Aftermath escrita por IgorPaulino


Capítulo 21
Meio psicopata


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu nome é Igor, e sou o criador do Aftermath.
Este é meu projeto que venho desenvolvendo há meses, e pretendo engrandecê-lo e um dia expandí-lo pra outras plataformas (jogos, livros, produções audiovisuais).
Agradeço aos que leram, e caso se interessarem pela trama poderão acompanhar também pelo blog, cujo link estará nas notas finais.
Obrigado a todos, e boa leitura =)



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Meu nome é Jack. Fui conhecido como Buffalo Head durante um curto período recente de minha vida, mas essa época já foi.

Nessa época eu assaltava e vandalizava a cidade com dois degenerados como eu, Night Rider e Hillbilly. Nunca um de nós soube o nome real dos outros, e é assim que funciona com bandidos profissionais.

Infelizmente, Hillbilly foi morto por um lobisomem uns tempos atrás. Não sei exatamente quanto, pois perdi a noção do tempo. Night Rider está preso em Monte Gringo, prisão da qual eu fugi pouco antes de conhecer meus comparsas.

Mas a vida seguiu pra mim, só pra variar. Da última vez fui esquecido na cadeia enquanto antigos companheiros ficavam em liberdade. Em especial um que praticamente criei, arrastando-o para a vida do crime. Era um desgraçado incrível, um isqueiro-humano.

A cidade de Dashville era bastante simples e fácil de me esconder. Até o fundador da cidade era um bêbado que frequentava os bordéis assim como o resto dos malditos de lá. Bebida, cartas e prostitutas resumiam o cotidiano, e vez ou outra um assassinato agitava as coisas, visto que quase todo mundo lá era criminoso de alguma forma.

Foi numa mesa de bar que conheci uma garota, uma das poucas que não trabalhavam nas casas de prazer. Era uma ladra de bancos, assim como eu, chamada Ester, uma morena pela qual me apaixonei. Vivíamos juntos em paz sem mais ninguém havia apenas alguns meses.

Ela era esperta como nenhum ladrão jamais foi, sedutora como nenhuma prostituta jamais será e companheira como nenhum cachorro poderia ser. Me trazia café na cama todos os dias sem ligar pra minha aparência de búfalo, como era dito pelos meus antigos companheiros. Dizem que esse apelido justifica minha cara feia, mas sei que é pela brutalidade que aparento ter. Aliás, que eu realmente tenho, considerando aquele incidente com o nariz que entrou pra dentro do rosto.

Estava eu jogando pôquer no Santa Madre como era costume, apostando cigarros com manés que frequentavam aquele lugar. Night Rider me ensinou uma vez, e aí não tinha pra ninguém. Era sentar, perder, pagar e passar a vez.

Um desgraçado, porém, se cansou de perder todo dia pra mim. Levantou-se sacando um revólver empoeirado, provavelmente roubado de uma loja de penhores. Era mais fácil aquela velharia explodir na mão dele do que disparar.

Para o meu infortúnio, a arma não explodiu. A maldita bala atravessou meu pulmão, e o ar se foi de mim. Jack Buffalo Head, morto por um bêbado no pôquer. Que se dane tudo isso mesmo. O mundo já havia acabado e eu não tinha mais expectativa de vida. Só sentiria falta da Ester.

...

Mas meu fim não foi ali. Não naquele lugar, e não com aqueles idiotas ao meu redor. Acordei aos pés de um homem alto, magro e de cabelos enrolados. Ele me observava como se estivesse me esperando levantar.

–Olá, Jack. Como vai? – a lua crescente esgueirava-se por seu ombro, e seu rosto estava escondido na penumbra. – Não muito bem, eu acho.

–Quem é você? – perguntei, já me levantando. Odiava olhar de baixo para as pessoas, a menos que fosse para uma mulher em um quarto de motel.

–Meu nome é Erick, e vim aqui salvar sua vida.

–Não precisava. Podia ter me deixado morto.

–Ora, não seja assim. Eu te vi quando matou os lobos. É assim que vocês os chamam, não é? Uma pena que seu amigo, o tal “Hillbilly”, morreu.

–Vou perguntar de novo – disse, sem paciência como eu normalmente era. Aquele sujeito estava prestes a descobrir. – Quem diabos é você?

–Sou um ceifador. Sabe, daqueles que levam os mortos...

–Então não deveria tirar minha vida ao invés de salvá-la?

–Deveria, mas não vou. Como eu disse, andei te observando. Você é duro na queda, cara. Por isso resolvi te ressuscitar e te dar um presente. Você agora se regenera instantaneamente de suas feridas.

–Quer dizer que eu sou imortal?

–Sim.

–Que infortúnio. Devia ter me deixado morto, agora vou ter que aguentar todos esses idiotas até morrer de velho. Mas espere, você deve querer alguma coisa em troca, não é? Aposto que quer.

–Ah, você não morrerá de velho. Mas sim, eu quero sua lealdade. Quero que fique ao meu lado quando chegar a hora. Destruiremos tudo e todos, e aí seremos os donos do novo mundo.

–Ambicioso. Mas não, obrigado – disse, já me virando.

–Você não pode recusar! Eu te dei a imortalidade! Volte, ou eu...

–Me mata? Ah, por favor, faça isso. Eu adoraria não ver mais a cara de ninguém e descansar em paz.

–Não, você adoraria isso. Tenho um plano melhor. Vou dar a você um amigo.

O tal Erick abriu um livro velho e disse algumas palavras estranhas. Fez uns gestos com a mão enquanto emanava uma fumaça, e logo meu corpo começou a emanar igual. Dez segundos depois, ele fechou o livro.

–Pronto. O que está feito, está feito. Aproveite sua eternidade.

–Mas eu nem senti nada – antes que terminasse de falar, ele estranhamente levitou para longe. Resolvi que não iria me incomodar. Só queria voltar pra casa e pra minha Ester.

...

Aquela noite foi um tanto estranha demais, e peculiarmente gelada. Já em casa, alguns minutos depois, Ester me recebeu na porta do quarto.

–Jack, onde esteve? Desmaiou de bêbado?

–Eu não fico mais bêbado – respondi. Meu fígado devia estar podre, se é que eu ainda tivesse um. – Já bebi mais álcool do que você bebeu água.

–Então porque a demora?

–Ah, é uma longa história. Não importa. Deixe-me dormir e amanhã conversamos – eu odiava ter que dar satisfação para as pessoas. Especialmente naquela noite, eu estava com menos disposição ainda para discutir.

–Eu quero saber, Jack. Me conte.

–Já disse, não foi nada! – o clima chegou a esquentar quando eu aumentei o tom de voz.

–Se não foi nada, porque tanta insistência pra não dizer? – Ester também estava brava. Com razão, tenho que admitir.

–Não aconteceu nada! Tá bom? Agora me deixa dormir!

Ela me barrou na entrada do quarto, impedindo minha passagem de braços cruzados.

–Você tá muito estranho hoje, seu maluco. Você não dorme enquanto não me dizer exatamente o que você fez hoje.

Os nervos saltavam de ira, muito mais do que era normal, até mesmo pra mim. Porém, naquele momento não achei que fosse nada demais.

De repente, perdi o controle sobre mim. Meu corpo não respondia, e ataquei furiosamente Ester, apertando seu pescoço e a jogando por cima da mesa de centro da sala. O barulho de vidro quebrando assustou uns vira-latas na rua, que passaram a latir irritantemente.

Minha raiva só crescia conforme o calor aumentava. Ester levantou e me empurrou, mas eu a segurei pelo braço e a soquei no estômago com tanta força que ela cuspiu sangue, e caiu ajoelhada sem ar.

Rapidamente ela se levantou e me socou entre as pernas, me fazendo cair apoiado no sofá. Ela saiu correndo pra fora de casa gritando por socorro, e eu fui logo atrás dela. Foi quando ela passou pela porta de casa que eu reparei no revólver que costumava deixar numa cômoda ao lado da entrada, para qualquer emergência.

–Socorro! Alguém me ajuda! – ela gritava. – Soco... – até que foi interrompida por uma bala de .38 pelas costas.

A esta altura, vários vizinhos já estavam assistindo com medo, e o xerife da cidade corria até onde eu estava. Quando chegou, ele apontou seu revólver pra mim.

–Larga a arma! – ele ordenou. – Agora!

Obedeci involuntariamente, soltando a arma do crime no chão.

–Chuta a arma pra cá!

Novamente obedeci, ainda sem controle do meu corpo. Eu era um mero expectador. O xerife pegou a arma e a guardou no seu cinto.

–Deita no chão! – ele continuou.

Quando me deitei, vi Ester morta sobre o solo regado com seu sangue. Parecia vinho caído de uma garrafa que estava ao lado dela, jogada ali por algum bêbado.

O xerife se aproximou rapidamente de mim, e enquanto tirava as algemas do bolso, eu peguei a garrafa e quebrei-a em sua cabeça. Ele caiu, e as algemas voaram junto com dezenas de cacos de vidro da garrafa.

Segurei o xerife no chão, enquanto ele tentava desajeitadamente ajeitar a arma na mão. Antes que conseguisse, eu o apunhalei com a garrafa na cara repetidas vezes, destruindo todo seu rosto.

Quando eu recuperei o controle, os olhos, boca e nariz do xerife haviam sumido no buraco que se formou na sua cara. Meus braços estavam pintados de sangue até o cotovelo.

Me levantei devagar, e alguém se jogou em cima de mim. Caímos no chão, e o sujeito me segurou com força, seguido por outros que correram e me imobilizaram.

...

Me jogaram na cadeia, que era fria e tinha um cheiro de urina terrivelmente forte. Metade dos outros presos gritavam coisas sem sentido e palavras aleatórias, e a outra metade contemplava o silêncio da morte. Provavelmente, a maioria morreu com esse fedor.

Tentava descobrir o que aconteceu naquela noite. Aquele não era eu. Era parecido, admito. Mas eu não era mais assim. Fui um bandido impiedoso, sim, mas agora queria paz com a minha mulher.

Concluí que aquilo não era nada real. Estava no inferno, e o diabo me fazia ter essas alucinações. Eu não matei Ester, jamais poderia!

Isso é muito real, Jack – disse uma voz.

Procurei de onde ela vinha, mas sem sucesso.

Não foi você mesmo. Fui eu. Fomos nós.

–Quem é você?

Sou o presente que o ceifador te deu. Se esqueceu? Ele disse que seríamos amigos. Ah, perdoe-me por matar sua amiga... É que eu ainda tenho essas sensações que eu tinha quando era vivo.

–Mas quem diabos é você, droga? E onde você tá?

Estou onde você está. Eu sou todo o mal aqui dentro, Jack. Tortura, matança, ódio. Eu sou isso. Infelizmente não lembro do meu nome, mas lembro que eu adorava fazer minhas vítimas nos becos de Londres. Ah, era uma cidade tão bonita à noite. As mulheres da vida saíam e eu as cortava exatamente sempre do mesmo jeito, antes de jogá-las no mar.

–Você é um psicopata – eu disse. – E está no meu corpo?

Ah, assim você me ofende, Jack. Já que estamos dividindo o mesmo corpo, precisamos nos dar bem. Já sei, vamos brincar de cabo de guerra. Quem vencer, assume o controle... – terminou a voz, com uma risada sinistra.

Horas depois, já no sol do dia seguinte, dois sujeitos me buscaram para o que eu achava ser o julgamento, mas logo vi a forca montada no meio da praça. Veio muita gente pra me ver morrendo. Me jogaram pedras, mas todas passaram de lado.

Me puseram no topo, com a corda no pescoço. Um novo xerife, colocado no posto às pressas, lia em um papel o que devia ser dito.

–Você foi condenado a ser enforcado, hoje ao meio-dia. Quais são suas últimas palavras?

Nesta altura, eu já não me importava com nada. Queria ter morrido desde o começo e evitado esse pesadelo. Mas aquele imbecil tinha que me fazer sofrer mais do que já tinha sofrido nessa vida miserável que eu tive. Que seja. Se for morrer, que não haja arrependimentos.

–Não importa o que aconteça – eu disse. – eu volto do inferno pra pegar todos vocês, malditos.

O xerife puxou a alavanca, e a bola de ferro me puxou por entre o buraco sob meus pés.

...

Os malditos nem tiveram a decência de me dar um funeral de respeito. O caixão era podre de tal forma que parecia que ele se desmancharia se uma mosca pousasse nele.

Para o meu lamento, eu não morri. Erick falou sério quando disse que eu era imortal. Com apenas uma joelhada, a tampa do caixão se partiu e eu saí. Ainda estava no necrotério, numa sala aguardando o buraco ser cavado. Saí dali rapidamente, e segui pra fora da cidade até encontrar uma estrada.

Caminhando um pouco, fiz ligação direta em um Diplomata novinho que encontrei. Esperei dois dias, e voltei para Dashville e decidi viver lá em segredo. Seria moleza no meio daqueles bêbados idiotas. Até deixaria crescer a barba, pra ajudar no disfarce.

...

–E foi isso que aconteceu – eu disse. Luke estava de boca aberta, e o tal Isaac tentava encontrar palavras para falar.

–Nunca imaginaria que isso fosse possível – Isaac disse.

–É, também não engoli essa de ceifadores.

–Isso não, eu fui um ceifador, na verdade. Quero dizer, duas almas em um corpo só? Deve ser algo daquele livro.

–Jack, acho que podemos te ajudar – Luke disse. – Temos o livro que Erick deve ter usado pra te amaldiçoar assim.

–Prefiro que me ajudem a matar esse maldito – eu disse.

–Eu o matei – Isaac disse. – Faz pouco tempo, mas ele está morto mesmo.

–Ah, ótimo. Então aceito a ajuda com a alma de psicopata.

...

No dia seguinte, nos preparamos para voltar para a cidade de onde eles vieram, Manneuver. Duas garotas vinham conosco, e percebi que uma delas, de cabelos cacheados, era namorada ou esposa de Isaac. A outra, uma loira, não parecia sequer ser conhecida deles.

–Isaac, esta é Alanna – disse a de cachos, apontando para a loira. – Ela está bastante chocada com o que houve com os lobos, mas vai ficar bem.

–Bom te conhecer, Alanna – Luke disse.

–...Oi – ela respondeu, receosa. Ainda estava em estado de choque.

–Pessoal, este é Jack – Luke continuou. – É um velho amigo meu, e está com um grande problema que podemos resolver. Vamos, eu conto no caminho.

Os quatro iam no próprio carro, uma picape bastante popular na Europa Ocidental. Eu, por motivos de segurança, ia sozinho no meu Diplomata.


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Notas finais do capítulo

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