Isca

Sonho on

Olhei para a casa que tinha me levado a aquela missão estúpida. Ela continuava a mesma, tirando as folhas já alaranjadas das árvores e a fita policial junto com as viaturas isolando o local. Tudo estava meio turvo e conversas iam para lá e para cá. Uma senhora, de aparentemente 80 anos, conversava com um policial bigodudo.

– Mas senhora...- acalmava o policial

– Eu vi! Não estou tão caduca quanto as pessoas acham! Era imensa e pegajosa! Uma cobra gigante!- a palavra ficou ecoando na minha mente

– Cobra...- sussurrei e senti aquela força estranha me puxar para dentro da casa.

Mas eu não estava na mesma sala, eu estava no quarto do qual Nico fora atacado em meu sonho, com a mulher e o berço de madeira e... uma mesa com um bilhete em cima. Fui em direção à ela e li o bilhete.

“Não temos muito tempo! Eu tenho a solução para o problema da sua amiga, mas só irei te ajudar depois de lhe mostrar algo! Siga a magia!”

– O que? Siga a...- olhei para o lado onde um Phillip flutuava- Okay

Segui Phillip pela casa, até chegarem frente a um quadro onde uma linda mulher posava. Tinha cabelos bem escuros, cacheados, usava um vestido de época e tinha incríveis olhos que pareciam mudar de cor... e tão familiares...

– Espera!- me aproximei um pouco mais do quadro- Hécate?

E sem nenhum aviso prévio, fui sugada de novo, agora para um lugar totalmente estranho. Uma caverna. Mas havia vozes e um brilho vermelho a frente de onde eu estava. Fui em direção ao brilho e o volume das vozes aumentaram. Me escondi atrás de uma pedra.

– Mestra!- uma voz esganiçada disse com total espanto, era uma voz conhecida- Eu vi eles! Ainda estão longe, mas se a garota descobrir para que serve o cristal, chegarão logo!- sem dúvida nenhuma...

– Julie!- sussurrei

– Muito bem, Julie- disse a “Mestra”, que a essa altura, já sabia que não podia ser Hécate - Mas me diga, para que tanto alvoroço?- era uma voz aveludada, mas antiga e muito familiar, o que, se eu estivesse certa, seria quase impossível

– Eles encontraram Phobos no parque e acredito que a memória da Filha da Magia voltou

– Hum, bom. Do jeito que é estúpida, não deve ter contado para ninguém, deve estar remoendo aquilo- pensei na foto que veio voando até mim no parque e logo entendi a armação

– Phobos fez um bom trabalho, mexer com os medos das pessoas é bom, fazem elas verem quem são os melhores e... Ugh!

– Mestra! A senhora está bem?

– Estou, e me largue logo empousa burra!- me atrevi a olhar e quase gritei.

Era a mulher do sonho, a mulher que falava sobre traição e paixão. É ela a bruxa que vai despertar no dia 1!

– Aquele filho de Hécate fraco!- resmungou a bruxa

Filho de Hécate? Será que é ele?

– Ainda não entendo o motivo de a senhora ficar com ele!

– Porque você é burra- concordo plenamente- A irmã boazinha vindo salvar o irmão no... como você disse da última vez?

– Do lado negro da força

– Isso! Do lado negro da força! Desde de que a Mãe Terra caiu e eu descobri a existência daqueles dois bruxinhos, foi fácil! O garoto tinha muito poder e seduzi-lo com a oferta de mais poder foi simples, mas a garota...- ela torceu o nariz

–Aquela Maria estúpida! Meu cabelo ficou verde por anos!

– Cale-se! Mesmo com seu lado mais maligno, ela ainda é do bem!Você quer saber o motivo de eu mantê-lo aqui? Simples, ele é a isca!- isca?- Depois daquele filho de Júpiter me mandar para o Tártaro, eu descobri uma antiga bruxa famosa daqui da cidade e achei o feitiço de ressurreição. Quando apareci nos sonhos dele, ele logo aceitou e depois da inveja ao ver que a irmã mais nova é mais poderosa...Ha! Quem diria que aquela imprestável seria de alguma ajuda!

– Mas Mestra... Como assim ele é a isca? Você não disse que não precisa da garota?

– Burra! Óbvio que preciso! Já que você não consegui capturar a filha do Sol!

Então ela realmente me quer como isca? E também tentou capturar a Nina? Mas por que?

Um outro papel veio voando até mim com a resposta:

“Ressurreição. Magia. Mais poderoso!”

É isso! A bruxa precisa de mim e de Robert para o despertar dela, mas já que eu não viria de bom grado, ela está usando Robert como isca! Vaca!

– O garoto é bom, muito bom. Tem poder, mas não o bastante. Mesmo com magia negra, ele não consegue nem me deixar como plasma direito! Eu preciso dela para que eu esteja de volta ao mundo dos vivos! Eu, Med...

O som sumiu e tudo tremeu, mas voltou ao lugar...

– E se caso ele conseguir despertá-la antes de a garota chegar?

– Quase impossível, porém se ele conseguir essa proeza, serei eternamente grata- Julie começou a rir feito uma porca- Cale-se!- ela imediatamente parou de rir

– Desculpe senhora, mas eternamente grata?

– Sim, será seu lanchinho! MUAHAHAHAHA!!!!

Encostei na parede sem ar. Ela o está usando, óbvio. Mesmo ele sendo um bando de merda, tenho que tira-lo dali, se não...

Tudo ficou ainda mais turvo e rodopiante. Cada vez mais escuro, escuro, escuro...

Sonho off

Acordei de sobressalto! Eu estava na barraca improvisada, certo. Thaís dormia do meu lado, certo. Meu caderno estava embaixo do saco de dormir, certo. Um bilhete estava dentro do caderno, certo e...

Peguei o bilhete com desconfiança e então o abri. Era uma receita. Uma receita de uma poção. Li os ingredientes com cuidado. Era a poção anti-veneno! Olhei a parte de trás e tinha apenas duas letras.

– Z.M?- deixei de lado e fui logo mostrar para Clary a salvação de Lorry.

P.O.V. Nico

O dia passou rápido, principalmente para Maria que corria por todo lado em busca dos ingredientes para a poção de Lorrayne. Ela parecia cansada. Os cabelos pretos estavam bagunçados e seus olhos mais escuros, além de estar sempre trocando olhares cúmplices com Firmin. É errado? É, mas eu observei os dois conversando na noite passada e confesso que não fique nada feliz; os dois juntos me perecem algo... errado.

Já se passava de meia noite quando percebi que estava sem sono. Coloquei a camiseta e sai da barraca, a qual eu dividia (que fique claro: contra minha vontade) com Firmin. Fiquei andando por uns cinco minutos até ver uma figura abaixada na grama. Fui indo em sua direção e me sentei ao seu ledo sem que percebesse.

– O que é isso?- perguntei e Maria deu um salto

– Nico! Quer parar de me assustar?

– Desculpa, mas o que é isso?

– Isso o que?- disse ela escondendo o objeto nas costas

– Isso!- me estiquei e meio que num abraço, peguei a coisa- Um caderno? Seu diário?

– Não idiota!- ela pegou o caderno da minha mão e o abraçou

– O que é?- ela me observou seriamente, eu já estava acostumado com a tripla personalidade da garota, mas quando ela pulou do meu lado e abriu o caderno eu quase a decepei com a espada; folheei as páginas e sendo sincero, não entendi porra nenhuma. Eram pontos e linhas e mais pontos...

– Hã, isso é...?

– Não entendeu?

– Não

– Okay, isso são constelações. Essa é a de Pégaso- apontei para um desenho- Não, a do lado!

– Ah, então gosta de constelações?- perguntei e ela assentiu

– O que foi?

– Nada- fiquei encarando ela

– É por causa da foto do parque, não é?- ela arregalou os olhos

– Como você...?

– Eu vi você pegando a foto- ela levantou as duas sobrancelhas- O que tem naquela foto?- ela continuou me encarando, suspirou e entregou a foto. Era uma família. Um pai comum, com uma mãe comum, com uma filha pequenina comum e...

– É você?- ela assentiu. A garotinha, ao contrário dos pais e da irmã, tinha cabelos bem pretos e olhos azuis- O que aconteceu?

– O incêndio. Logo que peguei a foto, lembrei do que aconteceu. Estávamos na cabine de fotos e de repente todos começaram a gritar, vimos a montanha-russa em chamas e minha irmã disse que viu um dragão e eu também... Coloquei minha família em perigo, mesmo sem saber quem sou.

– Você não lembrava disso?- ela negou

– Desde aquele dia, comecei a lembrar de coisas como essas. Eu tenho a impressão que eu perdi a memória ou...

– Ou alguém a roubou, sei como é isso- ela me encarou

– O que aconteceu?- merda!

– Hã, nada de mais e... Jake!

– Jake?

– É, vi vocês dois conversando ontem

– Ah!

– É, então quer dizer que eu, Thaís e Firmin sabem disso e...

– Não, está errado- eu a encarei- Eu não contei isso pra ninguém além de você

– Oh, hã isso é legal- acabou se instalando um puta de um silêncio- Maria?

– Oi?

– Hã, será que você poderia me explicar esse negócio de constelações...

– Como?

– É, nunca fui muito bom em astronomia...

– Hã, tudo bem

Então ela começou a me explicar várias coisas, depois mostrou as constelações uma por uma. Acabamos saindo do assunto e indo para outro. Conversamos por um bom tempo sobre várias coisas, como Simple Plan, nossos filmes preferidos e tals. Ficamos assim até depois da uma da manhã, mas ela acabou dormindo.

Ao contrário daqueles filmes em que o garoto fica olhando a garota dormir feito um psicopata, eu a peguei no colo e a levei para a barraca dela.

Entrei de olhos fechados e tive a sorte de a Thaís não estar sem o roupão. Deitei Maria em seu saco de dormir e quase saí. Me ajoelhei ao seu lado e lhe dei um beijo casto na testa, afinal, acho que demoraria muito tempo até poder beijá-la de novo.

– Boa noite Moore- eu disse saindo da barraca

– Boa noite di Angelo- olhei para trás e vi ela sorrir

Entrei devagar na minha barraca e fui me deitar...

– Niquitooo!!!

– Ai Capeta!!!- olhei para a figura nojenta de Firmin sem camisa na minha frente- Seu merda! Dá para colocar uma camisa?!

– Também te amo, Niquito! E não, não da!

– O que você quer?

– Bem, o que eu quero é dizer uma coisa...- ele ficou me encarando

– Diz logo!

– Okay! Não é só porque você e a Maria ficaram conversando por uma horinha que eu vou desistir de ficar com ela- olhei para ele

– Bem, não é só porque você disse isso que eu vou deixar de ficar com ela também!

– Que bom! Adoro um desafio!- ele virou de costas para mime se deitou- Boa noite Niquito!- me deitei também

– Mané- murmurei, mas nem mesmo aquele idiota me deixou irritado, afinal...