Aftermath escrita por IgorPaulino


Capítulo 20
Passivo-agressivo


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu nome é Igor, e sou o criador do Aftermath. Este é meu projeto que venho desenvolvendo há meses, e pretendo engrandecê-lo e um dia expandí-lo pra outras plataformas (jogos, livros, produções audiovisuais). Agradeço aos que leram, e caso se interessarem pela trama poderão acompanhar também pelo blog, cujo link estará nas notas finais. Obrigado a todos, e boa leitura =)



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Entramos na cidade apenas no dia seguinte, trazendo Eva conosco. Decidimos voltar à Manneuver apenas para avisar que encontramos mais pessoas e que voltaríamos logo, mas a garota-veneno insistiu em vir, ao contrário de Ingvarr.

–Por favor, não me incomodem – ele disse trancado no seu quarto. – Estou quase chegando em algum resultado aqui. Podem ir sem mim, não devo sair daqui por um tempo.

A entrada era deserta, com a proteção única e inútil de um arco de madeira velha que carregava outra placa com o nome da cidade.

–Dashville? – Eva reparou na placa. – Esse nome soa estranho.

–Soa mais estranho ainda essa música – Isaac respondeu. A música, ainda distante, parecia tocar numa mistura de ritmos entre country e rock.

–Eu gostei do nome – falei, enquanto seguíamos pela rua principal da cidade. Era uma larga estrada de terra que não passava de dois quilômetros antes de acabar em um prédio pequeno, cercado de outros como ele. A maioria tinha apenas dois andares. – Parece nome de cidade de filme de velho oeste.

–Como são esses filmes? – Eva perguntou. Nunca assistira um clássico western. Na verdade, é possível que nunca assistira filme nenhum.

–Normalmente são sobre aventureiros solitários, andando por terras sem lei e matando seus inimigos em duelos mortais!

–Engraçado – ela disse. – Talvez estejamos no velho oeste e não percebemos.

Ao longo do percurso da avenida, apareciam os primeiros moradores da cidade, caídos sob o sol quente da tarde. Isaac cutucou o primeiro com o pé, para checar se estava vivo. Ele reagiu, revirando-se na poeira e voltando a dormir.

–Ele está bêbado? – perguntei, logo antes de notar algumas garrafas de vidro jogadas na terra. Não só aquele, mas uma dúzia de bebuns dormiam no chão. Talvez algum estivesse realmente morto, mas era melhor não sabermos.

–Eu ouvi falar desse lugar – Isaac disse. – Andrew disse que os vampiros atacariam esses bêbados, pois eram presa fácil.

–Acha que eles vêm? – eu perguntei.

–Impossível – disse Eva. – Matamos todos na caverna naquela noite.

–Não mataram – Isaac disse. – Andrew escapou. Talvez outros, também.

–Então eles virão atacar – eu disse. – Precisamos alertar o pessoal daqui, pra não serem pegos desprevenidos.

...

O prédio no final da avenida era uma espécie de prefeitura improvisada em um tribunal de julgamento. Lá dentro, o som da música sumia para dar lugar a um ronco forte, que ecoava como numa igreja.

O dono do ronco, única alma viva no tribunal, dormia em um dos vários bancos de madeira lisa com um chapéu velho cobrindo-lhe o rosto. Para acordá-lo, pigarreei ao seu lado. O sujeito se levantou num susto, derrubando o chapéu. Era um velho barbudo, com um bigode que parecia maior que o nariz. Todos os cabelos eram brancos, com exceção de um ou outro que era cinza.

–Bom dia – ele disse, limpando a baba da boca. – Boa tarde? Ou boa noite? Ah, Deus, esqueci de trancar a cadeia de novo? Quem são vocês?

–Isaac – disse Isaac.

–Evangeline – disse Eva.

–Luke – eu disse. – Queremos falar com o responsável por essa cidade, é importante.

–Pois bem – disse o velho, ajeitando a camisa xadrez desbotada. – E este seria eu. Willy, prefeito, xerife e poeta nas horas vagas, ao seu dispor.

Nós três nos olhamos, todos achando muito estranho. Aquele cara não parecia, nem de longe, capaz de gerir alguma coisa, mesmo que uma cidade de bebuns.

–Enfim – disse Eva. – Achamos que vocês correm perigo. Um grupo de vampiros pode estar a caminho.

–Vampiros? – o velho Willy riu. – Acho que deram uma passada no saloon antes de virem aqui, não é? Digam-me, beberam o gim daquela espelunca? Só aquela água podre pra fazer alguém pensar tamanha asneira – voltou a rir.

–Não bebemos – Isaac disse. – É verdade sobre os vampiros. Meu irmão é um deles.

–Olha rapaz, não sei nada de vampiros, mas se você falar de lobos eu posso te ajudar. Ah, esse malditos animais.

–Lobos? – perguntei.

–É, os lobos. Não lobos comum, mas gigantes, quase do seu tamanho. Dizem que eles atacam toda lua cheia, e não há nada que os detenha quando a noite cai – ele riu novamente. – Mas isso é uma mentira idiota.

–Não estamos falando de lendas, senhor – Eva disse.

–E nem eu – o velho Willy tirou um cantil do bolso e bebeu um gole. – Disse que é mentira que eles atacam na lua cheia. Na verdade, eles atacam quase toda noite.

...

Os uivos viajavam pelo ar debaixo da lua nova, arrepiando a espinha dos poucos sóbrios o bastante pra temer a morte. Perder este medo era um dos vários motivos pelos quais a população era formada por bêbados. Os outros seriam as mais diversas desgraças, como o apocalipse, entes queridos mortos, decepções amorosas, e, claro, diversão.

Apesar de tal peculiaridade, a população de Dashville não era nada vulnerável. Pelo menos a metade dos homens e todas as poucas mulheres da cidade eram criminosos, fugitivos ou condenados. Porém, todos eram, sem exceção, brutos e gostavam de resolver as coisas na violência. Ninguém tinha amigo nenhum.

Durante aquela noite, seguiu-se o procedimento de rotina: o bêbados nas ruas foram carregados pelos que ainda conseguiam andar. Armaram-se com espingardas, garfos de feno e o que mais estivesse ao alcance. Muitos haviam aprendido a atirarem enquanto alcoolizados, pra não levarem a pior nas frequentes brigas de bar.

Eva, Isaac e eu esperávamos o ataque dentro da prisão de Monte Gringo, dito ser o lugar mais seguro da cidade. Ficava atrás da prefeitura, erguida entre muros altos e sólidos. As celas e corredores eram apertados, tudo que era feito de metal estava enferrujado e o mofo se espalhava na cozinha abandonada. Monte Gringo era dividido em quatro alas idênticas, mas uma delas estava interditada.

–Fiquem longe da ala C – advertiu o velho Willy. – Os banheiros estão inundados em urina. O cheiro pode matá-los, acreditem.

–Não tem presos aqui? – Eva perguntou, notando que não encontramos detento algum nas outras alas.

–Temos – respondeu o xerife. Quem você acha que transformou a ala C num esgoto? Ora, pois foram os vagabundos de lá. Mas não se preocupem, tive essa brilhante ideia e passei a prender todos eles no mesmo lugar.

–Todos na ala C? – perguntei.

–É – Willy riu, e um de seus dentes brilhou, revelando-se postiço. – Já ultrapassamos três vezes a quantidade máxima suportada. Se bem que metade deve ter morrido.

Naquele momento, um rapaz magrelo surgiu trazendo notícias.

–Eles chegaram, Willy! – seus ossos apareciam por debaixo das roupas velhas. Em sua calça havia uma mancha que parecia ser seu almoço depois de ter dado uma volta pelo intestino.

–Ah, maldição! – Willy disse, mas parecendo estar feliz. – Vamos, avise todos!

Pouco tempo depois, os cidadãos de Dashville se posicionaram em locais estratégicos a fim de defender a prisão. A maioria estava atrás dos portões de ferro com garfos, tridentes, pás e até espetos de churrasco. Alguns estavam no topo dos muros e torres de vigia atirando com as espingardas provavelmente roubadas de um museu, e os mais ousados atiravam de cima de guaritas, expostos ao perigo.

–Matem todos! – gritava o prefeito. – Matem todos! – e ria a cada grito.

Apesar de serem sombras na noite, eles não se pareciam nada com lobos, tirando a pelagem cinzenta. Tinham pernas e tinham braços. Andavam corcundas e rosnando, como homens imitando cães.

–Você também percebeu? – perguntou Isaac. – Não são lobos comuns.

–Não são lobos gigantes comuns – completei. – Estão mais pra lobisomens – suspirei, com olhos cansados. – Esse mundo não para de me surpreender.

–Vamos ajudar – Isaac disse. – Estou curioso pra ver esses lobos.

–É, eu também estou. Eva, você vem?

–De jeito nenhum – ela disse. – E se acontecer algo com meu bebê?

–Sua barriga não cresceu nem um milímetro.

–Ela fica aqui – disse Isaac. – Lembra que o doutor falou que a gravidez dela estava muito mais acelerada que o normal?

–Ah, é verdade. Então, é melhor que fique mesmo. Isaac e eu voltaremos logo.

–OK – ela disse, e nós ficamos esperando que terminasse de se despedir. Ela não falou mais nada.

–Não vai dizer “tomem cuidado” nem nada? – perguntou Isaac.

–Pra quê? São só lobos – ela disse, dando de ombros. – Já enfrentamos coisa pior.

...

Lá fora estava escuro demais para se enxergar qualquer coisa. Isaac, mesmo do meu lado, não passava de um borrão aos meus olhos. Sons de tiro, rugidos e xingamentos dominavam a cidade.

–Você consegue vê-los? – perguntei.

–Consigo. Você não?

–Não, tá escuro demais. Como você consegue enxergar?

–As sombras – ele disse. – Elas se movimentam, e eu as vejo em movimento. Eu te mostraria os novos poderes que ganhei matando Erick, mas você não veria mesmo que fosse meio-dia.

–Engraçadinho. Quero ver é você me enxergar quando o brilho do meu fogo ofuscar seus olhos de morcego.

–Mas morcegos não enxergam – Isaac gritou, já de longe. Ele havia saído na minha frente.

–Não importa! – explodi em chamas e saí correndo, completamente envolto de fogo ardente. Atirei jatos de fogo em árvores e arbustos, criando tochas gigantes, às quais os lobos pareciam evitar.

Um deles pulou em cima de mim, me acertando uma investida e me derrubando. Pude ver, ainda, pelos queimados caindo no chão enquanto ele fugia de volta pra escuridão. Me mantive deitado, esperando um segundo ataque que não tardou.

O lobo, o qual já não sabia se era o mesmo ou outro, pulou em mim e abocanhou a única parte que podia, meu braço de metal. Naquele momento, que pareceu uma eternidade, observei o monstro e conclui que sequer parecia com um lobo. Era algo terrível, profano, e sua existência até insultava meus olhos.

Tinha quatro olhos, e um dos pares era maior que o outro. Eles eram castanhos pincelados com um vermelho-sangue furioso, e ainda mais furioso combinado àqueles dentes tortos para fora do focinho irregular. A orelha direita estava pendurada na sua metade, e os pelos eram tão grossos que mal seguiam o movimento do corpo da fera.

–Luke! – Isaac gritou. – Levanta!

Dado o tempo que eu devia ter passado olhando aquela besta, ele teria dilacerado meu braço se não fosse de metal encantado com magia viking.

–Hora da sobremesa – botei a outra mão no rosto do monstro, tapando seus dois olhos direitos, e disparei um sopro de fogo que envolveu sua cabeça durante cinco, talvez dez segundos. Quando me levantei, o monstro caiu com sua cabeça preta como carvão.

–Não são lobos! – gritei pra Isaac. Quando olhei, consegui ver um vulto que julguei que era ele.

–São o quê, então? – o vulto gritou de volta, confirmando minha teoria.

–Você não os enxergava uns minutos atrás?

–Tudo que vejo são sombras – respondeu. – O que eles são?

–Monstros – foi a melhor palavra que encontrei. – Nunca vi nada assim!

Enquanto os “lobos” fugiam da minha luz, Isaac os atraia para sua dança da morte. Nesta dança, os vultos e as sombras rodopiavam por toda parte, e você nunca sabia onde iam. Uma hora estavam na esquerda, outra na direita. Pouco a pouco, os monstros iam caindo mortos no chão frio da madrugada.

–Não vou ficar pra trás, Isaac – eu disse. Estava na hora de eu ter minha dança da morte também. Mas primeiro, precisava dar um jeito de encontrar os inimigos.

Girei num espiral de fogo que cresceu para os lados, devastando tudo que ousasse ficar a menos de dez metros de mim. Por um instante, vi Isaac entrar e sair do chão enquanto rasgava os monstros com sua foice. O fogo se espalhou rapidamente pelo mato seco, revelando vários deles, pelo menos duas dúzias.

Corri e saltei para o primeiro, queimando-o com uma rajada no peito. Ele caiu no chão se debatendo, enquanto eu já corria para o segundo cercando seu perímetro com uma linha de fogo. Tive dó por um segundo do coitado perdido dentro do círculo de chamas, mas só durou até eu lhe socar o estômago com um cruzado flamejante que, para minha própria surpresa, perfurou seu abdômen.

Meus olhos brilhavam uma luz branca que vazava pequenas línguas de fogo pelas laterais. Estava no meu melhor momento, e quando parti para o terceiro...

–Onde estão?

–Fugiram – Isaac disse, voltando e enfiando a foice em seu ombro, como se ali tivesse uma bainha. – Você botou eles pra correr.

–Eles não gostam de claridade – eu concluí. – Vamos atrás deles, Isaac. Quem sabe o que são esses bichos?

–Certo, vamos. Se você conseguir me acompanhar nas sombras, é claro – ele saiu correndo na frente.

...

Meia hora correndo floresta adentro, ainda debaixo da lua invisível, comecei a achar que estava perdido. De nada adiantava ter uma lanterna se você está procurando sombras.

–Psiu – Isaac sussurrou. – Achamos.

Ele me apontou o lugar onde os lobos ficavam. Lá estava uma fogueira apagada às pressas, dezenas de milhares de pegadas e uma cruz de madeira de três metros queimando em chamas. Em sua base, haviam pequenos itens normalmente encontrados em igrejas. Via-se bíblias, pequenas estátuas de santos católicos, terços e bordados, tudo sendo consumido pelo fogo. Ao redor do lugar, vários braços e pernas mutilados apodreciam no solo poeirento, atraindo moscas.

Perto de um sapato ainda com o pé dentro, achei um livro bastante familiar.

–Olha quem eu encontrei – disse. – O Legado de Runak. Ah, Runak, essa era a palavra.

–Olha quem eu encontrei – disse Isaac.

Era linda. Uma garota de cabelos loiros curtos, que contornavam sua cabeça e caíam todos para um único lado. Olhos que brilhavam por conta própria contra a luz da fogueira se encontraram com os meus, e sua pele era tão branca e delicada que me irritei com a vida por ter destinado uma garota tão bonita a ser feita refém dessas bestas selvagens.

Me aproximei e ajudei-a a levantar.

–Olá – eu disse. – Eu sou Luke. Qual seu nome?

Ela não dizia nada. Me encarou com seus magníficos olhos azuis perolados de verde, que demonstravam o horror que sentiu. Estava traumatizada, de tal forma que engolia seco constantemente, mordendo os lábios finos. As maçãs do rosto eram aparentes, embora não chamativas, e mostravam pequenas olheiras sob a maquiagem borrada, indicando a falta de alimentação.

No final ela não disse nada, estava em um tipo de transe hipnótico.

...

Na primeira luz da manhã, a cidade ia sendo remendada pelos seus habitantes. Tábuas eram pregadas por cima de outras que haviam sido quebradas pelos lobos, quando invadiram as cercas. Os mais fortes carregavam toras cidade adentro, fornecendo a madeira necessária, e os mais espertos se preparavam pra partir em busca de itens de construção, como pregos e ferramentas, nas cidades abandonadas ao redor. Era estranho como Dashville ficava relativamente próxima de Manneuver, mas uma nunca soube da outra.

A garota que salvamos noite passada está em segurança na prisão de Monte Gringo, aos cuidados de Eva. Já comeu quando chegou, e agora devia estar dormindo em uma cama de verdade ao invés de uma de barro, ou quem sabe na barriga de um daqueles monstros.

Isaac e eu saímos para procurar alguma pista de Andrew, mas se ela existisse, devia ter sumido depois da confusão. Ou, muito provavelmente, eu a teria queimado sem querer.

–Vamos perguntar pra alguém – Isaac disse.

–Boa ideia. Como seu irmão é?

–Da última vez que vi, era como eu, cabelos e olhos pretos, cara de sério, mas com mais idade. O cabelo dele é bem baixo, e tinha sinais de calvície, daquelas que formam um “v” na testa. Além disso, ele tinha um capuz preto com mãos vermelhas pintadas, e fala um monte de frases sem sentido algum. Pode muito bem se misturar entre os bêbados – Isaac riu.

Perguntamos para, no mínimo, uns quinze transeuntes que trabalhavam reconstruindo a cidade, que mal nos deram atenção. Negavam ter visto Andrew sem ao menos pensar a respeito. Foi então que decidimos ir ao saloon da cidade, onde os mais preguiçosos bebiam até cair.

Santa Madre era o nome do lugar. Lá dentro era um cheiro forte de tabaco, daqueles que queimam a narina. Chegamos no balcão, onde um tipo de estalajadeiro nos atendeu.

–Bom dia, forasteiros – ele disse, mostrando seu sorriso onde faltavam os dois dentes da frente. – Vão querer uma dose do meu gim caseiro? A primeira é por conta da casa!

–Não, obrigado – eu disse. – Tá meio cedo demais pra beber. Estamos procurando alguém.

–Ah, mas não se preocupem, logo o encontrarão. Aqui em Dashville não é difícil de encontrar alguém – ele dizia enquanto esfregava um copo. – pois a cidade é pequena. Se não estiver no saloon, está desmaiado por aí. Se não, está em Monte Gringo.

–Mais uma – resmungou uma voz no balcão, chamando o estalajadeiro.

–Jack? – eu disse, espantado.

Olhei para o homem sentado ali, e sim, era ele. Meu velho amigo Jack, que me ajudou com os Piratas antes do apocalipse.

Ele me olhou com a clássica cara de poucos amigos que só ele tinha. Me aproximei, e ele se ajeitou no banco.

–Há quanto tempo – ele disse. A voz era grave como um trovão. – O que houve com você quando te prenderam?

–Fiquei sob custódia de uma empresa chamada Ouroboros. Lá conheci esse rapaz – apontei para Isaac, que acenou para Jack. – Treinei meus poderes, e aqui estou.

–Tem lugares melhores pra estar – ele disse, virando um copo de uma vez.

–É, eu percebi isso ontem à noite.

–Ah, agora me lembro – Jack disse. – As árvores queimadas, e os arbustos. Foi você.

–Desculpe por isso.

–Não se preocupe. Odeio a natureza.

–E o que é que você não odeia? – soltei um riso de canto.

–Não odeio a primeira cerveja do dia – fez um sinal ao estalajadeiro, pedindo outra. – Mas as seguintes são sempre um porre.

–Isso é a sua cara. Se faz de durão, mas é um bom amigo.

–Não crie expectativas, Luke. Eu não gosto de ninguém.

–Que seja. Mas o que houve com você? Depois daquele dia no banco?

–Você sabe – virou o copo que recém havia chegado na mesa. – Fui preso, assim como você. Só que me levaram pra esse fim de mundo. Depois que os terremotos pararam, todos que prestavam nessa cidade já haviam partido, e ficaram só a escória.

–E você foi solto?

–Eu fugi, assim como a maioria dos imbecis que estão na cidade agora. A cidade meio que renasceu, e só os crimes cometidos depois do apocalipse contam agora.

–Então você largou a vida do crime?

–De início, não. Conheci dois malandros no pôquer, e sabe como é. No mesmo dia, acabamos assaltando as casas da cidade. Mas não durou muito, Night Rider foi preso e Hillbilly foi morto no primeiro ataque dos lobos.

–Que nomes esquisitos.

–Somos bandidos, Luke. Esqueceu do que te ensinei? No mundo do crime você não usa seu nome real.

–E qual era o seu apelido?

–Eu era Buffalo Head. Foram os dois malandros que me chamaram assim, depois que matei um vagabundo com uma cabeçada. Esse dia foi insano, o nariz dele entrou pra dentro da cara.

–É, você não perdeu o jeito.

–Ele me roubou no pôquer, dá um desconto.

–Entendi, entendi. Então foi isso, e agora você tá aqui bebendo até desmaiar?

–Ah não, tem mais. É agora que a história fica interessante...


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Notas finais do capítulo

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Novos capítulos deverão sair semanalmente, não percam o próximo =)



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