Nothing Else Matters escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 6
Teenage drama




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O ar fresco da manhã fazia Emily se sentir bem. Encontrou Toby na entrada da escola e o sorriso amigável no rosto dele fez com que ela se sentisse acolhida. Trocaram um abraço macio e Emily admitiu para si mesma gostar da colônia que Toby estava usando.

Conversaram um pouco sobre bandas de rock clássico antes da aula começar. Toby fazia a maioria das indicações e Emily apenas escutava, alegando não se considerar uma “pessoa musical”. Quando pensava nas músicas que gostava, alguns hits da Katy Perry vinham à sua mente ou algum hit pop do tipo, mais nada além disso.

Emily se sentiu ignorante quando Toby arregalou os olhos, surpreso por ela dizer que nunca havia escutado Metallica. Ele passou para ela Nothing Else Matters via bluetooth.

– Você vai gostar – disse ele apenas, guardando o material e indo para sua próxima aula.

Durante a única aula livre daquele dia, uma antes das três da tarde, Emily colocou os fones nos ouvidos e percebeu que o padrão calmo das cordas de violão sob a letra da música não se parecia nada com o que ela esperava de uma banda como aquela.

Tudo naquela música a fazia pensar em Toby. Não apenas porque ele a havia indicado tal, mas porque tal tinha o jeito dele, calmo e aconchegante. E Emily sorria enquanto enrolava distraidamente o fio dos fones de ouvido no indicador.

Na última aula do dia – naquela onde todos já estavam suados e loucos para chegarem em casa – , o professor de História anunciou, sem muito entusiasmo, sobre o Homecoming (um baile de início de ano que era organizado para dar as boas-vindas aos alunos do ensino médio). Seria o primeiro Homecoming de Emily, e o coração dela disparou, mais devido a um estranho nervosismo do que a felicidade em si.

Os chamados arruaceiros da turma grunhiram em desgosto, dizendo em coro coisas como “quem liga?” e “mas que bela porcaria”. Porém o resto da turma, composto por playboys e patricinhas, comemoraram lançando sorrisinhos lascivos uns para os outros. Os poucos nerds que haviam ali e Emily foram as únicas pessoas da sala que não demonstraram reações.

Parte de Emily queria que Toby estivesse ali. Ela imaginava que eles trocariam olhares cúmplices que diriam “quer ir comigo?”, como se um estivesse sendo complacente com o outro.

No entanto, no instante em que ouviu a palavra Homecoming, Emily não pôde deixar de pensar em Maya. Ela se surpreendeu com o fato de a garota não ter ocupado sua mente até aquele momento, e então percebeu que estava com saudades. Lembrou da tarde anterior, no lago, quando teve Maya nos braços. Aquilo a fez se sentir tão importante e... madura! Afinal, a missão dela era não deixar que a garota se afogasse e, por mais improvável que fosse a possibilidade, Emily se sentiu aliviada quando as duas chegaram ao carro sãs e salvas.

Uma ponta de frustração atingiu Emily quando ela lembrou de Maya dizendo que começaria seu primeiro ano em Hollis e ela percebeu que o que queria mesmo fazer era convidar Maya para o Homecoming, mas que isso seria meio impossível.

Estaria Maya pensando em Emily naquele exato momento, em sua própria sala de aula em Hollis? Uma pequena parte de sua mente dizia que não, afinal, Maya era uma universitária que aparentava ser confiante e experiente. O que ela veria em uma caloura frágil como Emily? Além do mais, Emily nem sabia se a escola permitia que pessoas de fora frequentassem o Homecoming, isto porque ela nunca precisou perguntar, pois não ia a qualquer outro baile de Rosewood Day que não fosse o de Pais e Filhas – em maio de todos os anos (o que era uma verdadeira tradição para ela e Wayne Fields), talvez porque nunca tinha quem a convidasse.

E além de tudo isso, convidar Maya seria no mínimo estranho, afinal, da onde ela havia presumido que Maya aceitaria sair com Emily, como num... encontro? Para um baile onde geralmente garotos convidavam garotas?

Mas, por outro lado, Emily lembrou dos olhares profundos que Maya lhe dera e seu corpo foi parcialmente dominado por um sentimento de excitação. Ela podia jurar que tais olhares faziam parte de um flerte sutil.

A aula de História acabou como num flash e Emily não se lembrava se tinha aprendido ou não alguma coisa. Provavelmente não. A única coisa que foi capaz de fazer durante aqueles cinquenta minutos foi xingar-se por não ter dado seu número de telefone a Maya ou vice-versa.

Emily descia as escadas frontais no prédio da escola quando quase engasgou, lembrando que era quarta-feira e tinha treino de natação. Desde quando ela se esquecia disso?

Antes que pudesse empurrar a porta vai-e-vem do vestiário feminino, Emily pousou os olhos instintivamente em Ben, que se dirigia ao vestiário masculino, exatamente em frente. Ele vestia a tradicional sunga da equipe masculina de natação e tinha uma toalha sobre o ombro direito.

Se Emily não tivesse se sentido tão ameaçada por aquele olhar furioso de “desejo-que-um-caminhão-de-mudanças-carregado-passe-por-cima-de-você” que Ben lançava-a, ela até teria achado a situação engraçada. Fazia talvez vinte e quatro horas apenas desde que Ben tentara, pela última vez, tocá-la com aquelas mãos nojentas e Emily sentia que não o via por anos. Ele estava diferente, sua expressão estava dura e eles pareciam verdadeiros estranhos um para o outro. As últimas vinte e quatro horas foram como se ele não houvesse existido. E... pensando bem, não havia sido sempre assim?

Enquanto se preparava para entrar na água, Emily recordou as tantas vezes em que ficavam apenas os dois em um sofá velho que havia no porão da casa de Ben, apenas beijando-se, como se suas vidas dependessem daquilo. Como sempre, Emily quase nunca ficava nervosa. Sabia exatamente o que fazer e como responder aos movimentos de Ben, quase como se aquilo fosse um jogo de estratégia.

Ela poderia, sim, dizer que Ben beijava muito bem mas, depois dos amassos rotineiros, ela olhava para ele e... nada. Eles nunca conseguiam manter uma conversa por mais de cinco minutos sem que ele avançasse sobre ela com aqueles mesmos olhos inexpressivos que apenas diziam “eu quero te devorar”; nunca faziam planos para o futuro; nunca falavam sobre sentimentos; ele nunca havia dito eu te amo para ela (mas também não era como se fosse fazer alguma diferença se ele dissesse).

Era simples assim, Emily pensava quando pulou na piscina e começou a fazer o nado crawl para se aquecer, ele nunca a havia feito sentir algo. E assim ela começou a esvaziar a mente, como acontecia todas as vezes em que ela estava debaixo d’água.

Pouco mais de duas horas depois, Emily voltava para casa se sentindo mais leve. A natação sempre tinha esse poder de meditação sobre ela.

Ela checou a caixa de correspondências, como sempre fazia já que sua mãe quase sempre esquecia e a irmã era preguiçosa demais para fazer isso. Lá dentro havia a edição do dia seguinte do Rosewood Observer, um convite de alguma festa eletrônica no Country Clube para Carolyn e... algo mais que Emily quase ignorou. Um papel branco dobrado no fundo da caixa de metal. Emily desdobrou-o e no centro estava a letra cursiva mais bem trabalhada que ela já havia visto. Estava escrito: Ei, garota! Queria agradecer a você mais uma vez por ontem e... bem, na verdade, queria apenas que soubesse que pensei bastante em você desde então e não havia um jeito de deixar você sabendo disso a não ser à moda antiga.

Uau, foi tudo o que Emily conseguiu pensar antes de sorrir para o bilhete. Havia um número de telefone no canto direito da folha, porém nada mais. Não era como se ela precisasse pensar duas vezes para saber que era de Maya. Era como se ela soubesse que Emily se perguntou pela manhã se Maya ainda pensava nela. E era como se Maya soubesse também que apenas Emily checava a correspondência, pois ela não havia assinado. Quase como que presumindo que Emily saberia que se tratava dela.

Audacioso? É, talvez. Mas quando se lembrava da garota de conhecera na tarde anterior, esse era exatamente o tipo de atitude que Emily pensava que condizia com ela, aventureiro e inconsequente, o que, para Emily, era um elogio e não o contrário.

Ela relia o bilhete pela quadragésima vez em sua cama com o celular em mãos (e o estômago embrulhado de um jeito bom), pensando em algo inteligente e sutilmente sarcástico para dizer a Maya por mensagem.

Qual seria o grande problema se ela apenas dissesse a verdade? Poderia soar desesperada é claro, mas Emily meio que realmente não se importava agora. Ela precisava viver também e estava cansada de sempre ter medo de tudo. A relação que tivera com Ben servira para alguma coisa, afinal: para alertá-la de que a vida é curta demais para perder tempo com picuinhas desnecessárias.

Sentindo-se tomada pela mesma sensação de excitação de horas antes, Emily teve coragem o suficiente para digitar sem nem pensar: Fiquei feliz ao receber o seu bilhete, pois pensei muito em você também.

Ela sentiu que seu corpo inteiro formigava ao apertar “enviar”, e não assinou também, talvez porque se sentia íntima de Maya o suficiente para presumir também que ela seria capaz de reconhecê-la.


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