Por trás de Frozen escrita por TamirisJ


Capítulo 10
Capítulo 9 - ... Livre estou!


Notas iniciais do capítulo

Ooooolá, povo de Arendelle! Tudo bem com vocês? :D
Estou muuuito feliz em ter voltado! Depois de uma semana viajando, outra em provas e um fim de semana conturbado - só Jesus na causa -, aqui está o capítulo 9!
Sim, é esse mesmo que vocês estão pensando.
E eu trabalhei muito nele, então espero que curtam muito!
Uma ótima leitura! :D



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POV ELSA

“Elsa!”

Ouço Anna gritando por mim, como se estivesse ao meu lado, mesmo que eu saiba que ela já está muito longe. Não há como ela ultrapassar aquele lago congelado sem o equipamento apropriado, então sei que ela não me alcançará.

Mas eu preciso correr. Preciso correr para parar de pensar, para ficar o mais longe possível daquele lugar.

Eu já não aguento mais correr, mas preciso. A cada respiração meu peito queima e dói, e minhas pernas estão tão doloridas que, se parasse por um segundo, era capaz de eu desmaiar de exaustão. A capa torna a corrida ainda mais difícil, mas eu não a tiro porque essa dor física é o que me impede de pensar apropriadamente, exatamente que preciso.

Correr, correr, correr.

“Devolva minha luva!”

Tropeço em algumas pedras que se encontram no caminho, e eu fecho os olhos porque não aguento mais ver que tudo o que é verde e colorido a minha frente transforma-se em branco e gelo. Meu rosto recebe flocos de neve que lá se alojam e derretem com a corrida, misturando-se às lágrimas que caem descompassadamente.

Esfrego meus dedos com tanta força uns nos outros que os que não estão protegidos por uma luva já estão vermelhos e machucados.

“Por favor, eu não consigo mais viver desse jeito!”

O pânico, o pavor, o desespero e a culpa são como pequenos bichos que não querem me largar. Eles socam meu estômago, comprimem minha cabeça, esmagam meu coração e apertam minha garganta tão fortemente que ouço meus soluços, ouço meus murmúrios lamentosos e até gritos mandando-os embora, mandando-os parar de me julgar. E dói, dói muito, é insuportável...

“Um monstro!”

– Parem! Saiam! Me deixem em paz! – grito, em tamanha confusão de sentimentos que sinto meus dedos gélidos expelindo cristais e criando estalagmites de gelo indefinidamente, por todos os lados, inclusive atingindo meus pés e minhas pernas.

“Por que, por que você me abandonou? Por que se isolou do resto do mundo, do que você tem tanto medo?"

A exaustão finalmente me domina e caio com o rosto na neve, sentindo o frio penetrar minha pele e recolher minhas lágrimas.

Tento me levantar, mas não consigo. Tremo tanto que minhas pernas não conseguiriam me sustentar e, obviamente, não é de frio – é de medo.

Apesar de não querer admitir, o frio que tanto julgo odiar, já que faz parte dos meus poderes... Ele me dá grande conforto. Aqui, deitada no gelo, percebo que ele é o único que me acompanhou por tantos anos. E que, depois de tudo o que aconteceu – involuntariamente, mais lágrimas descem ao me lembrar do rosto aterrorizado de todos que viram meus poderes em ação -, ele continua comigo.

Os pequenos bichos não me largam, sufocando-me em lágrimas, chamando-me de egoísta, de sem coração, de covarde, de fraca.

Egoísta – deixei um reino para trás sem liderança e sem perspectiva. Deixei uma Anna para trás, confusa e atemorizada. Sem coração – aquela que, aparentemente, fez de tudo para encorajar o terror alheio. Aquela que impediu um casamento, aquela que aterrorizou famílias ao congelar a fonte. Covarde – como poderia ser uma Rainha sem conseguir lidar com os problemas? Quando a única solução que vê e segue é a de fugir? Fraca – não foi forte o suficiente para não sentir, para não controlar seus poderes.

Ludvig errou. Anna errou. Rapunzel errou. Meus pais estariam com vergonha de mim, eu nunca consegui ser uma boa garota – que tipo de boa garota fecha a porta na cara dos empregados, na cara da própria irmã? -, eu nunca conseguirei seguir meus sonhos e nem ter esperança de verdade.

O que eu quero é ficar aqui para sempre, até todos se esquecerem de mim. Até eu me esquecer de mim.

Estou pensando demais. Preciso andar. Preciso correr.

Levanto-me com muito esforço e, imediatamente, toda a neve que estava em mim desaparece, deixando-me limpa.

Apesar de estar escuro, consigo enxergar o vulto de uma grande montanha à minha frente e decido, pelo menos, chegar até lá. Será uma longa caminhada com um grande esforço físico.

De repente, lembro-me de como Anna cantava quando se sentia triste – um fiapo de voz que, aos poucos, ganhava um grande corpo com todas suas emoções encarnadas em notas agudas e altas. Às vezes, eu chorava ao ouvi-la cantar. Eu entendia seu sofrimento, e não cantava para não dar a ela oportunidade de vir conversar comigo.

Ao pensar nisso, imediatamente, ouço minha voz começando a formar uma canção. Talvez, e só talvez, isso faça com que eu me sinta melhor.

“A neve branca brilhando no chão, sem pegadas a seguir. Um reino de isolamento, e a Rainha está aqui”

O vento bate em meu rosto, acarinhando-o. Graças a Deus, estou sozinha, então não preciso me controlar para proteger ninguém. Finalmente. Finalmente.

Estranhamente, a onda de alívio que se segue a esse pensamento parece anuviar um pouco os monstros que estavam me perseguindo, e minha respiração fica mais calma.

E então digo a esses monstros a mais simples e pura verdade:

Não consegui conter, bem que eu tentei

Eu tentei. Eu tentei, com todas as minhas forças. Tentei não machucar ninguém. Tentei não assustar ninguém. Pelo amor de Deus, eu me mantive isolada por 13 anos, não deixando que ninguém me amasse, não amando a mim mesma, me condenando por algo que estava fora do meu controle.

Paro de andar por um segundo, analisando esta última frase. “Algo que estava fora do meu controle”. A frase é verdadeira e absurdamente simples, mas me atinge com uma força tão grande que me faz pensar. E, dessa vez, eu quero pensar.

Vendo minha situação, pela primeira vez, com outros olhos, percebo como tudo foi injusto. Essa incredulidade com os rumos da minha vida torna minha voz mais alta, inconformada, assim como os apelos do meu coração por uma nova vida – e, desta vez, mais justa.

“Não sentir”, era o que eu sempre dizia. Era o que o meu pai dizia.

“Sempre a boa menina deve ser!”

Mas, quer saber, por quanto tempo alguém consegue viver assim? Quem consegue viver assim, excluindo seus sentimentos? Meu coração bate rápido, enquanto essa nova perspectiva sobre os acontecimentos me invade de uma forma tão sublime que me sinto completa.

Completa. De repente, eu entendo. Meu poder nunca foi meu inimigo. Ele sempre foi meu aliado. E, agora, eu estava livre para explorá-lo como eu bem entendia, sem julgamentos, sem precisar proteger ninguém.

E é assim que, no maior gesto de liberdade que posso imaginar, tiro minha luva restante, jogando-a para o ar, e o vento frio que minhas mãos sentem parece me dizer que aqui é o meu lugar.

Meu coração bate absurdamente rápido, cada batida clamando por uma nova vida. Por uma nova perspectiva. Por uma nova Elsa.

Finalmente, encontrei o meu lugar.

“Livre estou! Livre estou! Não posso mais segurar!”

Sinto meus dedos gelados como nunca quando ergo as mãos e, delas, faço surgir um floco de neve gigante e detalhado com flores. Eu. Não meu poder.

Livre. Lembrei de Rapunzel dizendo como se sentira quando saíra da torre: “Foi simplesmente... mágico. Eu senti que a minha vida tinha se transformado para sempre, que nunca mais poderia voltar àquele lugar e ficar sozinha. Eu senti a liberdade”.

E isso, penso, enquanto crio um boneco de neve chamado Olaf que minha irmã e eu costumávamos brincar quando crianças – a perfeição é tamanha que me assusto com minha própria capacidade de controlar meus poderes -, é exatamente o que sinto.

“Eu saí pra não voltar!”

É como se um peso tivesse sido tirado de meus ombros, como se eu pudesse sorrir sem preocupações com o futuro. Independentemente de como Arendelle estiver neste momento, tenho certeza de que está melhor sem mim. E Anna também.

E aqui, este lugar, ele é perfeito. Em uma montanha, em meio a tanto gelo e neve e vento, minhas únicas companhias.

Além disso, o frio não vai mesmo me incomodar.

Tiro minha capa, deixando minhas costas ainda mais leves e deixo que o vento a leve para longe, junto com seu símbolo de Arendelle, que se encontra tão distante e livre de mim que sinto os laços se cortarem. Arendelle não depende mais de mim e minha existência também não se resume mais a proteger seus súditos.

E os medos que me controlavam – não vejo ao meu redor!”

Vejo a menina descrita pelo Troll – aquela consumida pelo medo – ir embora, e uma garota absolutamente livre para conhecer o mundo, o seu único mundo, surgir em seu lugar.

Me vejo sorrindo, correndo, sem nada a que preciso me prender. Sou uma nova Elsa e, sendo assim, preciso me descobrir.

Chego a um desfiladeiro e, rapidamente, faço uma escada de gelo para chegar até o próximo solo. Eu rio, sentindo-me fenomenal com essa mudança, em que as coisas parecem tão fáceis, tão... não-controladas.

É hora de experimentar. Os meus limites vou testar. A liberdade veio enfim... Pra mim!”

Estou, agora, no topo da montanha, sentindo-me tão bem comigo mesma que nem aquele momento pós-coroação se compara. Nada se compara a isso. A essa sensação tão boa, em que fecho os olhos e sinto que não há nada por onde quer que olhe a não ser eu mesma – gelo e neve.

“Aqui estou eu – e eu vou ficar!”

Porque é isso. Eu sou gelo e neve, gelo e neve são eu. Meus poderes e eu não somos uma coisa separada, distinta. Somos um.

E, bem, se não fui Rainha de Arendelle... Ao menos, aqui, posso ser Rainha do Gelo.

Sinto meus olhos faiscarem ao observar o topo da montanha, minha mente trabalhando rapidamente no que poderia fazer com este lugar.

E, aproveitando todo o novo sentimento de felicidade, emoção – aquela de encharcar os olhos -, e até de vitória, reúno todas as minhas forças e convoco o gelo abaixo de mim para se levantar, levantar até o máximo que consigo aguentar, para formar as paredes de um castelo.

Do meu castelo.

Sinto o gelo passar por minhas veias como fogo enquanto estacas formadas por gelo levantam o chão já construído do castelo, e as paredes se levantam ao mesmo tempo em que aperto os dentes para sustentar a força de tudo isso.

Quando termino o trabalho, meus membros se sentem cansados, como se tivessem levantado dez carroças ou mais, mas é um cansaço bom. Ver o que sou capaz me dá ânimo, me faz me perguntar como foi que aguentei a vida que levava antes.

Meu pensamento se transforma em cristais!”

O castelo é magnânimo, e trabalho em seus detalhes como a tonalidade do gelo, o desenho das paredes e os lustres.

Olho ao redor, satisfeita. Todo esse lugar, para mim, é infinitamente mais bonito do que o castelo de Arendelle.

Tiro minha coroa e a encaro, pensando em como ela não me pertence mais. Ainda sou Rainha, o gelo me diz, mas ele é meu súdito.

Quem diria que, noite passada, quando pensava que tudo o que mais queria era fugir para ficar sozinha com o gelo, para fazer as pazes com ele, esse pensamento se tornaria realidade.

E será minha realidade por todo o sempre.

Não vou me arrepender do que ficou pra trás!”

Jogo minha coroa para o lado, minha cabeça livre desse fardo que tanto me causou horrores, e minha voz se eleva junto com o meu sentimento, e me sinto nas nuvens – leve, livre e com sonhos que nunca imaginei ter se tornando realidade.

E, nessa realidade como Rainha do Gelo, preciso de uma vestimenta adequada, é claro.

Deixo de lado o coque apertado, como eu me sentia antes naquele quarto minúsculo, e o solto em uma grande trança que cai livremente pelo meu ombro. Arrumo minha franja para cima, preferindo assim do que aquele modelito preso com grampos.

Aponto para meu vestido e consigo fazer com que as fibras dele se transformem em gelo, e transformo-o em um modelo com uma fenda em uma perna – quero correr e pular o mais livremente possível - e uma capa feita dos cristais mais reluzentes em que pude pensar, assim como as mangas compridas do vestido. O vestido, em si, também é feito de cristais, mas menos reluzentes e coloco neles uma coloração azul-clara.

É tempo de mudar! Aqui estou eu, vendo a luz brilhar...!”

Como me sentir melhor do que isso? Como definir o sentimento advindo de uma liberdade adquirida após 13 anos de total isolamento em um quarto, cada vez que ignorava minha irmã uma parte de mim se tornava ainda mais gélida, com a morte de meus pais tendo me quebrado ainda mais e feito com que eu criasse expectativas de ser uma péssima Rainha? Como definir o que sinto agora, sendo que eu sempre pensei que minha vida se resumiria a um trancamento eterno, machucando a mim e a todos ao meu redor involuntariamente, pode se dizer assim?

Como definir, a Anna me ensinou: cantando.

E é por isso que vou até o lugar do meu castelo que fará mais eco possível nas montanhas e, com todo o fôlego que possuo, canto:

Tempestade veeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee[...]eeem!”

Que venham as gélidas tempestades, que venha a solidão.

Que venha meu conforto, que venha minha liberdade.

Que venha a liberdade da Anna, que venha a liberdade de Arendelle.

Que todos nos libertemos do medo intrínseco aos meus poderes.

Eu estou pronta. Meu poder está pronto.

Além do mais, penso, observando as montanhas, pensando em meu novo castelo, nas minhas novas roupas, no meu novo eu:

O frio não vai mesmo me incomodar”.


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Notas finais do capítulo

Leitores lindos, espero que tenham gostado do capítulo. Por favor, peço que deixem seus comentários, pois estou ansiosíssima para saber o que acharam! :D
Bem, povo de Arendelle, é isso aí. Espero que tenham curtido.
Obrigada pela paciência e por continuarem a ler, fico extremamente contente!
Muitos beijinhos e até o próximo capítulo! ;* (esse emoticon é a cara da Elsa quando diz o último "O frio não vai mesmo me incomodar" e fecha a porta hihihi).