A Rainha Bastarda escrita por CGillard


Capítulo 7
Capítulo 7




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Depois de horas envolta nos braços de Thomas, Oriane finalmente conseguiu relaxar o suficiente para dormir um sono agitado. Diversas vezes ao longo da noite, ela se encontrou chorando no colo do irmão. Mas ele nunca a deixou, nem por um segundo. Não importava o quanto ela gritasse, e até mesmo o agredisse na escuridão do quarto, seus braços continuaram firmes ao redor dela, confortando-a, e seus lábios sempre encontravam o caminho de volta à sua fronte.

De repente, em um dos poucos momentos de lucidez, Oriane realizou que aquela era a última noite que passaria com seu irmão. Mesmo com a dor da traição ainda fresca em sua mente, a ideia de não ver Thomas durantes anos trouxe certa clareza. “Thomas...” ela sussurrou, tentando olha-lo na penumbra da noite. Mas mesmo a luz da lua que entrava por entre as janelas não era capaz de iluminar o quarto. Ou as emoções de ambos os irmãos. Sem que fosse dita mais uma palavra, Thomas entendeu o que Oriane queria dizer.

Ele a abraçou o mais forte que pôde, deixando-se ser vulnerável ao menos aquela vez. Antes que conseguisse contê-las, lágrimas escorriam por seu rosto. “Como poderei suportar sua ausência, ‘Ane?” Ele a sufocava em seu aperto férreo, mas Oriane não se importou. Não quando ele estava tão perto, quando até seu calor a aquecia.

“Não pense nisso, Thomas.” Ela segurou seu rosto, limpando carinhosamente as lágrimas. “Sempre te amarei. Sempre. Lembra-se do que disse uma vez, quando éramos menores? Nada nunca irá nos separar.” ele concordou silenciosamente. “Agora volte a dormir. Estarei aqui quando o sol nascer.”

O resto da noite se passou sem mais acontecimentos, com Thomas acariciando suavemente os cabelos de sua irmã enquanto entoava uma canção de ninar, assim como fazia quando eram crianças. Depois de algumas horas, Oriane acabou adormecendo, ainda ouvindo a doce melodia cantada por seu irmão. Quando sentiu os raios de sol em seu rosto e uma suave pressão em seu ombro, percebeu que já amanhecera. Por um momento desejou que o dia anterior não tivesse passado de um sonho ruim, um cruel pesadelo. Mas ao abrir os olhos e encontrar Thomas encarando-a com tanto pesar, soube que era verdade. Ela iria embora, e não tinha nada que pudesse fazer a respeito.

“Oriane...” ele sussurrou, tocando carinhosamente seu rosto. “Temo que deva se arrumar agora. A carruagem já deve estar a caminho.” Thomas mal encontrou voz para proferir tais palavras. Oriane abraçou-o com força, escondendo seu pequeno rosto no ombro do irmão. Implorou silenciosamente por conforto, pelo consolo que só Thomas poderia oferecer. Mas já era tarde demais. Ele abraçou-a com a mesma veemência, como se nunca mais pudesse soltá-la.

Permaneceram assim até a criada entrar no quarto para ajudar Oriane a se preparar. Thomas despediu-se mais uma vez antes de sair, garantindo que tivessem privacidade. Ele andou lentamente até seus aposentos, sentindo-se exausto. Jogou-se na cama, sabendo que nunca conseguiria dormir. Recusava-se a pensar em como seria sua vida sem a presença de sua pequena irmã. “Minha Oriane...” sussurrou para si mesmo, deixando que a emoção o controlasse. Lágrimas escorriam por sua face enquanto repetia a mesma frase, cada vez mais alto. “Não me deixe, Oriane. Minha pequena Oriane.”

Oriane olhou-se uma última vez no grande espelho antes de descer as escadas. Já a haviam chamado mais de três vezes, e o rei já começara a perder a paciência. Assim que chegou ao portão, seu irmão a aguardava de braços abertos. Eles se abraçaram novamente, sem proferir uma palavra. Conversaram silenciosamente, uma promessa no olhar. Finalmente ela dirigiu-se ao seu pai e madrasta, sorrindo friamente. Recusando-se a trata-los da mesma forma que fizera com o irmão, Oriane limitou-se a curvar-se formalmente.

William amava profundamente sua filha, e sabia o quanto a machucara. Passou todo o dia anterior esperando-a aparecer, demandando explicações, implorando para que mudasse de ideia. Mas ela não o procurou, não recusou obedecer a seu comando. O rei não teve outra alternativa a não ser ordenar que Thomas contasse a ela toda a verdade, a integrasse de seu futuro. Thomas e Oriane sempre foram muito próximos, e apenas ele saberia o que dizer a ela, como consolá-la da maneira correta.

“Perdoe-me, Oriane. Um dia entenderá as razões por trás de minha decisão.” Ela simplesmente acenou com a cabeça, mal ouvindo as palavras. Sua mente estava perturbada, confusa. O que mais desejava era sair daquele lugar, da presença sufocadora de seu pai e madrasta. Eleanor olhava-a diretamente com uma expressão fúnebre, mas Oriane percebeu o sorriso que escondia em seu olhar. Tudo não passava de um teatro, uma encenação, um jogo de xadrez. O rei puxou-a contra si, abraçando-a. Oriane retribuiu o gesto, apática.

Ela entrou lentamente na carruagem, com a ajuda de Thomas. Voltou-se para ele uma última vez, e leu em seus lábios a mensagem que estava lhe mandando. Escreverei para você, minha pequena. Nunca estará sozinha. “Nunca. Amo-te.” ela sussurrou para que só ele ouvisse. Com um sorriso nos lábios ele a deixou ir. Oriane não olhou para trás uma única vez.


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