Você já sentiu que todas as decisões da sua vida te levavam para o mesmo lugar? Como se qualquer que fosse sua vontade, a vida se encarrega de te fazer voltar ao mesmo ponto, de novo e de novo. Minha melhor amiga Carly me disse uma vez que não podemos fugir do nosso destino, mesmo que ele não seja exatamente como você planejou, não é engraçado que não podemos mandar em nossos sentimentos? O que eu quero dizer é que mesmo que sejamos conscientes do que sentimos não há como mudar isso, apenas aceitar e se entregar. Foi o que eu fiz, decidi que não poderia mais correr na direção oposta.

Passei alguns meses enterrada no trabalho depois de terminar o noivado com Ryan que ,aliás, ficou arrasado mesmo sabendo que algo entre nós estava diferente, no fundo ele sabia que o responsável era o Darren. Nunca pretendi magoar Ryan, esperava que ele não perdesse a fé no amor, porque ele merecia alguém melhor do que eu, alguém que pudesse retribuir o amor que ele merecia. Focar no trabalho funcionou no primeiro momento, porém não foi o suficiente para me distrair do que realmente queria.

 Meu assistente comprou a passagem para o Camboja, ela ficou guardada na minha gaveta, todos os dias eu a olhava buscando coragem, até que em uma noite sozinha no meu apartamento eu percebi o quanto minha vida se tornou um imenso vazio que não podia ser preenchido com trabalho. Arrumei as minhas malas com o essencial, liguei para a minha mãe a caminho do aeroporto, ela estava meio sonolenta e não levou muito a sério o que eu disse, mas na manhã seguinte ela iria perceber que a minha ligação não foi um sonho.

O avião estava preste a pousar após uma longa viagem, assim que foi possível sai da aeronave com o coração na mão, Bree havia avisado Darren que eu estava indo, não tive coragem de eu mesma ligar para ele, tive medo de a resposta ser negativa e eu realmente ter perdido a minha última chance. Contrariando as minhas expectativas Darren afirmou que me esperaria no aeroporto, fiquei tão nervosa com o nosso encontro, me senti uma adolescente indo atrás do seu primeiro amor, de repente eu não era mais uma adulta, e sim a mesma Summer de anos atrás completamente apaixonada pelo ultimo cara que ela imaginaria um dia gostar.

Tentei andar com calma, mesmo que minha vontade fosse correr em direção ao Darren, quanto mais perto, mais rápido o meu coração batia, estava suando pelas mãos, eu mal conseguia me controlar. Comecei a contar números em voz baixa, tentei recobrar a calma, mesmo que Darren tivesse concordado em me esperar no aeroporto, ainda não era um sinal de que ele havia perdoado o ter o deixado esperando.

Meu peito se afundou quando vi uma moça com feições orientais segurando uma placa com o meu nome, não era Darren quem em esperava e sim outra pessoa que eu sequer sabia quem era, por um momento temi que tivesse sido trocada, que aquela fosse uma vingança silenciosa para esfregar na minha cara que para Darren as coisas haviam progredido. A moça se aproximou com um sorriso, seu sotaque era carregado, mas consegui entender o que ela dizia, ela se chamava Sisowath e que Darren estava ocupado na construção da escola comunitária e não poderia deixar seu cargo, por isso ela estava lá para me levar até onde eu o encontraria. Respirei aliviada, não era a nova namorada do meu amado e sim uma das voluntárias na construção da nova escola.

Sisowath me contou muitas coisas sobre sua vida, em alguns momentos que não conseguia entender tudo que ela dizia, parte por causa de seu sotaque, mas principalmente por ela misturar palavras do seu idioma no meio das frases, eu apenas ria quando ela o fazia, assim não pareceria que eu não estava prestando atenção. O nome da minha guia era inspirado em umas rainhas do Camboja, ela não pertencia a vila onde a escola estava sendo construída, mas acompanhava os voluntários pelo Camboja com o proposito de ajudar a melhorar a educação no país, fiquei admirada com o trabalho feito por aquelas pessoas.

Levou algum tempo até chegarmos ao nosso destino, uma vila com casas feitas de madeira, algumas crianças vieram receber Sisowath e me encararam com curiosidade, uma delas apontou para mim e disse algo para Sisowath, ela riu e respondeu no mesmo idioma, as crianças riram também e saíram correndo. Olhei para a moça esperando que ela me explicasse o que estava acontecendo, Sisowath respondeu que as crianças queriam saber quem eu era e ela respondeu que eu era a namorada de Darren, fiquei encabulada por ter sido apresentada como namorada. Fui guiada até o local onde Darren estava. Meu coração começou a bater forte novamente, eu nunca acostumava, tinha a impressão que em cinquenta anos ele ainda dispararia só com a menção do nome dele.

Chegamos até o lugar onde tendas estavam levantadas em volta da estrutura em construção, vi Darren rodeado por mais algumas pessoas, ele estava de costas, mas logo o reconheci. Sisowath gritou algo no seu idioma e Darren se virou sorrindo e respondeu fazendo uma careta, quando nossos olhos se encontraram posso jurar que vi faíscas no ar, seu sorriso aumentou alguns décimos, eu estava sorrindo também como idiota. Contive o impulso de correr até ele como uma adolescente, andei ao lado de Sisowath como uma pessoa normal.

As pessoas que estavam com Darren se dispersaram e minha guia disse que precisava buscar mais água.

— Alguns meses de atraso, mas aqui está você. Sabia que não aguentaria muito tempo. – O sorriso sacana brotou imediatamente naqueles lábios que eu sonhei durante a viagem toda.

— Na verdade eu só vim ...

Minha frase foi interrompida por um beijo, os lábios de Darren começaram gentis, mas eu havia esperado tempo demais por ele, agarrei sua nuca e aprofundei o beijo, nossos corpos poderiam virar um só que ainda não seria junto o suficiente para mim. Darren passou as mãos pela minha cintura, nossa química era inegável. Um grupo de crianças e adolescentes passaram rindo e gritando pela gente, Darren parou de me beijar, mas não me soltou.

— Estamos sendo um pouco inapropriados demais. – Fingiu me repreender. Enterrei o meu rosto corado em seu peito, ele estava ainda mais alto do que era quando adolescente. – Senti sua falta, mas do que posso colocar em palavras.

— Sinto muito, eu não podia ir com você aquele dia, não estava preparada.

— Entendo. Pelo menos viu que não poderia viver mais sem mim, o que sempre foi bem óbvio.

Dei um tapa leve em seu braço.

— Não seja convencido. – Darren beijou minha testa. – Fiquei com medo de que fosse tarde demais. Achei que Sisowath fosse sua namorada nova.

Darren gargalhou, a ideia de que sua amiga fosse uma namorada o divertia.

— Seria cruel mandar minha namorada ir buscar você, não seria?

Apenas emiti um som baixo de concordância.

— Sisowath é uma boa amiga, eu não poderia sair antes de ajudar a terminar o telhado, então ela se ofereceu para ir buscar você. Espero que ela não tenha feito um monologo, aquela ali pode ser bem tagarela quando fica animada.

— Tudo bem, eu não entendi metade do que ela disse.

Darren riu de novo.

— Com tempo você se acostuma.

Darren me levou para conhecer a vila, todos eram tão gentis e acolhedores. Aos poucos fui apresentada para os voluntários que estavam ajudando na construção, todos de lugares diferentes, Rússia, França, Argentina, Japão, Austrália e Canadá, fora aqueles que eram do Camboja, percebi o quanto o trabalho deles era maravilhoso quando vi a antiga escola que mais parecia um barraco abandonado, aquelas crianças teriam uma chance de ter um bom lugar para aprender. Darren havia mudado tanto, crescido durante as viagens que fez, eu que não dei a chance de ele me mostrar sua evolução como ser humano, ali no meio de tantas pessoas que faziam alguma diferença vi o quanto o meu trabalho não era tão importante, então pedi a Sisowath que me deixasse ser uma voluntária também, eu iria ajudar na alimentação dos trabalhadores.

Participei do jantar junto com todos os voluntários e trabalhadores, foi animado e barulhento, Darren era admirado por todos, os seus amigos me contaram sobre aventuras que viveram juntos, os voluntários estrangeiros haviam sido recrutados por Darren assim que o projeto de construção de escolas apareceu. Depois do jantar todos se recolheram para suas tendas, o dia começava assim que o sol nascia. Darren me levou para a tenda que pertencia a ele e o cara que viera do Canadá, mas Sean cedeu seu lugar para mim e foi dormir com os rapazes da Argentina, Morales e Antonio.

Sentei na cama improvisada de Darren que nada se assemelhava com a que ele tinha na mansão Ferris.

— Como você se acostumou com essa vida? Digo, sair do conforto para uma tenda improvisada.

— Já dormi em lugares piores, essa tenta é um palácio para mim. Se você preferir pode ficar em um hotel na cidade. – Darren tirou a camisa na minha frente, fiquei sem saber para onde olhar, os músculos das costas dele se contraíram, idiota, ele sabia que eu estava observando. – Pare de comer com os olhos Morrison. – Disse se cobrindo com outra camiseta mais limpa.

— Meu Deus, você não muda! – Revirei os olhos.

Darren jogou a camisa sobre a outra cama e se aproximou, senti o meu rosto corar. Ele me puxou pelos braços me colocando de pé, o seu calor me envolveu, Darren poderia estar diferente de várias maneiras, mas o efeito dele sobre mim ainda era o mesmo. Com sua mão colocou a minha sobre seu coração, senti sua pulsação rápida, a respiração ofegante, seus olhos estavam escuros e famintos.

Dessa vez foi Darren quem me beijou de forma voraz, suas mãos passavam pelo meu corpo deliberadamente, agarrei seu pescoço e o trouxe para mais perto, ele puxou uma das minhas pernas para envolver a sua cintura. Darren literalmente rasgou a minha blusa em um único puxão, voltamos a nos beijar enquanto o número de roupas diminuía, me entreguei de corpo e alma a única pessoa que poderia me fazer transbordar, porque Darren não me completava, ele fazia eu transbordar.

Não havia ninguém para nos censurar, Darren me deitou na sua cama improvisada que rangeu em protesto, rimos baixinho juntos. Não era a minha primeira vez, mas era a primeira com o homem que eu amava de verdade. Eu finalmente me deixei levar pelo destino, estava cumprindo aquilo que estava escrito para mim, e sinceramente, amava a forma como as coisas estavam indo, era a escolha certa.

Darren acariciou meus cabelos os enrolando entre os dedos enquanto eu contornava com os dedos o seu peitoral definido, ela havia se tornado um homem forte. Seu rosto guardava pouco dos traços suaves, seu queixo agora era mais anguloso, a barba por fazer tirava o traço juvenil. 

— Gosta do que vê? – Sua voz saiu rouca e baixa, estava quase dormindo.

— Mais do que você imagina.

Darren riu, seu peito subiu e desceu algumas vezes.

— Você é ainda mais linda do que eu me lembrava. - Levantei o rosto para olhar para ele, estava meio escuro, mas ainda conseguia ver sua silhueta. – A primeira vez que te vi fiquei tão confuso, queria te odiar por causa da união da sua mãe com meu pai, e ao mesmo tempo só conseguia pensar em como você era o ser mais maravilhoso que eu já havia visto.

— Eu te achava arrogante, um arrogante bem bonito.

— Os anos que fiquei longe de você foram tão difíceis, pensei várias vezes em voltar correndo para seus braços, desistia toda vez que Bree me dizia que você estava bem e feliz.

— Falsa felicidade, eu só posso ser feliz onde você estiver também. Nunca mais te deixarei partir.

— Nem eu pretendo ir a lugar nenhum sem você.

Seus braços me envolveram com mais força.

— Eu te amo Summer Morrison.

— Eu também te amo Darren Ferris.

— fim -