Eu estava no meu habitual galho de árvore, esperando o sol nascer, e invadir o quarto de Elsa, fazendo-a acordar, como de costume. Só que desta vez, eu não estava lá, para vê-la se espreguiçar e coçar os olhos, abrir a janela, e deixar o sol nascente aquecer seu pálido rosto, num ritual que fazia desde os seis anos. Assim que, de longe, vi a sua porta janela se abrir e ela caminhar até a sacada, me dirigi até o castelo. Ela estava apoiada na sacada, com os olhos fechados e sentindo a brisa balançar seus cabelos. Fui devagar, me aproximando cada vez mais. Quando finalmente cheguei ao lado dela, sussurrei:

– Bom dia...

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!- gritou ela com a face mais pálida que o normal, com a mão sobre o coração acelerado, tentando de alguma forma, acalmar os batimentos que eu ouvia de onde eu estava.

Eu não aguentei, explodi em gargalhadas. Seu rosto passou de lívido para ruborizado. Logo notei que era de raiva. Engoli em seco.

– Porque fez isso? Quase tive um infarto!- gritou Elsa, com a respiração entrecortada.

Ri mais uma vez, mas agora mais cauteloso, com medo de sua reação. Ela me encarou um pouco e logo, ela me acompanhou, rindo descontroladamente, com sua risada melodiosa. Meu estômago deu uma volta completa ao indício daquele som. Sempre o adorei, mas agora, sabendo que ele é pra mim e fui eu que o arranquei, era melhor ainda. Após seu rosto começar a ficar vermelho de tanto rir, ela endireita a postura e coloca a mão sobre a barriga.

– Vou me aprontar para meus afazeres. Pode esperar? Gostaria que me acompanhasse.

Eu a olhei, incrédulo. Ela queria que eu a acompanhasse durante o dia?

– Porque essa cara? - questiona ela.

– Não, é que... Eu não pensei que você me querer pra te acompanhar, sabe...

Ela ruboriza e continua:

– Bem, é que... Quando eu estou com você, eu sinto como se minha família estivesse comigo de novo... Apesar de eu ter a Anna, minha família quase toda se foi... E... Você me traz a sensação de lar, Jack. Não sei por que.

Senti minhas bochechas corarem, assim como as dela. Ela entrou no quarto e levantou a mão, com apalma direcionada para mim. Um sinal para que eu esperasse.

Esperei e logo ela reapareceu, com sua habitual trança caída no ombro e um vestido verde. Era alegre e tinha uma saia justa, delicada e digna de uma rainha. As mangas eram caídas nos ombros, bem no estilo que ela gostava. Não pude deixar de escapar um suspiro. Ela estava linda. Elsa sorriu, inocentemente, e ajustou a coroa em sua cabeça. A coroa era delicada e parecia que os flocos de neve que Elsa produzia tinham se instalado no alto de sua cabeça e formado a tiara que ela usava. Novamente, o meu estômago se contorceu.

Ela se aproximou e deu uma voltinha.

– Como estou? - perguntou, me olhando fixamente.

– Está... Maravilhosa!

– Obrigada... É muita gentileza da sua parte! – respondeu Elsa, corando.

Ficamos ali, num silêncio que aos poucos foi se tornando constrangedor. Elsa percebendo isso, disse:

– Vamos para meu gabinete? Tenho muito que fazer!

– Claro! Sim, claro... Vamos!

*-*

Estávamos há quatro horas assim. Ela trabalhando e eu a observando. Ela, com sua pena branca, escrevia rapidamente, com sua testa fazendo o vinco que eu sempre adorei. Elsa olhava atentamente para o papel e eu, notando que eu ia morrer de tédio, disse:

– Elsa, estou ficando entediado aqui. Vamos fazer algo divertido!

– Não posso, Jack! Estou atarefada e hoje, John vem me visitar!

Não pude deixar de sentir-me sentir um pouco enciumado. Mas logo vi que era irracional. Elsa era livre para receber quem ela quisesse, e eu não tinha o direito de me sentia assim. Mas este sentimento não me deixou. Então, para esfriar a cabeça, mais do que ela já era, eu comecei a fazer uma mini nevasca no cômodo. Flocos gordos e belos caíam sobre meus cabelos então pude me permitir relaxar. Logo direcionei meu olhar para Elsa e esta me fulminava com os olhos.

– OLHA O QUE VOCÊ FEZ, JACK! MANCHOU TODOS OS MEUS MANUSCRITOS!- Gritou ela, se levantando rapidamente.

Eu também me levantei e fiquei completamente apreensivo. Não queria incomodá-la. Logo ela começou a andar de um lado para outro resmungando e gritou comigo várias vezes. Porém, quando finalmente ela parou, virou sua cabeça para porta, ao sinal de um barulho estranho, e a cor deixou seu rosto.

– Elsa, com quem você está falando?

– Anna? - Elsa sussurrou.