Menino anjo escrita por Celso Innocente


Capítulo 21
Não mude o destino de meus anjinhos.




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Pouco depois das dez horas da manhã, quando as crianças saíram para o recreio, tomaram seus lanches e foram brincar juntas no pátio da escola Domingos Theodoro. De longe, Regis percebeu alguma coisa anormal, quando vários de seus coleguinhas de escola, não de sala de aula, mas de escola, entre dez e doze anos de idade, se aglomeravam diante do alambrado que separa a escola da calçada.

Não curioso, mas precavido, se aproximou do local e percebeu que os meninos estavam comprando papelotes de cocaína de um homem branco, uns vinte e cinco anos de idade, cabelos negros e barba rala.

Aquilo o deixou revoltado, porém não disse nada; simplesmente se afastou do local, foi até o portão que estava trancado. Poderia facilmente abri-lo, pois tinha certo poder mágico nas mãos; mas não o fez. Seguiu até o lado detrás da escola, aonde tinha muitas crianças brincando, sem, contudo perceber a presença de qualquer inspetor de alunos subiu na grade, pulando-a para um terreno baldio atrás da escola e em poucos minutos estava novamente próximo ao traficante.

Assim que cumpriu sua maldita tarefa de drogar crianças indefesas, o homem se afastou rapidamente, sem perceber que estava sendo seguido. Subiu pela Rua da Saudade, até passar pela Rua Quatorze de Julho, próximo à padaria, a qual houve o incidente com ladrões, virou à esquerda na rua do velório municipal, caminhou até a Rua Carolina Malheiros, virando novamente à esquerda, passou defronte à Santa Casa atravessando pela João Osório e mais de cem metros depois, entrou em um portão grande, de uma casa não muito grande, mas com certeza rica e bonita, sendo então surpreendido por um garoto pequeno, que gritou:

— Foi com o maldito dinheiro de crianças inocentes que você comprou esta casa?

O homem, surpreso, virou-se de repente e percebendo que o menino gritava com ele, sacou de uma arma de cano curto e apontando para este, gritou:

— Moleque intrometido! Vou te mandar para o quinto dos infernos!

— Alguém irá para o quinto dos infernos, mas com certeza não será eu! — alegou corajosamente o menino, apesar de ter uma arma apontada para o seu rosto.

— Entre aqui agora! — Ordenou o homem. — Vou acabar com você aqui dentro, porque na rua chama muita a atenção!

Talvez fosse aquilo mesmo que o menino pretendesse; portanto obedeceu rapidamente entrando pelo portão e acompanhando o homem, que entrava pela porta da sala, seguindo até uma copa e cozinha no mesmo ambiente, onde havia uma mulher morena, jovem, de uns vinte e dois anos e duas crianças morenas: um menino de uns quatro anos e uma menina de seus dois anos de idade.

— Você também tem filhos, é? Por acaso dá drogas pra eles também?

O homem, nervoso, esfregou o cano do revólver na cara de tal intruso, insinuando:

— Moleque ousado! Vou lhe dar um tiro na boca!

— Pare com isso, Marcos! — Gritou assustada a mulher. — Não tá vendo que ele é só uma criança!

— Este moleque me seguiu e veio pra me ofender!

— Não quero perder muito tempo com você! — Negou Regis. — Sabe o que vai acontecer com o que você comprou com o dinheiro da inocência de meus anjos?

— Você realmente é muito ousado, moleque! Não tá vendo que vou estourar a sua boca?

— Engano seu. Esta arma não dispara.

Naquele instante, a mangueira do gás de cozinha, que estava encostando-se à lata quente do forno que assava alguma coisa, acabava por furar-se lentamente e o gás começou a vazar rapidamente, fazendo um grande barulho, na medida em que as chamas de dentro do forno se alastraram pelo gás que vazava, voando azulado até o teto, atingindo também a cortina da janela da cozinha que se incendiara rapidamente. O fogo voou rápido até a cortina da janela da copa e do armário de madeira na própria copa, fazendo com que os alimentos e embalagens de papel e plástico, inclusive duas garrafas de álcool etílico, se incendiassem rapidamente com as chamas se alastrando, misturada, às vezes azuladas, às vezes amarelada, puxando por um vermelho com tons de fumaça negra.

O tal Marcos, em desespero, correu para o quintal, acompanhado por Regis e a mulher, que sozinha levara as duas crianças pequenas no colo. Marcos apanhou uma mangueira de jardim e tentava apagar as chamas com água, mas quando percebeu que não conseguiria, correu para dentro da casa, que estava cada vez mais dominada pelas chamas, seguiu apressado até um quarto, apanhou uma caixa grande e saiu novamente, tentando colocar a caixa no carro, mas foi deparado pelo carro de resgate do corpo de bombeiros, que chegara imediatamente junto com um caminhão pipa.

Embora Marcos tentasse recusar, os bombeiros de resgate insistiram que ele teria que passar por pequeno acompanhamento, deitando-o em uma maca.

Enquanto isso, Regis se aproximou da grande caixa de papel e levantando sua tampa, rasgou-a, deixando cair ao chão diversos tijolos de maconha e muitos papelotes de cocaína, já embalados e pronto para serem comercializados.

Enquanto os soldados bombeiros do caminhão pipa apagavam o incêndio os outros do resgate, que percebendo Marcos estar bem e já prontos a liberá-lo, perceberam o material caído no chão; então um dos homens comentou:

— Parece que existe um material suspeito por aqui. Seremos obrigados a chamar a polícia civil.

Naquilo, Marcos, que já tinha se levantado, apanhou rapidamente seu revólver, que estava dentro da grande caixa rasgada, abraçou Regis por trás e colocando o cano da arma sobre sua garganta, ameaçou:

— Não façam nada, senão acabo com a vida deste enxerido!

Enquanto a mulher e os filhos de Marcos choravam desesperados e um dos bombeiros solicitava ajuda da polícia pelo rádio, o outro bombeiro, cauteloso pediu:

— Calma! A gente nem tem armas! Deixe o menino e pode ir embora.

Marcos apanhou o que conseguiu da droga caída, colocando-a novamente na caixa e jogando dentro de um carro tipo furgão de dois lugares, arrastou o menino para sua cabine e saiu cantando os pneus; porém, antes de chegar à Avenida João Osório, foi surpreendido por duas viaturas da polícia militar, que percebendo atitude suspeita, parou uma das viaturas fechando o seu furgão. Quatro policiais desceram rapidamente e com as armas em punho gritaram:

— Desça do carro com as mãos para cima e permaneça encostado no carro.

Marcos puxou Regis, forçando-o a sentar-se em seu colo, criando verdadeira barreira humana a seu favor e com o cano da arma praticamente enfiado em sua boca, gritou:

— Deixe-me sair daqui ou estouro a cabeça do pivete!

Os policiais ficaram sem ação, mas continuaram apontando as armas para Marcos, que nervoso gritou:

— Joguem as armas no chão e tirem a viatura da frente de meu carro!

Ameaçou apertar o gatilho. Os policiais o obedeceram, deixando as armas lentamente no chão e um deles entrando na viatura para desbloquear o caminho. Marcos afastou o cano da arma da boca do menino, colocando em sua orelha.

— Você tem muita sorte por eu querer que você pague aqui na Terra pelo mal que fizeste a meus anjos... — Disse Regis, calmamente a Marcos.

— Cale a boca imbecil! Você só está vivo ainda porque preciso de seu escudo!

A viatura da polícia já abria o caminho para Marcos fugir, quando Regis gritou, com sua vozinha infantil, assustada:

— Policial, a arma dele não tem munição!

Quando os policiais ouviram aquilo, nem sei se deviam, mas avançaram rapidamente contra Marcos, que mesmo que tivesse munição não teria disparado, por falta de tempo hábil.

Enquanto um dos policiais pegou o menino, levando-o em segurança para o banco dianteiro de uma das viaturas, os outros dois, arrancaram Marcos do furgão, derrubando-o de costas ao chão e algemando-o rapidamente, depois o colocando sobre o famoso curralzinho, na parte traseira da outra viatura e então saíram em disparada para a delegacia.

Os outros dois policiais foram até o furgão e encontraram toda a droga caída atrás do banco dianteiro. Um deles levou o furgão para a delegacia, onde seria lavrado o boletim de ocorrência e prisão em flagrante delito, enquanto o outro policial seguiu até a viatura para levar o menino em segurança para sua casa. Porém, ao chegar à viatura teve uma pequena surpresa: Ele teria desaparecido.


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Notas finais do capítulo

Faltam apenas mais quatro capítulos para encerrarmos este mistério.
Minha próxima estória contará a vida de "Regis Moura" (não é o Regis do espaço, nem o Regis da cara Suja, Nem o Regis anjo...), um menininho que sempre sonhara em ser um grande astro da música popular sertaneja do Brasil. Trata-se da estória mais longa a qual já escrevi. Faço questão de sua companhia comigo em tal drama. Garanto que você vai rir e derramará lágrimas também durante o decorrer dos fatos.



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