Cedo demais, Jason obriga-se a levantar. Não é uma viagem de férias, afinal. Tem uma missão a cumprir. Um propósito que, uma vez completo, Jason dever retornar ao Acampamento Júpiter.

Permite-se suspirar e deixar os ombros caírem. Está cansado — mais cansado do que gostaria de admitir. Quer jogar a toalha, desistir, derrubar a espada e dizer que chega. Chega de mais pesadelos, mais monstros, mais fantasmas pra enfrentar.

Chega de fingir que ainda é forte quando tudo que ele quer é se esconder e não precisar mais lutar — nunca mais. Mas ele sabe que ainda há pessoas contando com ele, e isso é o que faz com que deixe o chalé, disposto a mentir só mais um pouco.

A fachada cai por terra quando seus olhos encontram a figura de Nico o esperando do lado de fora.

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— Nico… O que faz aqui?

— Nós precisamos conversar.

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Nico não grita. Não se exalta. Não se demonstra e não se mostra. Ele é um quadro em branco que Jason não sabe como interpretar — mas que lá no fundo gosta de acreditar que o filho de Hades se importa.

Ele parece se importar, às vezes. Quando cruza os braços dessa forma, e franze o cenho, e olha para Jason como se não tivesse certeza de querer socá-lo ou abraçá-lo. Provavelmente os dois.

E não é que Jason não tenha esperado decepcionar ninguém — os deuses bem sabem que ele o tem feito com frequência —, mas ele nunca pensou que teria que viver com a decepção de Nico também. Nico, que nunca pareceu esperar nada dele. Nico, que nunca sequer pareceu confiar nele.

Nico — que tinha olhos de carvão em brasa que agora estão reduzidos a poços de águas escuras.

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— Não venha com essa baboseira de “estou bem” pra cima de mim, filho de Júpiter. Nós dois sabemos que isso não é verdade.

— Eu… Eu não tenho certeza de saber o que é verdade mais, Nico.

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Sorrisos. Sorrisos sempre deixavam outras pessoas confortáveis o bastante para deixar o assunto de lado.

Jason deveria saber que Nico acreditava em sorrisos tanto quanto acreditava em promessas.

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— Besteira. Você sabe exatamente o que está passando pela sua cabeça. O que está te fazendo mal. Desembucha.

—… O que você está fazendo aqui, Nico? Pensei que não fosse mais voltar.

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Isso parece fazer — há uma faísca, ou uma chama, Jason não sabe dizer ao certo, que parece se acender nos olhos dele. Ele não sabe se é ódio, se conseguiu cavar e cutucar o suficiente para que Nico decidisse abandoná-lo de vez, ou se o garoto simplesmente se diverte em ver Jason tentar fingir ignorância.

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— É Piper, não é? É a memória que está te assombrando.

— Não… Não fale dela desse jeito.

— Você sabe que ela não gostaria que você sofresse.

— Você não sabe nada.

— Ah, não sei?

— Não! Você não estava aqui! Nunca esteve! Eu… Confiei em você. Acreditei em você. Esperei você! Você nunca voltou, nunca me ajudou, você me deixou quebrar e me assistiu cair aos pedaços sem tentar fazer nada para impedir!

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Mais uma vez, Jason se sente fragmentar — a sinceridade, honestidade, somente servindo para que ele se sinta mais vazio, mais ferido, uma casca do Jason que ele costumava ser.

Diga-me, Nico: valeu a pena deixar tudo para trás?

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— Sim. Eu precisava encontrar a paz, Jason. Não podia, e não posso, te ajudar se eu mesmo não consigo me manter em pé sozinho. Não é que eu não me importasse. Só não queria adicionar peso algum em seus ombros.

— Você sabia que eu sofreria.

— Não. Achei… Achei que não se importasse. Sabia que confiava em mim, mas você não precisa se importar com alguém para acreditar que essa pessoa não vai te deixar morrer. Mas… Meus motivos não importam agora, Jason. O que está feito está feito. Me arrepender não vai mudar as coisas, embora não signifique que eu não estou arrependido. Eu só quero te ajudar a seguir em frente.

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Sob as folhas escuras e os olhos do filho do deus dos mortos, Jason se deixa levar pela falsa sensação de segurança.

E se eu não quiser superar?

Os olhos de Nico parecem sorrir.

Então nós encontraremos outra maneira.