You are my sunshine escrita por quinnchillina


Capítulo 1
Sobre lembranças indestrutiveis




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/580243/chapter/1

“Puck mandou uma carta”, Rachel comentou assim que entrou em casa com as correspondências, “E sua mãe não respondeu a sua, amor”

Quinn suspirou, “Tudo bem... eu sabia que ela não responderia. Ela não atende minhas ligações, e ignora qualquer recado que eu deixe”

Rachel sentou-se no sofá ao lado de Quinn e gentilmente deslizou o braço em seus ombros.

“Eu gostaria que ela visse realmente o ambiente, a forma e o amor com que Beth é criada, mas enquanto ela não faz isso, eu queria que essa escolha não te machucasse tanto”, Rachel sussurrou, percebendo o quanto a notícia abalou Quinn.

“Eu desejo isso há tanto tempo, Rach”, Quinn comenta, triste, “ela sequer aceita conversar, baixar a guarda. Me machuca quando Beth pergunta por ela”

Rachel olhou fundo nos olhos claros e chorosos da loira, “Eu sinto muito”

Quinn apenas deitou sua cabeça no ombro acolhedor de Rachel e suspirou.

“Mamãe! Rachy! Olha só o que eu fiz!”, Beth, no auge de seus seis anos e meio, desce as escadas e interrompe o silêncio que havia se instalado.

Rachel sorri abertamente para a obra de arte que vê em sua frente enquanto Quinn suspira outra vez.

“Beth, você sujou toda a sua roupa com essa tinta!”, Quinn lamenta, apontando para o lindo vestido que a pequena usava, que agora merecia umas boas horas na lavanderia.

“Mas eu fiz isso!”, ela comemora, e Rachel segura a cartolina em branco ainda molhada pela tinta com delicadeza.

“Está lindo, Beth”, Rachel aponta para as pessoas no desenho, “Quem são estes aqui?”

Beth se senta ao lado de Rachel para explicá-la melhor, sujando o sofá com tinta colorida.

“Aqui sou eu”, ela aponta para a criança no desenho, “Aqui é mamãe lendo um livro e fazendo uma corrida ao mesmo tempo”

Rachel soltou uma gargalhada e Quinn não fez outra coisa além de acompanhá-la.

“Porque ela sempre está fazendo uma dessas duas coisas então eu pensei que seria melhor se ela fizesse isso ao mesmo tempo”, a pequena continua sua explicação e Quinn alcança a mão de Rachel pelo sofá.

“E aqui sou eu?”, Rachel pergunta.

“Aqui é você e eu estava te olhando”, Beth aponta para os olhos da criança pintada que realmente estão voltados para a morena, “e você está cantando e eu gosto de olhar quando você canta porque você canta bonito”

Quinn sorri, “Rachel realmente canta bonito, certo?”

Beth concorda com a cabeça, entusiasmada que sua mãe está entendendo seu desenho, “e aqui é tia Mercedes cantando com você porque ela também canta bonito. E aqui é o tio Kurt e o tio Blaine dançando com a tia Britt”

Rachel sorriu com toda a encenação, “Você realmente pinta muito bem, docinho”

“Eu sei”, Beth se vangloriou, “e essa é a tia Sant e eu fiz um xis na boca dela porque ela fala muitas palavras feias e eu não poderia escrever aqui porque senão mamãe ia brigar comigo”, ela completa.

“Você é uma garota esperta, Beth”, Quinn sorri, “Seu pai mandou outra carta pra você”, a loira comenta e os olhos de Beth se iluminam, “Mas você só vai ler depois de tomar um bom banho”

“Mas mãe...”, ela tenta argumentar.

“Banho”, Quinn decreta, cruzando os braços. Rachel sorri, “e eu gostaria de subir até o seu quarto e não ver nada sujo de tinta”

Beth olha para Rachel, procurando uma ajuda silenciosa. A morena segura o riso e passa as mãos nos ombros de Beth.

“Você quer ajuda, docinho?”, Rachel pergunta.

“Você consegue convencer a mamãe de que eu não preciso tomar banho ou limpar meu quarto, Rachy?”, Beth pergunta sussurrando, com a carinha de sapeca característica.

Rachel ri, “Eu estava falando sobre limpar o seu quarto, mas você quase me pegou com essa”

“Beth, você não pode pedir para a Rachel fazer as suas coisas, nós já conversamos sobre isso antes”, Quinn apenas conversa calmamente, sem querer brigar com a filha por causa disso.

A pequena loirinha usa sua melhor expressão de culpada, “Desculpe, Rachy”

Rachel sente seu coração se aquecer, “Não tem problema, Beth”, ela olha para Quinn, “Nós vamos limpar seu quarto, tomar um banho e voltar pra sala pra ler a carta que Puck mandou, pode ser?”

Beth se viu obrigada a balançar a cabeça, concordando.

Quinn sorriu com a cena terna e pegou Beth pelos bracinhos, sem se importar com a sujeira de seu vestido. Colocou a pequena entre ela e Rachel e começou a fazer cosquinhas em seu corpo.

“Você é uma sapeca, Elizabeth”, Quinn brincou e Rachel a ajudou com as cócegas, “Sempre consegue enrolar a Rachel”

“Eu não...”, Beth respira com dificuldade, rindo, “eu juro que não estava... enrolando você, Rachy”

A sessão de cócegas termina e Beth tenta tranquilizar sua respiração. Quinn observa Rachel ajeitar o vestido de Beth e tentar arrumar a bagunça do cabelo loiro e curtinho da pequena. Seu coração acelera com a cena e ela não se furta em abraçar Beth bem apertado.

“Sobe que Rachel já vai lá te ajudar, meu amor”, ela se separa da filha e dá um tapa de leve na bunda de Beth, incentivando-a, “Eu prometo cozinhar seu prato preferido hoje no jantar, o que acha?”

“Eu estou morrendo de fome, mamãe!”, Beth comemora, “Podemos comer o jantar na hora do café?”

“Não, docinho”, Rachel sorri, “Mas eu faço sua refeição de café da tarde preferida, pode ser?”

“Torrada com geléia de morango e vitamina de banana com maçã e biscoito recheado de chocolate com sorvete e refri?”

Rachel gargalha, “Apenas uma dessas opções”

Beth se convence, “Ok”, ela começa a caminhar, “Eu preciso lavar o cabelo?”

“Não”, Quinn grita, já que a pequena corre pelas escadas.

A loira olha para Rachel e sorri.

“Eu já disse que não tem problema Beth me chamar para ajudá-la, amor”, a morena vai se colocando vagarosamente no colo de Quinn, que passa um braço por suas costas e mantém a outra mão em suas pernas.

“Eu sei”, Quinn beija o pescoço de Rachel delicadamente, suspirando e sentindo o cheiro bom, “Mas não quero que ela pense que sempre pode apelar pra você. Ela tem que começar a entender que tudo o que faz tem consequencias e assim saber a diferença entre certo e errado”

“Hmmm”, Rachel geme baixinho diante dos beijos depositados em seu pescoço, “alguma vez eu já disse que você fica muito sexy quando fala assim”

“Você acha?”, Quinn pergunta baixinho, ainda se perdendo no pescoço da morena, enquanto passava a mão delicadamente por suas pernas.

“Um pouco ranzinza, mas totalmente sexy”, ela comenta e Quinn ri.

“Ranzinza? Rach!”, seus olhos se encontram, “Você quebrou o clima”, Quinn reclama.

Rachel beija os lábios macios da loira bem devagar.

“Eu te amo”, ela diz depois de um tempo.

“Eu te amo mais”, Quinn devolve, “Você consegue fazer tudo o que há de ruim na minha vida parecer tão pequeno e insignificante... eu sou a mulher mais sortuda no mundo por ter você, Rach”

“Eu amo como você consegue mudar sua perspectiva sobre as coisas por minha causa, amor, mas não esquece que a sortuda da relação sou eu”, Rachel brinca e beija Quinn outra vez.

“Vamos começar com essa discussão outra vez?”

“Vamos?”, a morena sorri, “Pode ser depois que Beth tomar seu banho e comer sua refeição nutritiva de sorvete, bolacha, vitamina e torradas?”

“Pode”, Quinn a beija pela última vez antes de Rachel se levantar, “O que você acha de sairmos pra jantar hoje?”

“Eu e você?”, a loira acena com a cabeça, “Como em um encontro, Quinn Fabray?”

“Como em um encontro, Rachel Berry”, Quinn usa sua voz sedutora enquanto Rachel vai subindo as escadas lentamente, “Eu ligo para Santana e peço para ela alugar algum dvd da disney, e Brit com certeza consegue distrair Beth por algumas horas”, ela ri.

“Eu adoraria”, Rachel pisca e sorri, enquanto sobe as escadas até o quarto de Beth.

Rachel e Quinn se aproximaram outra vez após terminarem o colegial, precisamente dois anos depois.

Rachel foi para New York estudar teatro musical em NYADA. Quinn foi para Yale estudar literatura inglesa. Elas conversavam por telefone ou e-mail esporadicamente. Para Quinn, Rachel sempre foi uma paixão secreta, escondida no fundo da alma e que ela tinha consciência que talvez jamais se concretizaria. Para Rachel, Quinn representava uma pessoa que amadureceu muito depois que deu à luz para Beth. Uma amizade começou a florescer, e no final do ensino médio a trégua foi definitiva. Elas poderiam até se considerar amigas, e não apenas colegas, apesar de tudo.

Rachel estava ensaiando para um teste em uma peça off-off-Broadway quando recebeu uma ligação dos pais dizendo que Shelby faleceu em um acidente de carro. Ela estava sozinha, e dirigia em direção ao trabalho, como cordenadora de um coral em Lima, Ohio. Primeiramente, Rachel chorou por aquela mulher que emprestou seu ventre para que seus dois pais pudessem ter uma filha a quem dar amor. Depois, Rachel chorou por Quinn.

Quinn estava estudando na biblioteca, no campus de letras de Yale. Seu telefone, no silencioso, não parava de receber ligações de diversas pessoas. Ela resolveu ir até a rua e atender uma chamada de Santana, estranhando que até Rachel Berry havia ligado pra ela. Então Santana contou o acontecido e Quinn caiu na grama. Suas pernas não respondiam seu cérebro e o choro veio fácil e desesperador. Como estava sua filha? Onde, com quem?

Trancou a faculdade por seis meses e voltou para Ohio. Descobriu que Shelby não era casada, morava sozinha e não tinha parentes vivos. Seus pais haviam falecido há tempos e ela não possuia irmãos. O velório foi com o caixão fechado, devido à gravidade do acidente, e quase todas as pessoas de Lima compareceram. Quinn reencontrou Puck, seus amigos do Glee Club, e chorou nos ombros de Rachel quando as duas se viram.

Quinn só encontrou Beth, que já tinha um ano e alguns meses, cerca de uma semana depois do acidente. Beth ficou com o juizado de menores, até Quinn regularizar documentos comprovando que ela era sua mãe verdadeira, que Shelby adotou Beth pela falta de condições que Quinn se encontrava quando engravidou, enfim... toda a história. A loira passou esse tempo na casa da mãe, que vivia sozinha. Com os documentos em mãos, ela finalmente pode pegar Beth em seus braços e levá-la para casa.

Beth era uma criança grande e esperta para a pouca idade que tinha. Seus cabelos lisos e loiros formavam cachinhos, e seus olhos eram verdes e cristalinos iguais ao da mãe. Seu entendimento do mundo ainda era precário, o que fazia o coração de Quinn apaziguar: Beth jamais iria entender o tamanho da dor de perder Shelby.

Quinn jurou a si mesma que jamais deixaria Beth outra vez.

Sendo assim, Quinn resolveu se mudar para New York, com muitas ressalvas de sua mãe. Depois de noites e noites conversando sobre o que seria melhor para Beth, como Quinn a criaria sozinha, se ela receberia alguma ajuda financeira de Judy, a loira resolveu morar em um apartamento no mesmo prédio em que Santana e Britt moravam juntas. Era perto o suficiente para manter as duas amigas à par de qualquer coisa que acontece com sua filha; era perto de uma creche onde Beth ficaria enquanto Quinn trabalhava para pagar as contas.

Apesar de ter trancado a faculdade, Quinn não pensou duas vezes ao decidir viver essa nova vida. Ela sentia que era Deus dando à ela uma segunda chance, uma vez para recomeçar. E ela não negaria esse presente, muito pelo contrário. Amava tanto, mas tanto sua filha; e agora que ela estava em seus braços outra vez não havia nada no mundo que a fizesse renunciá-la, não importa quantas dificuldades no caminho ela encontrasse.

E no começo, realmente os tempos foram difíceis para Quinn Fabray.

New York era bem diferente de New Haven, e Quinn precisava trabalhar ao invés de apenas estudar. Vários bicos serviram até seu curriculo ser chamado por uma editora. Knowledge Books trabalhava com o lançamento de livros escolares e Quinn, apesar de ter parado de estudar, conseguiu um estágio devido às boas notas.

Em New Haven, Quinn quebrou alguns corações.

Desde sua adolescência Quinn sabia que sentia atração por mulheres. Isso não diminuia sua atração por homens também; ela conseguia achá-los fisicamente atraentes, mas mentalmente retardados. Isso ainda é alvo de piadas de Santana sobre os garotos que Quinn namorou em New Haven: todos pareciam viver no mundo da lua, mesmo com seus vinte e poucos anos, e nunca Quinn namorou alguém que amasse realmente. Seu referencial de amor aconteceu no ensino médio, e se chamava Noah Puckermann.

Quinn flertou com algumas mulheres durante o período que estudou. Tudo era novo e bom, diferente e excitante. Chegou a ficar com algumas, mas em nenhuma das vezes que isso aconteceu se sentiu à vontade para seguir em frente. Alguma coisa a travava, a fazia retomar a consciência antes de passar a noite com alguma mulher e Quinn entendeu depois de um tempo o que isso significava. Seu coração não estava pronto.




–--------------------------------------------------------------------------------------





“Mãe, eu posso brincar com o iPad agora?”, Beth perguntou entusiasmada.

“Você já comeu?”, Quinn perguntou da sala, onde estava sentada com Rachel.

“Já!”, a pequena gritou e saiu da cozinha.

“Você não quer ler a carta do Puck?”, Rachel indicou para Beth sentar no meio, entre ela e Quinn.

Beth colocou a mão na testa, dramaticamente, “Eu esqueci! Onde está, mamãe?”

Quinn se levantou até o armário onde as cartas eram colocadas: conta, conta, conta, anúncio, Puck.

Noah Puckermann era um soldado de primeira classe, o que significa que ele era chamado constantemente para servir em locais de conflito não exercido; geralmente países onde os EUA se estabilizava, sem a intenção de guerriar, apenas ajudar a população e protegê-la segundo os acordos políticos vigentes. Puck retornava de vez em quando para sua casa em Lima, Ohio, e todos os meses mandava cartas para Beth. Atualmente, ele encontrava-se no Paquistão em uma missão de treinamento.

Quinn conversou muito com Puck depois que Shelby faleceu, e seus laços se tornaram mais fortes. O amor ainda estava lá. Não o carnal, mas o de alma. Eles tinham uma filha juntos, não eram mais adolescentes... logo resolveram seus conflitos internos e agiram de acordo com o bem estar de Beth.

“Puck continua no Paquistão?”, Rachel perguntou assim que Quinn voltou à sala.

“Sim, o selo ainda é o mesmo”, Quinn se sentou e deixou Beth abrir a carta, coisa que ela adorava.

“Tem foto, mamãe!”, ela exclamou, excitada de ver seu pai em uma foto recente e de boa qualidade, “Papai está tão bonito!”

Quinn sorriu, “Puck continua cortando o cabelo do mesmo jeito”

“Você bem gosta desse moicando, amor”, Rachel brincou.

“Posso ler a carta?”, a pequena quase gritou.

“Pode, docinho”, Rachel abriu o papel e aconchegou Beth em seu colo.

Ela começou com sua vozinha aguda, “Querida Beth,

Estou morrendo de saudades de você. Como você está, meu amorzinho? Quero saber como vai a escola, seus amiguinhos, sua rotina! Você continua cantando com a Rachel pela casa? Continua incomodando sua mãe com filmes da disney cheio de princesas? Eu adoraria saber como está tudo ai, como você está se sentindo e o que você ainda gosta de fazer. Infelizmente suas duas últimas cartas não chegaram até mim, pelo que fiquei sabendo. Ninguém sabe onde elas estão e meus companheiros aqui também não receberam as cartas de suas famílias. Ficamos tristes, mas em compensação eu tenho certeza que minha carta chega até vocês. Estou enviando uma foto minha para dizer à sua mamãe Quinn que eu continuo bonitão como sempre e para sua mamãe Rachel que eu sei que não importa porque eu nunca vou ser mais bonito que ela. Um beijo para minhas princesas.

PS: Quinn, eu terminei de ler o livro que você me mandou, e realmente... não entendi nada. Ele estava morto? Foi só um sonho? O cara nem existiu? Fiquei muito confuso, parecia que estava vendo Lost outra vez.

PS²: Rachel, você está linda! Como eu sinto falta da sua voz. Na minha próxima ligação eu vou deixar de ligar para meus pais ou Beth só pra ouvir você! Você sabe que eu gosto de música e gemidos, então pode escolher o que você vai me fazer ouvir no telefone.

PS³: Quinn, isso é brincadeira! Hahahha

Eu te amo Beth, sinto muito sua falta. Se cuida, princesa.

Com amor, Noah”

Rachel soltava uma gostosa gargalhada. Puck nunca iria mudar, não importa em qual situação ele se encontrava.

“Eu não deveria ter deixado Beth ler a carta sem ter lido antes”, Quinn esbravejou, brincando.

Beth sorria, “posso brincar com o iPod agora, mãe?”

“Pode, amor”, Quinn ligou o eletrônico e deu para a filha brincar.

Beth subiu as escadas em direção à seu quarto e Rachel voltou a se aproximar de Quinn no sofá, aproveitando alguns momentos antes de escurecer e as duas saírem para jantar fora.

“Eu sinto falta do humor do Puck”, Rachel comenta, sorrindo, “Ele é uma pessoa importante na vida de quase todo mundo que eu conheço”

“Puckermann é uma peça rara”, Quinn se aconchega nos braços da morena, “apesar de algumas vezes eu ainda não acreditar que você teve algo com ele no ensino médio”, ela brinca.

“Hey!”, Rachel se defende, “Eu queria... saber como Puck era. Ele passou a me tratar diferente depois de um tempo e eu pensei... por que não? Mas não passamos de alguns beijos”

“Eu sei, meu amor”, Quinn assegurou, “Eu passei apenas uma noite com Puck em toda minha vida. O resto foram beijos e propostas indecentes que eu achava que eram verdadeiras”

Rachel franziu a testa, “não posso culpá-lo... você era estonteante, solteira e Puck sempre teve uma queda a mais por você”

“Talvez”, Quinn divagou, “Mas naquele tempo eu já era apaixonada por outra pessoa”

“Era, é?”, Rachel sorriu a apertou Quinn ainda mais em seus braços.



–----------------------------------------------------------------------------------




“S, qualquer coisa você me liga, por favor?”, Quinn pedia encarecidamente, enquanto Rachel tirava o carro da garagem.

“Q, acho que é a centésima vez que você pede isso”, Santana colocou os braços nos ombros da amiga, empurrando-a gentilmente até a porta, “Sua mulher esta te esperando, não seja indelicada, Fabray”

“Me deixa dar tchau para Beth, só um instante”

Quinn olha por cima do ombro de Santana e observa Beth interagindo com Brittany, instalando um Nintendo Wii na sala para as duas começarem a jogar. Resolveu não atrapalhar aquela cena tão doce e sorriu para sua melhor amiga em sua frente.

“Obrigada, S”

“Você sabe que eu adoro cuidar da Beth, Q”

“Não deixe ela te enganar, ela está ficando cada vez mais esperta”, Quinn disse enquanto passava pela porta.

“Mais esperta que você, Fabray! Aquela pirralha não pode contra mim”, Santana riu e abanou a mão para Rachel, dentro do carro, “Agora vai!”

Quinn sorriu e foi em direção à Rachel. Sentou-se confortávelmente e colocou o cinto de segurança, não sem antes beijar a morena apaixonadamente.

“Me atrasei muito?”

“Não mais do que o trânsito vai nos atrasar”, Rachel riu, olhando para a avenida em que o carro se encontrava, já andando devagar devido ao trânsito.

“Beth queria que eu visse as lições da escola dela antes de sair. Ela acha que vamos chegar tarde e não acordá-la, então me senti obrigada”

“Seus argumentos eram bons”, a morena sorriu e colocou a mão direita na perna de Quinn, acariciando levemente, “E nós vamos chegar tarde em casa, Quinn Fabray?”

Quinn entrelaçou seus dedos, “Eu pretendo não te deixar dormir, Rachel Berry”

Elas chegaram ao restaurante pouco depois do tempo indicado na hora da reserva, mais ainda assim conseguiram a mesa. Quinn providenciou um local aconchegante e chique ao mesmo tempo. Na mesa, o garçom ofereceu vinho e o menu. Ambas pediram pratos vegetarianos. Ao longo dos anos vivendo com Rachel, Quinn se acostumou à sua dieta e não era algo que ela reclama. Percebeu que comia carne mais por causa do costume em si do que o gosto, e Rachel apreciou isso. Elas estavam tentando criar Beth mais abertamente, deixando a menina escolher o que comer ou não (em uma dieta saudável, claro).

Pouco tempo depois, o prato já estava servido e Rachel se deliciava.

“Eu estava faminta, amor”, ela tomou um gole do vinho escolhido por Quinn.

Quinn sorriu da cena: Rachel falando de boca cheia era algo raro de se ver.

“Rach...”, Quinn chamou sua atenção, “Há quanto tempo estamos juntas?”

A morena sorriu antes de responder, “Por que eu tenho a impressão que você não sabe a resposta exata?”, ela brincou.

“Eu só quero saber se você sabe antes”, Quinn mostrou a língua brincando.

“Quatro anos...?”, Rachel riu.

“Você está me perguntando?”

“Não...?”

Quinn gargalhou, “Sim, amor... Quatro anos. Desde que você passou a me visitar no apartamento que eu morava perto da Santana e Britt...”

“Foi quando eu realmente me apaixonei por você”, Rachel completou, “e por Beth”

A loira sorriu ao ouvir o nome da filha, “Rach, eu conversei com Beth faz alguns dias”

“Sobre?”, Rachel questionou, realmente curiosa.

“Perguntei como ela se sentia em relação à você, como Beth enxerga nossa família...”, Quinn limpou a garganta, “... se ela te enxerga como... sua filha”

Rachel levantou as sobrancelhas. Ela aguardava a resposta dessa pergunta com o coração na mão. Beth era tão importante e especial pra ela... era parte de Quinn e Rachel amava as duas com todo o coração e alma.

“...E?”, Rachel apressou Quinn, diante do silêncio.

A loira engoliu o nó na garganta, “Eu perguntei se ela gostava de você, como você tratava ela e sua relação diária... ela apenas respondeu: ‘eu amo minha Rachy, mamãe. Na verdade eu estava querendo perguntar se... eu posso chamar Rachel de mãe assim como eu chamo você de mãe. Mas eu chamaria você de mamãe e Rachy de mãe ou você de mamãe e Rachy de mamma ou de mommy... você acha que eu devo perguntar pra ela?’”

Rachel limpou a lágrima que transbordava de seus olhos castanhos, “ela realmente disso isso, amor?”, perguntou emocionada.

Quinn acenou, “Ela disse que queria me perguntar se você ia gostar caso ela te chamasse de mãe, mas estava morrendo de medo que você não gostasse porque ela não queria estragar a relação que vocês tem com algo assim”

“Por Deus, Quinn!”, Rachel limpou outra lágrima, “Beth...”

A loira estendeu seu braço até o centro da mesa e Rachel fez o mesmo, até suas mãos se encontrarem e Quinn acariciá-la gentilmente.

“Eu amo Beth”, Rachel suspirou, “Obrigada por me deixar fazer parte da vida dela”

Quinn sentiu seu coração aquecer do modo especial que só Rachel conseguia.

“Eu sei que você ama, Rach... e é por isso que eu... eu queria propor algo pra você hoje à noite”

Rachel se ajeitou na cadeira e ansiosamente esperou Quinn falar pela segunda vez na noite.

“Me diz!”, ela implorou, brincando.

“Eu gostaria que você adotasse Beth”, Quinn finalmente soltou, suspirando. Seu coração batia acelerado dentro do peito.

Rachel colocou a mão em seu coração e sorriu para a mulher que amava, sentada à sua frente.

“Você tem certeza?”

Quinn acenou, emocionada, “Eu tive certeza há muito tempo, Rach”

“Como assim?”, Rachel questionou, se emocionando também.

“Você lembra quando namorávamos, e você ainda fazia faculdade... o quanto você me incentivou à terminar meu curso, trasferi-lo para Columbia, o quanto você me apoiou... as noites que você cuidou de Beth para que eu terminasse trabalhos e apresentações, para que eu fosse em seminários... você não deixava eu me sentir sozinha ou enfraquecida diante das dificuldades, porque eu tinha Beth, e eu tinha você, Rach”

A morena não se importou com as pessoas ao redor e ergueu um pouco seu corpo, apenas o bastante para selar seus lábios com a mulher à sua frente que lhe trazia lembranças tão boas e amorosas.

“Beth disse que estava com medo de você não considerá-la como sua filha por causa de laços genéticos, porque ela veio da minha barriga e de Puck”, Quinn sorriu entre lágrimas.

Rachel a acompanhou no sorriso, “Eu preciso ter uma conversinha com alguém quando chegar em casa”, ela bebeu um gole de vinho, “Adotar Beth vai ser um privilégio e uma honra, Quinn. Eu amo aquela garotinha como minha... e eu amo você”

Quinn tinha um sorriso maior que o próprio rosto, “Eu te amo, Rach”



–-------------------------------------------------------------------------------




Depois de jantarem, Rachel resolveu levar Quinn a um canto calmo da cidade, em um bairro onde a vida noturna era menos intensa. Havia uma bela praça e uma vista incrível das estrelas e da lua, que estava incrivelmente única naquela noite. Beijaram-se, abraçaram-se, disseram palavras doces entre beijos e abraços, para depois finalmente voltar pra casa.

Quinn guardava o carro na garagem enquanto Rachel abria a porta devagar, para não acordar ninguém. Se surpreendeu ao ver Britt deitada no tapete felpudo no chão, com Beth em cima de seu corpo, e Santana trocando preguiçosamente os canais disponíveis.

“Boa noite”, Rachel sussurrou.

“Oi, Rach”, Santana a abraçou, “Cadê Quinn?”

“Guardando o carro”, Rachel se serviu de um copo dágua e Santana a acompanhou até a cozinha.

“Você chorou?”, a latina perguntou, devido à maquiagem borrada da morena.

“Um pouco”, ela sorriu, “Quinn me fez uma proposta irrecusável hoje”

“Vocês vão casar?”, Brittany apareceu na cozinha de surpresa, dando um susto nas duas.

“Ai, B, que susto!”, Rachel abraçou a amiga, “na verdade... Quinn pediu para eu adotar Beth legalmente”, ela não conseguia terminar de dizer tais palavras sem sorrir.

Santana ergueu as sobrancelhas, “Wow”

“Que bom, Rach!”, Brittany comemorou, abraçando Rachel, “Apesar de vocês já formarem uma linda família, dar veracidade à isso legalmente é maravilhoso”

“Ainda vamos conversar com Beth sobre isso, mas Quinn disse que perguntou à ela sobre mim e Beth estava com receio de me chamar ou não de mãe, pois não sabia se eu ia gostar”

“Beth é tão fofa!”, Brittany comentou, abraçando Santana pelos ombros.

“Depois diz à Quinn que eu conheço advogados de direitos homoafetivos ótimos”, Santana disse, abraçando a namorada.

Quinn entrou devagar em casa, com medo de acordar alguém. Acabou encontrando Beth dormindo no sofá e as três mulheres conversando na cozinha. Rachel fez um chá para Britt e a conversa durou mais algum tempo entre as quatro. Todas comemoravam a novidade e Brittany contava sobre os jogos que jogou com Beth, e o quão fácil ela dormiu já que cansou seu pequeno corpo.

Elas se despediram, agradecendo às amigas.

“Rach, deixa que eu coloco Beth na cama, amor”, Quinn comentou quando viu que Rachel pegava Beth no colo com o máximo de cuidado, sem querer acordá-la.

“Eu a levo, Q, pode deixar”, se aproximou e selou seus lábios com a loira, “Toma um banho e me espera?”

Quinn acenou e começou a limpar a sala, alguns farelos de biscoito e caixa de suco espalhadas pelo tapete. Desligou a TV e o video game e subiu para seu quarto.

Rachel seguia na direção oposta, ao quarto de Beth. Ao acender a luz, Beth abriu seus olhinhos e bocejou.

“Mamãe?”, perguntou com a voz fraca.

“Sou eu, docinho”, a morena respondeu colocando a pequena na cama e a cobrindo.

Beth sorriu, “Oi, Rachy”

“Desculpe acordar você, Beth”, Rachel disse, observando a pequena se espreguiçar. Beth era uma miniatura completa de Quinn nesses momentos, e o coração de Rachel se aqueceu.

“Não tem problema. Vocês se divertiram?”, ela perguntou interessada.

“Muito. Sua mãe me levou em um lugar que eu pretendo te levar no final de semana que vem”

“Sério? Que lugar?”

Rachel riu da empolgação da pequena, que há poucos segundos estava dormindo, “Um parquinho incrível cheio de brinquedos. Tem um balanço enorme que você com certeza vai gostar”

“Eu amo balanços!”, Beth quase gritou e Rachel soltou uma gargalhada.

“Eu sei, por isso lembrei de você quando fui lá”

Elas ficaram em silêncio por alguns instantes, Rachel sorria para a loirinha deitada, até que ela se esticou para pegar a mão de Rachel e ficar brincando com seus dedos. Como Quinn sempre fazia quando queria dizer algo mas não sabia por onde começar...

“Você quer me dizer alguma coisa, docinho?”, Rachel perguntou suavemente, “Você sabe que pode me dizer qualquer coisa, certo?”

Beth se sentou na cama, ajeitando o travesseiro atrás das costas. Seu olhar demorou até encontrar o de Rachel, mas quando o fez, a morena sentiu que as mãos da pequena tremiam de leve.

“Eu posso te perguntar uma coisa, Rachy?”, Beth questionou com sua pureza infantil e Rachel sorriu, já sentindo o nó na garganta.

“Claro, Beth”, ela assegurou.

“Eu... gostaria de...”, a pequena suspirou antes de continuar, “Eu sei que você não é minha mãe de verdade. Eu sei que meu pai Puck plantou uma semetinha na barriga da minha mãe e assim eu nasci e que você não estava lá quando isso aconteceu...”

“Eu realmente não estava, Beth”, Rachel riu, sentindo seu rosto esquentar, e se preparando para o momento que estava por vir. Seu coração acelerou.

“Mas eu gosto muito de você”, Beth disse sinceramente, “Eu amo você como eu amo minha mãe”, ela finalmente soltou.

Rachel segurou as duas mãos de Beth nas suas, sentindo seu nervosismo.

“Eu também amo você, Beth, eu honestamente... amo muito você, docinho”

“Mas você vai ficar brava se eu começar a te chamar de mãe?”, Beth perguntou quase com um sussurro.

Rachel se aprontou em responder, “Nunca, meu amor. Jamais. Você quer me chamar de mãe?”

“Eu... queria...”, Beth desviou seu olhar.

“Elizabeth”, Rachel chamou para que ela voltasse os olhos claros e iguais aos de Quinn para os seus, “Só porque eu não participei quando Puck colocou uma sementinha na barriga de sua mãe pra você nascer, não significa que eu não ame você assim como os dois amam, e que você não possa sentir o que sente por eles, por mim. Você pode me amar como sua mãe e me chamar de mãe quando você se sentir confortável com isso. Eu jamais te negaria isso, jamais ficaria brava com você, docinho”

Beth voltou a prestar atenção atentamente.

“Sabe quando eu pego você na escola e nós passamos naquele lugar onde tem café e sorvete e você escolhe o meu café e eu escolho o seu sorvete?”, a pequena confirma com a cabeça, sorrindo com a lembrança, “Ou quando nós duas vamos acordar a sua mãe com um café da manhã na cama quando é aniversário dela ou quando queremos mostrar pra ela que nós a amamos? Ou quando você vai comigo até onde eu trabalho e fica tocando os vários instrumentos que tem lá, até bateria? Lembra o quanto nos divertimos todas as vezes que aqueles amigos meus tentam te ensinar alguma música?”

A pequena balançava a cabeça e ria alegremente, “Eu lembro, Rachy. Eu adoro tocar bateria com o John”

“Eu sei que você adora, meu amor”, Rachel acaricia o rosto de Beth, “Nós temos todas essas lembranças... e isso, Beth, essas memorias sempre vão ficar aqui”, ela apontou para o coração de Beth, “Então não importa se eu não estava lá no começo, mas eu estou aqui agora e sempre vou estar. Isso faz sentido pra você, Beth?”

“Sim”

“Eu te amo, amo muito sua mãe e nós três formamos uma família... uma grande família com seus tios e tias, certo?”

“Arram...”, Beth divagou, “...e Rachy, você esqueceu de quando nós descemos escondidas da mamãe para tomar sorvete lá embaixo, com a porta da geladeira aberta”, ela sussurrou como se fosse um segredo e Rachel sorriu.

“Shh...”, a morena colocou o dedo entre os lábios, “sua mãe pode ter instalado câmeras por todo o quarto. Não podermos falar sobre isso em voz alta”, ela sussurrou também e Beth gargalhou alegremente.

Beth bocejou e Rachel começou a arrumá-la na cama outra vez.

“Hora de dormir, meu amor”

“Rachy, espera!”, Beth chamou quando a morena começou a se levantar, “Você pode cantar pra mim?”, ela pediu com manha.

Rachel sorriu, “Clarou, docinho. O que você quer ouvir?”

“Aquela música que a mamãe sempre canta”, Beth disse já fechando os olhinhos, deitada.

Rachel tossiu um pouco antes de começar a cantar you are my sunchine. Depois que Quinn comprou o album da Elizabeth Mitchell, Beth escuta repetidamente esse cd sempre que pode. E a loira canta essa música para a pequena há muito tempo, quando descobriu que o bebê se acalmava quando ouvia as palavras doces e tristes da bonita canção.

“You are my sunshine, my only sunshyne... you make me happy when skies are grey. You’ll never know, dear, how much I love you... please don’t take my sunshine away”

A morena ainda cantou outros versos da música, até que Beth parecia com a respiração padronizada. Rachel acreditou que ela estava dormindo e se levantou, olhando para a figura da loirinha tão serena e em paz pela última vez. Não resistiu e foi até ela, beijando-lhe delicadamente a testa.

“Eu te amo, docinho”

“Eu te amo, mãe”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

mais?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "You are my sunshine" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.