Nothing Else Matters escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 7
Um porto seguro




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— Isso é bom – Emily ouviu Maya dizer do outro lado da linha assim que disse “alô”.

Ouvir a voz dela ainda que por telefone a deixava nervosa. Mas era um nervosismo bom, que a fazia encolher os joelhos e morder o lábio inferior antes de responder a qualquer pergunta, começando por “como foi seu dia?”.

Para Emily, era como se Maya estivesse ali com ela, naquele quarto, o que era docemente perturbador, ou perturbadoramente doce, ela ainda não tinha certeza.

Conversaram por mais de uma hora, e não pareciam estar flertando uma com a outra, pareciam simplesmente amigas. E Emily estava carente por uma dessas. Sempre esteve, na verdade. Isso porque, desde o jardim de infância, pseudo-amigos iam e vinham, mas nunca se solidificavam. Quando era pequena, Emily chegava a pensar que tinha algum tipo de doença, algo que fazia com que as pessoas se afastassem dela. E por anos teve pena de si mesma.

Ela e a irmã, porém, tinham uma ligação muito especial, talvez por Carolyn ser adotada e não ser como o resto daquela família, regrado e perfeito. Carolyn descobrira sobre a adoção aos sete anos de idade, depois de perguntar para os pais algo como “por que eu sou a única na família com cabelo cor-de-laranja?”. A pequena chorara por horas seguidas e quando Emily, na época com nove anos, fora ao quarto dela perguntar o que de tão ruim tinha em ser adotada, Carolyn parara com os soluços e pensara por um longo tempo. “Eu não sei”, dissera ela por fim.

Emily, pacientemente, lera histórias para Corolyn dormir durante toda aquela noite. E fazer a irmã se sentir melhor naquele dia peculiar era a melhor memória da infância de Emily e ela não a trocaria por nenhuma festa de aniversário lotada no mundo.

Atualmente, era bastante costumeiro para Carolyn fazer piadas sobre ser adotada, o que mostrava que a estranheza que teve em relação a isso aos sete anos, ficara em seus sete anos apenas.

Era por isso que, por mais que sempre que Emily estivesse triste Carolyn dissesse que ela era a melhor nadadora que vivia na Terra, Emily sentia que queria ser mais como Carolyn, e não o contrário, como seria o esperado.

Nas férias de verão antes do sétimo ano de Emily, Carolyn conhecera uma garota dois anos mais velha, Jodie, que provavelmente moldara Carolyn ao que ela era atualmente. A garota tinha o cabelo tingido de preto e usava geralmente roupas de mesma cor, o que incluía maias-calças rasgadas e tudo o mais.

Carolyn e Jodie ainda eram melhores amigas atualmente, mas os pais definitivamente não aprovavam aquele tipo de companhia para sua caçulinha. Nunca diziam muita coisa, mesmo assim, observavam de longe apenas, com olhares desgostosos. Emily porém, sempre teve um pouco de inveja da amizade das duas, principalmente quando elas subiam para o quarto de Carolyn e ficavam escutando heavy metal no último volume.

Emily por vezes admitira que Jodie era bonita e que admirava a personalidade daquela garota pirada. Talvez tenha sido observando-a que Emily admitira pela primeira vez gostar de garotas. Por vezes Emily igualmente admitira que desejava ser vista por Jodie como uma amiga também, mas isso nunca aconteceu. Elas trocavam apenas sorrisos e “heys” simpáticos e apenas isso.

Mas agora, com Maya ao telefone, era como se Emily já tivesse tudo o que sempre desejara. As duas conversaram desde sobre coisas banais como “quais suas matérias favoritas na escola?” até sobre coisas mais sérias – onde ela notava uma diferenciação no tom de voz de Maya – como “o que você procura em alguém para começar um relacionamento?”. Emily respondeu o básico – lealdade, senso de humor, autoconfiança – e gostou como Maya usou o “alguém”, não identificando se tal seria menino ou menina.

Emily contou-a sobre o pai e o exército e sobre como sentia falta dele.

— Ele está no Afeganistão agora – informou ela – E esperamos que ele volte ao fim desta semana.

Maya vibrou de forma inocente ao ouvir aquilo.

— Meu Deus! Eu nem imagino o quão feliz você deve estar!

— Sim, estou – Emily disse tristemente – O problema é que ele ficará em casa apenas durante o fim de semana e depois será mandado para o Canadá para treinar um pelotão aspirante.

— Bem – Maya suspirou – , pelo menos são alguns milhares de quilômetros a menos, não?

— Pois é – ela tentou rir – E tenho certeza de que algumas bombas a menos também.

Só desligaram porque a mãe de Emily bateu de leve na porta do quarto da filha para avisar que o jantar estava pronto. Mas ainda havia tanto que Emily queria perguntar! Porém a orelha direita dela estava de fato dormente.

— Maya? – Emily chamou-a para dizer uma última coisa – Obrigada. Por, sabe, isso. Significou muito para mim – ela sentia que nunca havia sido tão honesta sobre algo na vida.

Maya ficou quieta por dois segundos e Emily teve certeza de que ela estava sorrindo e tinha um “aaw” preso na garganta.

— Você não tem absolutamente nada pelo que me agradecer, meu bem – disse ela naquela mesma voz aveludada que tinha usado para dizer a Emily que ela tinha a mente “nublada”.

Já na sala de jantar silenciosa, Pam se virou para Carolyn com um olhar cansado.

— Querida, quantas vezes eu já não lhe disse que não quero celulares na mesa?

— Ah – disse Carolyn distraída, fazendo o aparelho voar pelo ar e aterrizar no sofá mais próximo – , desculpe.

A mãe das garotas deu uma garfada em sua comida.

— Então, como foi o dia de vocês? – perguntou ela numa voz animada.

Carolyn deu de ombros.

— Bem, eu acho.

— Emily? – Pam virou o rosto para a filha mais velha.

Emily sentia o peso do olhar da mãe sobre si, porém ela mantinha a cabeça baixa e brincava com suas ervilhas. Seu interior palpitava com uma grande e inesperada felicidade. Ela precisava falar, mesmo que fosse parte da verdade e mesmo que ninguém ali desse a mínima.

— Eu estou conhecendo melhor a filha dos St. Germain – disse Emily baixinho, com um sorriso bobo no rosto e ainda brincando com a comida – Ela é... incrível.


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