O Instituto Olavo Silvério possuía a fama de um dos melhores e mais conceituados colégios de todo o país. As famílias mais importantes tinham a tradição de sempre enviar seus filhos para se formarem lá. Por ser um internato a grande maioria crescia longe da família, com bastante foco na formação acadêmica.

O ano letivo havia entrado em recesso e alguns alunos se reuniram para os planos de férias escolares. Normalmente os alunos iam para casa ficar com suas famílias, ou viajar, mas a escola sempre fazia questão de oferecer uma opção para aqueles que fossem ficar. Este ano eles iriam se hospedar por três semanas em um castelo no interior, o castelo normalmente não era aberto a visitas, porém o diretor havia conseguido o privilégio, como ele mesmo dissera no comunicado aos alunos, de serem recebidos por três semanas pela família proprietária.

“Querida sentimos muito por isso.” A voz de Luiza tentou soar triste.

“Tudo bem mãe. A gente se vê no próximo feriado.” A garota respondeu desanimada.

“Claro minha querida. Mamãe vai planejar uma linda viagem em família. Acho que seu irmão também virá, e vamos ser uma linda família nos Alpes franceses, que tal?”

“Tudo bem...” Ela respirou fundo, a frustração latente.

“Vou desligar querida, nos veremos em breve, garanto que não vai demorar. Mamãe ama você. Beijos e aproveite as férias.”

“Também amo você.” Ela desligou o telefone.

−Dá pra acreditar nisso? Meus pais estão no Rio de Janeiro. Estão viajando o Brasil inteiro enquanto meu pai fecha negócio com os sócios, e mais uma vez vou ter que ficar aqui porque eles estão ocupados demais para ficarem comigo. − Elena era bastante bonita, com seus cabelos claros, olhos em tons de mel e um sorriso encantador. Não era nenhuma miss simpatia, na verdade costumava ser bastante chata normalmente. Filha de pais que viviam ocupados tratando de negócios era um milagre que ainda fosse uma boa pessoa.

−Lena relaxa você não é a única. Meus pais também me trocaram por negócios. A gente fica preso aqui, enquanto eles fingem lá fora que a gente não existe. Isso deve ser um mal de família, inacreditável. − Renato abraçava os ombros da prima enquanto ela continuava irritada e eles caminhavam pelo corredor da direção.

Renato era um garoto alto e magrelo, os cabelos loiros viviam espetados. Ele não era o mais popular ou bonito, porém seu senso de humor era capaz de alegrar a qualquer um que tentasse ficar triste. Renato Avelar, filho do Governador. Só Deus sabe o quanto ele odiava ser conhecido por causa de seu pai, pior era quando precisava ouvir acusações de corrupção contra o governo de seu pai, como se o pobre fosse culpado pelos atos do próprio pai.

−Renato, isso é um saco! –A garota irritada socou o ar.

−Olha só, a gente vai pra esse castelo mal assombrado e vai tocar o terror, e vai se divertir muito, beleza?

−Mal assombrado?− Ela perguntou rindo.

−Me diz aí quando foi que você ouviu falar de um castelo que não fosse mal assombrado?

−Hogwarts?!

−Hogwarts é cheia de fantasmas! Se você visse pelo menos os filmes saberia.

−Não tenho paciência pra isso. Não sei como você gosta. Mas enfim, duvido que essas férias sejam boas.

−Vai me dizer que o Lucas vai pra casa dos pais?

−Óbvio. Diferente de nós a família dele é normal e gosta de ter o filho o máximo possível.

−Você devia terminar com ele, o cara é um otário.

−Xiu! Nem vamos começar essa conversa...

−Ok, você quem sabe. Olha só, eu vou para o dormitório, tenho que arrumar minhas coisas pra amanhã.

−É o jeito.

−Castelo assombrado priminha – Ele ria enquanto se afastava da garota.

Elena caminhava pelo jardim da escola, o Instituto era uma instalação enorme, abrigava prédios com salas de aula, prédios com dormitórios femininos e masculinos, quadras esportivas, piscinas, auditório, academia, biblioteca, laboratórios, refeitório, um salão especial para eventos, e enormes jardins que cercavam toda a propriedade. Para ter todo esse espaço físico disponível, eles ficavam um pouco afastados do centro da cidade. A garota caminhou alguns minutos tentando esquecer que mais uma vez havia sido abandonada pela família quando ela avistou um garoto vindo em sua direção, ele não trajava o costumeiro uniforme azul marinho, estava vestido socialmente. Os cabelos negros lhe caiam sobre os olhos, e a camisa marcava perfeitamente o contorno dos músculos que havia ganhado com a prática da natação.

−Te procurei por toda parte. – Ele disse se aproximando dela lhe lançando um sorriso.

−Lucas não me diz que já está indo embora?! – Ela o abraçou afundando o rosto no peito do garoto.

−Queria me despedir antes que chegassem.

−Vou passar as férias com o pessoal, meus pais não virão me buscar.

−Sinto muito Lena, tem certeza que não quer vir comigo?−Ele perguntava levantando o rosto da garota para encara-la.

−Sim, é melhor você curtir sua família, seus pais estão ansiosos para leva-lo a todas as festas e exibi-lo como o futuro campeão da natação. – Eles riram da impossibilidade daquilo, Lucas apesar de adorar o esporte não tinha vontade alguma de seguir carreira, pretendia ser cirurgião e assumir o lugar do pai na sociedade da clínica que a família possuía.

−Eu vou sentir saudades, muita. − Ele sussurrou aproximando seus lábios ao dela e se afastando em seguida. – Tenho uma surpresa pra você quando eu voltar.

−Surpresa? O que é?

−É surpresa, não posso contar.

−Não acredito que vai fazer isso. − Ela se afastou dele indignada.

−É surpresa meu amor, não posso contar. − Disse rindo.

−Que droga Lucas! Não se conta a alguém que você vai fazer uma surpresa, ainda mais se a pessoa for ansiosa como eu. Eu vou pirar se tiver que esperar três semanas pra saber!

−Calma!

−Meu Deus?! Como vou ficar calma, isso é demais para a minha ansiedade! Por favor, me conta o que é!− Ela pediu fazendo cara de cachorro quando cai da mudança.

−Não mesmo, vamos fazer um acordo. Quando essas férias acabarem, eu vou te fazer a melhor surpresa da sua vida e então você vai me perdoar por deixa-la tão ansiosa durante esse tempo. O que acha?

−Não acho justo, porém eu não tenho escolha, não é mesmo?

−Nenhuma. – Ele sorriu de lado, levando os lábios ao encontro do pescoço dela. –Eu vou sentir falta do seu perfume. –Disse por fim afundando o rosto nos cabelos castanhos que exalavam o perfume adocicado já tão conhecido por ele.

−Promete que vai pensar em mim?

−Todos os dias, todas as horas, sempre e sempre.

E assim eles aproveitaram seus últimos minutos, até que Lucas precisou se despedir e ir encontrar seus pais.