You are my sunshine escrita por quinnchillina


Capítulo 2
O último ato esplendoroso




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Rachel atravessava o corredor que saía do quarto de Beth e a levava até seu quarto bem devagar. Ainda estava atônita com as emoções que tinha passado durante o dia. Seu coração estava inflado de amor, amor familiar que ela sempre sonhou em ter. Seus pais sempre foram o exemplo de uma boa família americana (em uma versão gay, claro). Rachel teve uma infância cercada de primos, tios, tias, avós e avôs. Ela pensava que a adoção foi realmente a melhor coisa pra ela, já que seus pais desejavam muito um bebê e tinham condições financeiras e psicológicas de bancar um (pelo resto da vida, como um filho deve ser). Ela teve os finais de semana na casa da avó com a companhia de seus primos, as peripécias infantis, os halloweens e os feriados, os dias de ação de graças com a família ao redor da mesa.

Mas agora, ela tinha um tipo de amor diferente.

Rachel se apaixonou poucas vezes em sua vida: três vezes e meia.

A primeira vez, por Finn, ainda no ensino médio. Foi uma paixão tipicamente adolescente. O amadurecimento de seus sentimentos e emoções. Forte o suficiente para tocar sua vida, e dolorosa o suficiente para fazer seu coração ser marcado por rachaduras.

A segunda vez, por Brody, quando estava na faculdade. Brody era um rapaz atraente, exótico e diferente. Ele representava a nova vida que Rachel estava levando em New York, longe dos pais e de tudo o que conhecia. A autonomia sobre sua vida era algo libertador e esse sentimento fez parte de seu amor por Brody. Rachel amava o quanto Brody conhecia New York por inteiro, cada canto da cidade; o quanto ele sabia sobre bebidas; o quanto ele parecia culto e ao mesmo tempo atlético, teatral. Depois que tudo acabou, a morena chegou à conclusão que Brody representou seus primeiros momentos em uma cidade nova – coisa que ela não aproveitaria 100% se estivesse com Finn, por exemplo. Ela largou velhos hábitos e manias para se tornar uma nova Rachel, ainda mais cheia de vida e pulsante, assim como a cidade que agora a abraçava.

A vez que não se apaixonou, mas quase (o que gerou muitas piadas e brincadeiras assim que Quinn soube dessa história), foi uma garota chamada Alice. Alice e Rachel se esbarraram numa tarde qualquer quando ambas olhavam o quadro de avisos do campus. Rachel ficou sabendo de uma apresentação de Barbra Streisand no teatro principal da universidade e não acreditou, precisava ver esse anúncio à cores. Ela ainda prestava atenção no celular, buscando informações sobre o show quando alguém esbarrou em seu corpo, deixando cair um copo de café grande no chão. Quando foi se desculpar, Rachel se deparou sentindo algo estranho sobre a estranha em sua frente: um inegável desejo de conhecê-la. Alice era linda tanto ou mais do que Quinn, e falava devagar e calma, como uma princesa de um reino longínquo. Também gostava de Barbra, Rachel descobriu depois que as duas foram tomar um café, para pagar o que a morena havia derrubado. Elas conversaram durante muito tempo e tinham várias coisas em comum, mas em nenhum momento Alice disse onde morava, estudava ou trabalhava. Foi embora sem deixar telefone ou qualquer contato, apenas um beijo. Rachel não gostava de ficar com estranhos, ela achava invasivo e sem sentido beijar alguém que mal se conhece. Mas Alice foi diferente, e Rachel jamais esqueceu daquele beijo.

Rachel disse à Quinn que Alice foi o grande catalisador para seus sentimentos pela loira. Foi como ligar um interruptor para deixar acontecer uma nova paixão em sua vida. A morena tinha em mente que Alice aconteceu em uma tarde e foi o suficiente, porque Quinn era o que viria à seguir. Ela não se arrepende de não ter buscado informações sobre Alice depois daquele dia, porque soube que Quinn foi morar em New York com Beth e foi visitá-la com Santana na semana seguinte.

E assim Rachel se apaixonou pela terceira vez (e talvez, a última). Santana e Rachel nunca deixaram de se falar, realmente. A latina morava em New York, estudava administração em Columbia e ainda namorava Brittany. Por mais que sua comunicação com Quinn fosse escassa – apenas sms curtas ou felicitações em festas – Rachel se preocupava com a loira. A morte de Shelby afetou para sempre a vida de Quinn e Rachel queria ser parte disso, desse novo começo. Com uma garrafa de vinho em mãos, a morena bateu na porta de Quinn e se surpreendeu pelo sorriso enorme que a recebeu. De ambas, Quinn e Beth. Rachel, que adorava crianças, não demorou muito para mimar Beth de todas as maneiras. Adorava passar tempo com ela, brincando das mais diversas brincadeiras. Muitas vezes ajudando Quinn, mãe de primeira viagem, com dicas que aprendeu cuidando de seus primos menores.

Rachel sempre tinha algum presente para Beth, todas as vezes que visitava Quinn. E o abraço que a loira lhe dava agradecendo-a por ser tão terna com sua filha fazia seu coração bater de uma forma diferente; diferente do que ela estava acostumada e diferente do que qualquer pessoa já a fez sentir. Elas passaram a trocar mensagens todos os dias, a compartilhar sua rotina, e quando Rachel deu por si, planejava seus finais de semana em algum lugar onde Beth poderia desfrutar também.

Mas não foi Rachel quem deu o primeiro passo em direção à um relacionamento amoroso, foi Quinn.

Simplesmente porque ela não aguentava mais.

Quinn não conseguia suportar ver Rachel entrar em seu apartamento quase todos os dias trazendo algo novo para brincar com Beth, ou um dvd para as duas assistirem, enquanto a morena tentava ensinar Beth a cantar. Ou ver Rachel deixar suas coisas pelo apartamento, fazendo com que cada cômodo que Quinn olhasse tivesse pelo menos duas coisas que a lembravam de momentos compartilhados com Rachel. Doía o coração de Quinn abraçar Rachel tão terna e amorosamente sem poder dizer toda a verdade pra ela: que aquele abraço significava muito mais do que um simples obrigada.

Depois do beijo, em uma noite de passeio pelo Central Park, Rachel finalmente entendeu o que se passava em seu coração e porque ela se sentia tão diferente quando Quinn estava por perto: ela havia se apaixonado pela loira. Pela sua doçura, gentileza, delicadeza. Pelos seus valores como pessoa, como mãe e pela sua beleza, seu corpo. Ela amava Quinn com um coração ainda quebrado, maltratado pelos términos com Finn e Brody. E Rachel nunca vai esquecer a noite em que Quinn disse, depois de beijá-la: “só em um coração quebrado, cheio de rachaduras, é que a luz pode entrar, Rach”.

Rachel entrou no quarto em silêncio, e para sua surpresa Quinn ainda estava acordada. Ela não demorou tanto assim no quarto de Beth, mas permaneceu no corredor pensando por tempo indeterminado. Não conseguia lembrar.

“Você demorou, amor”, Quinn disse, retirando os óculos e se ajeitando na cama.

“Ainda lendo o manuscrito do Johnny, amor?”, Rachel perguntou, começando a tirar a roupa.

“Quase terminando”, a loira colocou as folhas na cabeceira, “Você conversou com Beth?”

“Sim... ela ficou muito nervosa quando pediu para me chamar de mãe, mas ela mesmo assim o fez”, Rachel respondeu terminando de ficar nua, para logo pegar o roupão.

“Ela é corajosa”, Quinn sorriu, “Como uma Berry”

Rachel se aproximou de Quinn e a beijou ternamente, “Como uma Berry-Fabray”

“Como você está se sentindo?”

“Flutuando”, Rachel respondeu prontamente, “Meu coração está morrendo de medo de essa felicidade acabar um dia, porque parece que atingi uma utopia”, ela explicava e Quinn afagava seus ombros.

“Nada vai acabar amor”, Quinn a tranquilizava. Rachel sempre dizia o quanto ela tinha medo que acontecesse alguma coisa que a levasse para longe de Beth ou Quinn, e cabia a loira tranquilizá-la, “Eu te amo. Te amo e Beth te ama”

“E eu amo vocês”, Rachel a beijou outra vez, e Quinn desceu a mão atrevida até o seio esquerdo da morena, “Me espera? Eu quero tomar um banho rápido”, ela questionou tirando a mão boba delicadamente.

Quinn gruniu, “Tenho escolha?”

Rachel negou com a cabeça, rindo.

“Prometo te recompensar”, ela se levantou, ficando nua ainda no quarto, antes de entrar no banheiro. Quinn perseguiu com os olhos cada detalhe do corpo da morena, tão conhecido e ainda assim tão desejado.

Rachel malhava três vezes por semana em uma academia, a mesma que Britt dava aulas de dança. Isso fazia com que a morena criasse um corpo atlético e bem definido, com pernas e braços fortes (ainda que de uma forma feminina), um bumbum maravilhoso e um abdômen com gominhos fracamente marcados. Quinn gostava mais de correr ao ar livre, principalmente em parques ou lugares mais amplos. Bicicleta também fazia parte de sua rotina, mas só quando Beth se juntava à ela. Sua corrida era onde Quinn colocava os fones de ouvido e se desligava do mundo; não que sua vida fosse caótica a ponto de ela ter que fazer isso muitas vezes, apenas que ela apreciava muito esses momentos sozinha.

Quinn, ao contrário de Rachel, foi criada numa família tipicamente cristã e republicana. Seus domingos eram gastos na igreja e em suas refeições o nome de Deus era dito para agradecer. Sua mãe gostava de recitar alguns versos da bíblia sempre que conversavam, e criava as duas filhas de acordo com o que acreditava – as sagradas escrituras. Seu pai gostava de poses perante a sociedade e cobrava comportamentos de sua família que ele próprio não seguia, como foi descoberto tempo depois. Russel tinha duas amantes e até um filho bastardo que a parte feminina da família nunca veio a conhecer. Judy virou uma mulher amarga depois da separação, mas foi se recuperando com o tempo. Sua relação com as filhas sempre foi difícil, passando por apenas alguns momentos de calmaria. Quando Beth voltou para os braços de Quinn, Judy a amparou com o máximo de amor e carinho. Sua neta seria criada por sua filha, algo que daria orgulho à ela. Porém, quando soube que Quinn estava namorando com Rachel, resolveu não argumentar, somente cortar todas as relações possíveis. Para Judy, o que Quinn estava fazendo era um pecado imperdoável, e Quinn pagaria por ele no dia do julgamento final.

Mas para Quinn, que sempre escondeu sua atração por mulheres de sua mãe, desde que se deu conta disso na adolescência, seu rompimento com a mãe foi intenso e inesperado. Ela realmente achava que, conhecendo Rachel, vendo como Rachel tratava Beth e o quando a pequena parecia amar a morena, Judy perceberia que seus preconceitos eram uma bobagem e sem fundamento – mas isso jamais foi confirmado. Judy nunca deu uma chance.

Quinn também acreditava em Deus, mas em seu coração nada do que fazia era errado. Desde quando amar era errado? Não se sentir sozinha e desamparada era motivo de julgamento? Ainda mais um amor tão bonito e uma família tão afetuosa quanto a que ela, Rachel e Beth formavam...

“Preciso me vestir?”, Rachel perguntou, ainda no banheiro, já com o chuveiro desligado.

Quinn resolveu não responder e deitou na cama se tapando com cobertor, fingindo que estava dormindo.

Rachel estranhou que Quinn não respondeu, talvez estivesse muito entretida em sua leitura. Escovou os dentes e resolveu sair sem roupa mesmo, pendurando a toalha e roupão que usava. Franziu a testa quando saiu do banheiro e viu sua amada dormindo como uma princesa, uma verdadeira bela adormecida ali em sua frente.

Suspirou, rindo baixinho. Estava louca para fazer amor com Quinn, beijá-la até cansar, comemorar o dia tão maravilhoso que teve nos braços da loira. Apagou o abajur, tapou Quinn corretamente e se deitou, nua, no seu lado da cama.

“Ai”, Rachel gemeu quando sentiu que havia algo embaixo de si: os óculos de Quinn.

Ela pegou o objeto e colocou em seu criado mudo, balançando a cabeça.

“Sempre esquecendo onde pode quebrar, sempre”, disse à si mesma, já começando a se irritar.

A consciência de que Quinn havia dormido mesmo e que essa noite ela não teria seu “último ato esplendoroso” (que era a forma como Rachel chamava os orgasmos que Quinn lhe agraciava quando elas transavam antes de dormir) foi de encontro com a morena como seu corpo foi de encontro com os óculos.

Quinn, por outro lado, fez toda a força do mundo para se manter concentrada e não rir da cena que ela ouvia. Seus olhos estavam fechados, mas ela conhecia Rachel muito bem a ponto de notar a diferença entre sua respiração, desde quando saiu do banheiro até agora, depois de se deitar e se tapar.

Rachel virou para o lado onde Quinn não estava e tentou não fazer com que sua insatisfação sexual atrapalhasse o sentimento que ainda tinha no peito, de felicidade que durou todo o dia.

A morena fechou os olhos e suspirou. Seu corpo inteiro tremeu assim que sentiu a mão de Quinn ultrapassar-lhe a cintura e seu corpo quente se posicionar atrás do seu.

“Já vai dormir, Rach?”, a loira perguntou brincalhona.

Rachel ergueu as sobrancelhas, surpresa, “Você está acordada?”, ela se virou para encontrar Quinn rindo e abraçando-a ainda mais.

“Sim. Eu estava brincando com você”, Quinn se aproximou para beijá-la, mas Rachel virou o rosto e o beijo parou em sua bochecha.

“Sem graça”, reclamou, “Achei que você foi dormir mesmo sabendo que eu sairía do banheiro nua e pronta para o último ato esplendoroso”, a morena disse com uma voz mais branda, abraçando Quinn pela cintura também.

Quinn soltou uma gargalhada alta. Ela sempre ria quando Rachel falava assim.

“Nunca! A peça só termina depois do último ato, amor”, Quinn disse de uma forma sedutora, começando a beijar o pescoço de Rachel ao mesmo tempo que entrelaçava suas pernas.

“Não esqueça dos... hmmm... aplausos”, Rachel respondeu, sentindo Quinn apertar preguiçosamente seus seios.



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Beth demorou uma semana para se acostumar a chamar Rachel de mãe. Na verdade, nunca era mãe, e sim mommy, mamãe Rachy, mamma, e outros diminutivos que pensava na hora. Rachel se deliciava em ouvir essa palavra saindo da boca de Beth e direcionada à ela. Era como se mais uma corrente invisível tornasse seus laços ainda mais fortes.

Rachel contou a novidade para seus pais e eles também se emocionaram. A relação dos senhores Berry com Quinn e Beth sempre foi acolhedora e amorosa. Hiram a principio ficou com o pé atrás por Rachel estar sempre tão envolvida com Quinn e sua filha depois de um tempo; também pudera, o que ele sabia da família Fabray era que Russel gostava de dizer em público que gays eram pecadores e famílias como a de Leroy e Hiram eram obra do demônio. Hiram tinha seus preconceitos que foram logo dissolvidos em seu primeiro contato com Quinn – ela não lembrava em nenhum aspecto o pai homofóbico que tinha e ainda por cima tratava Rachel como ninguém jamais o fez.

Beth sempre teve contato com Hiram e Leroy e Quinn apreciava muito essa relação, já que não tinha como dar à Beth dois avôs amorosos à pequena.

“Beth me entregou esse desenho ontem, senhorita Berry”, a professora Jamie falava pausadamente, como característico, “E eu percebi que ela escreveu mãe ao invés de Rachel”

Rachel sorriu, olhando para a professora de Beth. A pequena estudava em uma boa escola no centro de New York, perto do trabalho da morena. Geralmente que a levava para o colégio era Rachel, aproveitando o caminho. Quinn pesquisou várias escolas antes de matricular Beth em alguma. Ela queria que a filha crescesse e se desenvolvesse em um ambiente onde se sentisse bem, onde seus coleguinhas fosses acolhedores e os professores bons instrutores e de boa índole. Rachel a ajudou nessa procura, e elas pararam na Conrad Scholl for Children.

No ato da matrícula, onde se preenchia o nome da mãe e do pai, Quinn ficou receosa ao dizer que não iria escrever o nome de Puck. Suspirou e explicou que Beth tinha um pai, mas ele era um soldado em treinamento em outro país e que Quinn morava junto com sua namorada, que ajudava a criar Beth, uma linda moça chamada Rachel Berry. O diretor ouvia atentamente o discurso da loira e logo a acalmou: não havia nenhum problema em colocar o nome de Rachel no documento. Ainda anotou em um bloco para se lembrar de trocar “nome do pai” no documento para “nome dos parentes”, porque não era a primeira vez que um casal homossexual matriculava seu filho ou filha naquela escola. Quinn não poderia ter ficado mais feliz.

Desde então, Rachel e Quinn conversam frequentemente com os professores e professoras de Beth. Elas queriam certeza que Beth não estava sofrendo nenhum ataque em sala, por ter duas mães, e que qualquer alteração no comportamento da pequena (silêncio demais, silêncio de menos, rotina bruscamente modificada, vontade de ficar sozinha de repente, etc) fosse rapidamente noticiado. Por mais que dentro de casa Rachel e Quinn sempre ensinaram respeito, amor e compreensão para Beth, elas sabiam que o mundo lá fora não era assim e que Beth poderia ser tratada diferente simplesmente pelo fato de sua mãe namorar uma mulher. Logo, sempre ficavam atentas quanto as questões socio-escolares de Beth.

E era isso que Rachel estava fazendo, nessa pequena reunião. Os pais foram chamados, como acontecia a cada final de bimestre, e a professora conversava sobre alguma coisa que aconteceu especificamente sobre cada aluno com os pais. O que chamou atenção de Jamie sobre Beth foi um desenho sobre a família que ela pediu para os alunos no dia anterior. Todos os desenhos que Beth já fez descrevendo sua família, ela sempre sublinhava Rachel como Rachel, e nunca como mãe. Já Quinn era sempre mãe ou mamãe, mas Rachel, nunca.

“É porque Quinn conversou com Beth e ela perguntou se poderia me chamar de mãe, e não mais de Rachel, Jamie”, a morena respondia, sem conseguir tirar o sorriso bobo no rosto.

“Ah, eu entendo”, a professora sorriu, “Foi algo que partiu dela, então?”

“Sim! Nunca foi imposto que Beth me chamasse assim. Mas nossa relação sempre foi de respeito e compreensão, então acho que ela associou que é a mesma relação que Quinn tem com ela. Assim não tem porque chamar Quinn de mãe e não me chamar de mãe também”

“Claro! Posso dizer que foi bom pra ela fazer essa associação desde cedo, senhorita Berry. Beth ainda é criança e entende com mais facilidade, por incrível que pareça, que família não precisa necessariamente ser formada por laços genéticos. Digo isso porque recentemente meu sobrinho, que é um adolescente de treze anos, soube que era adotado e sua cabeça começou a dar voltas e mais voltas. Por mais que a relação com minha irmã e seu marido não tenha mudado, ele começou a vê-los diferente e agora isso está se tornando um problema”

“Eu sinto muito”, Rachel lamentou.

“Tudo bem”, a professora assegurou, “Com Beth já é um caso diferente. Ela também coloca o pai nos desenhos de família, além de você e Quinn”

“Sim... Quinn nunca quis esconder ou privar Puck de participar ativamente da vida de Beth. Assim como eu, ela também o ama e respeita muito...”

“Enfim”, a professora se levantou, “sobre Beth, eu não tenho nenhuma reclamação. Ela continua muito brincalhona, sempre querendo se divertir até nas minhas aulas mais sérias, mas quando é necessário concentração para realizar tarefas ela sempre o faz. A única observação que eu tinha era essa mesmo. E não foi algo ruim, só algo que eu percebi diferente”

“Claro”, Rachel se levantou, estendendo a mão e apertando brevemente a mão da professora, “até mais, Jamie, tenha uma boa semana”

“Você também, Rachel”

Rachel saiu da sala e olhou no corredor, procurando Beth. A pequena conversava com um grupo de amigos. Beth sempre foi comunicativa, e vivia cercada de meninos e meninas. De uma forma interessante, ela conseguia atenção de todos.

Rachel foi se aproximando, sem deixar que Beth a visse, e conseguiu ouvir o que os pequenos diziam.

“Aquela moça não é sua mãe?”, uma garotinha morena perguntou para Beth, franzindo a testa.

“Aquela é minha mamãe Rachy”, Beth respondeu orgulhosa.

“Mas você tinha dito que o nome da sua mãe era Quinn”, a garota questionou.

“O nome da minha mãe é Quinn”, Beth mexia as mãozinhas explicando, “e o nome da minha outra mãe é Rachel”

Rachel pensou que aquela criança só poderia ser nova na escola, já que todos da classe de Beth sabiam que ela tinha duas mães.

“Mas como assim? Você veio da barriga das duas mães?”, a menina pergunta quase em pânico. Seu cérebrozinho estava confuso.

“É assim: eu vim da barriga da mamãe Quinn...”, Beth parou pra pensar um pouco em uma melhor resposta para acalmar sua nova amiga, “... e vim do coração da minha mãe Rachel”

“Wow”, ela responde, surpresa, “que legal. Meu pai tem um irmão que namora outro menino e eles também vão ter um filho do coração”

“Como é o nome dele? Ele vai estudar aqui?”, Beth pergunta entusiasmada pela ideia de ter um novo amiguinho.

“Ele é o Mark, mas papai disse que Mark não pode morar com meu tio agora, só daqui há alguns dias”

“Hmmm”

Rachel, que deixou cair algumas lágrimas escondida, limpou seu rosto, se recompôs e sorriu para Beth, finalmente entrando em seu campo de visão.

“Oi, docinho”, ela abraçou a pequena.

“Oi, mamãe”, Beth respondeu alegremente, “Essa é minha nova amiguinha Joanna”

“Oi, Joanna”, Rachel sorriu para a menina que devolveu um tímido aceno, “desculpa interromper vocês”, Rachel se virou para o grupo de crianças que se encontrava ali, “Mas eu tenho que levar Beth embora”

Beth se despediu dos amiguinhos e saiu de mãos dadas com sua mamãe Rachel, cujo coração tinha dado luz àquela criança loira, tão parecida com sua mãe Quinn e que a cada dia crescia mais e mais. E Rachel mal poderia esperar o que ainda estava por vir.



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“Oi, tio Blaine”, Beth o cumprimentou com um abraço apertado.

“Oi, Beth”, Blaine levantou Beth enquanto a abraçava, fazendo a pequena rir.

“Mamãe está vindo”, ela avisou, já indo para o carro.

“Oh, ok”, o rapaz entrou na casa procurando por algum adulto, “Rach?”, ele chamou.

Rachel desceu as escadas aos beijos com Quinn.

“Tchau amor, aproveite”

“Quem vai aproveitar é você, Rach”, Quinn riu e deu um tapa de leve na bunda da morena, “Eu vou curtir um show onde 95% das pessoas que estão lá tem a idade da Beth”

“Então conheça os 5% que vão estar lá pela mesma causa que você”, Rachel sorriu e beijou a loira pela última vez.

“Oi, Blaine”, Quinn sorriu para o amigo, envergonhada por trocar beijos tão quentes com Rachel na frente dele, “e tchau, Blaine”, ela o abraçou, rindo.

“Oi, Rach”, ele beija a amiga no rosto.

“Oi, meu amigo”, Rachel a abraça, “Kurt está no carro?”

“Uhum. Eles já estão atrasados, então ele apenas te mandou um beijo”

Rachel acenou para Kurt, que estava dirigindo o carro onde Quinn entrava. Beth estava na janela, no banco de trás, mandando beijos para a morena, que devolvia alegremente.

Kurt trabalhava como estilista e atuava em com um negócio próprio, com ajuda de Santana. No seu “escritório”, diversas famosas já quiseram vestir seus modelos e Kurt Hammel já era um nome famoso em New York. Blaine trabalhava como professor em NYADA, depois de ter se formado em arte dramática. Com alguns contatos, Kurt conseguiu ingresso para um show de Coraline Stevens, uma estrela juvenil em crescimento que faia sucesso em toda América. Ela participou de alguns filmes da Disney e recentemente lançou um cd com músicas infanto-juvenis, que Beth amou desde que ouviu pela primeira vez. Quinn ouviu as músicas e realmente elas grudavam na cabeça como um mantra. Quando Kurt contou que a empresária de Coraline entrou em contato com ele para fazer algumas provas de roupas, o rapaz não pensou duas vezes: ligou para Quinn avisando que conseguiu três ingressos para o show dela. Rachel não achou certo ela tomar o ingresso de Kurt, já que ele o conseguiu. Assim, essa noite Rachel iria dançar numa boate escolhida por Britt com Santana e Blaine e Quinn, Beth e Kurt iriam curtir uma noite mais agitada, só que de uma forma diferente.

Rachel demorou para se arrumar, mas decidiu usar um vestido preto, com uma manga longa e curto o bastante nas pernas. Blaine ajudou a amiga, e eles riram comparando as roupas que usavam antes, quando eram mais jovens, com as roupas que usam hoje. Blaine certamente aprendeu muito com o namorado.

Santana e Britt chegaram pouco tempo depois, mas não entraram, apenas ligaram para Rachel e Blaine irem até seu carro.

“Porra, Berry, tanta demora pra isso?”, Santana comentou, ácida.

Rachel enrugou a testa, “Está feio?”, perguntou infantil.

Brittany riu, “Claro que não, Rach, S está pegando no seu pé”

“Você está gostosa, Rach, não se preocupe”, Santana completou e Rachel revirou os olhos.

“Vamos fingir que namoramos, então, Rach?”, Blaine perguntou, já que antes eles haviam combinado fingir ser um casal para ninguém atrapalhar os dois de uma forma mais inconveniente enquanto dançavam.

“Claro, amor”, Rachel entrelaçou seus dedos com o amigo, “Apesar de que eu estou brava com você porque você nunca me escuta, só pensa em transar, não arruma as coisas que estão quebradas em casa e talvez esteja tendo um caso com a secretária”

Todos no carro gargalharam e Blaine continuou.

“Não me culpe, mulher. Você estava fingindo que dormia só para não fazermos amor então eu tive que dar meu jeito”, ele baixou alguns tons em sua voz e bateu em seu peito como um homem das cavernas.

“Urgh”, Santana comentou, enquanto dirigia, “Deus me livre de alguém assim”

“Não fale assim do meu homem, Santana”, Rachel riu.

Santana revirou os olhos e esticou sua mão direita até Brittany, que a acariciou carinhosamente.

Eles chegaram na boate tempo depois, e apesar de ser uma boate gay, conseguiram dançar sem preocupações. Quando casais apareciam juntos na pista de dança, as pessoas respeitava mais. Santana tinha esperiências ruins quando foi para boates gays sozinha, já que sempre tinha alguém mais alterado pelo alcool que não respeitava seus limites depois de um fora.

Mas a noite foi ótima.

Rachel dançou com seus amigos, abraçou Blaine pelo pescoço nas músicas lentas, e no término da canção, ganhou um delicado beijo na testa, como um gesto de carinho daquele homem que ela conhecia desde que era um adolescente e por quem tinha tanto amor e respeito.

Brittany dançou com Rachel, tentando ensiná-la alguns passos incríveis. Nesse momento Rachel pensava que suas aulas de dança em NYADA de nada valiam, pois nenhuma técnica que foi ensinada a ela fazia seus movimentos corporais se tornarem tão bonitos e até poéticos como quando Brittany dançava alguma música.

Ela também bebeu alguns Dry Martinis que Santana trazia pra ela, negou duas cantadas quando foi ao banheiro e teve que esperar um casal parar de se beijar para poder usar o sanitário. Coisa que ela estranhou: era uma boate gay, por que as garotas insistiam em se beijar no banheiro? Talvez o banheiro tivesse a apelação de sempre permanecer em segredo, tudo o que se passa ali. Rachel sempre teve conversas com Quinn em banheiros, durante o ensino médio. Era onde Quinn deixava de ser uma garota cheia de privilégios sociais no colégio e virava uma menina qualquer, assim como Rachel Berry.

E se teve uma coisa que Rachel sentiu durante a noite, foi saudade. Queria Quinn ali dançando com ela, da forma sensual e direta que a loira consegue fazer. Queria estar em outro lugar onde Beth pudesse curtir sua companhia, vendo um filme de princesas ou qualquer coisa parecida.

Ao sair da boate e entrar no carro para ir pra casa, Rachel se perguntou se não estava ficando muito velha para essas coisas.



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“Rach?”, Quinn pergunta Kurt buzina, avisando que vai partir. Beth abana para ele e vê o carro indo embora.

“Mamãe?”, Beth entra em casa e grita, chamando por sua Rachy.

“Oi, meus amores”, Rachel sai da cozinha em direção ao lobby, onde Quinn e Beth deixam seus casacos.

Rachel abraça Beth calorosamente, para depois beijar Quinn nos lábios. A loira apenas sela seus lábios, mas Rachel chama sua boca para um beijo intenso que dura mais alguns segundos.

“Já tomou banho?”, Quinn pergunta assim que abraça a morena, sentindo o cheiro bom de hidratante.

“Uhum... cheguei faz algum tempo”

“Desculpa a demora, Rach, mas Beth insistiu em sair com Kimberly depois do show. Fomos jantar no The Plaza e Richard não parava de falar sobre a casa nova”

“A casa nova que não é nova faz uns dois anos” Rachel riu. Beth tinha boas amiguinhas mas seus pais sabiam como torrar a paciência de alguém com os mesmos assuntos chatos.

“Mãe, eu to com sono”, Beth reclamou.

“Vamos pra cama, então, docinho”, Rachel pegou Beth no colo, e a pequena logo deitou a cabeça em seu ombro.

“Eu vou tomar um banho e te esperar lá no quarto, então”

“Ok”

“Boa noite, filha”, Quinn beijou a pequena, que já tinha os olhos fechados.



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“O que você está lendo agora, amor?”, Rachel perguntou assim que entrou no quarto e viu que Quinn lia um livro diferente do habitual.

“Um novo lançamento da editora”, Quinn levantou a capa, “A história do amor moderno e almas gêmeas”

“Wow”, Rachel se deitou, “É um bom título”

“A pesquisa pra esse livro foi imensa. O autor passou alguns anos viajando o mundo e entrevistando casais, desde dois velhinhos ainda apaixonados na Itália até um casal recém casado de uma tribo em Camboja”, Quinn falou animada.

A morena virou seu corpo de lado para poder encarar Quinn, “Deve ter sido um trabalho ótimo”

“Tem uma parte em especial que eu gostei muito”

Rachel ficou em silêncio, esperando Quinn dizer qual parte era. A loira apenas fingia continuar lendo, sem se importar com Rachel quase quicando na cama ao seu lado.

“Quinn!”, ela briga, “diz qual parte foi”, Rachel reclama e Quinn solta uma gargalhada.

“Aqui diz que almas gêmeas não são aquelas feitas da mesma matéria, da mesma essência. Pelo menos não em sua total igualdade. Que o conceito de alma gêmea é alguém que desafia a sua alma. Alguém que deixa que você mude ao mesmo tempo em que aceita que você é e quem você irá se tornar. Alma gêmea seria quem te ama quando o amor é difícil, quando deixar de amar seria mais fácil e indolor”

A morena suspira, deixando que as palavras invadam sua mente com tanto significado que elas carregam.

“Nossa... isso foi bom”

“Você acha que esse é o conceito de alma gêmea certo?”, a loira questiona.

“Absolutamente”, Rachel responde com rapidez, “eu nunca ouvi algo tão correto”

Quinn sorri seu sorriso de 484 dentes, como Rachel costuma dizer. Aberto e verdadeiro.

“Eu também acho, já que encontrei a minha alma gêmea”

“Eu também penso que alma gêmea não tem necessariamente ser um amor romântico. Eu penso que minhas almas gêmeas são você e Beth... isso faz sentido?”

“Faz, amor”, Quinn larga o livro e os óculos no criado mudo e avança sobre os lábios de Rachel, “Faz todo o sentido”


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Notas finais do capítulo

perguntas que eu gostaria que vocês respondessem nos comentários: como vocês acharam essa fic? estão gostando? vocês curtem um drama? PORQUE THE DRAMA VAI COMEÇAR



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