Brincando com Segredos escrita por Mondler


Capítulo 2
Estou aqui, tolinha.


Notas iniciais do capítulo

Ooooooi! Tudo bem com vocês? Queria agradecer todos os acompanhamentos e favoritos. Desculpem pela demora com o capítulo também, hahaha. Ele é um pouco longo, mas tá super legal. Espero que vocês gostem, boa leitura!



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Meu irmão e meu pai morreram no acidente. Aquilo era algo que eu repetia mentalmente todos os dias, tentando fazer com que a ficha caísse. Mesmo depois de quatro meses da explosão, eu ainda não acreditava que aquilo estava acontecendo com a minha família. Não sabia como lidar com a morte, mesmo que ela estivesse me acompanhando de perto. Primeiro com o Michael, no começo do ano, agora com Ben e Greg Thompson.

Eu estava pagando por todas as porcarias que fiz.

Palavras não são suficientes para descrever a minha dor. Todas as noites eu chorava em silêncio, o rosto fundo no travesseiro, afogando-me em lágrimas. Também não fazia esforço nenhum para sair daquela situação de tristeza. Nos corredores de casa, minha irmã passava correndo de um lado para o outro, frenética. Minha mãe se trancava no escritório e só aparecia para usar o banheiro, seu rosto estava pálido e os olhos vermelhos de tanto chorar.

Tem uma coisa que não contei sobre Adelaide. Além de ter o rosto desfigurado, a garota também tinha alguns problemas mentais. Eu não sabia ao certo quais eram, mamãe nunca falava disso, mas agora, com a tragédia nos encarando, Adelaide mergulhou no mais profundo buraco de depressão. Ela tinha surtos constantemente e descontava nos móveis, quebrando-os.

Edward e eu passamos a conversar muito mais depois do acidente. Trocávamos SMS com frequência. Uma vez, ele me contou que quase se suicidara, a única coisa que o impediu foi a camisa que eu tinha feito: “Bedward é real e canon” . Era nesses momentos que eu também lembrava das travessuras que aprontei para o casal, principalmente colocando a foto deles se pegando no SS. Como eu fui idiota.

Na frente da mansão, repórteres se acumulavam nos grandes portões. Câmeras ligadas, tentando flagrar qualquer coisa. Aquilo era bastante estranho. Sempre quis aparecer na televisão, mas não daquela forma. No jornal, a manchete principal tinha como título: “Investigações da morte de Greg e Ben Thompson são encerradas.” Mamãe saiu do escritório naquela manhã, trazendo a mesma notícia.

— Encerraram o caso. — Ela contou seriamente. Sua situação estava melhor que da última vez. Seus cabelos negros estavam mais penteados e o rosto menos pálido, tinha certeza que ela havia passado maquiagem. — Tive uma conversa decisiva com o advogado hoje pela manhã. Já estão arrumando todas as papeladas. No final, estavam mesmos certos. — Soube que ela estava falando a respeito dos investigadores. — Os Montgomery enterraram a bomba no próprio jardim, ao lado do palco. Elaboraram um plano para justificar a explosão através de um vazamento de um cano subterrâneo, mas a justiça foi feita! Sim, foi feita...

Minha mãe tentou abafar o soluço de choro que estava vindo, mas seus queixos trêmulos e as sobrancelhas baixas já indicavam que aquilo seria impossível. Seus olhos esverdeados se encheram de água.

— Aqueles filhos da puta destruíram a nossa família por causa de negócios! — Ela gritou, assustando alguns empregados que arrumavam a cozinha. Eu fiquei estática, sem saber o que falar. — Acreditavam que a morte de Greg e de Ben provocaria uma queda gigantesca nos investimentos.

— E é o que está acontecendo. — Falei baixinho. Infelizmente, aquela era a mais pura verdade. A empresa estava falindo bem depressa, sem nenhum líder profissional para guia-la, já que os cargos mais importantes haviam explodido.

Cristal enxugou as lágrimas quando Adelaide chegou. A garota veio arrastando um vestido branco pelo piso de madeira, como uma noiva. Seus cabelos loiros, completamente diferentes dos meus, estavam escovados até o ombro. Seu penteado novo cobria boa parte do rosto devorado pelas chamas, deixando apenas uma parte visível. Atrás dela, um rapaz de cabelos grisalhos, vestindo um terno e carregando uma maleta, pigarreou.

— Senhoria Lewen? Podemos resolver aquela situação agora? — Aquele era Gabriel, o advogado da minha mãe. Ela se levantou e foi até ele, deixando eu e Adelaide sozinhas.

— Você está linda. — Elogiei.

— Valeu. Acho que ficou grande em mim. — Sua resposta foi curta e fria. Fiquei com medo dela ter um ataque de raiva a qualquer instante.

— Quer ouvir a conversa deles? — As palavras saíram da minha boca roboticamente. Quando percebi, já estávamos no cômodo ao lado do quarto de minha mãe, os ouvidos colados na parede gelada, escutando a conversa dos dois.

— Bom, então é isso que você realmente deseja? — A grossa voz de Gabriel podia ser facilmente escutada.

— Sim, tenho certeza. Quero que todos os bens restantes da família sejam passados para o nome da Emma. As propriedades que temos, como você mesmo disse, precisam ser urgentemente organizadas e administradas, para que não percam o valor. — Minha mãe se calou por um tempo, depois tornou a falar. — O celeiro no Canadá pode ser da Adelaide. Aquele é o único lugar que aquela abobada pode cuidar.

Aquilo foi o suficiente para despertar ódio em mim. Aquilo significava que eu estava herdando tudinho, e a Adelaide ficaria apenas com a merda de um celeiro inútil. Era muito injusto. Do meu lado, a garota começou a choramingar. Lembro-me de vê-la correndo pelo corredor, gritando loucamente, caindo no jardim lamacento na frente dos repórteres, tornando-se manchete para o jornal do dia seguinte.

***

Adelaide mudou completamente naquele dia. Nossa mãe nunca soube o motivo, já que não contamos que havíamos ouvido sua conversa. Não era apenas uma questão de dinheiro, tratava-se de amor e como Cristal falara da própria filha.

Frank e Grover Montgomery foram presos uma semana antes do fim do ano. Minha mãe precisou fazer vários depoimentos e comparecer a entrevistas. Mais uma grande quantidade de pessoas foram levadas a cadeia, incluindo o rapaz que se passara por garçom no dia do acidente. Apesar de tudo, os Montgomery haviam conseguido o que queriam. Eles nos fizeram cair na falência.

No dia do ano novo, fomos para nossa casa de praia no Rio de Janeiro. A mansão era isolada de todo e qualquer tipo de jornalista. Agora só havia eu, minha mãe e Adelaide. As três mulheres que deveriam manter o importante nome da família.

Fizemos um jantar simples e vestimos roupas escuras, em sinal de luto. Alguns amigos próximos de meu pai e de Ben compareceram, incluindo o seu melhor amigo, Thomas Geller.

Ele foi um dos meus principais alvos na época do SS. Revelei dois de seus maiores segredos: Drogado e prostituto. Por causa do seu rosto bonitinho, Thom serviu como objeto de desejo para muitas pessoas, com o dinheiro que ganhava secretamente, comprava as drogas. Ben e ele tiveram um relacionamento que durou pouco. Meu irmão disse que ele tinha desejos estranhos.

A mãe de Thom o colocou para fora de casa e ele chegou até a nos pedir moradia, mas papai rejeitou imediatamente. Fiz o jogador do time de futebol se tornar um desconhecido qualquer na pirâmide escolar. Agora, com aqueles lindos olhos castanhos me observando, a única coisa que eu queria fazer era beijá-lo e pedir desculpas.

Tinha o corpo escultural e cabelos lisos e pouco espichados. Seu nariz era um pouco longo, mas reto. A pele branca tinha alguns tons avermelhados. Ele era perfeito. E gostoso, acrescentei mentalmente.

— Eu estou me recuperando com todo aquele lance com as drogas. Sinceramente, isso é algo que eu não gosto de lembrar. — Ele respondeu quando perguntei. — Sabe, Ben sempre tentou me tirar desse mundo, queria muito que ele me visse agora. Sou uma nova pessoa.

— Eu também.

— O que você quer dizer com isso? Sempre gostei de você, acho que não deveria mudar.

— Você não me conhece de verdade.

— Talvez eu passe a conhecer. — Ele sorriu timidamente. Seus lábios se entortaram por alguns segundos e suas sobrancelhas ficaram franzidas. — Você deve me conhecer bastante, já que minha vida foi exposta em um site de merda.

Meu coração gelou.

— Eu lembro. Meu irmão também foi brinquedo daquele blog, mas ele terminou, não é mesmo? — Perguntei, tentando disfarçar.

— Terminou, mas eu ainda não parei de procurar o dono ou a dona daquele bosta. Juro que ainda vou me vingar de toda porcaria que me aprontaram.

É, espero que você esteja errado.

***

Minutos antes da chegada de 2015, minha mãe foi chamada para um discurso no alto da escada. Thom já tinha desaparecido quando tudo aconteceu.

Espremi o corpo no sofá branco enquanto a via subir os degraus, cambaleante. Ela estava bêbada, percebi logo de primeira. Segurou o corrimão de madeira com firmeza, pediu silêncio e ficou parada olhando para os poucos convidados por alguns minutos.

— Eu perdi o meu marido e filho. Vocês só vão entender isso se passarem pela mesma situação... A dor, tem a dor também... — Ela colocou sua taça no chão e passou uma tira de cabelo para trás do ouvido. — Aproveitem o momento. Nós nunca sabemos quando o amor pode se virar contra você e te transformar em uma presa prestes a ser caçada. O único problema é que esse caçador não é que nem o cupido, estou falando do amor que se transforma em ódio, no amor que te corroí e te faz sentir saudades. — Ela olhou para um quadro do Ben estendido no outro lado da sala.

O jato esverdeado de vômito saiu logo em seguida. Cristal deitou a barriga no corrimão e virou a cabeça para baixo, botando tudo para fora. Os convidados mais próximos da escada acabaram se sujando. Puta merda! Naquele momento, corri até ela e a levei até o quarto, abandonando as exclamações no primeiro andar.

— Que merda! — Gritei.

— Estou me sentindo melhor agora. — Ela sentou na cama e disse.

Queria poder ajuda-la, mas sabia que deveria voltar para o salão. Um nó se formou em minha garganta à medida que andava em direção aos convidados. O que eu iria falar para eles? Não, não havia nada que eu precisasse dizer. Adelaide já havia feito isso.

— Não se preocupa. Estão lá fora para a contagem da virada. Tá na hora. — Ela olhou para o relógio em sua mão e me puxou para a varanda. A lua iluminava o grande mar da praia, criando um ambiente confortável e melhor. A brisa acalmou o meu coração e eu me vi livre de qualquer coisa.

Minha mãe estava muito errada a respeito de Adelaide, ela não era abobada nem nada. Era apenas uma garota injustiçada.

— Eu te amo. — Disse para ela no momento em que uma rajada azulada subiu no horizonte e estourou. — E feliz ano novo.

***

No terceiro dia do ano, quando já estávamos na Califórnia, minha mãe recebeu um recado da San Francisco State University dizendo que eu havia passado. Fiquei muito, muito feliz. Abandonar aquela merda que era o Winston foi ótimo. A SS estava realmente mortinha.

E eu estava errada pra caralho. Pelo menos na parte que diz respeito ao SS.

Permaneci acordada em um chat com a Tass. Infelizmente, a garota havia perdido o bebê e todo o colégio ficou em depressão. Pai morto, filho também. Contei pra ela sobre a faculdade e o curso de letras que eu pretendia fazer. O relógio marcava meia noite e trinta. Vejo algo se mover no corredor.

As luzes dos cômodos estão apagadas, então fico na dúvida do que seria. Levanto depressa da cama, fecho o notebook e caminho sorrateiramente até a porta. O silêncio é tão grande que tenho medo de acordar as outras com o barulho dos meus passos. Puxo meu celular de dentro do pijama e ilumino a passagem.

E seja lá quem for, estava ali me encarando. Não tive tempo nenhum de gritar. O corpo já estava sobre o meu, prendendo-me contra o chão. Tento pedir ajuda, mas uma mão tampa a minha boca e a outra soca minha cabeça. Arranho suas costas numa tentativa de fuga, aquilo não funciona. Começo a sufocar minutos depois. As mãos fortes do agressor vão estourar o meu pescoço a qualquer momento.

— Socorrro! — Minha voz sai fraca e baixa.

De repente, estou sozinha em meu quarto novamente, imersa na escuridão e no desespero. Estou chorando e tonta, buscando a cabeceira da cama para ter apoio e levantar. Ruídos partem de todos os cantos e temo que volte a ser espancada. No chão, o meu celular pisca e ilumina a parede com espelho. Ali, escrito com o meu batom vermelho, leio o seguinte texto:

“Você foi a Serpente Sanguinária por um bom tempo. Agora é a minha vez e espero fazer um jogo melhor que o seu. Siga as minhas regras, ou juro que voltarei a esganá-la, sua putinha.”

***

03/01/15- Serpentes Sanguinárias.

“Estou muito feliz com o retorno do blog. Isso mesmo, eu voltei!

Trago em primeira mão uma fofoca de alguém que, anteriormente, nunca aparecera por aqui. Sabem de quem eu estou falando? Emma Thompson.

Queira você acreditar ou não, mas a garota já abriu as pernas para cinco garotos no banheiro da escola. Seguem as fotos picante$$...”


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