ele tinha que ter algo de especial.
— Especial ou diferente? - Érika ergueu as sobrancelhas.
Eduardo se virou para ela com o sorriso mais do que branco.
— Depende do ponto de vista.

Rita se inclinou para pegar o ponche enquanto Woo da Rihanna soava pelo salão. Ela não ia muito a festas sem ser arrastada, não via graça nelas, mas aquela específica precisavam que ela estivesse ali, então...
— Se importa se eu me juntar a você?
A voz era tão grossa que Rita queria ter um spray de pimenta nas mãos. Mas quando olhou e viu que só se tratava de Erick, vestido com um roupa cinza colada de Max Steel com nadadeiras, seu peito se inchou de alívio.
— Claro que pode - ela sorriu. - É bom saber que você esta aqui.
O lobo franziu a testa.
— Como assim? Todos nós combinamos de vir pelo Rafa, esqueceu?
— Sim, eu sei, mas estou feliz por você estar aqui pelos meus próprios motivos.
O sorriso de resposta de Erick foi estonteante.
— É bom te ver aqui também. Se não fosse esse Capuz nos deixando tão cautelosos poderíamos aproveitar mais um pouco.
— Eu concordo - ela assentiu. - Queria esmagar a cabeça desse traidor com meu salto - ela gesticulou amassando o punho macio na outra mão.
— Ei, nós vamos pegá-lo, Ok? - prometeu o lobo.
— Pegá-lo? Então é um homem?
Erick deu de ombros.
— Pode ser qualquer um contanto que seja jovem lembra?
Rita levou a mão ao próprio peito.
— Então pode ser eu?
Erick fez um beicinho.
— Nha, muito bonita pra ser ruim.
Ela ficou sem graça, mas pra compensar fez um "tsc, tsc, tsc".
— Pobre Erick, não te ensinaram que as mais belas são as mais perigosas?
— Não, nunca - ele a olhou, intenso. - Pensei que talvez possam me ensinar isso um dia.
Os dois se olharam por um momento irrefutável enquanto a guitarra da música enchia o salão. E nesse exato momento, algo atrás de Erick chamou sua atenção. Não soube bem dizer se foram os traços asiáticos ou a fantasia de Mulan, mas Rita viu Brenda entrar na festa com dois garotos loiros que ela não conhecia.
Quando notou que ela a encarava, Brenda acenou toda sorrisos. Rita respondeu ao gesto da amiga, mas por dentro o banheiro feminino veio com a cena de Miguel e Felipe se pegando forte. Será que Brenda sabia?
— Quem é a garota? - questionou Erick em um tom que não era malicioso.
— Brenda Sherman - suspirou. - Uma amiga que fiz hoje.
— E por que ela te incomoda tanto?
Rita arregalou os olhos, mas o outro balançou a cabeça com falsa decepção.
— Lobo que sente cheiro de qualquer coisa - ele riu. - Mas e ai, o que tá rolando?
— Eu sei de algo sobre o pai dela - Rita confiava em Erick, percebeu, tanto que nem se surpreendeu pela confissão. - Mas não sei se ela já sabe disso.
— Pergunte a ela - ele disse simplesmente.
"Oi, Brenda, seu pai é gay? Ele é porque eu vi ele se pegando com outro cara! Que tesão hein garota?"
— Não é uma coisa que se pergunta - concluiu ela por fim.
— Se é o único jeito de saber então é algo que se pergunta sim!
— Tem razão - Rita respondeu olhando a garota do outro lado da festa.

Que amanhã já não podia nem ser mais uma amiga.

— Que linda.

Rafa seguiu o olhar de Roberto para a entrada da festa. Uma garota com vestido cinza com babados e mechas rosa, azul e lilás no cabelo caminhava em suas sapatilhas no chão da casa de Marta. Era Vick.
Ao seu lado, Camila Alves vestia um short curto verde e camiseta rosa para copiar uma típica Polli.
Ele havia escutado em algum lugar que a outra Camila havia se bandeado para o lado de Taffara no final do ano passado, então quando não a encontrou ali teve a sua resposta sobre suas fofocas.
Quando Vick notou seu olhar, Rafa achou que ela passaria direto e o ignoraria como nos últimos meses. Mas daquela vez, para sua surpresa, ela sorriu. Camila, sem opção foi logo atrás dela como uma barata tonta.
Roberto sorriu para as duas - Rafa tinha esquecido que os dois também haviam ficado próximos no ano passado.
— Se você queria ser uma fada, podia ter colocado asas - indicou.
— Ela tinha asas - Camila rebateu. - Mas a madrasta as cortou. Em todos os sentidos.
— Não sabia que vocês dois viriam - Vick disse diretamente a ele. - Rafa, quanto tempo... Eu quase não me lembrava do seu rosto.
— Também senti saudades - ele sorriu de volta. - Como você esta com tudo?
— Bem, na maior parte do tempo - respondeu num tom que parecia querer dizer mais. Vick sempre tinha a mania de falar das coisas, e quando não falava, não estava sendo ela mesma.
— Ainda entregando os cartazes? Alguma notícia? - ele se sentiu horrível por perguntar, já sabia a resposta.
Camila Alves semicerrou os olhos.
— Como você se atreve...
— Camis - Vick a segurou pelo pulso, os olhos ainda em Rafa. - Não estou mais os espalhando, mas tenho que fé que eles vão achá-lo.
— Hum - Ele torcia para que não, mas se achassem mesmo o corpo, significaria que ela poderia parar.
— Então - Vick pigarreou. - Ficou sabendo quem esta de volta?
Rafa estava prestes a responder, mas deu uma olhadela de lado em Roberto. Era tão estranho que ele agora teria que pensar duas vezes antes de falar duas vezes no nome de Henrique.
O interesse do namorado quase fez com que Rafa tivesse uma síncope. Roberto jamais poderia saber sobre o que havia acontecido no Natal.
— Sim - ele deu de ombros. - Que louco né? Mas então, eles pintaram a escola de novo, vocês viram?

Vick franziu a testa.

— Percebi, mas então, em relação sobre aquilo, porque mentiu pra mim? – ela o olhou decisiva.

Ele podia sentir o olhar de Roberto em cima dele e fez o que pôde para parecer natural.

— Podemos não falar disso aqui? – fez seu melhor tom "Taffara" o melhor que pôde.

— Por quê? – Camila cruzou os braços. – Aqui é perfeito até! Achamos que Taffara está armando algo e que ele pode estar envolvido.

Rafa pensou nos dois ex-namorados malvados voltando a se falar e se juntando para conspirar. Ele estremeceu.

— Impossível – ele bufou.

— Gente – Roberto olhou de um para o outro. – Eu sei que pode parecer normal falar do assunto de vocês, mas eu estou boiando aqui. Do que vocês estão falando?

Vick parecia prestes a responder a ele, mas então Rafa se jogou na frente do namorado e colocou seus braços ao redor de seu pescoço.

— Isso é uma festa, que tal deixarmos tudo isso pra lá? – ele olhou o namorado nos olhos. – Hein, o que você me diz? – e o beijou.

— Na verdade Raf...

— Que saco, Vick – ele se virou, mas deixou as mãos de Roberto em sua cintura. – Não esta vendo que só viemos nos divertir?

— Nada contra a diversão de vocês – ela olhava para outro lugar enquanto falava. – Mas acho que o assuntou chegou à festa!

Rafa olhou confuso para onde ela encarava e então ficou assustado ao ver Henrique e Neemias. Os dois irmãos andavam lado a lado, com duas garotas morenas fantasiadas. Henrique usava um par de jeans super apertado com jaqueta de aviador de couro. Neemias, que passava o braço ao redor do pescoço de uma garota vestida de Cisne Negro, usava camisa social escura, assim como sua calça. Em seus ombros uma capa com pelos estava dependurada e aonde o mais novo ia, ela se movia logo atrás.

— O que ele esta fazendo aqui?

— Ele não pode? — Roberto o encarou. – Quer dizer, isso é uma festa, por que ele não poderia?

— Não quis dizer isso – Rafa engoliu em seco. – Só não fazia ideia que ele conhecia a Marta.

— Não conhece – o outro ajeitou os óculos. – Neemias é que conhece ela.

— Desde quando?

Roberto pensou um pouco.

— Aquele dia da sua apresentação? Quando te acertaram com a bolinha, lembra?

Aquilo parecia ter acontecido uma década, mas Rafa não tinha como não lembrar. Camila apontou seu dedo para Roberto.

— Você fala com eles? – questionou.

— Sim – ele a olhou como se estivesse dizendo algo obvio. – Os dois são meus irmãos.

— Sério? – Vick o encarou, depois olhou Rafa – que assentiu em reposta.

— Uau – Camila assoviou. – Por essa bomba eu não esperava.

— Não é nenhuma bomba – Roberto bufou. – Não tá na cara que somos irmãos?

— Não – disseram Vick, Rafa e Camila ao mesmo tempo.

Ele deu de ombros.

— Vocês o conhecem?

— A Vick sim – Rafa pigarreou. – Eles ficaram por um tempo.

Rafa sentiu a cotovelada nas costas, mas ignorou. Olhou longe dali procurando uma escapatória e viu Edu, Dessa e Érika sentados em um sofá estilo U no meio da sala.

— Eu já volto – disse, mas Roberto o puxou na mesma hora.

— Aonde vai?

— Pegar mais bebida – encarou Vick e Camila de forma sugestiva. – Servidas, meninas?

As duas assentiram, mas Vick gesticulou "Que porra viado" com a boca. Rafa só se apressou para chegar até a mesa com ponches e Vodcas.

Olhou uma vez por sobre o ombro e ficou feliz ao ver que Vick estava distraindo o namorado dele, brincando com as alças de seu suspensório.

Ótimo. Quando chegou perto do Pack no sofá, Andressa o avaliou com um sorrisinho de Gato de Alice.

— Mas você é uma bonequinha mesmo, Capoci.

— Não temos tempo pra isso – ele retrucou. – O Henrique está aqui.

— Quem? – Eduardo cuspiu a bebida que tomava.

— Ele é um garoto que pensei que tinha morrido no Natal.

— É seu ex? – Érika brilhou os olhos com curiosidade.

— Não, mas meu atual é irmão dele.

— Seu atual? Roberto? – Andressa parecia querer rir. – E eu achava que a Anna tinha uma vida sexual indecisa.

— Dá pra parar? – Eduardo olhou Rafa. – O que está tentando nos dizer? Quer que demos uma surra nele pra você?

— Não, mas quero que fiquem de olho. Acho que ele possa ser o Capuz.

Todas as três cabeças o encararam.

— Estamos ouvindo.

Rafa explicou a mesma história que havia dito para Fernando no estacionamento quando ele o salvou de Leticia. Quando terminou de explicar, Andressa o olhava com pena, Érika com choque e Eduardo não tinha mudado a expressão nem um pouco – assim como Fernando naquela vez.

— Então acha que o ele quer vingança? – questionou.

— Tenho certeza – Rafa respirou fundo. – Eu menti para a namorada dele que ele havia deixado a cidade, quando na verdade...

— Quando na verdade era a verdade – Andressa concluiu. – Você só não sabia ainda que ele estava vivo.

— Como ele sobreviveu à queda? – Érika questionou.

— Quisera eu saber, ele diz que só se lembra de ter acordado em cima de umas flores e tal – disse e viu que Edu e Andressa trocaram um olhar estranho. – O que foi isso?

— Nada – Edu o encarou. – Vamos manter os olhos em cima dele, mas se você estiver certo quanto as suas suspeitas queremos que faça uma coisa.

— Que coisa?

— Mantenha seu namorado longe dele.

Rafa olhou Roberto, que agora dançava Sorry de mau jeito com Vick e Camila, sem estar ciente de que eles cogitavam que o irmão era um possível monstro.

— Tudo bem, isso eu posso fazer – ele prometeu, mas então olhou apenas os três sentados ali. – Cadê a Carla?

 

 

***

 

A música tinha acabado de trocar para Reaper da Sia quando Rael saiu do banheiro do andar de cima. Do alto da escada da casa de Marta ele conseguia ter uma boa visão da festa. Conseguiu ver sua irmã Karina rodeada das amigas góticas que usavam jeans e roupas escuras em protesto a festa à fantasia. Protestantes de direita – aff.

Chegou ao fim da escada quando o cutucaram no ombro. Uma garota de cabelo escuro liso, óculos-escuros de grau enfeitado com teias de aranha e vestido preto gótico fino.

— Ester? – ele riu. – O que esta fazendo aqui?

— Quem é Ester meu querido? – A Orientadora pegou um garoto musculoso vestido de Policial pelo braço. – Meu nome é Luna! – e beliscou a bunda do garoto antes de empurrá-lo dali.

— Você é louca – ele revirou os olhos. – Não esta meio madura para festas adolescentes?

— Acho que as festas é que estão meio jovens pra mim – retrucou.

— Touché!

— E onde está o bofe? – questionou Luna/Ester, e ele demorou cinco segundos para entender que ela estava falando de Gabriel.

— Ah, ele – É, ele! — Não sei – murmurou com indiferença.

— Epa, algo está errado – Ester semicerrou os olhos. – O que aconteceu?

— Nada – Rael desviou o olhar para um Rafa Capoci dançando com seu atual e se surpreendeu ao constatar que não sentia nada.

— O que ele fez?

Tentou não ficar assustado com a habilidade latente intuitiva da Orientadora. Mulheres tinham um faro tão bom, por que não usavam seus dons para o bem?

— Não estamos na minha sala – Luna prosseguiu. – Mas você se abrir comigo. Sabe disso.

Ele contou sobre a descoberta que havia feito mais cedo. Ao terminar de falar, viu que Ester apenas balançava a cabeça de modo apático.

— E o que você fez depois?

— Corri – Rael deu de ombros. – Fui pra minha casa e ele me seguiu o caminho todo.

— O que ele disse?

— Que podia explicar... Mas dane-se, já estava tudo explicado desde que escutei a conversa com a tal Deb!

A Orientadora jogou o peso de um salto gótico para o outro.

— E quanto ao que ele disse sobre você ter gostado do beijo? Não gostou mesmo?

— Eu preciso responder mesmo?

Luna riu ao mesmo tempo em que alguém o tocou no ombro. Era Brad, um dos jogadores mais gostosos e cobiçados da escola. Ele era também o jogador de futebol com quem Rael havia ficado na casa dos Capoci, ele também o havia usado na época para deixar Rafa com ciúmes, mas só o que conseguiu naquela noite foi com que ele o odiasse mais ao cortar a fita de NÃO ULTRAPASSE “Foda-se, façam o que quiser, não ligo” e depois desceu para ficar com Roberto – de que não havia se separado até agora.

— E aí, Rael Coelhinho – Brad deu um sorriso estonteante. – Virou a estrela do momento hoje, não?

— Não enche Brad! – ele com certeza não estava com humor para aquilo.

— Não vou, a não ser que você queira – provocou o outro e Rael olhou para a Orientadora; que só deu de ombros.

— Eu não reclamaria, o garoto tem porte.

Rael fez um “tsc”, mas se pegou examinando o jogador. Tinha cabelo loiro claro selvagem e braços musculosos que valiam o clichê de um aperto. Já tinha visto ele treinando sem camisa na quadra da escola e ele tinha mesmo um certo “porte”.

Se fosse como qualquer outra noite, ele teria pegado Brad pela mão e o puxado com ele até o segundo andar, onde lá abaixaria suas calças sem pensar em nada além dos suspiros que arrancariam um do outro.

— Pode me dizer o que você tem com o Henrique? – perguntou o jogador em um tom simples. – Estou apostando vinte pratas com um cara da natação que vocês tiveram um caso!

— Então é melhor pegar seu dinheiro de volta, eu não tenho e nunca tive nada com aquele falso!

— Aham – o outro riu. – Não me decepcione, Coelhinho.

Ao ouvir o apelido idiota, Rael estava prestes a não responder por seus atos. Até que uma cabeleira escura familiar apareceu em seu campo de visão.

Gabriel estava lindo de terno escuro de linho e gravata azul-bebe bem cortada.

Estava tão sexy em seu visual social que... Que Rael quase não notou a garota ruiva vestida elegantemente de cinza ao lado dele.

Seria aquela tal Deb? Se fosse era bom que ela soubesse desde já que aquele vestido nada tinha a ver com o tom de pele ou com seu cabelo ruivo como fogo. E ah, que seu namorado era um canalha também.

Deb estava de mãos dadas com Gabriel e olhava tudo de um jeito curioso e meio temeroso. Como se não soubesse nada do lugar, mas como se quisesse saber.

Voltando ao macho da relação, Rael percebeu que Gabriel agora o encarava, as narinas infladas. Como havia acontecido mais cedo ele esperou que Gabriel viesse até ele e se desculpasse.

Só que isso ele não fez. Pelo contrário, ele começou a arrastar Deb de maneira mais possessiva. A garota ruiva percebeu isso e o questionou com um olhar.

Gabriel apenas o pegou pelo rosto e a beijou. Todo o corpo de Rael começou a se afundar em um tremor inexplicável enquanto observava Deb sorrir de volta para o namorado.

Canalha.

— Não me diga que aquele é o Gabriel – bufou Luna de repente, seguindo seu olhar. – Achei que fosse mais alto.

Rael ignorou o comentário sarcástico de sua Orientadora e se virou para o delicioso Brad que ainda estava com eles.

— Ainda quer saber sobre o que fiz com Henrique?

Brad mostrou a fileira de dentes perfeitos e fez que sim com a cabeça.

— Então me beija – Rael pediu e não precisou fazer duas vezes.

Brad tocou seu queixo com entusiasmo e fez o que ele pediu. Rael pensou no sorriso do jogador e ficou satisfeito ao perceber que era o que ele queria também. Bom, então os dois tinham o que ganhar com aquilo.

Depois que pararam um pouco para respirar, Luna/Ester havia deixado os dois sozinhos e Gabriel olhava fixo do outro lado da sala. Mesmo de onde estava Rael podia dizer que estava puto pelo queixo trincado.

 Gabriel pegou Deb pela cintura e a beijou com tudo, assustando-a.

Brad riu ao observar aquilo.

— Isso vai ser divertido – comentou avaliando Rael. – Ainda mais se eles começarem a tirar a roupa.

Rael enrubesceu com a ideia.

— Você não se importa de ser usado? – questionou.

Em resposta, Brad o trouxe para mais perto, de modo que ele o escutasse respirando, mãos em sua cintura.

Você se importa?

Rael sorriu e o jogador se inclinou para mais um beijo quente e provocador.

— Eu já contei a vocês a vez em que fiz uma garota fazer um favor pra mim só por uma música?

Marco fez que não com a cabeça.

— Não, mas já sinto que acaba em putaria – arriscou.

— Foi isso mesmo – Rodolfo confirmou o capacete de Darth Vader se movendo gigante. – Roger era Dj da festa em sua casa e a garota fez um ato obsceno para escolher a música.

— Você pode dizer boquete, Rodolfo, ainda não é um palavrão.

Marco suspirou e olhou ao redor da festa com náusea. Aquilo estava longe de melhorar.

— Terra para o novato – Rogério gritou em seu ouvido. – Você parece longe, cara.

— E estou – Marco coçou a cabeça. – Minha cabeça tá cheia de pensamentos.

Rogério continuou o olhando, atento.

— Você é gay?

— Não! – Marco se levantou do sofá. – Vocês é que são! São todos uns...

— Não perguntei a você – Roger sorriu e virou de lado, para Rodolfo.

— Me considerado assexuado – Rodolfo respondeu simplesmente, sem nenhuma expressão.

— Isso quer dizer que você é traveco, certo? – Rogério questionou.

— Não, significa que eu não sinto desejo por nenhum gênero.

Marco quase vomitou.

— Você é mesmo um ser vivo?

Rodolfo girou os olhos parecendo pensar mesmo a respeito. Fala sério!

Marco jogou os braços para o alto.

— Como você o atura?! – perguntou a Roger.

— Ele faz boas panquecas – o outro deu de ombros. – E é meu par em dez trabalhos de diferentes matérias! Então não reclamo!

— Eu não ia dizer nada – Marco ia logo dizendo quando sentiu alguém se aproximando pelo canto do olho.

Olhou e viu uma forma escura com um grande Capuz preto com capa até o chão. O rosto estava coberto por uma máscara Guy Fawkes, o anarquista de V de Vingança.

— Posso ajudar? – perguntou com cautela.

— Siim – respondeu uma voz de garoto por dentro da fantasia. – Eu estou meio perdido pra achar o banheiro. Pode me ajudar?

— Claro – Marco sorriu aliviado, feliz por ter um motivo para sair de perto do Kenan e Kel da nova geração. – Por mim tudo bem. Já volto! – gritou para os dois.

O garoto agradeceu e Marco começou a lutar contra a multidão para chegar à escada, com o garoto encapuzado o seguindo.

— Então – o garoto puxou assunto. – Conhece a garota que está dando essa festa?

— Não muito – respondeu. – Ela é meio que amiga de um amigo meu.

— Entendo. Ele é legal?

— Quem?

— Seu amigo – o garoto insistiu.

Marco riu assim que eles chegaram à porta do banheiro.

— Pode se dizer que ele é legal com quem curte o mesmo sexo que ele – Toma essa por ter me zoado mais cedo, Capoci!

O garoto continuava a encará-lo por trás da máscara de sorriso sinistro. Um pouco nervoso, decidiu gesticular para a porta.

— Aqui é o banheiro – bateu na madeira à sua frente. – Você já pode entrar.

Surpreendendo Marco, o garoto o tocou no ombro.

— Tem mais alguém que você conhece nessa festa?

— Er... Não te interessa? – ele afastou a mão fria do outro. – Seu estranho.

— Ah, vamos lá – o garoto se aproximou.

— Eu não curto – ele o empurrou.

O Mascarado pendeu a cabeça de lado.

— Você não gosta de fazer coisas erradas às vezes?

O pensamento de Marco foi direto para Gabriella sentada em sua viatura e ele não soube dizer por quê. Sua respiração falhou e ele balançou a cabeça bem rápido para clarear sua mente.

— Não sei quem é você, mas não estou interessado! – disse e então deu as costas para o garoto encapuzado. – E a propósito isso é uma festa com tema “Casa de Bonecas” e não Halloween! Nada ver sua fanta...

Algo se acendeu na mente de Marco e ele se virou lentamente no corredor. Capuz preto e mascara. Poderia ser ele quem ele achava que era?

O Vingador então riu – uma risada repicada que deixava sua mascara mais apavorante do que já era.

— O que foi Marco Antônio? – questionou. – Mudou de ideia?

— Eu sei quem você é.

O Capuz avançou dois passos que não pareciam tocar o chão.

— Você quer dizer a ameaça – corrigiu com um tom mais sério. – E não meu hospedeiro.

— Deixe meus amigos em paz! – Marco gritou torcendo para que tivesse sido o suficiente para os outros o ouvirem.

O Capuz ergueu um dedo pálido e grande, fazendo que não com ele.

— Acho que isso não será possível.

Um silvo chiou nos ouvidos de Marco e enquanto ele observava uma forma vermelha começou a se elevar saindo das costas do Capuz – como uma cauda.

Não tinha forma de nada e quando foi alcançou Marco, ele nem teve tempo de pensar.

Uma pontada fez com que ele cedesse seus joelhos no piso de madeira. Ele se deitou de barriga para baixo e só teve tempo de ver o Capuz em pé ao seu lado.

— Diga aos seus amigos Caçadores – falou em uma voz ríspida. – Para pararem de tentar me achar. Ou eu mato alguém.

A última coisa que viu antes de desmaiar foi a capa do Capuz arrastando no chão do corredor vazio.

***

Quando Marco abriu os olhos de novo, Fifth Harmony explodia as caixas cantando sobre trabalhar em casa. As batidas da música abafavam seus ouvidos enquanto ele juntava coragem para se erguer do chão.

— Você está bem? – perguntou uma garota morena em uma roda de pessoas – Marco tomou um susto achando que fosse ela, mas olhos da garota eram diferentes.

Bem, ele podia fingir que era certo?

— Sim, sim – ele procurou com os olhos no corredor todo. – Você por acaso não viu...

— Um paramédico? – questionou a garota.

Marco estufou o peito.

— Isso não foi nada. Vocês não viram nenhum cara encapuzado quando subiram aqui?

— Não, não tinha ninguém quando subimos para fumar.

— E quanto tempo faz isso?

— Não sei – a garota semicerrou os olhos. – Mas olha cara, ficamos aqui por uns doze minutos e nada de você acordar.

Marco encarou a garota com náusea ao ouvir seu tom de voz.

— Como assim?

— Você não respirava – a garota deu de ombros naturalmente, como pessoas desmaiando em seu dia-a-dia.

Notou tarde demais que ela tinha dreads em seu cabelo.

— Preciso ir – declarou.

Ao chegar ao primeiro andar a festa ainda rolava. A cozinha era uma cortina de fumaça espessa e no jardim dos fundos garotos e garotas invadiam a piscina. Na pista abarrotada de dança um povo chato de quatro faziam de tudo menos dançar.

Achou Rita junto com Erick em um canto distante da sala, ela ria e bebericava o copo descartável com uma naturalidade enquanto o Lobo falava olhava ao redor da festa.

Lutou com os ombros para chegar até eles.

— Marco? – ela o notou, afobado. – O que aconteceu?

— Eu fui atacado pelo Capuz. Ele disse para pararmos de tentar descobrir quem ele é.

— É o quê? – Erick engasgou.

— O Capuz? – a irmã arregalou os olhos. - Quando isso?

— Não sei dizer quanto tempo faz, mas ele me atacou lá em cima na porta do banheiro masculino.

Erick franziu o cenho.

— Banheiro? O que você...

— Erick, foco – Rita cruzou os braços. – Mas como assim ele te atacou? Você viu o rosto dele? Sabe quem ele é?

— Não, ele estava usando uma capa preta e máscara! Eu não sabia que era ele até ele me atacar com uma coisa vermelha que eu não sabia bem o que era.

Erick fungou olhando ao redor.

— Isso não é bom... Precisamos avisar os outros.

— Nós vamos com você – declarou Rita.

— Espera gente, tem mais – Marco se lembrou da pontada de antes e estremeceu. – Ele também me disse para pararmos de procurá-lo ou ele vai matar alguém.

Rita e Erick trocaram um olhar rápido e preocupado e a irmã tocou o irmão no braço, como costuma fazer, apertando os músculos.

— Calma Marco – disse e só então ele notou que tremia. – Nós vamos pegá-lo, ele não pode ter ido muito longe.

— E esse é o problema – Erick olhava ao redor. Marco seguiu seu olhar e entendeu o que ele estava tentando dizer.

O salão estava cheio de pessoas que eles conheciam. O Capuz estava bem ali, camuflado em alguém. Não estava tentando fugir.

E não iria enquanto não machucasse mais alguém.

                - E quando eu fiquei sabendo que o Gálviny estava lá me procurando, meu amor, eu abri meu leque e saí fora.

         Roberto assentiu com educação para a história do Crush antigo de Vick, mas lançou um olhar mortal para Rafa que tinha decidido ir pegar mais bebidas para eles e ainda não tinha voltado.

         - Não acha que ele está indo muito pra perto daquela mesa?

         Acho, a Vick mental disse, é por causa do sofázão ali do lado, Mané! Yanca e seu namorado de cabelo preto e outro loira estavam ali perto. Vick se perguntou onde estava o loiro com quem todos pensavam que Rafa tinha um caso no ano passado.

         - Não, vai ver ele tá com sede. Mas então – ela chamou a atenção do garoto alto. – Gálviny foi um grosso quando descobriu que fui ao clube sozinha sem ele! Pois bem, deixei bem claro que se ele quisesse algo sério comigo, era melhor que o Senpai colocasse uma aliança nesse dedão aqui – ela ergueu o mindinho.

          - Vick – Roberto estalou os dedos. – Eu adoraria ouvir sobre a história desse garoto que você gostava, mas...

         - Me acha chata? – ela inflou as bochechas e deu palmadinhas nelas. – Esse barulho é irritante?

         - Sim! – Roberto tirou os óculos de grau. – Eu quero saber o que o Rafa tá aprontando dessa vez.

         - Vai ver não é nada, só a sede mesmo – ela virou o rosto dele. – Já te falei quando o Gálviny me confessou ser alcoólatra? Foi tão tocante!

         - Pela última vez, Vick, eu sei o que você está fazendo – ele revirou os olhos. – E todo mundo sabe que seu maior Crush até agora foi...

         Lucas. Ele não disse e talvez entendesse que ela não gostava de ouvir o nome.

         - É – ela pigarreou corajosamente. – Estava meio subtendido esse Crush, mas pelo menos demos um beijo antes dele sumir.

         - Você não me disse que já tinha beijado o tal do Gálviny?

         - Eu disse que fomos além do beijo, você entendeu errado – ela corou.

         - É o quê? – Roberto arregalou os olhos, mas então balançou a cabeça. – Espera para com isso! Eu não preciso de distração, preciso de respostas!

         - Roberto – ela disse e ele começou a abrir caminho na multidão. Roberto era alto, então se dava um passo para frente, eram mais dois para Vick alcança-lo.

         De onde eles estavam até a mesa, o vestíbulo da casa ficava no meio, de forma que se alguém chegasse uma sombra grande apareceria no chão.

         A sombra apareceu enquanto estavam no meio e Roberto parou de andar. Vick, duas passadas atrás, parou logo e seguiu seu olhar.

         Taffara usava um vestido cor pastel liso longo, sem mangas com seus braços magros expostos. Uma tiara clara estava em cima do cabelo castanho cacheado.

         Vick estava prestes a admitir que ela estava bonita quando viu o acompanhante ao lado dela. Diogo tinha um braço enlaçado com o dela e um sorriso malicioso direcionado para Vick.

         Vendo que ela tinha notado a entrada deles, Taffara desfilou com seu salto em sua direção.

         - Você está falando sério? – Vick questionou olhando de um para o outro. – Esse é o seu cavaleiro misterioso? O Diogo?

         - Algum problema Vick? – Taffara pendeu a cabeça para um lado, os olhos escuros o fitando. – Achei que já tinha acabado tudo entre vocês dois, então...

         - Me poupa – Vick bufou. – Se é com ela que esta se aliando, seu nível baixou muito ouviu Diogo?

         - Quer falar de nível? Logo você? – Diogo retrucou. – Vamos ver quais de nós dois é o mais baixo quando eu contar a policia o que você e seus amigos omitiram por mais de um ano!

         - Isso não faz sentido – ela riu. – Henrique está vivo, seu otário!

         Taffara levou uma das mãos à boca, como se fosse contar algum segredo.

         - Não sei se você está sabendo, mas acho que tentativa de homicídio ainda é um crime. Culpados ou não, vocês vão se mete em encrenca quando dissermos tudo a eles.

         - Vai lá, eu te desafio – Vick retrucou. – Aquela policial já gosta muito de você não é mesmo Taff? Aposto que vão acreditar em tudo o que você disser.

         Taffara ainda sorria quando algo passou por seus olhos – um brilho, talvez.

         - Tenho maneiras de fazer Gabriella acreditar – declarou e Vick queria perguntar qual era a droga da graça. – Então é melhor que você vigie suas costas depois de hoje à noite, Victoria Melo. Porque você vai pagar, todos vocês vão.

         - E dessa vez – Diogo prosseguiu. – Não há nada nem ninguém que você possa subornar, só para ficar claro – e piscou.

         Dito isso, o casal mais bizarro saiu de braços dados para o meio da festa. Será que agora namoravam também? Se fosse verdade aquela seria a dupla mais catastrófica de todos os tempos.

         E a vida de Vick que já não era tão fácil a um bom tempo agora só tendia a piorar.

         Rafa mal piscou quando mãos magras o puxaram para longe da mesa e empurraram suas costas contra um dos pilares da casa. Ai.

         - Roberto? – ele encarou. – O que foi?

         O namorado não respondeu e ficou o encarando com os olhos verdes. A espinha de Rafa se arrepiou com o silêncio.

         - Você esta me assustando – ele avisou. – Não me faça dizer isso de novo. – Porque senão explodo sua cabeça, ok?

         — O que você pensa que esta fazendo? – Roberto questionou. – Por que ficou aqui parado e não voltou pra ficar com a gente?

         - Calma – Rafa tentou acariciar o ombro magro do outro, mas Roberto o afastou. – Eu só quis ficar sozinho.

         - Ficar sozinho ou ficar sozinho com seus colegas? – ele olhou para o sofá onde eles estavam com um jeito fulminante.

         - Essa sua paranoia já esta me deixando louca – Rafa semicerrou os olhos. – E eu já não tinha dito que talvez fosse querer falar com eles?

         - E por quê?

         - E por que não? – Rafa rebateu. – Eu não posso? Não sou livre pra falar um “oi” pra ninguém que eu conheça?

         Roberto foi um pouco para trás, o queixo trincado.

         - Às vezes você acha que é meu dono – prosseguiu Rafa. – Ao invés de ser meu namorado.

         Os ombros do nadador baixaram e toda a raiva sumiu, dando lugar a uma expressão de remorso.

         - Me desculpe – disse com a voz rouca. – É que antes junto com a Vick ficou parecendo que você não queria que eu soubesse de algo.

         - Muitas coisas parecem o que não é – argumentou em um tom mais baixo. – Mas essa não é.

         Roberto assentiu parecendo torturado e agora foi a vez de Rafa sentir culpa. Estava jogando a culpa todo no outro para esconder seu segredo sujo. Que namorado hein.

         - Olha, não precisa ficar assim – Rafa juntou os lábios em um beicinho. – Mas é que você me assusta quando tem essas crises de raiva. Fica parecendo alguém que não é.

         O olhar de resposta de Roberto era de curiosidade.

         - E como eu sou?

         - Educado, simples, humilde – Rafa citou com os dedos. – E não essa coisa com ciúmes doentio de mim. Não seja um Rael na vida, por favor.

         Roberto assentiu e parecia até mais calmo, os braços caídos ao lado do corpo.

         - Tudo bem, não vou ser assim – ele piscou um olho de cada vez.

         - Er, você está bem? – pergunto quando viu Roberto suar e tocar a têmpora nervosamente.

         - Sim – o outro chacoalhou a cabeça. – É só uma náusea temporária.

         - Mas você vai desmaiar?

         - Não! – Roberto respondeu, mas parecia não falar só com ele. – Isso não vai acontecer.

         - O que não vai acontecer? – Rafa perguntou. – O seu desmaio?

         Roberto fez que sim e fechou os olhos.

         E então foi ao chão com tudo um segundo depois.

         - Roberto? – Rafa conseguiu pegá-lo pelos ombros. – Amor? Ei, consegue me ouvir?! – ele bateu de leve no rosto, mas o outro não abriu os olhos. –Rob, por favor, me diz... – ao tocar no peito do outro viu que ele não respirava. E surtou: - ALGUÉM ME AJUDA, POR FAVOR! – gritou. – POR FAVOR, ALGUÉM CHAMA AJUDA! – mais alto ainda.

         Ele gritou e gritou enquanto os convidados bizarros rodeavam os dois, perguntando o que estava acontecendo. Um surfista prateado perguntou se Roberto havia comido antes e Rafa não soube dizer.

         O medo começou a sufocar Rafa e ele sentiu as lágrimas começando a acumular nos olhos.

         Roberto, não, não...

         - O que aconteceu com ele?

         Rafa olhou para cima e viu Henrique o encarar com as sobrancelhas unidas. Chegou perto do irmão e tocou o rosto dele, tomando o cuidado para não tocar em Rafa.

         - Está frio – disse. – E a pressão é baixa. Ele comeu?

         - Eu não sei – Rafa piscou, sentindo as lágrimas descendo. – Uma hora estávamos brigando e aí do nada ele desmaiou.

         - Vocês brigaram? – Neemias com o tecido felpudo questionou. Parecia um Neymar Drag bizarro.

         - Foi só uma discussão, não necessariamente uma briga – deu de ombros.  – Mas ele tocava a têmpora o tempo todo, então achei que fosse só dor de cabeça.

         Henrique assentiu e baixou o rosto para tocar os lábios do irmão. Rafa nunca tinha visto um beijo incesto na vida, mas aquele em outra hora seria considerado sexy.

         Mais sexy ainda foi quando Roberto arfou, puxando todo o ar que pode e abriu os olhos. Só teve tempo de rolar eles uma vez para olhar Rafa e depois os fechou.

         Com Henrique já afastado, Rafa passou a mão em seu peito novamente para medir. Graças a Deus o coração batia agora forte e sua respiração agora ia se acalmando levemente.

         - Acho que agora ele vai ficar bem – concluiu Henrique.

         - E não graças a você – retrucou o mais novo para Rafa.

 – Mias, agora não é uma boa hora – retrucou o mais velho. - Coloque ele para deitar em algum lugar. Ou o leve pra casa.

         - Não quero que ele lá em... – Neemias já ia reclamando.

         - Tudo bem – Rafa ignorou o mais novo. – Obrigado, Henrique.

         O moreno apenas o olhou friamente.

         - Não fiz por você.

         E se levantou.

         Minutos se passaram enquanto a multidão se dispersava, comentando e já inventando o boato de que Roberto estava fingindo o desmaio só para aparecer. Mas Rafa ficou sentando ali por um bom tempo, se certificando que o outro continuava respirando. Por um momento achou que ficaria sem ouvir a voz do namorado de novo e isso lhe deu muito medo.

         E culpa. Se não fosse a discussão toda Roberto não teria ficado estressado e eles poderiam ter o prazer de não ver Henrique.

         - Deixa que eu cuido dele.

         Rita e Marco haviam se aproximado, os rostos dos dois irmãos tensos.

         - Gente, foi só um desmaio – ele riu nervosamente. – Podem relaxar. Daqui a pouco ele acorda.

         Rita e o irmão se entreolharam.

         - Não estamos preocupados com o Roberto – respondeu ela.

         - Não? E estão com o que?

         - É melhor você ir falar com a Dessa e o Edu – Rita indicou. – Eu e o Marco vamos levar ele para deitar em alguma das camas lá em cima.

         - Espera gente – olhou de um para o outro. – O que tá havendo?

         O capuz – Marco declarou. – Ele está aqui.

         Erick pulou com tudo no sofá e os convidados sentados perto dali o fulminaram com um olhar. Ele olhou fixamente até sentir os olhos mudando para Vermelho. Todos saíram do sofá correndo e ele riu.

         Quando voltou os olhos para frente, Andressa e Eduardo o encaravam com os braços cruzados.

         - O quê? Não posso me divertir?

         - Não quando estamos em uma urgência – Andressa o chutou.

         - Nem doeu, só pra constar.

         - Você tem certeza que o Marco não conseguiu ver o rosto dele? – Edu questionou. – Não tem nada por aqui que bata com as descrições que ele viu.

         - É lógico que não tem. Se eu fosse o Capuz eu também queimaria minha roupa para que não me achassem.

         - Se o guri tivesse dito o minuto exato em que o Capuz desceu – Andressa desabafou. – Eu me lembraria de se tivesse visto uma coisa daquelas.

         - Ou não – Erick retrucou. – Tem muita gente fantasiada aqui.

         Rafa chegou afobado na roda deles.

         - Onde ele está? – perguntou.

         Andressa o encarou.

         - Eu espero por Deus que não esteja falando do Capuz... Como é que vamos saber onde está alguém que não conhecemos?

         Rafa pareceu confuso.

         - Mas, Marco me disse...

         - Sim, mas o filho da mãe é esperto! Ele está aqui entre nós disfarçado!

         Rafa roeu a unha, nervoso.

         - Então como vamos acha-lo?

         - Não vamos – Edu respondeu. – Ele ameaçou matar alguém se tentarmos.

         - Eu não acredito que... E vocês vão ficar aqui parados?

         Andressa deu de ombros.

         - Não seria a primeira vez.

         - Eu proponho irmos embora – disse Erick e todos o encararam. – Não me olhem assim. Ele não quer nos matar? Então, vamos embora que assim ele não machuca mais ninguém.

         - Não podemos – Érika se aproximou. – Aquela policial esta lá fora.

         - Onde esta a Carla? – questionou o Alfa.

         Érika só deu de ombros.

         - Não vai nem dizer que também não sabe? – ele prosseguiu.

         - O que temos que tentar fazer – a loira o ignorou. – É farejar essa coisa.

         Eduardo recostou as costas em um dos pilares da casa.

         - Como se fareja algo sobrenatural com tanta coisa sobrenatural só numa festa? – ele abordou a todos eles com um gesto.

         - Calado, Edu – a Beta semicerrou os olhos. – Porque não faz nevar e nos prende aqui dentro com essa coisa?!

         - Ei – Andressa sacou a Agulha Gigante. – Veja lá como fala!

         - Pessoal – Rafa entrou no meio das duas garotas. – Matar uns aos outros é tudo o que ele quer que façamos. Não podemos deixar ele nos controlar assim. O cara nem tem um rosto pra gente, fala sério!

         Erick olhou para os outros, se perguntando qual deles podiam estar de olho na conversa deles.

         - Ok – Eduardo suspirou. – Qual é o plano?

         Rafa apontou para o próprio peito.

         - Está perguntando pra mim?

         - Ué, e por que não? – o moreno cruzou os braços. – Você também é do Pack, lembra? Ou não?

         - É verdade, Caubói – Dessa riu. – Já esta na hora de criar seu próprio plano.

         - Ok – Rafa engoliu em seco, nervoso por todos o encarando. – Vamos nos misturar.

         Eduardo revirou os olhos, Érika murmurou um “Leticia que me pariu” e Andressa saiu da roda bufando.

         - Ei – chamou o namorado. – Aonde vai?

         - Eu vou beber – respondeu simplesmente a outra. – Se tiverem algo melhor que isso, eu vou precisar de muito álcool pra digerir.

         Rafa ficou amuado. Eduardo ficou causando tsunamis pequenos em um aquário e Érika assoviou arranhando o sofá com as unhas felinas.

         Erick a encarou.

         - Ela estava aqui antes, como pode não saber onde ela esta?

         - Ela quem? – A Beta franziu a testa.

         - Carla.

         Érika pareceu incomodada.

         - Não a vejo desde a ceninha que ela fez.

         - Ceninha? – Erick retrucou. – Você tocou no abdome dos caras! Na frente dela!

         - E daí? – a loira se sentou no braço do sofá. – Podia ter feito muito pior.

         Erick se levantou e Érika se encolheu surpresa.

         - Não, não podia – ele sentiu os olhos ainda Vermelhos. – Já faz tempo que você não tem respeito com quem só cuida de você. E estou ficando impaciente com isso, Alapulof.

         - Impaciente? Não foi você...

         - Para de fazer a coitada! Todo mundo já cansou de saber que você virou Loba e perdeu a memória. Legal fera, agora pode superar isso e continuar com sua vida?

         Constrangida, Érika apenas começou a amarrar o cabelo loiro sedoso.

         - Tanto faz.

         Eduardo e Rafa olharam para qualquer canto menos para os dois e pareciam também com um pouco de vergonha por ouvirem a discussão – ou com medo de Erick por ser fodão.

         Mas Erick não sentiu vergonha de nada porque estava absolutamente certo.

         Andressa entornou um copo do que as pessoas chamavam de uísque e contemplou a cozinha vazia luxuosa. Ficar ali na ilha da cozinha, sozinha enquanto a festa rolava fez com que ela se lembrasse da festa na casa dos Capoci. Tudo bem que naquela noite ela não estava sozinha, mas lembrou-se mesmo assim de Leticia, a Bruxa com quem ela havia dançado até perceber que ela queria mesmo era enfeitiçar as pessoas na festa.

         Não via ela desde a perseguição à Érika, mas sabia que ela atacou Rafa no ano passado e Rita na semana passada. E mesmo depois de tanto tempo eles ainda não sabiam qual era a intenção da Bruxa com eles.

         Será que ainda queria vingança pelas Bruxas possuídas mortas? Mas como?

         - MEU DEUS!

         Dessa ergueu os olhos lindos e viu Marta, a aniversariante, sorrindo para ela com os olhos Vermelhos.

         - Oi – respondeu nervosamente.

         - Olá, você – Marta parecia divertida. – Você veio com o viado, né?

         - Quem?

         - Capoci – Marta explicou. – Com o Rafa.

         - Ah, sim – Dessa sorriu. – É que estou mais acostumada a chamar ele de Caubói.

         Marta riu.

         - Essa foi demais. É por que ele cavalga muito?

         Andressa franziu a testa. Como assim cavalga?

         - Deixa pra lá – Marta andou até ela e pegou a garrafa. – Achou o quê do meu tema?

         - Impressionante. Tentei ao máximo seguir o tema – disse balançando a saia preta e roxa com arranjos de teia de aranha.

         - Que bom que tentou.

         Andressa engoliu em seca. Não tinha muita pratica em socializar com os outros, principalmente humanos. E pra falar a verdade ela não queria.

         Marta dispersou o copo e começou a beber da garrafa. Quando terminou de beber, ela limpou a boca com o braço.

         - Curte? – perguntou indicando o copo de Andressa.

         - Curto tudo – respondeu.

         - Essa frase é pra ter duplo sentido? – questionou, mas Andressa não respondeu e ficou só olhando de volta.

         Enquanto seu pensamento se transportava para os beijos de Érika e Carla, Marta de repente estancou e olhou fixo para ela, as mãos no pescoço.

         - O que foi? – Dessa piscou. - O que esta sentindo?

         Marta parecia que iria engasgar, então ela tocou em suas mãos – mais por reflexo do que qualquer outra coisa. E sentiu frio ao fazer o gesto. Um frio tão cortante que afastou a mão de volta.

         - Você é fria... – Dessa sacou a Agulha na hora, mas foi tarde.

         - Sou é? – Marta riu.

         Em um movimento rápido Marta a acertou no estomago e ela foi de encontro com o armário da cozinha.

Havia vidro no cabelo dela quando se sentou, mas ela não ligou pra isso porque Marta vinha com tudo em sua direção.

Dessa pulou para o lado e a garota afundou o punho no armário, causando mais estragos ainda no móvel. Quando olhou furiosa, seus olhos eram de cor ocre.

— Vampira! – Dessa ergueu a Agulha Gigante novamente.

Marta riu as presas ganhando forma.

— Pelo visto não é só bonita!

         Andressa chutou seu rosto e avançou na garota. Chutou ela no estomago e depois a socou nos dois lados do rosto. Depois prensou sua cabeça na quina da pia.

         - Um movimento e você morre! – ameaçou. – Quem te transformou?

         - Boa tentativa, Caçadora – Marta cuspia sangue preto. – Mas não sou eu quem vai morrer hoje!

         As luzes da casa se apagaram de repente e o frio dos pulsos de Marta sumiram.

         Ela fugiu.

         Quando a energia toda da casa de Marta acabou, todos os convidados surtaram e gritaram – na maioria deles, os garotos. Enquanto alguns corriam para todos os lados, derrubando copos e sujando mais o chão, outros cogitavam não ligar se a luz havia acabado e continuaram fazendo o que estavam fazendo.

         Dentro da casa aparelhos de celular também foram ligados, enchendo a casa de flashes brancos e azuis em cada cômodo da casa enorme de Marta. Quando um grupo saiu correndo para o bosque, foi possível ver uma sombra correndo dali. E atrás dela, mais cinco foram atrás. Alguns longos segundos se passaram depois de mais uma sombra sair, mas dessa vez na direção da rua.

         A casa toda não passou de um espaço tenso cheio de murmúrios enquanto o corvo loiro subia da calha e levantava voo pelo céu riscado, indo na direção do bosque.

         Rael só notou que a luz havia acabado quando saiu de um dos quartos da casa, passando o braço na boca para limpar a saliva de Brad.

         Tudo bem que o jogador era atraente e tal e eles estavam dando um amasso forte no que só podia ser o quarto dos pais de Marta. Mas mesmo não queria nada com ele.

         Com ele.

         Ligou o flash do celular no corredor e encontrou casais ficando e se abraçando, enquanto um garoto de vela tocava no próprio celular parecendo entediado.

         Da sacada com a visão da sala conseguiu ver a multidão abarrotada na sala enorme, com os celulares iluminando cada pedaço dela. Em um canto super brilhante reconheceu o Dj, junto com um Henrique fantasmagórico ao seu lado.

         Estava prestes a descer as escadas quando sua luz achou algo. Parecia um pedaço de pano preto e quando o tocou sentiu o tecido frio em seus dedos. Achou também uma máscara parecida com aquele cara do filme V de Vingança.

         Pensou em vestir a fantasia até que foi empurrado com tudo na escuridão.

         - Ei! – guinchou automaticamente. – Não olha por onde anda mais não?

         - Não sei se notou, mas... – o garoto parou de falar. – Rael?

         O próprio virou o flash do celular e Gabriel cobriu o rosto para evitar a luz forte.

         - Abaixo isso!

         - Desculpa – Rael bloqueou a tela do celular. - O que faz aqui em cima?

         - Indo ao banheiro – respondeu. – Você?

         - Procurando um amigo – ele mentiu e deu sorte por estar no escuro.

         - Sei. Aquele seu amigo jogador, você quis dizer? – o tom de Gabriel era ríspido.

         Rael revirou os olhos.

         - Isso não tem nada a ver com você.

         - Ah, não? Que estranho. Justo quando eu entro com a Deb vocês resolveram ficar, né? Muito estranho.

         Ele teve que se controlar pra não atirar o outro da escada. “Eu o empurrei e estava escuro, eu não sabia” seria uma boa desculpa.

         - Já te falei pra parar de se achar tanto – disse calmamente decidido a não perder a calma. – Eu sou livre pra pegar quem eu quiser. Você é que tem namorada aqui!

         - Cala boca Rael, você não sabe de nada!

         - Cala você! – ele se enfureceu. – Vai caçar sua Deb no escuro e me deixa em paz!

         Rael começou a voltar por onde tinha vindo e tentou tocar a porta na esperança de achar a maçaneta – mas ela já estava aberta.

         Decidiu entrar no quarto com calma, mas conseguiu tropeçar no pé da cama e se sentou nela para não cair no carpete. E então a porta se fechou.

         - Olá? – ele chamou. – Quem está ai? – ele ligou o flash, mas só viu a madeira fechada.

         - Brad? – ele iluminou o resto do quarto quando ouviu passos. – Isso não tem graça!

         E então algo se moveu ao seu lado na cama e derrubou o celular no chão. Um Gabriel era semi-iluminado pela luz branca do flash.

         - Você ainda me seguiu até aqui? – guinchou. – O que você quer?

         A resposta veio quando o outro avançou. Rael lutou com os braços, mas quando sentiu o beijo soube a resposta da pergunta. Seus braços caíram trôpegos ao lado do corpo.

         - Você – sussurrou Gabriel. – Quero você.

         Ele correspondeu o beijo e os dois afundaram na escuridão da cama king-size.

         Roberto cochilava ao seu lado no sofá enquanto Rita olhava as pessoas falando no escuro. Tinha acabado de deitar o amigo junto com Marco em um sofá de estilo U quando a luz foi cortada.

         O Pack que estava com eles na hora se apressaram para sair da casa segundos depois quando Erick pareceu sentir algo – ela não tinha entendido bem o que ele tinha falado, mas antes que pudesse dizer algo mais, Marco também já tinha desaparecido.

         E com o garoto desmaiado para cuidar Rita não podia fazer nada além de esperar com preocupação até que ele acordasse.

         - Ei, pode acender uma luz pra mim? – perguntou uma garota sentada ao seu lado.

         - Claro – Rita pegou seu celular e ligou o flash. A luz era tão forte que iluminou o rosto das duas.

         - Brenda – ela tomou um susto ao ver a garota sorrindo.

         - Desculpe, não pude evitar em brincar um pouco com a situação – Brenda explicou. – Eu fico nervosa no escuro.

         - Tudo bem – Rita assentiu. Também ficava nervosa, quando era pequena. – Então você veio.

         - Sim e achei que tinha me evitado mais cedo – foi uma pergunta? Pelo tom pareceu ter sido uma.

         - Não – mentiu. – Só não reconheci.

         Brenda parecia confusa.

         - Mas você acenou de volta.

         Rita mordeu o lábio inferior. Ela era péssima em mentir, o que seria um elogio não fosse a situação.

         - Rita – a garota aproximou. – Tem algo que quer dizer?

         - Tipo o que? – Tenho medo que não saiba.

         - Tipo que não gostou de mim? – questionou a outra. – Isso é por causa daquelas respostas que me passou? Porque se for...

         - Não – Rita piscou. – Não é nada disso, eu juro.

         Brenda semicerrou os olhos.

         - Então têm algo?

         Rita quis mentir de novo, mas sentiu algo a impulsionar a contar a verdade. Seria a voz de Erick em sua cabeça?

         - Ai meu Deus – Brenda riu nervosamente. – Então tem algo mesmo pra me contar? O que é?

         - Não sei como começar... Quer dizer, eu te conheci hoje então não vejo sentido.

         - Rita... – Brenda parou de rir. – Vá direto ao ponto.

         Ela assentiu.

         - Seu pai e sua mãe se separaram há quanto tempo?

         O rosto de Brenda congelou.

         - Eles não se separaram – ela sussurrou de volta. – Rita, o que...?

         - Eu vi seu pai se pegando com alguém no banheiro feminino hoje cedo – ela soltou de uma vez.

         Brenda ficou calada por um segundo, mas então sorriu de leve.

         - Por favor, Rita – ela piscou. – Você não conheceu meu pai, ele...

         - Era o treinador da escola – Rita jorrou a pior parte para calar a outra.

         Dessa vez a colega não riu nenhuma vez. Era obvio: Ela não fazia ideia.

         - Felipe? – questionou e Rita se lembrou do treinador “fraquinho” sendo derrubado por Andressa.

         - Sim – confirmou. – Ele mesmo.

         Brenda passou as mãos no rosto e Rita tentou afagar seu ombro.

         - Eu sinto muito Brenda. Não sabia se você fazia ideia ou não.

         - E como eu ia saber? – ela guinchou de repente. – Como uma filha ia saber que o próprio pai tem um caso com o amigo da família?

         Mesmo no escuro os fofoqueiros de plantão já estavam em cima delas, olhando com interesse e se perguntando qual era a da vez.

         - Me desculpa Brenda, eu não devia ter dito – lamentou Rita procurando deixar ela mais calma.

         Mesmo linda e bem vestida o rosto da nova melhor amiga pareceu amargo enquanto borrava a maquiagem.

         - Não devia mesmo.

         E saiu dali muito puta.

A rua na frente da casa de Marta estava fria quando Marco sairá de casa. Ele se encolheu em sua roupa engraçada e começou a subir à rua, observando que todas as casas, exceto a de Marta, estavam com as luzes acesas. Ele se apressou até a viatura no topo da rua, pensando bem No que iria dizer quando chegasse lá.

 "Gostei do beijo". "Gostei de você". "Não ligo se foi errado, gostei mesmo assim é você não pode me ignorar" "ou pode?" O tempo dele de visualizar acabou quando chegou à janela e ergueu o punho. Mas então uma surpresa: o carro estava vazio.

— Procurando algo?

Ele tomou um susto quando a detetive surgiu atrás dele com sacolas de papel em ambas as mãos. Marco sentiu o cheiro de comida chinesa.

— Sim - ele se apoiou na porta do carro. - Você.

Gabriella entreabriu os lábios, mas os fechou rapidamente e revirou os olhos.

— Não posso permitir que role...

— Não é nada disso - Marco se apressou. - É que a luz acabou na festa.

— Ah - Gabriella rearmou os óculos na frente do rosto. - Então tudo bem - deu a volta para abrir a porta do lado do motorista.

— Eu posso ficar com você?

A Detetive apenas o olhou de modo inexpressivo.

— É só que está uma bagunça lá dentro - disse através do vidro e apontou para o trinco. - Se importa?

Ela esticou o braço e subiu o pino e ele saiu da porta para que abrisse. Quando sentou ao lado dela, sentiu a familiar magnetização preencher o espaço dentro do carro. Olhou com timidez pelo rabo de olho e viu que ela fazia o mesmo. Quis muito rir naquela hora, mas Gabriella olhou friamente para frente de forma séria. E por mais louco que soasse, Marco decidiu falar:

 - Gosta de mim? Gabriella respirou fundo e depois de uma série de piscadas ela assentiu. Emocionado, Marco olhou à frente também, sentindo a mente vazia.

— O que esta pensando? - Gabi perguntou e seus olhos se encontraram.

Marco deu de ombros.

— No quanto o céu está bonito - ele jogou a cabeça para trás sentindo o olhar dela nele.

E então sentiu uma mão macia e quente tocar a sua com timidez. Seu batimento acelerou. - Você também está.

Olharam-se de novo e foi à vez dele ser rápido. Como o primeiro, o beijo foi rápido, mas intenso o suficiente para ser bom.

Quando viu que ela não se afastou e seus olhos se perderam um no outro no segundo beijo. Esse foi mais forte e por algum motivo os dois não conseguiram separar suas bocas. No silêncio do carro, ele a jogou em seu colo e a puxou para o banco de trás consigo.

 E se alguém passasse na rua vazia naquele instante, só escutaria o som de seus beijos.

         Com um clarão irritante a luz voltou cegando Vick. Ela se queixou e agarrou a primeira coisa que achou.

         - Aí, Vick! – reclamou Camila Alves. – Vamos cortar essa unha, hein?

         Vick ignorou isso e as duas foram engolidas ruidosamente pela comemoração dos convidados que tinham ficado e a volta da música.

         Ainda se adaptando com a luz, ela observou uma garota andar de um lado para o outro, nervosa. Reconheceu Taffara pela tiara.

         - Será que a calcinha dela prendeu lá dentro? – zombou Camila e, em uma situação normal, ela teria rido junto.

         Mas por algum motivo se sentiu compelida a chegar perto da Rainha Má.

         - Qual o problema, Taffara?

         A garota mal a olhava reto, os olhos confusos por todo o salão. Quando pareceu perceber sua presença ali, seu olhar era temeroso.

         - Não consigo achar o Diogo – declarou.

         - Como assim não consegue?

         - Ele sumiu na hora que a luz apagou – explicou. – Em uma hora estava aqui e na outra... – ela simplesmente parou de falar parecendo perdida.

         - Vai ver ele esta no bosque – Vick arriscou. – Vi algumas pessoas indo até lá quando ainda estava tudo apagado.

         - Talvez – Taffara assentiu, mas então a encarou. – Tem algo errado. Muito, muito errado.

         - O que? – o tom dela assustava.

         - É como se algo errado estive acontecendo agora mesmo.

         Vick estava prestes a dizer “Tipo o que?” quando notou algo que a deixou mais espantada.

         - Onde está o Henrique?

         Taff arregalou os olhos ainda mais.

         Rafa nem tinha como explicar o que estava acontecendo. Só o que sabia era que estava correndo desde que Erick farejou algo na hora em que as luzes se apagaram.

         Alerto ele viu Érika seguir o Alfa e Eduardo ir atrás deles, com Andressa que havia ficado para puxá-lo.

         E agora os cinco corriam no bosque, na direção inversa de alguns outros convidados que haviam decidido sair da casa.

         - Sei que é meio tarde pra perguntar – ele se virou para Dessa. – Mas o que houve?

         - Erick sentiu cheiro de algo – respondeu ela e olhou para cima. – Siga o Erick!

         Rafa seguiu seu olhar e viu um corvo pairando no ar acima deles, as asas loiras batendo no ar. Fernando. Da última vez que o havia visto ele tinha invadido seu quarto pela janela e escutado sua conversa com Roberto.

         - Acham que é o Capuz? – perguntou.

         Andressa o fitou de jeito insondável.

         - Ou talvez sua amiga.

         - O que?

         - Gente – Eduardo os chamou com impaciência. – Acho que ele encontrou algo.

         Rafa andou e olhou por sobre o ombro dele para ver Erick se agachar na relva.

         - Erick? – Dessa se aproximou. – O que você sente? Qual o cheiro?

         O Lobo a encarou com os olhos Vermelhos Sangue.

         - De morte.

         Érika que até agora tinha ciado quieta soltou um silvo e todos viraram suas cabeças para onde ela olhava, uma arvore a menos de um metro dali.

         Em um dos galhos mais proeminentes no alto dela, um garoto parecia cair do galho, até algo o deter no ar com um impulso.

         Crack.

         A corda suspendia o que agora só podia ser um cadáver.

         Já não bastasse o choque, todos eles se assustaram quando uma forma escura desceu da copa e caiu em pé no chão.

         O Capuz escondia seu rosto nas sombras, como da última vez que Rafa o tinha visto. Mas havia um detalhe estranho. Em cima do moletom, uma jaqueta de aviador se destacava no escuro.

         - Edu! – Dessa rugiu e não preciso de segunda chamada. O moreno estalou o dedo e fogo foi lançado.

         Como se já não bastasse a mini super nova abaixo da arvore, Edu manejou uma das mãos e uma rajada potente sacudiu todo o bosque e as chamas.

         Eles aguardaram enquanto a fumaça subia e o fogo se apagava.

         - Ele morreu – Érika sorriu os olhos Dourados. – Você conseguiu Edu!

         Mas antes que qualquer um dissesse mais, algo na velocidade de uma bala teria acertado ele se não fosse pela velocidade de Andressa com a Agulha. Ela olhou no chão e viu uma forma vermelha se esconder dentro do chão.

         O Capuz saiu do meio da fumaça com um salto, a jaqueta de aviador sem nenhuma sujeira. Érika e Erick rugiram em sua direção e começaram a correr.

         Mas sem que ele se movesse, os dois Lobos estancaram na relva repentinamente.

         - O que você fez? – Rafa gritou e o Capuz o olhou diretamente. Ele ergueu uma das mãos e apontou um dedo na direção de Rafa.

         Ai meu Deus.

         Rafa ergueu a barreira invisível na hora, mas houve algo estranho. Ela não parecia à mesma e ele não conseguia identificar se ela estava mesmo ali ou não.     

         O vilão abriu os braços e Rafa foi jogado longe até bater suas costas na terra. Quando se levantou viu que os outros estavam lutando de novo, Érika tentando chegar perto e sendo compelida a se afastar e Erick rugindo e atacando a resistência do campo, enquanto o Capuz movia as mãos pálidas contra o luar.

         A sombra do corvo loiro passou no alto e Rafa se preparou para saltar.

         Não!

         A voz na clareia foi tão poderosa que pareceu vir do chão. Ele olhou à frente e viu que Erick e Erick tapavam os ouvidos, enquanto Andressa e Eduardo corriam.

         - Dessa! – foi a vez de Edu gritar enquanto mirava a arma.

         Rafa não a encontrou com o olhar de primeira, mas quando viu uma garota morena ser empurrada contra o chão. Eduardo atirou e com mesma velocidade da bala foi arremessado para longe dali também.

         O Capuz se virou para Rafa e fez um gesto de não com um dos dedos para ele e uma fumaça cinzenta surgir do chão.

         Ele sabia o que ele ia fazer.

         Tentou correr e erguer a mão no ar na mesma hora. Pensou em como explodiu o Lobo e o Demônio no ano passado e tentou fazer o mesmo.

         Uma leve distorcida na fumaça foi só o que ele conseguiu fazer, mas nada explodiu. O Capuz riu e sumiu no ar frio da noite.

         Nós próximos segundos, ninguém ousou dizer nada enquanto encaravam o último lugar que o inimigo havia estado.

         Eles perderam de novo.

         Andressa sacou a Agulha Gigante e mirou-a no alto. Rafa se lembrou com horror do cadáver preso na forca.

         - O que pensa que está fazendo?

         Andressa franziu a testa.

         - Tirando o corpo do alto?

         - Assim? – ele gesticulou.

         - E faz alguma diferença? Ele já morreu – ela olhou de novo e atirou.

         A Agulha cortou a corda com precisão e o corpo caiu com um baque debaixo da árvore. Rafa olhou para o outro lado, mas seus novos colegas de trabalho avançaram até o individuo. Até mesmo Fernando em forma de corvo pousou na grama.

         Ficou só os olhando até que Andressa e Eduardo foram um pouco para trás.

         Qual o problema? Ele questionou a si mesmo.

         Andressa o encarou.

         - Ele não era pra ser supostamente um dos seus amigos?

         Rafa quase pulou com o que ela disse e avançou correndo até eles. O mundo pareceu lento quando Eduardo o segurou para que ele não caísse e Fernando como corvo pousou ao lado do morto.

         Diogo.

         Rafa arfou.

         - O que são vocês?!

         A voz não veio de nenhum dos cinco reunidos ali e era a mesma voz que tinha escutado mais cedo na escola e minutos antes das luzes se apagarem na festa.

 Henrique encarava a todos eles com o rosto pálido e os olhos escuros alarmados.


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