A Rainha Bastarda escrita por CGillard


Capítulo 8
Capítulo 8




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10 anos depois...

Oriane observava, silenciosamente, a paisagem que a lembrava tanto de sua infância. Quando criança adorava correr por entre essas árvores, aproveitando o clima ameno da estação. Recordava-se do tempo que passava com Thomas, descansando após uma longa corrida ao leito do rio, ouvindo o som dos pássaros ao fundo. Mas essa realidade lhe fora tirada precocemente, e o convento nada trouxe além de amargas lembranças. Exceto por Mairead, sua irmã. Ambas cavalgavam, lado a lado, o castelo de sua família já se tornando visível. Logo chegariam. Passados tantos anos, rezava para que Thomas estivesse o mesmo.

Thomas. Sentira tanta falta de seu irmão, que às vezes lhe doía o peito. Esperava ansiosamente pelo reencontro, era a única alegria que sentia em voltar para casa. “No que tanto pensa?” sua irmã perguntou, curiosa. “Não para de olhar essas árvores desde que saímos do convento”. Mairead era a irmã de sangue de Oriane, filha de sua mãe, Heather. As duas não se pareciam muito, enquanto Oriane tinha os cabelos dourados como o pai, Mairead herdara os cabelos negros da mãe, fruto da linhagem escocesa. A única semelhança que possuíam eram os olhos. Um azul claro e expressivo, traço mais marcante na fisionomia das irmãs.

“Lembranças. Tudo o que me restou de um tempo que não voltará mais.” Respondeu, um tom frio e nostálgico. Mairead apertou sua mão, procurando reconforta-la. Sabia o quão difícil era para Oriane retornar a casa que não via há anos. Seu pai a abandonara naquela prisão, e parecia haver se esquecido de sua existência. Ela tentou consolar sua irmã o máximo que pôde, mas sabia que não era fácil. Ambas se conheciam desde o primeiro dia no convento, e passaram por muita coisa juntas. Mairead vira a irmã crescer e se transformar na mulher que era hoje. Tinha muito orgulho dela, mas temia que sua personalidade forte e independente acabasse a destruindo de alguma forma.

Não disse mais nada, permanecendo em silêncio. Em poucas horas já adentravam o grande castelo, e irmã mais velha não pode evitar sentir-se impressionada com tamanha opulência. Era uma jovem pobre, não estava acostumada a ter contato com a riqueza. Oriane, por outro lado, permaneceu impassível durante todo o trajeto. Olhava para frente, a postura rígida e a feição imperturbável, não demonstrando o que se passava em sua mente. Como uma verdadeira rainha. Mairead pensou, com profunda admiração.

Mas sua impassibilidade alterou-se quando avistou seu irmão, esperando-a. Um sorriso iluminou sua face, e todas as preocupações fugiram-lhe da mente. Somente uma coisa lhe importava, ver Thomas de novo. E a forma como ele retribuiu tal sorriso expressava o quanto também sentira sua falta. Oriane não pode conter-se e aumentou o passo de seu cavalo, procurando diminuir mais rapidamente a distância existente entre ambos. Thomas, percebendo a atitude da irmã, riu enquanto caminhava em sua direção. Assim que se encontraram frente a frente, ele a ajudou a descer do animal.

“Oriane?” perguntou, segurando seu delicado rosto entre as mãos. “Não, não pode ser minha irmã. Está tão diferente, mudou tanto.” Antes que pudesse responder, ele adicionou. “Está linda. Mais do que linda, na realidade, minha irmã.” A felicidade parecia explodir no coração de Oriane, que não conseguiu expressar nenhuma reação além de sorrir. Via a admiração nos olhos do irmão, o deslumbramento, o fascínio. E sabia muito bem que seus olhos refletiam os dele, as mesmas emoções, a mesma adoração.

“Você também mudou, meu irmão.” Ela desviou o olhar para que pudesse admirar o homem que ele havia se tornado. “Parece tanto tempo desde a última vez que nos vemos. Temi que não lhe reconhecesse. Mas aqui” ela segurou seu rosto, olhando-o diretamente nos olhos “ainda permanece igual. E nada me alegra mais.” Ele sorriu, antes de puxá-la para um abraço forte e apertado, girando-a no ar. Oriane riu diante tal gesto, aproveitando a sensação que era estar nos braços de Thomas. Todos os problemas pareciam sumir de sua mente, como se nem estivessem ali.

“Alegra-me ver que sentiu minha falta, minha irmã, pois não tenho pensado em nada além desse reencontro, tamanha aflição que sentia.” Pela primeira vez Oriane percebeu a escuridão sob os olhos de Thomas, sinal de que o mesmo não havia dormido. “Não se preocupe.” Ele disse, notando a expressão no rosto da princesa. “Com sua chegada, meu coração encontra-se mais tranquilo e, com certeza, descansará bem esta noite. Agora venha, creio que nosso pai deseja vê-la.” sua voz tornou-se mais baixa, e um tanto sombria ao proferir as últimas palavras.

Instantaneamente o corpo de Oriane enrijeceu-se. Percebendo a mudança da irmã, Thomas segurou-lhe a mão para que ela o acompanhasse. “Respire, Oriane. Tudo ficará bem” Após suspirar profundamente, ela retomou o controle sobre suas emoções e, com um sorriso em seus lábios, dirigiu-se ao seu tão detestável pai. Oriane aprendera ao longo dos anos esconder perfeitamente as emoções que se passavam em seu coração. Era algo de que se orgulhava, a forma como conseguia manipular qualquer um com sorrisos falsos e gestos calculados. Não seria difícil interpretar um papel de filha perfeita frente ao rei, e era exatamente o que ela faria.

Thomas ficou confuso com o radiante sorriso de Oriane, mas o aperto em sua mão indicava que ela estava bem. “Que comece a peça.” Ela sussurrou, para que apenas ele a escutasse, e então Thomas entendeu. Sozinha, ela caminhou lentamente até seu pai, abrindo os braços para recebê-lo. “Meu pai, que saudades senti do senhor.” William, atônito diante tal comportamento, demorou alguns segundos até responder seu aparentemente carinhoso abraço. Mas quando o fez, parecia satisfeito. Na realidade, parecia mais do que isso, era como se fosse transbordar de felicidade.

“Minha querida, se soubesse que agiria desta forma teria te trazido antes.” O sorriso de Oriane não vacilou, mesmo que seu interior tremesse de ódio e repulsa. “Mas, pelo visto, os céus atenderam o meu pedido e não guarda mágoas de seu pai. Sabe que eu queria apenas o seu bem, não minha linda filha?” ele disse, os braços ainda envolvendo Oriane, como se não fosse capaz de deixa-la ir.

“Claro que entendo, meu querido pai. Tudo está no passado agora.” William sorriu o mais abertamente que pôde, deixando todos seus dentes a mostra. Thomas admirou-se da habilidade de Oriane em dissimular tal personagem. Aquela não era ela, mas apenas quem realmente a conhecesse saberia disso. Mesmo com um sorriso tão amplo, sua face continuava pálida e os olhos não brilhavam da forma como fizeram quando ela estava com ele. Mas é claro que William não se daria conta disso, não quando ela se mostrava tão dócil e amável.


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