Menino anjo escrita por Celso Innocente


Capítulo 2
Estranhos poderes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/580702/chapter/2

Os dias passaram calmamente e do grave incidente o qual havia se submetido, Regis não demonstrava ter sofrido quaisquer sequelas.

Em uma manhã, assistindo telejornal, um fato cruel chamou sua atenção, quando o jornalista anunciou grave sequestro em bairro da zona sul de São Paulo, chamando imagens do local:

— Um homem armado invadiu a casa e está em poder de três pessoas como reféns, sendo uma mulher de uns vinte e cinco anos de idade e duas crianças, um menino de cinco e uma menina de três anos de idade.

Naquele momento, o sequestrador apareceu na janela, usando a mulher com a menina no colo como escudo humano. Ele apontava um revolver calibre trinta e dois para a cabeça da criança, que apavorada chorava muito.

Um radio comunicador foi jogado para o sequestrador e ele passou a negociar sua rendição com a polícia.

— Se ameaçarem invadir, ninguém sairá vivo daqui! — ameaçou pelo rádio o sequestrador, homem moreno de uns trinta anos, completamente desorientado devido efeito de consumo de entorpecentes.

— Ninguém vai invadir! Pode ficar calmo — confirmou o policial. — A gente quer a integridade física, primeiramente das crianças.

— Se esta criança não parar de chorar eu vou pará-la na marra!

— Calma! Não faça nenhuma besteira — pediu o policial negociador. — Deixe as crianças saírem!

— Acha que sou idiota! Quem é minha garantia?

— Você fica com a mulher.

— Ninguém sai e nem entra aqui!

Como a menininha não parava de chorar, o homem, nervoso, acabou por desferir um golpe com a coronha da arma em sua cabeça, que desmaiada, com o sangue escorrendo em sua fronte, parou de chorar imediatamente.

— Cretino! — gritou o policial.

Regis, que assistia pela televisão, esboçou a cara de maior revoltado do mundo e tentou imediatamente acariciar a fronte da criança pelo aparelho eletrônico mas não conseguia, pois a imagem era corrida.

— Entregue a criança! — Gritou o negociador — Ela precisa de socorro imediatamente.

— Ela não parava de chorar e me deixou nervoso — justificou o sequestrador.

— Isso não volta atrás agora! Deixe a criança sair!

— Tudo bem — aceitou o bandido, apontando para uma mulher franzina, no meio dos curiosos. — Mande aquela mulher buscar a criança.

Imediatamente a mulher seguiu até a entrada da casa, voltando em poucos segundos com a criança desacordada nos ombros.

Regis, muito sério, tentava em vão pelo vídeo da tevê, conseguir acariciar a criança que fora colocada em uma viatura policial e encaminhada rapidamente ao hospital.

A negociação com o sequestrador continuava e ele agora parecia mais nervoso. Exigiu que a mulher segurasse o outro filho no colo, fazendo-o como seu escudo de vida. O menino estava muito apavorado, no entanto não chorava.

Por um momento, a televisão conseguiu mostrar um atirador de elite posicionado, para aproveitar uma chance em acabar com cruel acontecimento. Regis esboçou um leve sorriso e assim que a câmera da tevê mostrou novamente o sequestrador na janela, forçando com muita crueldade o cano da arma sobre o rosto da pequena criança no colo da mãe desesperada, Regis, apenas franziu os lábios, da parte esquerda da boca. Um leve estampido, quase que inaudível aconteceu, o sequestrador foi lançado para trás e caiu no solo com enorme furo em sua testa. Quando se levantou, sem saber direito o que teria acontecido, encontrou no canto da sala, outro menino, que lhe fez um leve sinal de reprovação e este, ainda sem entender nada, conseguiu ver seu próprio corpo caído sobre uma enorme poça de sangue muito escuro e a sala se enchendo rapidamente de policiais, em busca e socorro às vítimas.

Ainda encapuzado para proteger sua identidade, o atirador de elite, ao ser cumprimentado por seu superior, simplesmente negou:

— Eu não disparei minha arma!

— Não se preocupe — consolou-o o comandante. — Você fez o que tinha que fazer.

— Concordo que deveria fazer — atrapalhou-se o homem. — Mas não apertei aquele gatilho!

A arma foi verificada e realmente havia uma munição deflagrada.

Jaqueline entrou na sala e vendo o filho muito ansioso, assistindo aquele jornal, simplesmente insinuou:

— Meu filho, troque de canal. Você não precisa ficar vendo estes noticiários sensacionalistas.

— A vida é sen... sensa...cionalis... A vida é isso mamãe?

— Não é bom pra você!

— A menininha foi pro hospital. Eu precisava ver ela.

— O que aconteceu com ela?

— O homem mau feriu a testa dela. É muito grave.

— Ela ficará bem. Já foi pro hospital.

A televisão daquela sala permaneceu ligada e continuou falando muito no caso, inclusive, mostrando imagens do hospital em que a menina estava sendo medicada. De repente, em retrospectiva foi mostrada a cena da menina sendo colocada na viatura da polícia, no momento de seu resgate; Regis aproveitou o momento e colocou sua mão direita sobre o vídeo, depois desconsolado falou à sua mãe:

— Esta cena é morta. Preciso ver ela. Me leve lá, mamãe!

— Onde está a menina? É impossível meu filho, estamos a mais de duzentos quilômetros.

Anjo Regis, no canto da sala de emergência do hospital, em um leve sorriso, estendia a mão direita para amparar um espectro infantil, envolto por uma luz brilhante que se levantava do corpo inerte da pequena menina, cercada por uma equipe de cinco pessoas, que tentavam em vão trazê-la de volta ao mundo materialista.

— Ela já não sofre mais, mamãe — alegou o menino, com uma lágrima rolando pela face.

Quase que imediatamente, a televisão anunciou o terrível acontecimento dentro do hospital de Santo Amaro, em São Paulo. Jaqueline, sem entender muito, simplesmente abraçou seu pequeno filho e desligou o aparelho, emudecendo aquele jornal sensacionalista.

©©©

Um ônibus coletivo descia a Rua Barão do Rio Branco, sentido centro/bairro e seu motorista, sendo distraído pela conversa de um passageiro, acabava de atravessar o sinal vermelho, no cruzamento da Rua Campos Salles, vindo a colidir violentamente com a lateral de um caminhão tanque carregado com gasolina, que ultrapassava normalmente pelo sinal verde. A velocidade e o peso dos dois veículos fizeram com que o ônibus arrastasse o caminhão por vários metros, vindo a colidir também com o prédio da parte inferior direita da Rua Barão do Rio Branco. No impacto, o tanque de combustível veio a ser furado e o líquido inflamável começou a vazar rapidamente, vindo a pegar fogo, devido contato às ferragens quentes e distorcidas pelo grave acidente, fazendo com que as chamas se alastrassem rapidamente, acima do nível dos prédios circunvizinhos. O relógio da catedral anunciava duas horas e cinco minutos, de uma tarde quente e ensolarada de final de janeiro.

Naquele momento, Regis acordara assustado em seu leito de criança. Ele teria dormido após o almoço e talvez por estar de barriga cheia acabara tendo um pesadelo. Olhou o relógio na cozinha e pode ver: treze horas e trinta e três minutos. Então gritou para sua mãe:

— Tenho que ir ao centro da cidade, agora!

— Pra que isso, menino? — Admirou-se sua mãe.

— Por favor, mamãe! É necessário!

— Até parece que vou com você ao centro da cidade agora, porque você quer!

— Não dá tempo de conversar — Insistiu o menino apavorado. — É muito importante!

— Estou atrasada pro meu trabalho!

Regis, talvez percebendo que não convenceria sua mãe, saiu correndo para a rua e ainda correndo, continuou sozinho pelas ruas do bairro Solário da Mantiqueira, onde morava, distante pelo menos quatro quilômetros do centro de São João da Boa Vista.

Já estava atravessando a rodovia que segue para a cidade de Águas da Prata e divisa de Minas Gerais, quando sua mãe o alcançou mandando que entrasse no carro e já que não tinha outro jeito, o levou para o local indicado por ele, bem na região central da cidade, descendo do carro, no ponto coletivo que fica ao lado do Banco do Brasil, já na Rua Barão do Rio Branco.

Sua mãe estacionou o carro poucos metros abaixo, seguiu até o menino e ficou acompanhando em silêncio qual seria então seu objetivo naquele local ardente, devido o sol de início de tarde.

Bem devagar o relógio da catedral fora marcando: duas horas e dois minutos... Duas horas e três minutos... Duas horas e quatro minutos... Mais meio minuto e ao longe surgiu um ônibus coletivo que foi chegando lentamente, atravessando meio distraído pela Rua Saldanha Marinho e então, a um pedido de parada pelo próprio menino, encostou-se aquele ponto abrindo sua porta traseira.

Regis ameaçou entrar no ônibus, mas foi segurado por sua mãe. No cruzamento abaixo, o sinal estava vermelho e um caminhão tanque acabava de atravessar, seguindo seu destino sentido centro bairro e com certeza saída da cidade. O menino se afastou da porta, o motorista do ônibus, visivelmente bravo resmungando, fechou a porta e saiu lentamente, cortando em alguns segundos a Rua Campos Salles com o semáforo na luz verde. Regis deu apenas um leve sorriso e disse:

— Já podemos ir pra casa, mamãe!

Ela sem poder compreender, abraçou o menino perguntando-lhe:

— O que está se passando com você, meu filho? Por que queria entrar naquele ônibus?

— Eu não queria!

— Então por que o parou?

— Vamos pra casa comigo?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que esteja conseguindo conquistar você.
Visite-me no facebook:- https://www.facebook.com/HINO100T