P.O.V Percy

Eu realmente não sabia o que estava sentindo. Aquele momento no quarto de Annie foi como um furacão que trouxe de volta todos os sentimentos que antes, eu sentia por ela. Sim. Um amor infantil, de quando eu tinha treze anos, mas mesmo assim uma amor. Meu primeiro amor.
Ainda me lembro do dia em que ela descobriu a traição do pai. Lembro-me de como ela ficou paralisada ao entrar em casa comigo, e ver o pai aos beijos com uma mulher desconhecida. Durante anos, imaginei o que teria acontecido se essa traição não tivesse ocorrido. Talvez Annabeth nunca teria saído de Santa Barbara. Talvez nós dois teríamos ficado juntos.

Flashback on*

–Annabeth, por favor fica lá em casa só mais um pouquinho!- implorei
–Percy! Você sabe que a minha mãe quer que eu esteja em casa às 7!
Ela foi andando pra casa e eu a acompanhei, depois de destrancar a porta, Annabeth deu dois passos para dentro de casa e parou repentinamente. Corri para perto dela e vi uma cena perturbante: o pai de Annie estava aos beijos com uma mulher morena que, definitivamente, não era Atena. Segurei a mão de Annabeth e a puxei para trás, só que, atrás de mim, estava Atena. Ao olhar novamente para onde o pai de Annie estava com a mulher, ele já estava vindo em direção à nós.
–Meu amor eu... Eu posso explicar- disse ele enquanto andava na direção de Atena
–Seu cafajeste!- ela gritou - Sai daqui! Saia!
–Atena...
–SAI DAQUI!- ela gritou mais alto, como um berro
Annabeth continuava calada e a sua mão ainda apertava a minha.
O pai de Annie ficou parado próximo à mim e à filha.
–Percy, você pode levar ela pra sua casa? Preciso resolver algumas coisas aqui. Diga à Sally o que aconteceu.
Eu acenei que sim e puxei Annabeth para fora da casa, andando em direção à minha. Ao chegarmos, fomos direto para o meu quarto e Annabeth sentou-se na cama enquanto eu ligava pra minha mãe e explicava um pouquinho do que tinha acontecido.
Sentei-me ao seu lado e coloquei uma pequena mecha de cabelo loiro atrás da orelha dela.
–Você está bem?- perguntei
Ela me olhou com os olhos marejados e simplesmente acenou que não, e num impulso, a abracei. Ela finalmente chorou. Finalmente deixou as lágrimas saírem e se aconchegou nos meus braços. Acabamos ficando deitados na cama.
Duas horas... Três... Nem sei ao certo. Só sei que acabei cochilando e só acordei com a minha mãe batendo na porta. Nisso, o céu já estava escuro.
–Percy- ela falou baixo, notando que Annabeth ainda dormia em meus braços- Atena trouxe uma pequena mala para ela. As coisas lá não estão das melhores, então ela pediu para Annabeth dormir aqui.
Ela entrou e deixou uma mala rosa em cima da minha escrivaninha.
–Annie?- chamei enquanto acariciava seu cabelo
Ela abriu aqueles olhos cinzas e encantadores pra mim e sentando-se na cama, deu uma olhada ao redor.
–Eu gostaria que tivesse sido apenas um sonho ruim- ela lamentou- Mas não foi né?
Acreditando que essa pergunta era o tipo de pergunta para a qual não se espera uma resposta, já fui falando sobre a mala e que ela dormiria na minha casa.
Já de madrugada, Annabeth e eu, para tentar amenizar o clima, fomos assistir o nosso filme. O Clube dos Cinco.
–O que será que vai acontecer Percy?- ela perguntou olhando para o nada- acho que... Quer dizer, tenho certeza, que minha mãe não vai perdoar isso.
–O máximo que pode acontecer é você mudar de casa Annie- comentei enquanto pausava o filme
–Na verdade é mais fácil eu mudar de cidade...- ela contou
–Como assim?
–Minha mãe recebeu uma proposta de emprego em Nova York. Ela ainda não deu resposta porque era um assunto que ainda precisava ser discutido com o meu pai. Mas acho que, devido às circunstâncias, a discussão nunca vai acontecer.
Dito isso, ela se levantou e me desejou boa noite. Deitei-me ao lado dela na cama e a chamei, querendo entender um pouco mais essa história.
–Annie, você está acordada?
Em resposta, ela se virou e nós dois ficamos cara à cara.
–Você quer se mudar pra NY?
–Lógico que não Percy. Ainda há muita coisa que eu quero viver aqui.
Não consegui resistir. Por alguma razão, aquelas palavras fizeram um duplo sentido na minha cabeça.
Acariciei o braço dela o que a fez fechar os olhos. Fui subindo com a mão até chegar a sua bochecha, seus lábios...
Dei um beijo em sua testa, seu nariz... Fui contornando todo o seu rosto de beijos mas não beijei sua boca. Por fim, me afastei. Quem tomou a atitude foi ela. Puxando-me para perto, ela me beijou em cheio nos lábios e quando não nos restava mais ar, ela rompeu o beijo e aconchegou sua cabeça junto ao meu peito.
Quando acordei, ela não estava mais lá. Minha mãe me disse que Atena viera buscar Annie para que os três tivessem uma conversa.
Ela nem mesmo apareceu na escola.
Fiquei mais dois dias sem receber nenhuma notícia dela.
Até que, numa quarta-feira chuvosa, ela bateu à minha porta.
Cumprimentos normais, como "Oi" ou "Olá" não foram ditos. Ela apenas falou:
–Eu estou indo embora Percy.
–Quando? -perguntei, sem entender nada
–Agora- ela disse, apontando para o carro- eu só quero te deixar isso- ela me entregou um envelope branco e molhado- É tudo que eu não consigo dizer pessoalmente- ela disse
Annabeth foi andando pra fora da varanda, mas eu a puxei e a abracei com força.
–Não se esqueça de mim- ela sussurrou ao meu ouvido, e saindo do meu abraço, colocou o capuz e foi correndo para o carro.
Assim que entrei pra dentro de casa, fui até o meu quarto, tranquei a porta, sentei-me na cama e lentamente abri a carta.

Percy,

Ainda não tivemos a aula de como escrever uma carta então vou só escrever o que eu quero dizer , sem regras de gramática. To nem aí pra isso.
Nesse exato momento, meus pais estão lá embaixo discutindo. Meu pai não concorda com a minha ida pra Nova York, e minha mãe diz que não vai me deixar aqui com ele. Maior confusão. Eu sei que no final das contas quem decidirá sou eu, e por mais difícil que seja, eu não posso ficar aqui com o meu pai. Preciso ir pra Nova York com a minha mãe.
Preciso também, deixar claro uma coisa: eu não pretendo voltar pra cá tão cedo Percy Jackson, então não fique com esperanças de me ver todos os verões ou algo assim. Quero distância dessa cidade. Distância do meu pai. Talvez eu nunca mais volte. É... Acho que nunca vou voltar.
Mas Percy, volte para aquele dia em que matamos o nosso primeiro dragão... Tínhamos o que? Nove anos? Eu disse: "Lembre-se desse momento, guarde ele no fundo da sua mente" foi quando estávamos lá com nossas mãos tremendo, e a multidão se levantou e foi à loucura! Nós éramos os reis e rainhas, e eles leram os nossos nomes. Lembra que naquela noite você dançou como se soubesse que nossas vidas nunca mais seriam as mesmas?
Você manteve sua cabeça como um herói, em uma página de um livro de história, era o fim de uma década... Mas o começo de uma era.
Uma era em que nós dois seríamos reis e rainhas, e que um mundo só nosso começava.
Ah Percy! Vida longa às barreiras que atravessamos! Acho que todas as luzes do reino brilharam só pra mim e pra você...
Eu estava gritando: "Vida longa à toda magia que fizemos! Tragam todos os impostores! Um dia seremos lembrados!"

Nesse momento estou chorando igual quando assistimos o final de O Clube dos Cinco.

Teve uma vez que você trocou seu boné de beisebol por uma coroa. Aquele dia sabe? Aquele dia que eles nos deram os troféus, e nós os levantamos pela nossa cidade.
Acho que você é o único menino da história que teve coragem de trocar um boné de beisebol por uma coroa.
Também lembro que os cínicos estavam indignados, gritando: "Isso é um absurdo!" Porque por um momento, um bando de ladrões, em jeans rasgados conseguiram dominar o mundo...
Vida longa à todas as montanhas que movemos... Eu tive o melhor momento da minha vida, lutando contra dragões com você. Eu estava gritando: "Vida longa!" E tinha aquele olhar no seu rosto! "Tragam todos os impostores! Um dia seremos lembrados..."
E agora eu vou embora e tudo isso não passará de boas lembranças.
Você pode por um momento... Me prometer isso? Prometer que você ficará ao meu lado para sempre? E que se Deus proibir, o destino vai interferir e vai nos forçar a uma despedida? E se você tiver filhos algum dia... Quando eles apontarem para as fotos, por favor, diga a eles o meu nome...
Conte pra eles como a multidão ia à loucura...
Conte para eles como eu espero que eles brilhem...

Eu te amo Percy Jackson... Quero que seja muito feliz.

Com amor, Annie.