Atração Implacável escrita por Lia Pallomare


Capítulo 1
Ultrapassando Limites




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Peguei o horário de aulas e voltei para o meu apartamento, que por sorte estaria vazio aquela hora da tarde. Andei pelo campus da faculdade até chegar ao estacionamento e por faltarem só dois dias para o inicio das aulas, o lugar estava cheio de calouros e pais nervosos por deixarem seus filhos morarem sozinhos. Um ano atrás, imagino ter entrado naquele dormitório pequeno com a mesma expressão que essas pessoas estão. Animados e completamente apavorados.

Liguei o carro de Dakota e dirigi por dez minutos até chegar ao prédio. Não encontrei o carro de nenhuma das garotas, portanto estacionei na vaga mais afastada, como Dakota havia me pedido. Subi os três lances de escadas e quando encontrei a porta do apartamento destrancada, meu estômago revirou.

Ao entrar no meu quarto, a raiva tomou conta do meu corpo e rezei como jamais havia feito em toda a minha vida, para aquilo não passar de uma miragem, mas eu sabia que não teria essa sorte. Respirei fundo e comecei a arrumar uma montanha de roupa suja do lado do quarto da Dakota, enquanto me esforçava para ignorar o intruso sentado na minha cama.

— Como está sua tentativa de me ignorar? — Matt perguntou depois que terminei de guardar as roupas e comecei a arrumar o guarda-roupa.

— Estava ótima até você abrir a boca — bufei — O que você quer aqui?

— Pensei em vir aqui conversar com você. Achei que você já estivesse menos irritada.

— Pensou errado — retruquei — Faz duas semanas que eu estou sempre irritada e tenho certeza que vou continuar assim por muito mais tempo.

Matt ficou em silêncio por algum tempo mexendo em um fio solto da minha coberta. Ele ainda parecia o mesmo de sempre: cabelo raspado, barba por fazer, olhos negros e a pele pálida, mas já não parecia o Matt que eu havia namorado por seis meses. Ele tinha sofrido uma mudança sutil e quase imperceptível, mas eu sabia que estava ali. Bem ao lado das mentiras que havia contado duas semanas atrás.

— Docinho... — sua voz saiu num sussurro e meu rosto queimou de raiva.

— Não começa com isso agora.

— Não seja tão... — ele começou a falar, mas eu o cortei.

— Tão o que?! — gritei e joguei um punhado de roupas em cima dele — Difícil? Inflexível? Desagradável?

Ele deu de ombros, como se não se importasse, e andou na minha direção. Balancei a cabeça em negativa e o encarei, furiosa. Meu rosto estava péssimo, tenho certeza disso e quando ele se aproximou ainda mais, eu recuei.

— Eu te devo uma explicação — seu rosto era uma máscara perfeita para os seus sentimentos, se é que ele era capaz de sentir algo.

— Você não me deve nada — cruzei os braços — E mesmo que devesse, é meio tarde para isso. Eu não quero ouvir uma desculpa esfarrapada ou pior ainda, ouvir você tentar se fazer de vítima. Minha paciência com você acabou.

— Eu te amo — ele gritou mais alto que eu.

Aquilo não era uma declaração de amor, eu sabia. Era uma tentativa de me fazer calar a boca e voltar rastejando para ele. Talvez em outra época eu acreditasse em suas palavras, mas agora sinto repulsa e até mesmo medo dele.

— Ama droga nenhuma! — uma gargalhada horrenda saiu da minha garganta, mas eu não tentei contê-la — Não faz essa cara de cachorrinho, eu não vou cair na sua conversa de novo. Eu desperdicei seis meses da minha vida com você e o que eu recebi em troca? Encontrar você com a primeira criatura de saia que apareceu na sua frente! Espera, teve mais, não é verdade? Você me ameaçou quantas vezes mesmo? Quatro? Cinco?

Senti uma lágrima percorrer meu rosto e isso me deixou ainda mais irritada. Pensei que ele fosse a pessoa certa quando o conheci, mas quanto mais tempo passava ao seu lado, mais eu percebia que era uma ilusão. Por fora Matt era um sonho: bonito, divertido e atencioso; mas no fundo, ele não passava de uma pessoa egocêntrica e perversa.

Nunca cheguei a amá-lo, mas pensei que fosse capaz de me apaixonar por ele ou pelo menos ajudá-lo. Esse foi o meu erro.

Sai do quarto batendo os pés e abri a porta de entrada. Matt apareceu no corredor e ficou me encarando, levemente confuso, mas também havia uma centelha de diversão em seus olhos.

— Se você não quer sair, eu saio — forcei minha voz a sair firme — Mas se você estiver aqui quando eu voltar, eu juro que você vai se arrepender de ter cruzado o meu caminho!

Fechei a porta com mais força que o necessário e desci até o estacionamento, onde encontrei Erick saindo do carro. Ele estava com aquele sorriso estampado no rosto que contagiaria a pessoa mais carrancuda do mundo. Andei até seu carro e sorri.

— E ai? — ele olhou pela janela e só então vi o carro de Matt estacionado do outro lado da rua — Dia ruim?

— Preciso de uma bebida.

— Hoje é seu dia de sorte — ele piscou de um jeito encantador — Jordan acabou de mandar mensagem me pedindo para ir ao bar.

O bar que Jordan havia escolhido era o meu favorito e provavelmente um dos melhores da cidade, portanto estava lotado. Erick apontou para a mesa onde seu amigo estava sentado e me mandou ir para lá enquanto ele pegava as bebidas.

Três dos caras sentados eram completos estranhos e quando me sentei à mesa, senti o clima pesado. Os olhos de todos se cravaram em mim e tentei ignorar o nó que estava se formando no meu estômago. Nunca me importei em chamar a atenção, mas não gostava de chamar a atenção deles em particular.

— Roupa bonita — Jordan murmurou.

— Obrigada — forcei-me a sorrir para ele.

Ele fez um aceno de cabeça e os três grandalhões saíram da mesa, sem nem olharem para trás.

— Seus amigos? — estreitei os olhos e ele deu de ombros.

— Não gosto deles, mas isso não os impede de me perseguir.

— Sua bebida senhorita — Erick cantarolou ao sentar-se à mesa.

Duas bebidas foram colocadas na mesa, um uísque e um cosmopolitan. Semisserrei os olhos e tentei pegar o uísque, mas Erick é mais rápido que eu e dá uma risada calorosa.

Erick é simplesmente a pessoa mais doce que eu conheci desde que mudei de cidade. Tudo nele transmite confiança e dedicação. As tatuagens que sobem pelo seu pescoço não combinam com sua personalidade, mas o deixam mais atraente. Ele foi a salvação do meu primeiro dia de aula, quando eu estava completamente perdida e desde então se tornou meu melhor amigo.

— Eu não pedi essa bebida — resmunguei.

— Você sempre bebeu isso — Erick deu de ombros — O que aconteceu?

— Matt aconteceu — dei um gole no cosmopolitan — Ele decidiu me perseguir. De novo.

— O-ho — Jordan me encarou, divertido — Problemas no paraíso?

Fiquei em silêncio por alguns instantes e Erick fechou a cara na mesma hora. Se ele percebeu que estava tocando em um assunto delicado, não se importou. Esse era o típico comportamento de Jordan: não se importar muito com nada. Até sua aparência era despojada e ainda assim ele era lindo.

— Meu relacionamento com ele nunca chegou nem perto do paraíso — passei o dado na borda do copo de uísque e evitei encará-lo — Não que isso seja da sua conta.

— A rainha do gelo virou um iceberg de vez.

Bebi o resto da bebida que estava no meu copo e levantei da mesa. Senti seus olhos cravados em mim enquanto pegava outra bebida. Voltei para a mesa e logo em seguida Erick saiu, dizendo que precisava encontrar Wendy em uma festa qualquer.

Jordan se ofereceu para me levar para a festa e assim que estacionou o carro eu me virei para olhá-lo. Se a festa seria nessa casa, eu precisava de outra roupa.

— Me leva pra casa?

— Pra que? — ele pareceu confuso.

— O Matt provavelmente vai estar nessa festa e eu não posso entrar desse jeito.

— Vocês mulheres são loucas — mesmo resmungando, a chave foi girada e entramos na avenida que levava para o meu apartamento.

Subi correndo as escadas enquanto Jordan esperava no carro. Revirei meu guarda-roupa até encontrar um vestido preto curto com um decote que valorizava meu corpo. Coloquei um salto alto e desci. Quando Jordan me olhou, os cantos da sua boca subiram e ele assobiou.

Entrei na festa e fui direto para a cozinha pegar uma bebida. No meio do caminho Matt tentou me segurar pelo braço, mas consegui desviar de seu toque insuportavelmente familiar. Zack já estava distribuindo bebidas para as garotas que faziam beicinho para ele.

Fiquei escorada na pia até todas as garotas estarem com uma bebida na mão e voltarem para a sala. Zack deu seu melhor sorriso sacana ao me abraçar e mordiscar o lóbulo da minha orelha, me fazendo dar uma risadinha. Ele encheu um copo vermelho com cerveja, mas antes de me entregar ergueu a sobrancelha.

— Um beijo por uma bebida.

— Vê se não começa Zack — ele fez um bico e beijou meu rosto.

— A culpa não é minha se você mexe comigo — sua voz era suave, sedutora e tenho quase certeza que também era treinada. Imagino que tenha usado esse mesmo tom para levar outras tantas garotas para a cama.

— Eu e todas as outras.

— Mulheres são meu ponto fraco, mas você é um caso à parte.

Ele sorriu e me entregou a bebida. Acabei ficando ao seu lado a maior parte da noite e toda vez que ele notava meu copo vazio, enchia-o novamente. Por conta da alta quantidade de álcool no meu sangue, comecei a encará-lo da mesma forma que todas as garotas o viam: sedutor demais para se falar não. Logo ele aproveitou a oportunidade e me levou para o meio da sala, onde as pessoas estavam dançando.

Suas mãos agarraram a minha cintura e então grudou sua pélvis na minha. Seus olhos azuis estavam fixos na minha boca; não demorou muito para ele começar a me provocar. Quando sua boca roçou a minha, eu fechei aos olhos e me entreguei à sensação quente e confortável que ele me passava. Esse simples sinal, foi o suficiente para nossas bocas se tocarem por completo. Ele tinha gosto de cerveja e algo um pouco doce.

A musica pareceu parar quando meus lábios se afastaram dos dele e notei um par de olhos furiosos me encarando. Minha intenção não era fazer uma cena, mas eu conhecia Matt bem o suficiente para esperar outra coisa.

— Que merda é essa Jenn? — Matt gritou.

— O que você acha que é? — gritei ainda mais alto — Nunca viu ninguém se beijar?

— Jenn — ele olhou em volta, para todos que estavam nos olhando.

— Porque você não vai pra casa?

— Essa é a minha casa! — ele chutou um sofá — Mais que merda Jennifer.

—Então vai pro seu quarto — esbravejei — Tem dúzias de garotas desesperadas por aqui que não vão pensar duas vezes antes de irem para a cama com você!

Seu rosto estava vermelho e por um momento, pensei que ele fosse subir as escadas e desaparecer da minha frente, mas o que ele fez foi se aproximar do meu rosto.

— Cansei de você Jennifer — ele sussurrou — É melhor você se colocar no seu devido lugar.

— Ficou ofendido com o que? — zombei — Não gostou do que viu ou ficou bravo por não ser você no lugar do Zack? Acho que você ficou bravo por eu não ter corrido atrás de você depois da sua demonstração fajuta de amor hoje...

Sua mão tocou meu rosto com tanta rapidez e força que ninguém teve tempo de segurá-lo. O som agudo da sua mão acertando meu rosto pareceu parar a sala inteira e todos ficaram encarando Matt enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. Eu não me importava com a dor, mas a raiva era insuportável.

Matt também pareceu surpreso com sua reação e isso me deixou ainda mais furiosa. Sequei meu rosto e tentei ir para cima dele, mas braços fortes envolveram minha cintura e me tiraram do chão. Ninguém disse nada quando ele recuou e começou a ir em direção à escada, mas assim que pisou no primeiro andar, um soco o fez recuar.

Demorou um pouco, mas depois vieram outros socos e antes que pudessem segurar Jordan, ele já havia derrubado Matt no chão e acertado dois ou três pontapés em seu estomago. Quando Matt vomitou sangue, os braços que me seguravam se afrouxaram e sai correndo atrás de Jordan que passava enfurecido pela porta.

— Ei — gritei antes que Jordan entrasse no carro — Me espera!

— O que você quer Jenn? — sua respiração estava rápida e seus olhos estavam sem foco.

— Obrigada — sussurrei me sentindo uma criança indefesa — Por bater nele. Não esperava isso de você.

— Brigamos o tempo todo, mas isso não significa que quero que um idiota qualquer encoste a mão em você — ele andou na minha direção e tocou meu rosto — Posso ser muitas coisas, mas não sou um monstro e não vou deixar ninguém te machucar.

— Você pode me levar pra casa? — senti as lágrimas se acumularem nos olhos e me obriguei a não chorar na frente dele.

— Entra.


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