Gravado na Pele escrita por Claire


Capítulo 3
Capítulo 2




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–Vem comigo.

Ela me pegou pela mão e me levou para o salão principal, onde várias pessoas dançavam em uma sincronia assustadora. Não consegui conter a surpresa quando vi a imensidão daquele salão se estender sobre mim.

–Caralho...

Ela riu. Olhei-a com desentendimento e o sorriso dela se abriu.

–É que não é comum as pessoas usarem esse vocabulário por aqui.

Dei de ombros. Agora estava claro, esse pessoalzinho da alta sociedade necessita urgentemente de um médico. Nix me puxava pela mão para algum lugar, enquanto eu ainda olhava desconcertado para aquela casa que mais parecia uma igreja barroca. Parei quando chegamos no bar. Aquela casa tinha até um bar dentro dela.

–Quer? – Nix me ofereceu uma bebida verde com um pequeno guarda-sol no canto do copo. Aceitei de bom grado, mesmo sem a mínima noção do que seria aquilo. Bebi em poucos goles, e quando pedi mais um para o garçom, ela resolveu puxar assunto.

–Então... O que fazia no banheiro feminino?

–Eu... Ãhn... Entrei no banheiro errado.

O olhar que ela me lançou deu a entender que não se convenceu.

–Hm... Ok, vou fingir que acredito em você.

Tomei mais um gole.

–E você, por que está aqui?

–Por que recebi o convite. – riu – E também por que quis vir.

– Bom, isso esclarece muita coisa, com certeza! – eu disse com meu melhor tom de ironia

Ela revirou os olhos.

– Você está ciente de que isso aqui era pra ser uma festa de casais, não é? – Ela arqueou uma sobrancelha

–Aham. Bom... Na verdade meu amigo me avisou disso quando já estávamos aqui. Como entrou aqui sozinha?

–Eu conheço os seguranças. E parece que sua “namoradinha” acabou de te achar.

Olhei para trás e vi Fabrício lutando contra a multidão para chegar até mim. Como aquele cara consegue ser tão estúpido às vezes... Até parece que vou sair daqui.

–Ed! Você conseguiu entrar, cara! –de repente seu tom de entusiasmo foi substituído por um de sermão. Revirei os olhos quando começou a falar- Eu te avisei para não vir com esses tênis, isso aqui não é uma festa qualquer! Só não te dou uma na cara agora por que não quero passar por não-civilizado, igual a você!...

Ele levantou os olhos e parou de falar assim que avistou Nix. Seu queixo caiu e ele ficou sem palavras, certamente envergonhado pela situação em que se encontrava.

–Eu... Acho que vou pra casa, Ed. Acho que não estou muito bem. A porta está aberta?

Fiquei pasmo pelo convite repentino dele para dormir na minha casa na frente de Nix, mas logo lembrei que sua casa estava em reforma, e que ele havia pedido para ficar no meu apartamento durante esses dias. Estendi a chave para ele, que a pegou e foi embora com um sorrisinho tímido. Fabrício não é o tipo de pessoa que consegue dar o fora em uma garota e depois olhar novamente nos olhos dela sem se sentir constrangido pela situação, por isso ele dava o bote e fugia, como sempre. Resolvi quebrar o silêncio.

–Então... Como conheceu os seguranças?

–Digamos que eu já frequentei festas nessa casa algumas vezes.

–Hm... Então você... Mora por aqui? – Me assustei com a ideia de que alguém aparentemente tão frágil como ela poderia ser possuidora de tamanha fortuna, a ponto de comprar uma mansão como aquela.

–Eu moro umas três quadras adiante. É uma casa branca com uma fonte na frente, e os portões têm rostos de anjos esculpidos. Não tem como errar. Se algum dia quiser aparecer por lá, é só tocar a campainha. -Sorri com o canto dos lábios ao pensar na possibilidade de ter uma mulher como aquela me esperando sempre que eu quisesse. – Quer conhecê-la?

–Eu me sentiria honrado. –eu sabia que Fabrício compreenderia caso eu não retornasse para dormir em casa, mas quando me passou pela cabeça a possibilidade de ter uma pessoa tão desastrada e medrosa sozinha na minha casa com uma caixa de fósforos, descartei a possibilidade irresistível que ela me propôs – Mas... Eu não posso deixar meu amigo sozinho em casa, me desculpe. Eu prometi à ele que voltaria, e eu tenho certeza de que se eu for até lá, vou acabar voltando apenas de madrugada.

Achei que seu sorriso fosse desaparecer, mas ele se abriu ainda mais. Pensei que talvez ela estivesse sorrindo pela minha declaração implícita de que era quase impossível resistir a ela.

–Fique à vontade. A casa é sua quando quiser.

Brindamos. Rimos e bebemos a noite toda. Ou melhor, eu bebi. Nix continuava com o primeiro copo ainda intacto, mas não me atrevi a perguntar o por quê. Conversamos sobre casas, livros, música e filmes, e me impressionei ao perceber que seus interesses eram basicamente os meus, e que conversar com ela era uma coisa fácil até demais. No quinto copo, eu mal andava ereto, e ela pareceu perceber minha tontura, mas aquele sorriso estranho continuava desenhado em seus lábios.

–Acho que você precisa de um pouco de ar, Ed.

Ela me guiou até o lado de fora da casa, que agora estava aberto para os convidados, e sentamos no mesmo banco da praça-jardim que eu tinha me acomodado para pensar em uma maneira de entrar na festa momentos antes. Nix olhava para o meu braço direito constantemente, provavelmente imaginando algo do qual eu não estava ciente, quando perguntou:

–Já pensou em fazer uma tatuagem?- Eu ri antes de responder

–Já tenho. Cinco.

–Então acho que mais uma não faria diferença pra você, não é?

Refleti sobre o assunto

–É, talvez não.

Seus dedos esguios percorreram meus braços de forma lenta, quase massageando-os. E quando eles passaram para o meu tórax, me orgulhei de todo o suor gasto na academia durante anos a fio. Seus olhos pararam para observar algo em meu corpo, foi quando me dei conta de que minhas mãos estavam em sua cintura, puxando-a para mais perto de mim.

–Acho que ocorreu um pequeno acidente com o seu paletó... – me lembrei. do rasgo feito enquanto atravessava a janela, rumo ao banheiro feminino

–Acho que ele já cumpriu seu papel por hoje- eu disse, retirando-o com o mais malicioso sorriso que possuía estampado no rosto.

–Acho que você está bêbado, Ed. Tem um monte de gente nos observando aqui... –Ela refletiu – Se importa em me acompanhar até em casa?

Esqueci-me completamente de meu paletó, deixando-o jogado sobre o banco. Assim que saímos da festa, percebi que algumas pessoas me encaravam com um olhar de pena que não fazia sentido para mim. Fizemos o caminho todo em silêncio, mas mantive minha mão em sua cintura o percurso inteiro. Assim que chegamos, ela retirou uma chave de algum lugar que não identifiquei e abriu os pesados portões. Passamos pela fonte, e fiquei fascinado quando me dei conta de que sua casa era ainda maior do que a que estávamos. Ela abriu as portas com facilidade, e assim que fechou-as, virou-se de frente para mim, agarrou-se em meus grandes cachos loiros que caiam até os ombros, e aproximou seu ouvido do meu, sussurrando.

–Acho que seu amigo vai ter que esperar...

Assim que ela disse aquelas palavras, lembrei do quanto zelava para que meu apartamento continuasse inteiro pela manhã, e afastei meu rosto do dela com pressa.

–Escuta, você é uma mulher irresistível, mas eu não estou afim de ter o meu apartamento em chamas por um descuido do idiota do Fabrício. A gente se vê.

Dei um selinho rápido nela, que permanecia rígida, e eu não sabia se era por estar sendo recusada por um cara bêbado ou por ter sido trocada por um apartamento. Resolvi não pensar nisso tão cedo, e voltei correndo para a mansão da festa para pegar meu carro. Quem sabe se eu chegasse vivo em casa, eu não voltaria algum dia?


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Notas finais do capítulo

Gente, comentem, por favor!!!



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