Nunca Durma escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 2
O negócio da família


Notas iniciais do capítulo

Ahhhhhhhhhhhhh desculpem o título meio coisado, mas é que no capítulo de hoje, este assunto estará em alta entre dois dos "casais" da fic.

Mas, calma lá que eu nem dei oi para vocês! Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Agora sim!

Well, quero agradecer a todos que comentaram o capítulo anterior, que estão acompanhando e favoritando. Valeu!

O capítulo de hoje está cheinho de referências a fic anterior, hein? Então se ainda não leu O Caso do Slender Man, sugiro que corra lá e dê uma olhadinha e lidinha.

Bem, vejo vocês nas notas finais! Have fun!



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Eram aproximadamente oito horas da manhã e a cerca de uma hora, Isabel e Erik tinham deixado o hotel e pegado a estrada. Os dois pararam em uma lanchonete da região e naquele momento estavam acomodados em uma das mesas, tomando o café da manhã, no mais absoluto silêncio.

Isabel tinha evitado ao máximo trocar qualquer palavra com o rapaz na noite anterior. Assim que os dois entraram no quarto, ela foi tomar um banho. Depois, enquanto Erik tomava o seu, ela se jogou em uma das camas de solteiro, se enrolou com um cobertor e manteve os olhos fechados.

Ouviu quando ele abriu a porta do banheiro, mas não esboçou qualquer movimento. Nem mesmo quando Erik a chamou pelo nome. Possivelmente, querendo lhe fazer perguntas sobre tudo o que tinha acontecido com ele.

Isabel também ouviu quando Erik deitou-se na outra cama. As madeiras do estrado rangeram um pouco sob o peso do seu corpo. Em seguida, o ouviu respirar profundamente e logo o quarto ficou no mais absoluto silêncio.

Erik dormiu na noite anterior. Isabel não.

— Você é sempre tão calada assim? — indagou Erik, fazendo com que Isabel, que até então observava, com um olhar distante, o estacionamento pela janela perto da mesa onde os dois estavam, voltar-se imediatamente para ele.

Ao invés de responder, ela se ouviu dizendo:

— Eu tenho uma pergunta.

— Ótimo, eu tenho várias. — rebateu Erik, e depois de tomar um gole de café com leite, ele disparou: — Por que aquele demônio estava atrás de você? Como você sabia disso? Aonde você aprendeu técnicas de exorcismo? Por que está indo para Ohio? Você mora lá ou é outra coisa? Tem mais demônios atrás de você? Você está fugindo? E por que você me bateu quando eu disse que você era gostosa?

Isabel franziu o cenho e sentiu o seu rosto ruborizar diante da última pergunta. Erik percebeu que tinha falado demais e fechou os olhos por um instante. Os abriu em seguida e balançou a cabeça de um lado para o outro, afastando a lembrança de Isabel em cima dele, naquele beco...

— Ok, esquece a última pergunta. — disse Erik por fim. — O que eu preciso saber é... Quem diabos é você, Isabel?

Ao invés de responder, a nephilim fez a pergunta que não a deixou dormir naquela noite:

— Por acaso você é descendente de Samuel Colt?

Erik ficou imóvel e em silêncio por um longo momento antes de questionar:

— Como você sabe disso?

— Então é verdade? — quis confirmar a garota. Diante da expressão confusa do rapaz, ela decidiu se explicar: — Eu vi no seu cartão de crédito. Desculpe, foi sem querer.

— Você conhece a história de Samuel Colt? — perguntou Erik, tentando se situar naquela estranha conversa.

— Você conhece? — rebateu Isabel, querendo entender até que ponto Erik estava familiarizado com a história da arma Colt.

— Claro. — respondeu o rapaz prontamente, e então acrescentou com certa inocência: — Ele foi um grande inventor e fabricante de armas. Um revolucionário para a sua época. Influenciou toda a história armamentista dos Estados Unidos. Talvez do mundo.

— Só isso? — balbuciou Isabel.

— Só isso?! — surpreendeu-se Erik. — O cara era um gênio!

— Com certeza, ele era sim... — concordou ela.

E naquele momento, a nephilim entendeu que o rapaz na sua frente não conhecia a verdadeira história de Samuel Colt. Erik não fazia ideia de que ele havia desenvolvido uma arma capaz de matar criaturas sobrenaturais.

— Então você é mesmo descendente direto dele? — recomeçou Isabel.

— Sim. — confirmou Erik, sem entender qual era a importância daquilo.

— A sua família é rica? — indagou Isabel, lembrando do império deixado por Samuel Colt.

— Minha família? — repetiu Erik e a nephilim percebeu certo pesar naquelas palavras. — A minha família está toda morta, Isabel. — confidenciou ele e a garota percebeu que tinha entrado em um assunto delicado. Sentindo uma necessidade de mudar o foco da conversa, ele explicou: — A companhia fundada por Samuel Colt foi vendida para um grupo de investidores há décadas e o dinheiro da venda foi mal aplicado. Não restou um centavo. Então, não, eu não sou rico.

— Você disse que toda a sua família está morta? — perguntou Isabel, mesmo sabendo que não devia se aprofundar em um assunto tão pessoal.

— Sim. — confirmou Erik com uma tristeza palpável. — Nós não éramos muitos. Apenas eu, meus pais, meus tios e uma prima. Mas... Eles morreram nos últimos anos e... Só restou eu.

Isabel sentiu vontade de perguntar como eles tinham morrido. Alguma coisa lhe dizia que talvez não tivesse sido de causas naturais. Talvez a família Colt tivesse sido perseguida por demônios ou outras criaturas. Mas se Erik ficou tão surpreso quando descobriu que demônios existem, certamente as mortes tinham parecido naturais para ele.

Isabel o fitou diretamente nos olhos, quando deu-se conta de que talvez o demônio que possuiu Erik não tivesse o escolhido por acaso. Ele ia matar Erik no final de tudo. Depois que se livrasse dela.

Erik era o ultimo Colt no mundo e, com certeza, os demônios sabiam disso e queriam eliminá-lo. Erik nunca estaria a salvo. Aliás, ele já estava em perigo bem antes de cruzar o caminho de Isabel.

No final das contas, não era a companhia dela que o colocava em risco, era o seu próprio sobrenome e suas origens. E Erik continuaria em perigo mesmo que Isabel não lhe respondesse as perguntas que ele havia feito, mesmo que ela o deixasse em Ohio, mesmo que ela o esquecesse para sempre.

Foi assim que Isabel começou a se questionar se estava agindo corretamente com Erik. Privá-lo de respostas, manter certa distância, tratá-lo com frieza não lhe parecia mais o caminho certo a seguir. Porque não era.

Erik era mais uma pessoa em perigo no mundo e Isabel podia ajudá-lo a se proteger. Mais do que isso, ela sentia que tinha uma certa obrigação com ele. No fim, ele era sim sua responsabilidade. Pelo menos, era o que Isabel passou a sentir naquele momento.

Ela começou a pensar que talvez pudesse lhe mostrar como se defender dos demônios, como mantê-los longe. Mais do que isso, Isabel sentia que devia isso a Erik. E devia isso a Samuel Colt também.

Pensando em tudo isso, Isabel deixou que aquela barreira entre ela e Erik ruísse, segurou uma das mãos dele sobre a mesa e disse solidária:

— Sinto muito pela sua família.

Erik observou a mão da garota sobre a sua. Em seguida, colocou a outra mão sobre a dela, olhou em seus olhos e agradeceu:

— Obrigado.

Os dois permaneceram assim por um longo momento, até que Isabel afastou a mão devagar e, convencida de que Erik merecia e precisava de algumas respostas, ela recomeçou:

— Meu nome é Isabel Clarke e eu só estou aqui hoje, diante de você, porque uma arma criada por Samuel Colt salvou a minha vida uma vez. Eu nunca vou poder agradecê-lo, mas, já que você é descendente direto dele... Obrigado.

Ao contrário do que Isabel esperava, ouvir aquelas coisas deixou Erik ainda mais confuso.

— Como assim? Que arma? — indagou ele, estreitando o olhar na direção dela.

Isabel não respondeu aquilo, mas decidiu lhe dar outras respostas:

— Demônios são vingativos e tem motivos de sobra para quererem se vingar dos meus pais. Por isso aquele demônio estava atrás de mim. Mas eu não estou fugindo para Ohio. Na verdade, eu estou indo até lá para... Caçar.

— Caçar? Caçar o quê? — quis entender Erik.

— Alguma coisa que tem matado as pessoas enquanto elas dormem. — explicou Isabel.

— Um demônio? — supôs Erik e Isabel balançou a cabeça negativamente, o que o deixou pensativo. — Que outros tipos de criaturas existem por aí? — perguntou intrigado.

— Todos os tipos que você possa imaginar. E os tipos que você nunca imaginou também. — respondeu Isabel de uma forma emblemática.

Erik a encarou por um tempo. A surpresa e certo assombro visíveis no seu semblante. Isabel era tão meiga e delicada que Erik não conseguia imaginá-la caçando qualquer coisa que fosse. Então ele precisou confirmar:

— Então você caça essas coisas? Você é... Uma caçadora? É isso?

— Sim. — confirmou Isabel.

— Por quê? — quis entender Erik.

— Alguém tem que fazer o serviço. Além disso, é meio que... Um negócio de família. — explicou ela.

— Seus pais caçam também? — surpreendeu-se Erik.

— A minha mãe sim. O meu pai... — Isabel hesitou. — O meu pai é mais complicado.

A nephilim não achava que Erik precisava saber que ela era filha de um anjo de sobretudo. Ela já estava lhe contando coisas demais.

Depois de respirar fundo, assimilando tudo o que tinha ouvido, Erik encostou as costas na cadeira e refletiu:

— Agora eu entendo porque você está agindo desse jeito comigo. Me tratando com tanta... Frieza.

— Desculpe, eu só não queria te envolver nessa história. Para o seu próprio bem. — justificou-se ela. — Mas talvez...

Como Isabel engoliu as próximas palavras que diria, Erik a incentivou a continuar:

— Talvez?

Isabel hesitou mais uma vez. Porém, depois de pensar um pouco, decidiu responder:

— Talvez você já esteja envolvido e nem percebeu isso.

— Como assim? — questionou Erik ainda mais confuso.

Depois de um longo momento de silêncio, Isabel expôs:

— Olha, eu já te contei muitas coisas para um dia só. Eu sei que você tem mais perguntas e eu prometo que vou responder todas elas, mas depois. Agora nós temos que seguir viagem, chegar logo em Ohio e eu tenho que caçar a criatura que está matando pessoas por lá.

— Eu não estou entendendo. Você não queria me envolver nesta história de sobrenatural e agora quer que eu te acompanhe em uma... Caçada? — questionou Erik.

— Eu não estou te pedindo para se envolver nesta caçada, só para... Ficar por perto enquanto eu resolvo a situação. — esclareceu a nephilim. — Você disse que mora em Ohio, certo? E eu te prometi uma carona até lá. Então, nada mudou. — após uma pausa, Isabel ponderou: — Bem, na verdade, a única diferença é que eu estou disposta a te dar algumas respostas e te explicar certas coisas. Mas no momento certo. Então, só o que eu estou te pedindo é um pouco de paciência.

Erik ficou em silêncio, pensativo, avaliando aquela proposta. Deu-se conta de que era mais do que ele esperava, afinal ele temia que seria difícil conseguir algumas explicações de Isabel. No entanto, agora ela estava se comprometendo a dar as respostas que Erik precisava. Ele não podia reclamar disso. Não era louco para reclamar.

Sendo assim, ele assentiu:

— Tudo bem.

Isabel o fitou por um instante e em seguida acenou para uma garçonete que passava perto daquela mesa. Pediu a conta e minutos depois, ela e Erik deixaram o lugar.

XXX

Enquanto isso, Henry e Rachel estavam sentados em um sofá da sala de espera de um hospital em Laredo, no Texas. Foi para lá que Emily levou Tony durante a madrugada.

O rapaz estava em um dos quartos, os médicos já haviam cuidado dos seus ferimentos e, como ele tinha perdido uma quantidade considerável de sangue, Tony precisou de uma transfusão.

Infelizmente, o tipo sanguíneo de Emily não era compatível, os bancos de sangue do hospital estavam baixos e Henry também não era compatível com Tony. Quem acabou resolvendo o impasse foi Rachel, já que sendo O Positivo, ela era considerada uma doadora universal.

— Odeio agulhas. — resmungou Rachel, enquanto massageava o curativo sobre uma de suas veias no braço direito, algum tempo depois da doação.

Henry a olhou de soslaio e sorriu levemente, achando aquilo engraçado. Em seguida, ele perguntou:

— Você acha que os médicos acreditaram que ele foi mesmo atacado por um animal?

— Bem, o que eu sei é que eles não acreditariam se nós contássemos a verdade. E nós nem poderíamos contar, então eu espero sim que eles tenham acreditado na história batida de ataque de animal. — ponderou Rachel.

Neste momento, Emily veio por um corredor, avistou os dois na sala de espera e aproximou-se devagar.

Henry ergueu o olhar na direção dela e, automaticamente, lembrou-se de quando a conheceu, há quinze anos, na dimensão do Slender Man. Lembrou-se de como Emily parecia frágil naquela ocasião, do pavor que ela sentia de morrer nas mãos daquele monstro, de como ele tentou protegê-la, de como teve medo de falhar naquela missão.

Henry procurava algum resquício daquela garotinha no semblante de Emily. Mas tudo o que ele encontrou foi uma mulher linda e visivelmente determinada. Lembrou-se dela apontando a arma na direção dele, no meio da estrada, há poucas horas, enquanto perguntava pelo seu irmão Tony. Lembrou-se do exato instante em que a reconheceu. E do que sentiu, embora não entendesse direito o que era.

— E o Estrupício? — Rachel decidiu perguntar para quebrar o silêncio um tanto constrangedor que havia se instalado.

Emily, que até então também olhava para Henry e lembrava do passado, voltou-se na direção da prima dele e respondeu:

— Ele acabou de acordar. Os médicos disseram que ele está fora de perigo. Amanhã mesmo terá alta.

— Que bom. — disse Rachel, sorrindo gentilmente.

— Ah! E ele quer te ver. — avisou Emily.

— Sério? Por quê? — questionou ela, fazendo uma careta de desânimo. Mas, em consideração à Emily, respirou fundo, levantou-se com um impulso e disse com ironia: — Tudo bem, nada me deixaria mais feliz do que trocar umas palavrinhas com o seu irmão. Com licença.

Em seguida, Rachel começou a se afastar e Henry a seguiu com o olhar. Por um instante, pensou em impedí-la, pois não gostava da forma como Tony olhava para ela, quase a comendo com os olhos.

No entanto, imaginando que talvez Tony quisesse agradecer tudo o que Rachel havia feito, Henry decidiu não interferir. Além disso, ele também precisava conversar com Emily antes de pegar a estrada e encontrar Isabel em Springwood, Ohio.

Como se tivesse lido os pensamentos de Henry, Emily sentou ao seu lado e esperou que ele iniciasse a conversa.

Mas, o que a ruiva não podia imaginar era que o caçador sentiu-se um pouco constrangido com aquela súbita proximidade. Justo ele, tão mulherengo e desinibido, não sabia como agir naquele momento. Não sabia como agir perto de Emily.

Talvez Rachel estivesse certa, talvez Emily tinha sido mesmo o primeiro amor dele. Talvez o único. Talvez o que eles sentiram durante o tempo em que ficaram presos na dimensão do Slender Man não tivesse sido apenas uma coisa de criança.

Fosse como fosse, isso não dava o direito a Henry de tentar qualquer aproximação em relação à Emily. Ele só precisava de algumas respostas e depois iria embora daquele hospital. Provavelmente, aquela era a última vez que ele veria Emily. Não havia motivos para ser diferente. Pelo menos, era nisso que Henry queria acreditar naquele momento.

Então, fazendo certo esforço para soar natural, esfregando as mãos constantemente e evitando olhar diretamente para Emily, Henry finalmente perguntou o que precisava urgentemente saber:

— Como você entrou nessa vida, Emily?

— Eu poderia te perguntar a mesma coisa. — redarguiu ela.

— Não, comigo foi diferente. — protestou ele. — Os meus pais e toda a minha família já estavam envolvidos nisso há muito tempo. E por mais que eles quisessem me fazer acreditar que eu tinha escolha, eu já era um caçador no instante em que nasci. Então as coisas simplesmente foram acontecendo e aqui estou eu. Caçando. Mas você... Você sim tinha escolha, Emily. Então o que aconteceu? Por que você começou a caçar?

Depois de hesitar porque a resposta para aquela pergunta envolvia algo doloroso, Emily respondeu pausadamente:

— Meus pais morreram há dois anos.

Ao ouvir aquilo, Henry olhou para a ruiva e teve vontade de abraçá-la. Mas se conteve e apenas disse:

— Eu sinto muito. Foi algo... Sobrenatural?

— Não. Eles morreram em um acidente de carro, voltando de uma festa. — relatou Emily.

Confuso, Henry prosseguiu:

— Eu não estou entendendo. Eu quero dizer... É algo horrível, eu sei, mas foi um acidente de carro, certo? Então por que virar caçadora?

Emily permaneceu em silêncio por um bom tempo e olhou para um ponto qualquer do chão ao responder:

— Eu precisava de um propósito para continuar, Henry. O Tony também. Aliás, principalmente ele.

— Como assim? — não entendeu o caçador.

— Eu fiquei arrasada com a morte dos meus pais, mas o Tony... Ele ficou perdido. Ele... Chegou no fundo do poço. — expôs Emily.

— Então você decidiu arriscar o seu pescoço e o dele entrando neste ramo? — desaprovou Henry. — Você acha que era isso que os seus pais queriam para vocês?

— Ajudar as pessoas? Salvá-las? Acho que sim. — argumentou Emily incomodada com o tom de reprovação de Henry.

— Você sabe o que eu quis dizer. Caçar é perigoso. — alertou ele. — Você pode se machucar. O que aconteceu com o Tony é a prova disso. Ele podia ter morrido, Emily.

— Mas não morreu. — ressaltou ela, e após uma longa pausa, continuou: — Olha, o Tony caiu em uma armadilha. Podia ter acontecido com qualquer um e ele sabe disso. Se mesmo assim, ele quiser parar, eu vou entender. Mas eu... Eu vou continuar. Eu preciso continuar.

— Por quê? — indagou Henry confuso.

Emily pensou um pouco, lembrou de acontecimentos passados e confidenciou:

— Eu nunca esqueci... O Slender Man, Henry. E nunca, nem por um segundo, parei de me perguntar que outras criaturas estavam lá fora. Matando pessoas, as comendo vivas, destruindo vidas, famílias, sonhos. Sabe... Eu não podia simplesmente ignorar tudo isso. Eu sabia que o sobrenatural existia e dar as costas para isso me pareceu errado. Eu tentei seguir em frente e consegui por anos. Cresci, estudei, me formei, fiz amigos, fui em festas, enchi a cara, mas... Todas as noites, quando eu fechava os olhos, o Slender Man estava lá. Como um fantasma. Me lembrando de que o mal continuava existindo e que eu era conivente. — após uma pausa, Emily continuou: — Então, os meus pais morreram, o Tony enlouqueceu, o mundo virou de cabeça para baixo. Meses depois, eu li uma notícia curiosa na internet, pesquisei a respeito e percebi que... Podia ser um caso. Então eu procurei o Tony. Ele estava em um estado deplorável, mas me deixou falar. Eu contei tudo para ele. Não só sobre o possível caso, mas também sobre o Slender Man, e que você, a Rachel e a Isabel estavam lá comigo.

— Quer dizer que o seu irmão sabe de tudo? — surpreendeu-se Henry.

— Desculpe ter contado o nosso segredo, mas eu não revelei nada que pudesse levar o Tony até vocês ou à sua família. Mesmo porque eu nunca soube onde encontrar você e a Rachel. Muito menos a Isabel. — justificou-se Emily. — Além disso, eu me senti tão mais leve por poder dividir aquela história com alguém. Me fez bem.

— E como o Tony reagiu? — indagou Henry, entendendo os motivos de Emily para ter contado certas coisas ao irmão.

— Bem, primeiro ele me chamou de maluca, em seguida me ofereceu uma garrafa de rum, mas depois ele me deu o benefício da dúvida e, por fim, aceitou me ajudar. — respondeu Emily. — Nós conseguimos resolver o primeiro caso e os outros vieram naturalmente. Então nós conhecemos alguns caçadores e aprendemos mais sobre o sobrenatural. Desde então, nós não paramos mais.

— Há quanto tempo vocês caçam? — perguntou Henry.

— Pouco mais de um ano. — respondeu Emily. — Eu sei que é pouco tempo e que nós temos muito o que aprender ainda, mas nós estamos nos virando. E... Estamos bem assim. Acredite.

— Você está querendo me dizer que está feliz com essa vida que escolheu? — duvidou Henry.

— Eu estou satisfeita por poder tornar o mundo um lugar mais seguro. O Tony também está. — esclareceu a ruiva. — Você pode não acreditar, mas a primeira vez que ele salvou a vida de alguém foi... Eu não sei explicar, mas eu acho que naquele momento, ele sentiu tanto orgulho de si mesmo... Ele encontrou o seu lugar no mundo, a sua vocação.

Henry arqueou as sobrancelhas e disse com ar de dúvida:

— É meio difícil de acreditar nisso, já que para mim ele continua sendo um idiota, mas se você está falando...

Emily riu levemente, deu um empurrão no ombro de Henry e protestou:

— Não fala assim dele. O Tony é meu irmão.

— Pois é, você tinha que ter algum defeito. — refletiu Henry e sorriu sem perceber.

Os dois se olharam e Henry podia jurar que Emily tinha gostado de ouvir o elogio implícito naquela frase. Mais do que deveria.

Aos poucos, eles foram ficando sérios e o silêncio se tornou tão incômodo que Emily viu-se obrigada a dizer a primeira coisa que lhe veio à cabeça:

— Você não está bravo comigo? Por causa da decisão que eu tomei? De entrar nisso?

— Como você disse, a decisão foi sua. Mesmo que eu não aprove, eu não tenho o direito de me intrometer. Só o que eu te peço é: tome cuidado, ok? Você e o Estrupício.

— Ok. — assentiu Emily.

Quando o silêncio voltou a ficar desconfortável, foi a vez de Henry se pronunciar:

— Me dê o seu celular.

Emily franziu o cenho sem entender por que ele precisava daquilo, mas mesmo assim, pegou o aparelho no bolso da calça e lhe entregou. Então Henry explicou:

— Eu vou gravar o meu número e o da Rachel na sua agenda. Se você ou o seu irmão tiverem alguma dúvida, durante alguma caçada, e precisarem de ajuda, é só ligar. Você, não ele. Ah! E nunca, sob hipótese alguma, deixe ele descobrir o número da Rachel, ok?

Emily sorriu diante do ciúme genuíno de Henry em relação à prima. Imagine só se ela lhe contasse que Tony havia falado de Rachel durante todo o caminho e que só parou quando a perda de sangue, que ele sofreu no ninho de vampiros, o fez desmaiar.

Era melhor Henry não saber de nada disso...

Enquanto Emily observava ora Henry digitando os números no celular, ora o seu bonito rosto de perfil, Rachel finalmente chegou no corredor onde o quarto de Tony devia ficar.

Ela deu mais alguns passos e parou diante de uma janela de vidro que separava um dos quartos do corredor. Reconheceu Tony do outro lado, deitado na cama, com roupas do hospital e uma intravenosa lhe dando algum medicamento em um dos braços.

Ao vê-la através do vidro, ele abriu um enorme sorriso, colocou uma das mãos embaixo da camisa do hospital, no lado esquerdo do peito, e moveu a mão repetidas vezes, simulando batimentos cardíacos acelerados, como aqueles que vemos em personagens de desenhos animados.

Rachel respirou fundo, revirou os olhos, caminhou até a porta e, antes de girar a maçaneta, resmungou:

— Eu grudei chiclete na cruz. Só pode ser isso.


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Notas finais do capítulo

Aaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhh eu acabei o capítulo justo aí. Sorry, mas ele já estava gigante pela própria natureza e, como este momento entre Rachony (Rachel + Tony) será uma longa e instigante conversa cheia de segundas intenções por parte do moçoilo, achei melhor focar no próximo capítulo.

Mas por enquanto, o que acharam? Estão gostando?

Eu quis explicar algumas coisinhas neste capítulo, como o lance da Emily e do Tony terem virado caçadores, a Isabel revelando certas coisas para o Erik etc. Mas logo logo, iniciarei de fato a caçada ao mostro que ronda esta fic... Freddy Krueger...

Bem, inté sábado que vem! Bjs!

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