Aftermath escrita por IgorPaulino


Capítulo 7
Rostos derretidos


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu nome é Igor, e sou o criador do Aftermath. Este é meu projeto que venho desenvolvendo há meses, e pretendo engrandecê-lo e um dia expandí-lo pra outras plataformas (jogos, livros, produções audiovisuais). Agradeço aos que leram, e caso se interessarem pela trama poderão acompanhar também pelo blog, cujo link estará nas notas finais. Obrigado a todos, e boa leitura =)



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Apesar de tudo, Thanatos cumpriu seu objetivo. Ou ao menos parte dele. No momento em que as nuvens o tocaram, sua fúria se espalhou pelo planeta. Várias catástrofes aconteceram simultaneamente e derrubaram cada governo de cada país. Terremotos, furacões, tsunamis, vulcões, todos atacando a humanidade ao mesmo tempo. Mei havia nos contado quando retornamos ao Limbo. Os sobreviventes ainda têm esperança de voltarem a viver num mundo como estavam acostumados. Acreditavam que tudo se resolveria quando essa nova era de destruição terminasse. Estavam testemunhando a era do Inverno Nuclear.

Perguntei a Mei sobre o livro que encontramos com Lucy, mas ela não soube responder. Não sabia nada também sobre Valíseos. Lucy não havia dado muitos detalhes, então o único com respostas era Erick, que certamente não nos diria nada. De volta à estaca zero.

O mundo agora era silencioso e deserto. Casas foram abandonadas, se não derrubadas em cima de seus moradores; estradas bloqueadas por entulho, cadáveres em decomposição nas metrópoles e a vegetação começava a cobrir os edifícios.

Nos instalamos perto de onde enterramos Lucy, ainda perto do portal onde Thanatos morrera. Estávamos no sul da Alemanha, na cidade de Landshut. Da batalha sobrara apenas uma grande plataforma cilíndrica de rocha, antes a piscina de lava que Lucy usara para derrotar o deus da morte. Seu corpo ainda devia estar lá, derretido e misturado à pedra. Mas, como ela mesmo havia dito, a alma de um deus não morre com seu corpo. Thanatos ainda vive.

Estávamos próximos ao portal, ao lado de Eva e Luke. O lugar era uma campina de baixo gramado, à frente da cidade alemã. Conversávamos com a ceifadora dos Campos Perpétuos.

–Os ceifadores não têm mais utilidade. Nunca tiveram – Mei acabava de descobrir a verdade. Até então, acreditava que estava levando os mortos para a paz eterna. – Thanatos nos usava pra se fortalecer.

–Isso acabou – Luke falou. – Ele está morto, e o mundo está arruinado. As pessoas que sobreviveram estão desoladas, Mei. Precisamos ajudá-las, se não por altruísmo, para nos redimirmos de nossa parcela de culpa. Se tivéssemos o derrotado ainda no castelo...

–Queremos juntar os sobreviventes em uma única cidade – eu falei. Era o nosso plano para consertar as coisas. – Achamos que é a melhor maneira de reconstruir a sociedade.

–Eu também quero ajudar – ela respondeu. – Mas ainda tem os outros ceifadores. Não sei nem se eles já sabem a verdade sobre Thanatos.

–Você pode encontrá-los – Eva disse. – Enquanto isso, nós começamos a erguer a comunidade. Não iremos muito longe daqui de perto do portal, talvez apenas um pouco para o leste da cidade, onde não há tanto entulho. Mas primeiro, precisamos de pessoas.

–É uma boa ideia – Mei disse. – Mãos à obra, então. Voltarei para o Limbo à procura dos outros ceifadores, e nos vemos outro dia. Vai dar tudo certo, gente.

Mei voltou pelo portal, que fechou-se logo atrás dela. Havíamos decidido na noite anterior, à luz de fogueiras aproveitadas das casas abandonadas, que deveríamos procurar sobreviventes primeiro ao leste, evitando os destroços da cidade de Munique que ficava à oeste. Prédios vez ou outra ainda caíam nas grandes metrópoles. Os cidadãos com certeza foram evacuados para o interior.

Juntamos nossas coisas e seguimos pela autobahn, debaixo do sol quente da tarde. Os carros abandonados refletiam a luz em nossos rostos.

–Não vai dar certo irmos a pé – Eva disse. – O caminho é muito longo.

–Se tivéssemos um carro, seria mais fácil resgatar um sobrevivente.

–Deixa comigo. – Luke caminhou até um dos carros, um sedan popular. A porta estava aberta, mas sem chave. Ele mexeu nos fios e o carro ligou, então Eva e eu nos aproximamos. – Ligação direta. Meu amigo Jack me ensinou antes de sermos presos.

Percorremos a estrada à toda velocidade. Um grande campo corria lado a lado com a estrada, à frente de uma floresta mais ao norte. Ao sul, cidades menores agonizavam com seus construções aos pedaços. Uma única placa permanecia de pé, marcando num fundo azul o quilômetro 92 da larga rodovia de oito faixas, que agora mais parecia um ferro-velho com inúmeros carros abandonados.

–Acham mesmo que é um bom plano? – Luke disse, sem desviar o olho da estrada enquanto desviava dos carros.

–É o certo a se fazer – Eva respondeu. – As pessoas perderam tudo, inclusive suas famílias.

–Só estava pensando, será que somos capazes de cuidar dessas pessoas? Sempre vai ter uma laranja podre no saco. Alguns podem ficar malucos com tudo que aconteceu e se tornarem perigosos.

–Desses a gente cuida depois. De qualquer forma, podemos proteger os sobreviventes mais do que ninguém. É nosso dever.

–E se não conseguirmos proteger a todos? A culpa será nossa.

–Alguém precisa tentar. Não concorda comigo, Isaac?

–Concordo – falei. – As pessoas precisam de ajuda, agora mais do que nunca. Estamos falando da preservação da raça humana, e não podemos desistir por medo da responsabilidade. Vamos assumir essa causa, Luke.

Antes que Luke pudesse responder, o pára-brisa do carro se estilhaçou completamente.

–O que aconteceu? Não consigo ver nada! – ele gritou. Olhei pela janela do carro, e no acostamento começava a surgir uma dúzia de homens armados.

–Pra trás – eu gritei. – Vamos voltar!

Luke quebrou o pára-brisa com um chute, deu meia volta e aceleramos. Os tiros alvejavam o carro, e mal conseguíamos ver coisa alguma. Um pneu traseiro foi atingido, e o carro deslizou até bater de lado em outro carro.

–Pra fora, rápido – eu disse. – Luke, arranja outro carro, eu vou dar cobertura!

Saí pelo buraco do vidro da frente do carro, e de cima dele fiz uma proteção com a matéria negra. Os tiros eram incapazes de penetrar na parede. Eva se juntou a mim e passou a arremessar granadas tóxicas por cima do muro, sem saber a posição dos inimigos.

–Luke, anda logo!

–Tô quase, aguentem mais um pouco!

Mais um pouco não foi suficiente. Uma granada de gás voou por cima do muro negro e pousou do lado do carro onde eu e Eva estávamos. A fumaça branca se espalhou rapidamente, e corremos dali. A fumaça fazia arder a garganta, e o corpo tentava expulsar a toxina com fortes tosses. Eva parecia não ser afetada.

–Consegui, vamos! Entrem no carro! – Luke anunciava. Eu estava começando a perder consciência, mas Eva me ajudou a chegar até o carro. Ela abriu a porta e me pôs lá dentro, quando eu apaguei com a batida da porta atrás de mim. O gás era muito forte, e imaginei como Eva mal havia sentido os efeitos. Talvez o anthrax no corpo dela tivesse a deixado imune a certas substâncias. Mas quem eram aqueles homens? Seriam bandidos? Não, eles apenas levaram Eva. Talvez fomos confundidos. Não, eles não teriam a levado por isso. E se eles realmente só quisessem sequestrar alguém? Mas para quê? Não poderiam pedir resgate. Só se... Só se eles quisessem escravizar, ou algo do tipo. O que será que aconteceu com Eva? Não posso deixar que façam mal a ela. Ela é uma de nós. Preciso salvá-la.

...

Acordei dentro do carro, exatamente como havia desmaiado antes. Estava deitado no banco de trás, e pude ver Luke no volante. Me levantei devagar, com a visão totalmente borrada e a audição limitada.

–Isaac! Isaac! Acorda! Você tá bem? Ouviu o que eu falei?

–O que... O que aconteceu?

–Eles pegaram a Eva. Acertaram ela com um taco de baseball e a levaram antes que pudesse entrar no carro.

–Ah, droga. – ainda estava meio zonzo. – Temos que ir atrás deles...

–Sim, eu estou procurando eles à alguns dias. Quando eles fugiram deixaram tapetes de prego no caminho. Tive de desviar, e isso nos atrasou demais.

–Você os achou?

–Acho que sim, estamos em Rabenstein. Os carros deles estão aqui. Como você tá?

–Melhor. A tontura passou. Quanto tempo fiquei desmaiado?

–Quatro ou cinco dias, eu acho. Fiquei procurando esses desgraçados por toda parte. Acha que consegue enfrentá-los?

–Sim, estou bem.

Saimos do carro, e eu já me sentia bem como antes. Nos aproximamos de uma grande casa onde se reuniam boa parte dos carros e motos. Eram picapes e choppers, como as dos clássicos motoqueiros dos Estados Unidos. A dúzia de bandidos havia se multiplicado.

–Ela está lá, tenho certeza – Luke disse.

–Então vamos matar todos – eu estava queimando em ira. Queria machucá-los mais do que queria salvar Eva. Andamos calmamente até onde eles se reuniam, na frente de uma pensão construída em madeira branca. Os bandidos começaram a sussurrar entre si agitados, e um correu para dentro. O restante se levantou e veio ao nosso encontro, quando um deles falou:

–Olha só quem voltou pra casa. Como esse mundo é pequeno, não é Luke?

–Conhece eles? – perguntei a Luke.

–Não acredito – Luke respondeu. Estava espantado. – São os Piratas do Asfalto. Minha antiga quadrilha. Como vieram parar nesse lugar? – ele gritou. – Estão todos aqui?

–Nem todos. Alguns mortos, outros presos... Igual você e seu amigo Jack. Aliás, ele entregou todos nós. Tive de fugir do Texas com meus Piratas. Vocês não estão com ele, estão? O Jack-traidor?

–Jack não é traidor, e vocês todos sabem. Você é, Jimmy. Foi você quem nos deixou pra trás naquele roubo.

–Tive meus motivos. – então, aquele era o famoso Jimmy. Luke me contara sobre os Piratas, e como eles saqueavam vários estabelecimentos e viajantes, tais como verdadeiros piratas na estrada. Luke não foi o primeiro a ser traído por Jimmy. Ele sabia que seus homens, crápulas como são, tomariam seu lugar se mostrasse fraqueza. Ele era magro, pouco musculoso e pouco alto também. Seu rosto era repleto de cicatrizes até o couro capilar, onde existia apenas uma trilha de cabelos em um baixo moicano. A barba por fazer camuflava-se na sujeira em seu rosto. Os olhos eram grandes e atentos, olhos loucos de um psicopata. Usava a mesma roupa que os capangas, jaqueta jeans escura com diversos ornamentos. – Como poderia confiar numa aberração como você? Você me apunhalaria pelas costas se isso te beneficiasse. Não pude arriscar. Bom, vamos aos fatos. Primeiro vamos te matar, e seus amiguinhos vão ficar desprotegidos. Então o moleque da cicatriz e a garota vão dar uma volta no meu labirinto.

–Eles não sabem – eu disse. – Eles acham que só você tem poderes.

–Eles vão ter uma surpresa com Eva – as mãos de Luke se envolveram em chamas como se fossem luvas. Ele virou-se para Jimmy e gritou –Não vai me matar, e nem pegar meus amigos. Você cometeu muitos erros, Jimmy. Foi ingênuo de achar que nós não podemos nos cuidar.

As chamas cresceram até o cotovelo, e Luke correu tão rápido que os braços em combustão foram jogados para trás, e os Piratas mal tiveram tempo de sacarem as armas. Luke socou um, depois outro, desviou de uma coronhada, e devolveu um gancho. Os golpes queimavam o rosto dos inimigos, que caíam pingando suas peles no chão. Ainda eram muitos, e corri para ajudá-lo. Saquei a foice negra e comecei a partir os bandidos, que estavam focados em Luke. Ele era a luz na noite atraindo as moscas, e eu me esgueirava na escuridão sem ser visto, desmembrando os inimigos com golpes limpos e certeiros. No chão caíam braços segurando armas, cabeças e corpos inteiros. Completei a dança da morte numa circunferência ao redor da fogueira humana que era Luke com seus punhos incandescentes.

Mais inimigos saíram da velha casa, cerca de dez, apontando as armas para nós. Luke e eu levantamos nossos braços. Um deles sussurrou algo para Jimmy, que ficou irado. Gritou com o rapaz, andou pra lá e pra cá impaciente e voltou-se a nós.

–Se acham espertos, não é? Eu vou lhes dizer. Vocês não são nada! Nada! Eu vou matar todos vocês e cagar nos seus túmulos! Vocês não passam de aberrações! Ah, como eu adoraria matar Jack, por ter trazido você. Mas vou matá-lo. Não, vou torturá-lo! Quem sabe tiro umas unhas, ou dentes. O maldito deve estar se escondendo muito bem pra ainda não ter o achado. Ele está aqui, sabia? Foi deportado antes dessa droga de era apocalíptica de “Mad Max”. Wade! – gritou pra um dos homens armados. – Desce lá no labirinto e vê o que tá pegando. Se ainda não tiverem matado a garota, mate-a e traga o corpo aqui. Vê se toma cuidado seu imbecil, não esquece que ela também é uma aberração.

–Eles descobriram – Luke disse. – Mas como?

–Ela deve estar fugindo. Temos que ir ajudar.

–Cala a boca, moleque! Cala a boca! Os dois! Cala a boca! – Jimmy gritava com toda a força de seus pulmões. A voz chegava a ficar rouca de uma hora pra outra. Ele se aproximou e deu um soco na barriga de Luke, que caiu ajoelhado. Depois se afastou de volta pra casa. – Vejo vocês no inferno. – tirou uma granada, igual à que lançaram na estrada dias atrás, e lançou em nossa direção, que parou na nossa frente. Me abaixei rapidamente no chão e toquei o solo, fazendo um casulo que cobriu completamente a granada e segurou a fumaça. Luke me deu cobertura lançando uma cortina de fogo neles, tirando-lhes a visão. Eu levantei o casulo negro no ar, e lancei sobre os bandidos. Quando soltei a granada ainda em queda, Luke mandou um jato certeiro de fogo, fazendo a fumaça tóxica explodir, derrubando todos eles. Alguns foram completamente incendiados, mas a maioria ainda respirava no chão. A casa atrás deles também começava a queimar.

Luke caminhou até Jimmy, também caído na porta da casa. Os olhos de Luke tornaram-se fogo puro, brilhantes como o sol. Apontou o braço para Jimmy e o incinerou sem hesitação. Não percebeu que o fogo se espalhou pela madeira da casa, cuja estrutura começava a ceder lentamente. Não pude ver claramente, mas me parecia que de Jimmy havia sobrado nada mais que seus ossos, agora pretos e ainda envoltos de chamas. Luke parecia hipnotizado.

–Nada – ele dizia. – Você não é nada...


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Notas finais do capítulo

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Novos capítulos deverão sair semanalmente, não percam o próximo =)



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