Assassin's Creed: Aftermath escrita por BadWolf


Capítulo 4
Um Homem Branco em Kanataséhton


Notas iniciais do capítulo

E aí vai mais um cap.

Será que a escolha de Ziio em levar Haytham para a Aldeia foi a mais acertada?
Algo me diz que não...

Boa leitura!!



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Precisei esperar um pouco na mata para poder acompanhá-los. Durante a caminhada, assisti meu pai Haytham cambaleante de dor, sendo auxiliado por minha mãe. Estava claro que o combate dele com Minowhaa piorou a sua situação, e que ele não era mais capaz de caminhar plenamente. A contragosto, Minowhaa carregou meu pai, com um olhar intimidante, lançado de uma puma a um coelho. Meu pai estava claramente incomodado, e impediu-o de tocar-lhe. Essa era uma das coisas que, inconscientemente, eu e ele tínhamos em comum: detestávamos ser tocados por estranhos – muito menos por inimigos.

–Homens... – minha mãe resmungou, ao ver que ela teria de ajudar a carregar aquele homem nada leve até a aldeia.

Antes de sair, ainda pude ver minha mãe trocar algumas palavras com meu pai, antes de entrarem à Aldeia pela entrada principal.

–Quando chegarmos, mantenha a cabeça baixa.

Isso, é claro, era algo complicado de se pedir a um homem tão orgulhoso como o meu pai.

–Mas...

–Apenas faça o que eu digo.

Ao ver que os três estavam longe o bastante para não mais me detectarem, corri para a entrada lateral e cheguei ofegante. Fiquei perto de minha casa e cheguei a tempo de ver a reação nada agradável da aldeia, com a chegada daquele homem branco. As crianças menores imediatamente pararam de brincar, sendo logo recolhidas por suas mães. Os homens pareciam apreensivos e revoltados ao mesmo tempo. Nos últimos tempos, meu povo tinha tido muitos problemas com os brancos, e ter um deles ali, ainda que em uma situação tão alquebrada, ainda lhes causava repulsa e raiva.

Uma torrente de perguntas, dadas aos cochichos, assolava a todos.

–Será que é um prisioneiro?

–O que será que ele fez?

–Deve ser o homem que desonrou Kaniehtí:io...

Fiquei escondido, sentindo um pouco de vergonha pela situação de minha mãe. Nunca a situação que envolvia a minha mãe – ou melhor, a minha concepção, fora tão exposta. Procurei ficar longe do alcance dos olhares, e sinto que fiz o melhor.

Os homens eram os mais hostis.

–Quando executá-lo, Minowhaa, deixe que eu dê pelo menos o golpe final. Quero fazer o mesmo que estes brancos fizeram com meu irmão.

–Mostre a ele a força de nosso povo, Minowhaa. Confio em você.

–Pense em mim quando degolar este desgraçado.

Quando os três adentraram à oca da Mãe do Clã, e finalmente Minowhaa fechou a porta, dando-lhes privacidade, o que se seguiu à tribo foi um estardalhaço de conversinhas de todo o tipo. Procurei sair dali, tamanho era o meu incômodo, e acabei esbarrando em meu melhor amigo, Kanen'tó:kon.

–Ratonhnhaké:ton! Onde você estava?

–Eu...

–Você viu o homem branco que acabou de chegar com sua mãe e com Minowhaa? – percebi que ele estava eufórico de curiosidade, e também apreensão. – Ele é realmente assustador, com aquele chapéu e roupas estranhas. Você sabe quem ele é?

–Não. – menti. Ele sentiu-se, momentaneamente, sem graça.

–Estão dizendo que... Que ele é seu pai. Quero dizer... Ninguém sabe, na verdade. Mas vamos esperar que decidam.

–Decidam?

O menino cruzou o braço.

–Ele é um invasor. A Mãe do Clã certamente lhe dará uma sentença. Ele pode se tornar um prisioneiro, ou...

Ergui uma sobrancelha. – Ou..?

Quando Kanen'tó:kon ia dizer, acabou sendo interrompido por sua própria mãe.

–Ratonhnhaké:ton, é bom acha-lo! Eu estava justamente procurando por você. Venha, acabei de preparar um guisado de coelho que você tanto gosta...

A mãe de Kanen'tó:kon se chamava Mahkah, e era uma das poucas mulheres com alguma relação amigável com a minha mãe. As duas eram amigas de infância e sempre se respeitaram, embora fossem diferentes. Mahkah seguiu o destino de muitas mulheres da tribo e se casou cedo, tendo três filhos, o mais novo sendo meu amigo Kanen'tó:kon. Quando minha mãe descobriu-se grávida, apenas Mahkah compreendeu e respeitou minha mãe, enquanto muitas mulheres se afastaram, voltando a conviver amigavelmente com a minha mãe apenas com o tempo. Mas Mahkah sempre esteve lá, e diante da turbulência da situação, lá estava ela, cumprindo seu papel de amiga.

Acatei ao seu chamado, mesmo estando curioso para saber o que estava acontecendo do lado de dentro da oca da Mãe do Clã. Será que fui conduzido a esta realidade apenas para ver meu pai morrer pelas mãos de meu próprio povo? Se assim seria, só o que eu desejava era acordar e voltar à realidade a qual eu pertencia.



§§§§§§§§§§§§§


Haytahm sentia-se cansado. De fato, a ferida que Ziio lhe alertara era grave. Mas sua mente estava tão confusa e tão repleta de dúvidas que ele abandonou sua racionalidade, que clamava um repouso de pelo menos trinta dias, para uma caminhada e espera na Fronteira à procura de um desabafo. Agora, a sensação que ele tinha, ouvindo palavras ríspidas em um idioma completamente estranho nas vozes do povo de Ziio, era de que ele procurara uma saída e acabara encontrando uma, porém permanente.

A Morte.

Na oca iluminada apenas por uma fogueira, Haytham percebeu que uma velha senhora estava sentada, próxima ao fogo. Ela parecia calma, ignorando as vozes exaltadas do lado de fora. Sua calma, entretanto, não trazia paz nenhuma a Haytham.

–Eu sabia de sua chegada, homem branco. – ela disse, categoricamente e em inglês, para que ele a entendesse. – A Deusa me alertou que viria, e que sua chegada daria meu povo escolhas... Difíceis. Confesso que não estou feliz em vê-lo aqui, mas também não posso impedir os desígnios do Destino.

O que ela estava querendo dizer com “escolhas difíceis”? E “desígnios do Destino”? As palavras dela só levavam a mais confusão, pensava Haytham. Finalmente, Ziio interveio.

–Mãe do Clã, este homem não fez mal algum ao meu povo. Ele está necessitando de ajuda. – ela disse, com profunda reverência.

A Mãe do Clã levantou-se da fogueira, e de posse de um cajado, deu passos mais próximos a Haytham. Observou sua ferida, e sem hesitar, apalpou a região do ferimento, causando urros inesperados de dor em Haytham.

–Homem branco estúpido. – disse a Mãe do Clã, em Mohawk para que Haytham não entendesse coisa alguma. – Claramente, é um descuidado.

–Mãe do Clã, há dias que venho observando este homem cercando nossa aldeia. Pode ser um espião, ou possuir más intenções. – disse Minowhaa, também em Mohawk.

–Pode ser que sim, mas também pode ser que não. – ela observou todas as armas de Haytham. – Muito embora um homem pacífico não precise andar com tantas armas.

–É este o ponto em que quero chegar, Mãe do Clã. – concordou Minowhaa. – Este homem é uma ameaça, e por isso ele deve ser eliminado...

–Não! – gritou Ziio, em Mohawk. – Ele só estava desejando falar comigo...

–Não interfira, Kaniehtí:io. Este homem pode ser pai de seu filho, mas ainda é um homem perigoso. Aliás, é muita audácia da parte dele reaparecer aqui depois de tudo que fizera a você. – disse a Mãe do Clã, em Mohawk.

–Ele não sabe sobre a existência de Ratonhnhaké:ton. – revelou Ziio.

–Isso não o exime da concepção do menino, exime? – questionou a Mãe do Clã, fazendo Ziio abaixar a cabeça. – Desde que este homem apareceu, nossas terras estão sendo cada vez mais assediadas pelos brancos.

–Não é culpa dele.

–Talvez sim, talvez não. O fato é que eu não consigo confiar em sua capacidade de julgamento. Está decidido: como não há ninguém a dizer algo confiável a respeito de suas verdadeiras intenções, ele será nosso prisioneiro até o pôr do sol de amanhã, onde o executaremos por ameaçar o nosso povo. Minowhaa, retire todas as armas dele.

Ziio tomou-se, num raro momento, de desespero. Ela trocou um rápido olhar com Haytham, que logo sentiu que sua situação não estava ficando nada agradável.

–O que irá acontecer agora? – Haytham perguntou a voz baixa, em inglês. Mal terminada a pergunta, Minowhaa se aproximou dele, intimidante, e estendeu a mão.

–Dê suas armas a ele, Haytham. – pediu Ziio, em inglês.

Haytham parecia hesitante, mas ao entreolhar Ziio e também a Mãe do Clã, ele não viu outra alternativa, senão obedecer. A primeira arma a ser desfeita foi sua Hidden Blade. Tendo finalmente a Hidden Blade desatada de seus punhos e entregue a Mãe do Clã, a situação aparentemente mudou de figura. A anciã subitamente chamou a atenção de Minowhaa e Ziio. Hayhtam percebeu que Minowhaa e a Mãe do Clã pareciam discutir a respeito de algum assunto, e sem dúvida estava relacionado a sua Hidden Blade. Enquanto retrucava com Minowhaa, a Mãe do Clã apontou algumas vezes para o símbolo enferrujado, marcado em sua Hidden Blade.

O símbolo dos Assassinos.

A anciã falou solenemente para Ziio e Minowhaa, em Mohawk, e depois voltou a caminhar, carregando as Hidden Blades e as colocando em uma caixa. Depois, acenou para que Minowhaa se aproximasse. Tendo o homem já por perto, ela cochichou algo em Mohawk em seu ouvido. Minowhaa parecia protestar, mas depois sorriu brevemente. Aquilo, sabia Haytham, não era um bom sinal. O guerreiro foi até um canto e pegou uma corda.

–Não! Por favor! Isto não é necessário! Ele está ferido! – pediu Ziio, desesperada, mas Minowhaa simplesmente ignorou seus apelos, forçando Haytham a se sentar bruscamente, levando-o a soltar um suspiro de dor, e em seguida o amarrando firmemente a uma das pilastras da oca, tal como fazia com os prisioneiros.

Haytham sabia que, mesmo em seu estado, poderia facilmente se libertar e enfrentar Minowhaa, mas que tinha pouco vislumbre de como escapar da Aldeia com vida. Ele percebeu que havia muitos guerreiros, munidos de arco e flecha, machadinhas e lanças do lado de fora, ansiosos para saber a decisão da Mãe do Clã. Fora todo o transtorno que levaria à vida de Ziio. Se ele escapasse, certamente precisaria matar alguns pelo caminho, se desejasse escapar com alguma vida. Era remota a possibilidade de que os Mohawk ainda aceitassem Ziio depois disso.

–Ziio, você pode me dizer o que está acontecendo? – ele perguntou, impaciente e cansado de estar alheio, enquanto todos conversavam naquela língua estranha.

–Mae do Clã viu o símbolo nas suas... Lâminas, e acredita que você é um Assassino. Por isso, ela não vai te matar, ao menos não agora. Você só terá sua vida poupada depois que os Assassinos confirmarem sua ligação com o Credo.

Haytham fez uma careta.

–Isso jamais irá acontecer. Eu sou um Templário, afinal.

Ziio se agachou, sentando próxima a Haytham, e recostou-se ao seu ombro, que apenas suspirou.

–Eu fiz o que pude. – ela disse.

–Eu sei disto. O fato é que nós dois somos os únicos culpados por toda esta situação. Definitivamente, nossos mundos não se aceitam, e não podemos fazer nada para mudar isto.

–Eu não vou desistir. – disse Ziio, apertando sua mão. – Vou procurar Achilles.

Os olhos azuis de Haytham se arregalaram repentinamente.

–Espere, Achilles Davenport? Você o conhece? Mas desde quando que...?

Ziio acenou, interrompendo-o. – Isso não importa agora. Vou pedir para que ele interceda por você.

Haytham soltou uma risada. – Duvido muito. Na verdade, creio que ele e seu amigo brutamontes irão disputar a tapa para ver quem irá me escalpelar.

Ziio franziu uma sobrancelha, de irritação.

–Meu povo não escalpela.

–Minhas sinceras desculpas. – disse Haytham.

–Como está o ferimento? Dói? – ela perguntou.

–Não deve doer menos do que a Morte. – ele disse. Ziio levantou-se, e se direcionou a um canto. Voltou de lá com uma caneca de barro cheia de algum líquido.

–Beba isto. Irá aliviar um pouco a sua dor. – disse, oferecendo a Haytham, que bebeu. Possuía um gosto um tanto amargo, mas ainda assim possível de se ingerir.

–Obrigado. – ele disse. – E agora? Irá mesmo procurar por Achilles? Aposto que isto será a piada do século para aquele velhote.

–Não o chame de “velhote” outra vez, senão mudarei de idéia. E sim, eu vou procura-lo. Creio ser esta a sua melhor chance, de todo o modo. Fique esperando por mim.

–Que escolha eu tenho, afinal? – perguntou Haytham, agachado e amarrado à pilastra, assistindo Ziio partir rumo a Davenport Homestead.



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Notas finais do capítulo

Caramba, mas parece que o tiro saiu pela culatra. Se Haytham poderia morrer no meio do caminho a Boston, parece que ele terá uma morte rápida e dolorosa nas mãos do povo de Ziio.

E salvo pela Hidden Blade, quem diria! Se bem que nem tão salvo assim, não é? Quem já jogou Assassin's Creed Rogue sabe porquê Haytham já se considera um homem morto. Não deve ser fácil ter sua vida nas mãos de um homem que foi muito prejudicado justamente por você.

É, Haytham e Ziio, os tempos estão difíceis... Parece que o Connor vai ver seu pai morrer outra vez, só que não por sua mão. Ele deveria fazer alguma coisa, mas como se só tem 4 anos de idade? Juno só pode estar zoando com a cara dele. KKKK

No próximo cap: Ziio faz uma visita à Achilles e acaba tendo uma surpresa daquelas.

Obrigada pela leitura, e deixem reviews!!!



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