Rhorus escrita por Sandro Morett


Capítulo 2
Brynden Sand


Notas iniciais do capítulo

Já tem capítulo novo. Espero que gostem. :p



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O salão de conferência do castelo dos Rowen em Pedravelha, no Extremossul, estava abarrotado de gente. O bastardo do Lorde Syn Rowen, Brynden Sand, acabara de ser absorvido das acusações de violação de túmulo e sacrifício de seres humanos, graças ao poder de seu pai.

Os parentes das vítimas e acusadores saíram cabisbaixos do salão sem acreditar que o monstro a quem chamavam de víbora prateada continuaria livre. Mesmo ser mandado para o exílio se mostrava pouco perto do que ele merecia.

As algemas da Víbora foram libertas e ele esfregou os pulsos vermelhos. O rapaz de 26 anos tinha a pele típica de alguém do Extremossul; morena acobreada, uma coisa bela. Seus cabelos eram um hirsuto matagal prateado que lhe caía sobre os ombros, sua barba era negra e estava por fazer, e seus olhos... seus olhos eram do púrpura mais abissal; profundos e acuadores.

Lorde Syn Rowan chamou seu filho até o Cadeirão de Arenito, onde há séculos os Senhores de Pedravelha sentam os traseiros. O rapaz se aproximou e caiu sobre um joelho.

– Você fez coisas terríveis contra meu povo. Não sei oque aprendeu nas terras distantes para lá do mar com aqueles povos de costumes estranhos aos nossos, mas você mesmo bastardo é sangue do meu sangue, então não posso permitir que o executassem ou o mandassem para o exílio. – o Lorde falou colocando a mão em seu ombro. – Dar-te-ei uma chance de mostrar seu valor. Nasceu da areia, filho. Nosso símbolo é a lança dourada sobre a duna.

– Teu símbolo, pai. – Brynden interrompeu-o, ainda fitando o chão. – Sou um bastardo, não um Rowen.

– É meu filho. Meu primogênito, mesmo não sendo legítimo. Portanto fará oque é de se imaginar que um filho deve fazer.

– Se assim deseja. – Velho, Pedravelha ainda será meu. – O que quer de mim, pai?

– Darei a liderança de uma pequena tropa. Sessenta homens. Chame-os como quiser, dê-lhe as ordens que quiser, mas em seu tempo, deve marchar para o norte, contra o Senhor das Matas.

Sessenta homens contra Terralta? Esse velho enlouqueceu., Brynden pensou sem mostrar o quão alarmado estava. Fez-se de honrado.

– Obrigado pai. Será uma honra marchar sob seus estandartes e comandar homens seus. – Está me mandando para morrer., ele compreendeu de súbito enquanto proferia aquelas falsas palavras. Fui condenado, só não me avisaram ainda.

– Que bom que aceitou.

Aposto que não é como se fosse me dada a escolha de recusar., a Víbora pensou antes de proferir as palavras que acabara de planejar. Talvez saísse algo de bom daquilo.

– Pai, se lhe trouxer a cabeça do Senhor das Matas, tudo que lhe peço é que me dê seu nome. Quero ser um Rowan, tal com o senhor e meus irmãos e irmãs.

O velho Lorde Rowan pareceu preocupado com a sugestão do bastardo. Olhou-o de cima a baixo. Fitou aqueles olhos púrpuros que eram cegos a qualquer tipo de bondade e misericórdia. Procurou a mentira e a encontrou; Brynden não era o tipo de esconder sua verdadeira intensão por trás de sorrisos e gracejos, deixava-a exposta em seus olhos para quem quisesse ver; mas o velho Lorde pouco tinha a fazer em relação àquilo, e por fim assentiu.

– Terá meu nome se assim desejar. Se voltar da batalha com a cabeça do Senhor de Terralta proclamar-te-ei um Rowan em frente a todos Senhores meus vassalos, e mandarei uma carta ao Rei.

– Sendo assim, não me demoro em voltar. – Disse Brynden com um sorriso zombeteiro, dando as costas e saindo do salão.

Pedravelha era um enorme castelo marrom e dourado. Todas as torres tinham vista para o mar e em todos os tapetes e cortinas a lança sobre a duna era exibido, forte e incólume.

Brynden saiu do salão para o arsenal, para falar com o mestre de armas do castelo.

– Meu pai vai me mandar para a guerra. Pede que me dê sua melhor lança e sua melhor armadura.

O mestre de armas fitou bem à víbora. A filha do homem havia sido uma das vítimas do bastardo impetuoso.

– Isto é tudo oque Lorde Rowan disse pra te dar. – e colocou uma armadura marrom de couro fervido sobre uma mesa de trabalho, um meio elmo de ferro amaçado e uma lança curta.

– Está zombando de mim? – Brynden fitou incrédulo seu equipamento. – Dê-me o melhor!

– Ordens são ordens, bastardo. – disse o mestre de armas dando bastante ênfase à última palavra. Virou-se então e começou a caminhar em direção à saída.

Brynden olhou-o partindo lentamente. Seus olhos mostravam a raiva que sentia. Pegou a lança curta, sentiu o peso jogando-a para o ar umas três vezes e mirou nas costas do velho armeiro.

Certeiro.

Depois abaixou a lança, colocou seu colete de couro fervido sob o braço e saiu para o pátio, para encontrar seus homens.

Você morrerá. Mas antes tem de me ver virar Lorde Brynden Rowan.

O pátio do castelo estava abarrotado de barracas. Quatrocentos homens se despunham em diversos pavilhões; um com cento e quarenta, dois com cem e um com sessenta. No outro canto, uma enorme tenda havia sido armada e dentro dela estavam seus três irmãos; Sir Jonas Rowan, o primogênito dos filhos legítimos de Lorde Rowan, Ryan Rowan, o terceiro depois de Brynden e o mais novo dos filhos homens, Edd Rowan, com dezesseis anos.

Brynden foi para dentro da tenda ter com seus meio irmãos. Ryan e Edd ainda acenaram com a cabeça, mas Jonas se mostrou bem menos amistoso.

– O que este bastardo faz aqui? Ele deveria estar sendo executado, ou mandado para exílio. – disse Jonas ao ver Brynden.

– Também estou feliz em te ver, irmão. – Brynden respondeu com seu mais frio sorriso.

– Papai está te mandando para morrer. – Jonas falou se aproximando da víbora. Ficou cara a cara com o bastardo, encarando-o nos olhos. – Ele só te deu sessenta homens, é claro que não espera que você volte vivo.

Brynden olhou Jonas com um ar de despreocupação e se sentou ao lado do irmão Ryan.

– Todos nós morreremos. – falou ele. – Quatrocentos homens são de longe uma quantidade pequena para tomar Terralta. – olhou para Edd, o mais novo, que já tremia muito antes de toda aquela conversa começar. – Acho que Lorde Rowan tem preferência pelas filhas. Elas devem se mostrar bem mais valentes em batalha. – e sorriu.

– Quem é você pra falar, víbora? – Ryan interveio. – Nunca esteve à frente de um exercito.

– Mas já estive de frente com piradas, Saltimbancos, bruxas e criaturas que vocês nunca imaginaram ver. Já fui ter com os mortos e eles me mostraram como dançar corretamente com uma lança. Estive em Asran e aprendi a fazer venenos, cozê-los da forma correta, misturá-los e criar novos. – fez uma pausa dramática, pôs-se de pé e voltou a falar, fitando sombriamente cada um de seus irmãos. – Aprendi com bruxas o real poder que o sangue humano tem...

– Então volte para Asran, aqui não tem utilidade nenhuma, a não ser que precisemos de um homem louco que pensa que beber sangue o torna mais forte. – falou Jonas, e Edd tremeu.

– Mais forte e mais destemido, tanto que ficarei com o comando das tropas. Marcharemos juntos amanhã.

O mais velho dos filhos legítimos fitou a víbora com incredulidade.

– E quem você acha que é pra nos liderar, bastardo?

– O mais velho de quatro filhos homens. – Brynden respondeu com um meio sorriso zombeteiro.

– Tem seus sessenta homens, lidere-os e só. – Jonas falou andando novamente até a víbora. Dessa vez deu-lhe um encontrão. – Eu liderarei o resto das tropas.

Brynden se afastou levantando as mãos e sorrindo.

– Calminha, irmão. – disse ele. – Vamos lá pra fora. Resolveremos isso na ponta da lança.

Saindo da tenda Jonas vestiu uma cota de malha com a ajuda de seu escudeiro, colocou uma armadura pesada esmaltada com as cores da areia do deserto e um elmo encimado por uma lança marrom; pegou uma espada de uma mão e um grande escudo de carvalho, indo em seguida para o centro da roda que os soldados abriram para afastar aqueles que poderiam interferir. Brynden olhou toda aquela preparação e sorriu. Vestiu a proteção de couro fervido que tinham lhe reservado e pegou a lança.

Pelo menos respeito às tradições da família., pensou rodando a lança no nó dos dedos. Que Mahak me dê forças.

Jonas foi o primeiro a brandir sua arma contra o oponente. Brynden viu o golpe vindo lateralmente contra seu rosto e esquivou se abaixando, girou a lança com agilidade e arremeteu contra o pé de seu irmão, mas ela resvalou no aço da armadura.

Tenho que achar as juntas., ele teve um lampejo, sentindo-se um idiota por se esquecer de como se luta contra homens de armadura pesada. Sua armadura de couro era leve e lhe dava mais mobilidade para esquivar e atacar com velocidade, já a de seu irmão era pesada demais, tornando-o lento, tudo o que tinha para lhe proteger das investidas diretas da lança era o escudo de carvalho que ele usava no braço esquerdo.

Enquanto Brynden o estudava, Jonas lançou outro golpe contra a víbora; uma estocada na altura do umbigo; Brynden saltou para trás, mas perdeu o equilíbrio e Jonas avançou novamente, empurrando o bastardo com o escudo. Brynden cai, e Jonas cai sobre ele largando o escudo e tentando cegamente apunhalar o meio-irmão com a espada, segurando-a com as duas mãos, mas a víbora é mais rápida e rola para o lado, pondo-se de pé. Agora a luta mudara completamente a seu favor. Jonas estava ajoelhado no chão, tentando tirar a espada que ficara presa no solo e Brynden estava sobre ele com a lança bem erguida, pronto para enfiá-la na junta do gorjal, no pescoço do herdeiro de Pedravelha...

... quando Lorde Syn Rowan aparece nas escadarias que davam para o pátio.

– Parem já com isso! – sua voz ecoou como trovão e Brynden se afastou, dobrando o joelho em seguida.

– Perdão pai, era apenas um jogo para decidir quem lideraria as tropas durantes as marchas. – o bastardo falou fitando o chão. Esperava com sinceridade que ninguém visse o largo sorriso em seu rosto. Jonas acabara de se levantar e estava tirando o elmo.

– Dei homens a todos. Cada um com sua tropa. Marchem individualmente, unam-se a quem quiserem, mas não se matem antes de chegar a Terralta!

– Sim senhor. – os filhos responderam em uníssono.

– Dispensados! – e os homens de dispersaram.

Brynden caminhou até seus homens. Mesmo nisso seu pai tinha sido cruel. Eram todos velhos, ou crianças recentemente armadas como soldados que nunca sequer tinham pegado em armas. Alguns poucos eram homens feitos, porém aleijados. Uns tantos arqueiros e uma porção maior de lanceiros. Todos velhos, aleijados, ou crianças.

A víbora teve de rir.

– Homens! – ele gritou subindo em um barril de vinho. – Você são víboras como eu! – os homens se viraram para seu comandante. – Vestem couro fervido, e lhes foram dadas armas enferrujadas. Estamos indo para lá para surpreender! Vamos surpreendê-los todos! Vamos matar aqueles homens da Mata, queimar seus campos, estuprar suas mulheres e roubar seus tesouros. Essas serão nossas honrarias! – respirou fundo e suspirou. – E vamos voltar vivos! Sabem por quê? – os sessenta homens estavam atônitos. – Porque somos víboras! Nós surpreendemos a todos!

E ouviu-se um clamor. Quase sessenta homens gritando e batendo suas armas no chão: Víbora, víbora, víbora, víbora. Vivas à víbora prateada.

A gritaria chamou a atenção dos homens dos outros pelotões, que começaram a olhar com olhos curiosos toda aquela aclamação.

Ainda há aqueles que me jugam um monstros, ele notou, olhando para alguns poucos que murmuravam ofensas. Mas isso será por pouco tempo. Agora vem o outro passo, pensou indo em direção ao pavilhão de Edd, o mais novo dos irmãos.

Na maior barraca estava o garoto de cabelos castanhos. Uma criada enviada pelo pai lhe fazia massagens nos pés para aliviar o estresse, e o garoto parecia já bem mais calmo.

– Irmão! – Brynden gritou entrando abruptamente na tenda.

Edd já começou então a tremer.

Começo a achar que sou eu quem lhe assusta.

– Que honra tê-lo em minha tenda... Irmão. – o garoto falou, estendendo uma mão trêmula.

– Ah, finalmente alguém que não me chama de bastardo. – Brynden respondeu puxando a mão de Edd pra lhe dar um abraço. O garoto pareceu relutante, mas não lutou.

– O que quer falar comigo?

– Vim lhe fazer uma proposta.

– Diga.

A víbora então pensou na forma certa de falar. Edd era um rapaz covarde e verde, mas era um Rowan, portanto se ofenderia com facilidade.

– Venho lhe propor que se junte a mim.

– O quê?

– Que junte suas forças às minhas. Marche ao meu lado. Seus cento e quarenta homens completam os meus sessenta - e não o contrário. – Assim, prometo que nada lhe acontecerá na batalha.

– Toma-me por tolo, irmão? – os tremores de Edd agora eram de raiva.

O tomo por covarde, Brynden pensou em dizer, mas em vez disso pôs a mão em seu ombro e disse:

– Tomo-o por um irmão. O mais honrado de três. Se há alguém que quero ver sair bem dessa batalhe, é a ti.

Edd pareceu surpreso com a resposta e enrubesceu. Passou a fitar o chão.

– Se assim diz, seria ótimo me juntar a ti. Mas meus irmãos me odiariam.

– Jonas o odiaria. Ryan é sempre neutro.

– Jonas é o herdeiro. E Ryan, depois dele. Se eles me odiarem o que será feito de mim quando um deles assumir o trono?

O trono será meu, tolinho.

– Entendo. Pois bem, se mudar de ideia, venha ter comigo em minha tenda. O receberei de braços abertos. – e começou a andar em direção à porta da tenda, parando abruptamente. – E moça – olhou para a criada. – trate bem do meu irmão esta noite. Amanhã ele parte pra guerra, um jovem não deve morrer sem saber das coisas.

Do lado de fora o sol já se punha. Brynden tinha apenas uma última tentativa. Caminhou até o pelotão de Ryan e entrou na tenda. Ele repassava alguns mapas para seus capitães, mostrando-lhes os desertos, pelo visto ainda não havia lhe ocorrido que todos os outros eram veteranos de guerra e apenas ele nunca havia ido a uma batalha.

– Irmão! – gritou entrando na tenda. – Posso ter uma palavrinha com você?

Ryan assentiu, acenando para que seus capitães saíssem.

– O que quer, bastardo?

– Ah, você não é gentil falando assim comigo.

– Diga o que quer, não tenho a noite toda.

Brynden então tirou o sorriso da face. Fitou o meio-irmão do meio com olhos duros como pedras púrpuras. Rodou-o uma, duas, três vezes, como que o avaliando e se sentou, atrás da mesa dele.

– Você serve bem.

– Para o quê? – Ryan quis saber. Estava começando a ficar assustado.

– Para governar Pedravelha. Sempre preferi você ao seu irmão Jonas.

Aquilo pegou Ryan de surpresa.

– O que quer dizer com isso?

– Exatamente oque disse. – Brynden respondeu – Estou dizendo que prefiro um Rowan que não me odeia no comando a um que me odeia. Sou o mais velho de quatro filhos homens, mas sou bastardo e minha pretensão vem depois de irmãs, tios e primos. Irmão, conto que você é o melhor para governar quando nosso pai se for, mas se tiver que ser Jonas... Bem, temo por Pedravelha.

– Por que diz isso? – Ryan perguntou afagando a fina barbicha que lhe crescia sob o queixo.

– Jonas foi feito refém em Terralta por dez anos. Isso fez com que ele ficasse mole. Você o viu hoje. Ele esquece a lança de bronze pela espada de aço. Ele esquece nossos costumes. Tem de ser um verdadeiro Rowan a governar Pedravelha. E um Rowan é bronze, antes de carne e ossos. Jonas se tornou ouro e prata.

Ryan assentiu no mesmo instante. Coçou a cabeça, balançou-a como que se o pensamento que lhe passava pela cabeça o perturbasse, mas por fim falou:

– E o que pretende fazer?

– Dê-me sua ajuda, e prometo que nosso irmão não poderá levantar sua pretensão quando nosso pai morrer.

– E como posso ter certeza?

– Ora, sou uma víbora. É o bastante para lhe fazer acreditar.

– Certo. – Ryan disse. – Te dou metade dos meus homens. Que faça oque tem de fazer. Pedravelha precisa de um Rowan não é?

– Sim.

– Então quem melhor que eu?

Brynden sorriu.

– Sim.

– Vá. Escolha os homens que quiser. São seus.

– Obrigado irmão. – e eles deram as mãos. O trato estava feito. O primeiro passo para sua ascensão.


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Notas finais do capítulo

Olá, olá, já estou aqui de novo.
Então, os primeiro capítulos já estão bem adiantados aqui pra mim, por isso eu acredito que poderei postá-los com uma frequência diária, então se alguém estiver com vontade de ler, pode esperar, por que todo dia vai ter pelo menos um capitulo novo por um bom tempo.

Em relação ao personagem introduzido, eu posso explicar (q). Quando criei ele, eu participava de um rpg de mesa, então ele não foi o mais original de todos, porém, ele ainda assim é um dos meus mais queridos por conta da sua personalidade (sem protagonismo. -q). Brynden é o tipo de homem que quase, quase não tem escrúpulos, e pode fazer quase tudo para conseguir o que quer, mas... não, pera, melhor eu parar de falar por aqui. Vocês vão conhecer ele melhor daqui em diante. -q

Enfim, espero que vocês também gostem dele. -q
Ou que pelo menos gostem de odiá-lo. u.u
Bye