Tudo Novo de Novo escrita por BloodyMah


Capítulo 4
Capítulo 4 - Desentendimentos


Notas iniciais do capítulo

Oláa pessoas bonitas!!

Tive alguns contratempos aqui (também conhecidos como falta de inspiração) e atrasei um pouquinho a postagem do cap. Ah, mas foi um dia só, vcs me perdoam né?? ;)

Playlist:

1.Epa, o Todo Poderoso - Tim Rescala
2. A Chegada - Tim Rescala
3. Charlotte Mittnacht - Devotchka
4. El Zopilote Mojado - Devotchka
5. This Place is Haunted - Devotchka

Esse é mais um capitulo de transição (como diria a Lari), então não vai acontecer MUITA coisa... Mesmo assim, boa leitura!!



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[Epa, o Todo Poderoso - Tim Rescala]


– Ocê só pode tá ficando louco, Ferdinando - disse o Coronel, ficando de pé em frente ao filho, que enfrentava ele da pior maneira.
– Nunca estive tão bem! - Nando também de levantou.

Cada conversa deles era assim, uma guerra. Era quase impossível pai e filho concordarem em alguma coisa. Epaminondas apenas esperava que, como Ferdinando não fez a faculdade "correta", ao menos seguisse a carreira política.

– Nandinho, se ocê tá dizendo isso por causa do discurso, saiba que ieu fiz aquilo pro seu póprio bem - o pai dizia, mudando a estratégia.

O filho já ameaçara desistir da candidatura outras vezes e, depois de dizer o que ele queria ouvir, ficava tudo bem.

– Pro meu bem?! - perguntou Nando, incrédulo.
– Craro. Aquelas coisa que ocê escreveu era tudo umas besteira sem tamanho - ele andava pela sala, enquanto Nando permanecia imóvel - Ninguém nessa vila ia votar n'ocê...
– Por isso mesmo, meu pai - respondeu - Se não for pra ser o candidato que eu quero, eu não sou candidato nenhum.

Pai e filho se encararam. O menino falava sério dessa vez, o Coronel sabia disso, o que deixou-o ainda mais bravo.

– Depois de tudo o que ieu fiz procê? - recomeçou Epaminondas, mudando o tom da voz, retornando à rispidez - Todos os folhetos? Os planos? Os apoios?
– Eu nunca pedi nada disso! - ele seguiu o tom do pai, estufando o peito com coragem.
– E nunca negou! - esbravejou, entoando a voz pela casa inteira.
– Nunca neguei?! O senhor sabe muito bem que eu nunca quis ser candidato a coisa alguma! - dizia Nando, alterado - Quando o senhor recolheu os títulos de eleitor do povo, eu não disse nada?! Todas as ameaças que o senhor fez a qualquer um que não votasse em mim, eu não protestei?!
– Ieu num sei onde eu tava com a cabeça quando coloquei um engenheiro grônomo pra ser candidato - disse, depreciando o filho.
– Pois saiba que nem se eu tivesse feito direito, como o senhor queria, eu seria esse candidato que o senhor tanto deseja.

Por um momento tudo ficou em silêncio. Nando esperava que o pai o mandasse para fora de casa, de novo. Mas não, ele estava quieto. Aquela agonia era pior do que os gritos.

– Ocê nunca ia ser o candidato que ieu quero, porque num importa o que ocê estude, ocê num vai deixar de ser um covarde.

Ele era a segunda pessoa que dizia isso à Ferdinando. Estava cada vez mais nervoso e aquilo fora longe demais.

– Então me mostre o que é ser valente, meu pai. Saia o senhor como candidato a prefeito. Do contrário, o covarde vai ser o senhor!

Primeiro, Epaminondas ficou tão bravo que seu rosto estava vermelho e teve que se controlar para não estrangular o filho. Mas depois, pensou melhor, e viu que a ideia não era tão sem cabimento assim. Parece que, afinal, os dois estavam se entendendo.

**

[A Chegada - Tim Rescala]

O galo Bené mal cantara e os trabalhadores já estavam de pé, prontos para começar mais um dia. O cheiro de café saía de diversas casas, bem como o de pão recém preparado, para o café da manhã.

– Trabaiei, fiz mais do que pude. Espero que nunca me farte, não me farte saúde... - cantarolava Rodapé, ao lado da vaca Malhada, como fazia sempre
– Isdia, Roda - cumprimentou Zelão, entrando no celeiro.

Vinha marchando daquele jeito dele, com uma leiteira, que deu à Rodapé.

– Chegou cedo hoje, Zelão - disse o outro, pegando a leiteira e enchendo com o leite que já havia ordenhado - Caiu da cama?
– Ieu nem consegui dormir dereito - respondeu, sonhador.
– E o motivo seria o mermo que te deixou com esse sorriso de bobo? - brincou Rodapé, que não pode deixar de notar a expressão do amigo.

O outro sorriu ainda mais abertamente. Desde o dia anterior, lembrava da caminhada com a professora. Cada toque, cada olhar, cada palavra, Zelão gravou na memória, bem como todos os outros momentos com Juliana. Quando fechava os olhos, podia ouvir a voz dela em sua mente.

– É sim, Roda - ele confessou - É que ontem ieu vi a perfessora Juliana...
– Nem precisa continuar - ele riu - Só ocê pra achar que a perfessorinha vai dar bola procê.
– Cuma assim?
– Ué, ela é uma moça da capitar, formada, e ocê é um bronco... Num precisa de muita esperteza pra saber que isso num vai dá certo.

Zelão já estava acostumado com aquilo, afinal, era o que todos diziam. Mas ele não ligava, não depois de ver como ela o olhara, falara seu nome...

– Pois fique ocê sabendo que ieu num sô mais anarfabeto. O Lepe inté me imprestou um livro - ele disse, tirando o livro do colete - "As aventuras de Peter Pan" - disse, pausadamente - O perfessorzinho disse que quando ieu terminar, vô tá pronto pra escrever a carta de amor pra dona Juliana, com as minha póprias mão! E se ocê quer saber - diminuiu a voz, como se estivesse contando um segredo - ela merma pediu pra ieu acompanhar ela dispois da aula inté a casa do Pedro Farcão.
– Num credito! - e começou a rir.
– Porque é um besta! Ocê vai ver, mais cedo o mais tarde, nóis vamo de tá namorando! E me dá logo meu leite! - disse, estendendo a mão.
– Tá aqui - e entregou a leiteira ao outro - Ieu vou torcer pelo cê!

Zelão agradeceu com a cabeça, e foi para casa, onde a mãe e Lepe o esperavam com o leite.

**

[Charlotte Mittnacht - Devotchka]

No centro da vila o italiano Giácomo abria a venda, enquanto sua filha terminava de colocar a mesa do café. Gentilmente, o italiano, que tinha fama de avarento, ofereceu sua casa para que o doutor Renato fizesse suas refeições, e este não demoraria a chegar.

– Bom dia, seu Giácomo - cumprimentou o médico, se aproximando da venda.
– Buongiorno, doutor! - respondeu - Pode entrare.
– Com licença.

Renato era muito grato àquele homem. Desde que havia chegado na vila, Giácomo foi muito receptivo. Quando saiu da fazenda do Coronel, ele o convidou para ficar em sua casa, mas o doutor preferiu ir se hospedar na Cidade das Antas; quando o posto estava pronto, se prontificou que Renato iria comer com ele e a filha na venda, não aceitando recusas.

A mesa do café, e de todas as outras refeições, ficava na parte de trás da pequena loja. Milita, a filha de Giácomo, fazia o café, como todos os dias. Ela usava um vestido simples, cheio de flores, e os cabelos ruivos presos. Renato já havia visto fotos da mãe da moça, e elas eram igualmente bonitas.

– Bom dia, Milita - disse Renato.
– Bom dia, doutô.

Olhares foram trocados, mas nada além disso. Milita ainda era apaixonada por Viramundo, e ele só se "envolvera" com ela para tentar esquecer Juliana. Afinal, tinha conseguido, não sentia mais nada pela professora, além de amizade, bem como pela italiana a sua frente.

Milita pegou o café coado, colocou na mesa e sentou-se. O pai vinha chegando, com seus passinhos miúdos, e se juntou aos dois para o café. Por um momento, o único som que se ouvia era o do tilintar das colheres nas xícaras, e pratinhos, e facas. Mas, como o silêncio não era costumeiro, Renato começou:

– Seu Giácomo, eu nem consegui te falar, o senhor não acredita o que aconteceu ontem.
– Per mi diga!
– Estava eu no meu posto de saúde, como sempre. Eis que de repente, quem aparece na minha frente? A Mãe Benta!
– Io no creo! - disse, espantado.
– E ela veio com o assunto mais agradável - disse, mordendo uma fatia de pão - Disse que tinha muito apreço por mim, que não queria que meu posto fechasse, que é contra eu ir embora daqui da vila. Fiquei até embasbacado - disse, lembrando com carinho da adorável senhora.
– Embasbacado per que?
– Porque ela disse que gostaria de trabalhar comigo no posto!
– E o que ocê disse? - perguntou Milita.
– Que sim, é claro! Pois saiba que, apesar de tudo, eu a admiro muito. As coisas que ela sabe não se ensinam nas faculdades, é uma questão de experiência.
– A Mãe Benta é uma grande benzedeira - disse a garota, feliz pelos dois estarem se dando bem.
– Esse povo todo acredita muito naquela dona - completou o pai.
– De fato. Bom, espero que agora eu receba pacientes no meu posto - brincou Renato.
– Per io também tenho qualcosa pra te contar - lembrou-se Giácomo, baixando um pouco o tom da voz, ao que os outros se aproximaram para ouvir - Ontem io vi o Ferdinando indo pra estacione, con una ragazza... Diferente.
– Como assim diferente, seu Giácomo? - perguntou Renato, curioso.
– Io nunca tinha visto ela por cá...
– E como ela era, papá?
– Io non consegui vedere direito, estava longe. Ma vi que ela é jovem, de cabelos azuis...
– Curioso... O Nando vive me dizendo o quanto gosta da filha dos Falcão, e agora sai com uma moça misteriosa?

Os três continuaram o café, tentando descobrir quem era a tal garota, e o que ela fazia com Ferdinando. O dia estava apenas começando.

**

[El Zopilote Mojado - Devotchka]

– Ara, cadê todo mundo, sô? - perguntava Gina, descendo as escadas.

Com tudo o que acontecera no dia anterior com Ferdinando, ela ficou boa parte da noite acordada, e acabou perdendo a hora de levantar.

– Já saíram, fia - dizia dona Tê, vindo da cozinha - Seu pai e o Vira já foro pra roça...
– A Aisha também já levantou, é? - questionou, cortando a mãe, e se sentando na mesa para comer.
– Ih, faz tempo! Ela acorda cedo que nem nóis - disse, contente - Ela foi lá pra vila com a perfessora Juliana, pra conhecer o pessoar e começar aquele trabáio que ela falou.

Gina estava emburrada, mais do que de costume. Emburrada com o beijo, com Aisha, por ter perdido o horário e, principalmente, com Ferdinando, que era culpado por todos os anteriores.

Ela tomou seu café em silêncio. Tirou as coisas da mesa da sala e levou para a cozinha, e foi se arrumar para o trabalho.

– Gina, ocê faiz um favor prêu? - pediu dona Tê.
– Craro, mãe.
– Vai lá na venda do Giácomo, e me compra essas coisinha aqui? - e entregou à filha uma pequena lista de alimentos e uma bolsinha com o dinheiro.

Gina passou os olhos pela lista. Aparentemente não era muita coisa, então, se fosse logo, ainda poderia voltar e ir para a roça antes do almoço.

– Pode deixar, mãe. Ieu Já vorto - se despediu.

**

[This Place is Haunted - Devotchka]

– Ele começou a gritar pela casa, dizendo que aquilo não tinha cabimento - ele riu - Fez a maior cena. Mas depois, ele até que gostou da ideia. Ai, esse meu pai... - Nando suspirou, sorrindo.
– E agora está tudo bem entre vocês dois? - perguntou Aisha.
– Se por "bem" ocê diz "continuar morando naquela casa", então acho que sim. Pelo menos ele ainda não me disse o contrário. Ocê sabe como é o meu pai.
– Sei... Sei muito bem - ela disse, pensativa olhando para o nada.
– Até que nossa história é bem parecida, né? - lembrava Ferdinando - Não fazemos a faculdade que nossos pais queriam e, quando eles descobrem, nos botam pra fora de casa.
– Mas pelo menos o seu pai te perdoou.

Nando conhecia a história de Aisha e da conturbada família. O pai era tão duro quanto o dele, mas ainda pior. Esse era um dos motivos porque ele gostava de compartilhar os momentos dele e do pai com a amiga, pois ela era, de fato, a única que o entendia.

Ele estava exatamente indo para a casa de Pedro quando a viu, com a professora, na vila. Cumprimentou as duas e chamou Aisha para uma conversa. Sentaram em um banco, próximo a venda do italiano, e ele contou os acontecimentos da noite passada.

– Mas, quando eu terminei o curso, vocês estavam voltando a se falar... - disse ele, em tom de desculpas.
– Correção, estávamos tentando voltar a nos falar - agora, finalmente, ela olhava para o amigo - Depois de algumas semanas, tudo voltou ao zero. Meu pai não aceita as coisas que não sejam do jeito dele. Ele estava tentando me forçar a sair da faculdade. Percebi que não era tão ruim ficar sem falar com ele, afinal - ela olhou para o chão.

Nando sabia que ela mentia, não tanto para ele, mas para ela mesma. Aisha sempre gostara do pai, e devia estar sendo muito difícil para ela, depois de quatro anos, não falar com ele.

O engenheiro passou as mãos pelas costas e frente da garota, envolvendo-a num terno abraço.

– Sabe, eu nem sei porque eu ainda me sinto assim! - recomeçou ela, deixando algumas lágrimas teimosas caírem - Quando eu era pequena nós mal nos víamos, por causa do trabalho dele... Eu devia de ter me acostumado a isso.

Ferdinando não conseguia vê-la daquele modo: Aisha, sempre tão segura de sí, chorando em silêncio. Ele apertou ainda mais os braços em torno dela e deu um singelo beijo em sua testa, confortando-a.

A cena era adorável, a não ser para uma certa ruiva, marrenta, que apenas vira o engenheiro beijando Aisha e apoiando a cabeça em seu ombro. Mais alguém deveria ser confortada por causa de lágrimas.


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Notas finais do capítulo

Aii Gina.... Desculpa!!! Mas, eu prometo que vou te compensar no futuro!!!

Esse foi um pouco pra vocês não odiarem TANTO a Aisha... hehehehe

Senti falta de vocês nos comentários, então, por favor, deixem críticas, elogios, ideias, dicas, hino de futebol, declarações de amor... Enfim!

#Dica: Pra vocês que amam Ginando, uma amiga ( Amanda) está fazendo uma fic MARAVILHOSA, chama "Aos Olhos da Guerra". Se você ainda não leu, corre!!! Tá sensa!!!

Muuuuuitos beijos, e até o próximo cap!!



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