Aftermath escrita por IgorPaulino


Capítulo 11
Acampamento vermelho


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu nome é Igor, e sou o criador do Aftermath. Este é meu projeto que venho desenvolvendo há meses, e pretendo engrandecê-lo e um dia expandí-lo pra outras plataformas (jogos, livros, produções audiovisuais). Agradeço aos que leram, e caso se interessarem pela trama poderão acompanhar também pelo blog, cujo link estará nas notas finais. Obrigado a todos, e boa leitura =)



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O dia era claro e muito quente. Mesmo sob a sombra das grandes árvores da floresta, o suor e a fadiga eram inevitáveis. Nossas roupas sofriam com tantas viagens e combates, e começavam a rasgar com facilidade ao contato com os arbustos por onde passávamos. Minha gola “v” branca já havia desbotado há muito, e começava a feder.

O plano de Isaac era estúpido. Depois de tanto lutarmos para sobrevivermos juntos, agora estávamos nos arriscando em território desconhecido em nome de um pseudo-rei de fazendeiros que acabara de perder sua ilha. Sim, concordo que precisamos de ajuda para derrotar os Templários, mas Ingvarr foi arrogante demais em mandar apenas nós três, sem qualquer outra ajuda.

–Aquele reizinho – eu falei, só pra mim. – É bom que nada de mal nos aconteça, ou ele vai ter culpa nisso.

–Pare de resmungar, Luke – Isaac havia me escutado. – Já lidamos com coisa muito pior.

–Tem razão. Engraçado, eles contam histórias sobre a “bravura” dos vikings que “resistiram” aos Templários, mas de nós ninguém sabe nada.

–E que continue assim – Eva disse. – Fama só ia nos trazer mais inimigos.

Eu havia baixado a guarda para prestar atenção na conversa, e só então percebi o modo como Eva andava tão próxima de Isaac. E pensando bem, já devia fazer mais tempo do que eu tenha percebido. Me lembro do castelo de Thanatos, onde Isaac protegeu-a o tempo todo, mantendo-se perto dela. Lembro também quando Eva me acordou no carro, após matar os Piratas. Isaac ainda procurava por ela no labirinto, já que não precisava dormir. Ela queria vê-lo com urgência naquele dia. Aqueles dois...

...

Chegamos no acampamento poucos minutos depois. Estandartes negros nos recepcionaram na entrada, guardando grandes tendas de couro erguidas ao redor de uma pequena praça, onde montaram uma grande fogueira para assar os animais que caçavam durante o cerco. Haviam vários coelhos, esquilos e alguns quadrúpedes pouco maiores que não pude reconhecer sem a pele. Um estande de armas e armaduras decorava a frente de cada uma das oito tendas do acampamento, repletas de equipamentos. Longas espadas e pequenas adagas haviam aos montes, e cada armadura era de couro pintado, algumas de negro e outras de marrom-avermelhado.

–Este é meu povo – disse o estranho. Os soldados dele pareciam monges, vestindo pesadas túnicas brancas ou cinzentas com detalhes em vermelho. – Como podem ver, também não somos muitos, por isso precisamos de toda ajuda possível.

–Irmão Hadi, você retornou – disse um dos monges, aproximando-se. – Quem são seus amigos?

–Boa tarde, irmão Ralof – respondeu o estranho que nos trouxera. – Encontrei na estrada os famosos vikings, e estes jovens os acompanhavam. Vieram julgar se somos boa gente ou não, para então os nórdicos se unirem a nós.

–Oh, verão que não há por que nos temer. Não somos geralmente tão agressivos como parecemos agora, mas os Templários representam uma ameaça forte demais.

–Verdade. Eles nos oprimem há mais de dois meses, querendo nos converter para sua fé, ainda que seja parecidíssima com a nossa. Na verdade, a nossa fé tem a mesma origem que o cristianismo deles.

–E no que acreditam? – Eva perguntou.

–Somos praticantes do islamismo – Ralof respondeu. – Mas não do convencional. Seguimos a doutrina criada pelo Sábio da Montanha, nosso protetor e senhor da palavra de Allah. É ele quem treina pessoalmente cada um de nós e comanda os ataques.

–Ele é um grande homem – Hadi continuou. – Vocês o conhecerão em breve, assim que ele voltar do acampamento de cerco leste. Não deve demorar. Enquanto isso, sirvam-se, temos bastante carne para dividir. Vou arranjar roupas novas para vocês, também. Podem levar um conjunto reserva se quiserem.

Agradecemos a hospitalidade e sentamos à mesa central de carvalho debaixo do céu aberto para um banquete. A carne era deliciosa e suculenta, e eles preparavam um chá maravilhoso. Os outros soldados eram bastante gentis e alegres, cantavam canções de guerra zombando dos inimigos e exaltando o tal Sábio da Montanha.

Minutos depois, Hadi voltou com uma trouxa de roupas.

–Estas roupas podem não ser do gosto de vocês, mas acho que vai lhes cair bem. Para os rapazes, trouxe algumas opções que encontrei no estoque que temos. Para a moça bonita, encontrei não mais que esse conjunto de camisa e saia, uma vez que não temos mulheres no acampamento.

–É muito gentil, irmão Hadi – Eva disse. Ela era uma garota muito educada, e agora lidava muito bem com desconhecidos, diferente de quando a encontramos no acampamento terrorista de Ordem Negra. Apesar disso, eu podia notar nela uma hesitação em confiar em Hadi. – São muito bonitas as roupas que me deu.

Cada um de nós entrou em uma tenda diferente para se trocar. Quando retornamos à praça, parecíamos parte do ambiente.

–Até que não ficou nada mau mesmo – disse Eva, avaliando suas próprias roupas. Uma fina camisa de longas mangas de cor branco-gelo, e a saia cinza até as canelas era bem folgada.

–Ficou muito bonita assim, Eva – disse Isaac. Ele vestia uma camiseta de manga curta e calças de seda, ambos pretos.

–Olhem, aí vem Hadi – eu disse. Estava de camisa verde-escuro e calças de seda pretas.

–Estão se sentindo confortáveis? – ele disse.

–Sim – Eva respondeu. – Todos parecem ser muito gentis aqui. É difícil imaginar que estejam prontos pra guerra.

–Não deixe se levar pelas aparências, moça. Todos esses homens de túnica ao seu redor são assassinos mortais, treinados pelo Sábio e dispostos a se martirizarem por ele. Inclusive, já temos um plano de ataque. Estamos no acampamento de cerco norte, na região da Áustria. O acampamento leste, onde o Sábio estava, está na Eslovênia. Existe mais um acampamento, bem próximo do forte dos Templários em Veneza. Aquele será o mais fatal, pois atacará depois que tanto o norte quanto o leste atacarem. Eles os pegarão pelas costas, sorrateiramente. Não somos tão bons no combate direto, mas ninguém escapa das nossas sombras. Nossa maior arma é a mente.

...

Estávamos convencidos de que esta aliança seria ótima para ambas as partes. Hadi nos levava de volta para Ingvarr e os vikings pelo mesmo caminho em que viemos. Novamente, me chamava a atenção como Isaac e Eva se davam tão bem. Fez-me pensar, será que ainda é possível que nesse mundo se possa ter uma família? Será que eu viverei o bastante para ter a minha própria mulher e filhos? Tenho receio de pensar nisso. Família sempre foi sinônimo de fraqueza pra mim. Ter alguém com quem se preocupar traz muitas desvantagens, principalmente depois que o mundo se tornou isso que é hoje. Pelo fato de crescer num orfanato, aprendi a viver quase sempre sozinho e não vejo tanto valor em ter uma família. Mas talvez seria bom, pra variar...

Chegamos rapidamente ao acampamento improvisado dos vikings. Não tinham metade do tamanho do acampamento dos islamitas, e menos da metade do número de soldados. Ingvarr veio falar conosco.

–E então, Isaac? É seguro?

–Definitivamente. Hadi, o cara que nos levou, contou-nos seu plano de ataque mas vou deixar que ele mesmo lhe conte quando chegarmos lá. Seus homens são muito hospitaleiros, também.

–Entendido. Muito obrigado, aos três. Nós iremos juntar nossas forças.

Eu não aceitei seus agradecimentos. Ingvarr nunca teve meu respeito, apenas se importava consigo mesmo e com seu povo, e usou Isaac para conseguir o que queria. Tive a impressão de que Eva também já não confiava muito nele.

O batalhão viking chegou ao acampamento pelo final da tarde. Os nórdicos estranharam um pouco os homens de túnica, embora não se sentiram nem um pouco ameaçados. Era um exército de monges aos seus olhos. Todos foram bem alimentados com carne de coelho e javali, algumas ainda sangrando na brasa. Ingvarr fora chamado por Hadi, para selar a aliança com o Sábio que havia chegado. Eu teria ficado ao redor da fogueira enchendo a barriga de comida, mas Isaac disse que era melhor que ficássemos por perto.

O Sábio da Montanha tinha um cabelo ondulado quase tão volumoso quanto seu cavanhaque. Tinha feições árabes e um olhar muito sério. Era um rosto familiar, porém não me lembrava ao certo onde havia o visto.

–Boa noite, senhores – disse ele quando nos recebeu em sua tenda. – Eu sou o Sábio, mentor e comandante desses pobres garotos que viram lá fora.

–Eu sou Ingvarr, jarl do povo de Bornholm. Minha terra foi tomada por uma maldição que caiu sobre nós após expulsarmos a praga cristã.

–Entendo. Estamos dispostos a fazer qualquer aliança possível para derrotá-los, e tenho certeza que com a força dos vikings e a astúcia dos assassinos da Ordem Negra, os Templários cairão.

Ordem Negra! Era isso! O Sábio da Montanha era Sayid, o líder terrorista que comandava as experiências com anthrax! Lembro-me da foto que Jacob mostrou, com certeza era ele. Isaac e Eva já haviam percebido também. Ela saiu da tenda depressa, e sem falar nada. Isaac e eu fomos logo atrás. Ela estava lá fora, andando de um lado para o outro.

–Acalme-se, Eva! – disse Isaac.

–Como posso me acalmar, Isaac? Eles são os terroristas – ela passou a sussurrar. – Aquele é o maluco que matou a minha mãe na minha frente, nos fez de cobaia pra produzir armas biológicas!

–Eu sei – ele disse. – Mas nada que fizermos vai adiantar. Precisamos manter a calma. Estamos entre inimigos aqui.

–Mas eles realmente vão atacar os Templários – eu disse. – O melhor que temos que fazer é agir normalmente, e não dar motivos para eles desconfiarem da gente. Ninguém naquele acampamento da Síria sobreviveu, então eles não conhecem nossos rostos.

–Certo, faremos isso – disse Isaac. – Tudo bem, Eva?

–Tudo... Temos que tomar cuidado. Eu sabia que tinha algo errado com eles.

...

Já de noite, todos dormiam em suas tendas. Isaac vigiava do lado de fora da tenda de Eva, e eu estava sem sono. Saí para dar uma olhada na noite que se seguia, e notei umas coisas amontoadas ao lado da tenda de Sayid. Fui checar, não havia ninguém por perto. Algumas pranchetas diziam algo sobre anthrax, porém eu não entendia o idioma. Parecia estar escrito algo como... “Anthrax 2.1.0”, ou coisa assim. Devia ser uma versão aprimorada da bactéria, que estava em forma liquida em vários frascos em caixotes de madeira. Peguei um nas minhas mãos. Era um liquido verde, que parecia ter pequenas coisinhas dentro se mexendo agitadamente. Parecia perigoso, mas talvez Eva encontrasse um uso melhor pra isso do que eu. Guardei o frasco comigo, quando ouvi a voz gritar atrás de mim.

–Parado aí, seu ladrão!

Meu instinto me fez correr dali sem olhar pra trás. Dei a volta entre as barracas, e acabei de volta na nossa tenda, onde Isaac estava vigiando.

–Luke – ele disse. – O que tá fazendo acordado a essa hora?

–Isaac, encontrei frascos de anthrax perto da tenda do Sábio. Eles parecem ter aprimorado a mistura.

–Que droga. Isso quer dizer que eles ainda mantém cobaias em algum lugar.

–Temos que colocá-los na nossa lista negra. Assim como os Templários, eles não podem sair impunes.

–Certamente, eles vão entrar na lista. Luke, acho melhor você tentar dormir. Amanhã marchamos para Veneza, e precisa estar descansado na batalha.

–Você tem razão. Eu vou pra dentro.

Retornei para dentro da tenda, e deitei no pequeno carpete que usava de cama. Apenas Eva dormia ali, como uma pedra. A adrenalina da corrida ainda corria em meu corpo, e levou um bom tempo até que eu conseguisse sequer bocejar.

A viagem tem sido muito longa. Não paramos mais desde que saímos com Jacob para o Limbo. Agora sinto saudade de Lucy, apesar de ter ficado pouquíssimo tempo em sua companhia. Minha única família. É isso que esse mundo faz com a gente. Se não nos mata, mata quem amamos, e aí nos sentimos como se quiséssemos morrer. Na falta de deuses malignos, tem os humanos idiotas. Largam a paz por uma birra qualquer uns com os outros. Será que existem pessoas normais por aí? Pessoas que não foram arrastadas para a guerra? Se tem uma pessoa que resistiria a isso, seria Jack. Aquele caipira parecia uma mula empacada. Nem Jimmy mandava-o fazer algo que não queria.

Os gritos me acordaram do pré-sono, todos estavam me chamando e insultando.

–Saia daí! Seu ladrão!

Saí da tenda, pronto pra enfrentar seja lá o que for. Deixei minha camisa com o frasco na tenda. Eva já estava lá fora, ao lado de Isaac e Ingvarr.

–Luke – disse Sayid, que me aguardava com metade do exército ao seu redor. – Me disseram que você perambulou pelo acampamento noite passada e roubou algo que me pertence. Um caixote de poções raras estava nos domínios da minha tenda, e uma delas estava sumida. Sabe, essas poções são muito importantes para meu pessoal, e eles realmente não gostam que estrangeiros sequer saibam de sua existência. Agora por favor, diga-me a verdade. Você roubou um dos meus frascos, assim como meu patrulheiro relatou?

–Eu não roubei nada – eu disse, sem hesitar. O olhar de Isaac dizia que sabia que fui eu, e Eva não compreendia totalmente.

–Pois bem – Sayid olhou de lado para um dos homens ao nosso redor, que começou a vir na minha direção, e outros dois que vieram por trás me seguraram pelos braços, me colocando de joelhos. O primeiro soldado apontou uma adaga em meu pescoço, me prevenindo de reagir.

–O que é isso? – Ingvarr interveio. – Ele é um de nós, se disse que não roubou, ele não roubou!

–O rei viking ficará do lado do ladrão?

–Ele não é ladrão nenhum – gritou Isaac. – Soltem-no, agora!

Sayid confirmou com a cabeça para seus homens. Eles me arrastaram até uma mesa na praça, onde comemos quando chegamos.

–Mostrarei o que acontece a ladrões na Ordem Negra – ele disse. Ingvarr gritou uma ordem, e os vikings, que já estavam em prontidão, sacaram suas espadas e machados. Aos poucos, eles caíram: os assassinos da Ordem Negra os apunhalaram sorrateiramente, transformando as forças vikings em nada. Njord foi um dos apunhalados, e caiu sobre seu grande martelo.

Vi Eva falando com Isaac antes de correr pra dentro da tenda. Isaac e Ingvarr guardaram, cercados, a entrada da tenda. O homem que segurava meu braço direito o colocou sobre a mesa. Sayid apareceu com machado viking por cima da cabeça, e desceu-o direto no meu bíceps. Foi uma dor terrível, inimaginável. Num instante meu braço inteiro formigou e adormeceu, e depois senti apenas a dor do corte. A ferida latejava, e o sangue escorria por toda a minha roupa.

Tudo rodava e escurecia ao meu redor. Eu lutava com todas as minhas forças para me manter acordado, mas era tão difícil... Meu corpo estava fraco e eu não conseguia ficar de pé, e muito menos andar. O campo de visão era minúsculo, mas ainda podia ver alguma coisa quando caí em direção ao chão, sem controle do meu corpo. Primeiro, vi meu braço na mesa, ao lado do machado ensanguentado. E ele foi embora, pra longe... Posso dizer que vi a morte. Literalmente, a morte estava lá. E ela desfilava com sua foice, tirando vidas a torto e a direito. Por onde tocava, um corpo caía. Ela chegava mais perto a cada golpe, e quando não haviam corpos ao seu alcance, ela correu direto pra mim. “Luke”, ela me chamava. Chegou a minha hora, e eu estava pronto pra ir. O mundo era cruel demais pra qualquer um, mesmo. Não é uma coisa de que sentirei falta. “Luke”, ela me chamava de novo. Leve-me, morte. Leve-me pra longe desse inferno. Eu desisto.

“Luke, você não vai morrer”, ela disse. Eu olhei mais uma vez. A morte não veio me levar... Veio me salvar. Era Isaac com a foice.

“Ele precisa de transfusão!”

Quem disse isso? Parecia Ingvarr... Não conseguia virar a cabeça pra ver. Via apenas um céu azul, e a lembrança de meu braço sendo partido. Era como se estivesse ali na minha frente, meu braço arrancado, o machado sobre a mesa...

“Meu sangue é universal! É O-negativo!”

Isaac? O que está fazendo? Está tentando me doar sangue? Mas como? Meu braço... Não sinto mais dor.

“Certo, sente aqui e levante a manga!”

Eles devem ter arranjado equipamentos. Ingvarr está coordenando a operação...

“Por favor vocês dois, salvem ele!”

Eva está aqui também... Será que ela encontrou o anthrax nas minhas coisas?

“Pronto, enfiei a agulha. Agora só resta esperar.”

Agulha? Mas nem senti nada... Espera... Meu corpo está queimando! O que é isso que injetaram em mim? Estou ardendo! Tira isso de mim, Ingvarr! Argh!


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Notas finais do capítulo

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Novos capítulos deverão sair semanalmente, não percam o próximo =)



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