Tudo aconteceu naquele longo dia de treinamento.

–Ino! Concentre-se!

–Hai,Tsunade-sama!

A garota loira olhava fixamente para a mão esquerda tentando juntar a maior quantidade possível de energia em um único ponto do corpo. Eu estava encostada em um grande carvalho mais ao canto, enquanto observava todo e qualquer movimento dela. Já faz alguns meses que me tornei obcecada por ela. Claro que nunca comentei nada e nem demonstrei, pois afinal somos garotas, não que eu ache isso um problema.

Lembro-me como se fosse hoje quando ela entrou na sala em que eu treinava jutsu médico com a supervisão da Hokage e pediu para que a mesma a treinasse. Em apenas 3 meses, exatamente o mesmo tempo que eu precisei, ela fez um polvo voltar à vida. Desde que eu me conheço por gente, sempre fomos rivais. Competíamos por qualquer coisa e sempre acabávamos empatadas. Isso não foi diferente no primeiro exame chunnin que prestamos. Como ela nunca aceitou ficar atrás de mim e eu muito menos, evoluíamos sempre na mesma velocidade, com a diferença de agora.

Seu corpo tremia com o esforço, ela franzia o cenho enquanto cerrava os dentes em uma tentativa fracassada de progresso. Seus cabelos dourados balançavam com o vento e uma quantidade mediana de chakra azul circulava pelas suas mãos rígidas com a força que fazia. Aos poucos, o chakra ia tornando-se invisível e meu coração disparava sempre que isso acontecia. Ela estava perto de avançar mais um passo no treinamento. O que eu não entendia era que toda vez que o chakra começava a sumir, ela me olhava, disfarçava rapidamente e mais uma vez o chakra tornava-se fortemente azul. Todo treinamento era isso, minha presença sempre desconcentrava ela por um motivo que eu desconhecia e quando nossos olhares se encontravam, nossos rostos tornavam-se vermelhos simultaneamente. Não sei quando começou, mas reparei que isso foi se tornando mais frequente. Ela tinha a minha atenção, pois eu desejava tê-la para mim, mas e ela? Porque me olhava da mesma forma? Nunca descartei que poderia ser coisa da minha cabeça.

Após vários minutos de esforço ela novamente estava esgotada. Ino sentou-se no chão da clareira em que nos encontrávamos, inclinou-se para trás e, com dificuldade, tentava recuperar todo o fôlego perdido. Não pude deixar de notar uma pequena gota de suor descendo pelo seu rosto e percorrendo vagarosamente seu pescoço até desaparecer na gola do seu traje. Engoli em seco e pela décima vez, nossos olhares se cruzaram. Dessa vez, não desviamos.

–Sakura!

–Hai, Hokage-sama!

Assustei-me com o chamado repentino de alguém que esqueci que estava ali.

–Mostre para a Ino a quantidade certa de chakra que ela precisa juntar para realizar esse golpe.

–Hai!

Estávamos no meio das montanhas de Konoha desde cedo, e a loira não tinha obtido muito progresso. Eu fazia o possível para ajuda-la em seu treinamento, mas seu controle de chakra não era tão bom quanto o meu. Apesar de ser notável o seu avanço até agora, ainda não era o suficiente.

Desencostei do tronco da árvore e fui até uma rocha mais ao lado. Pude ver, de canto de olho, a loira me observando. Juntei a quantidade certa de energia nas mãos, dei um salto e com apenas um soco, despedacei parte da enorme rocha à nossa frente. O estrondo fez com que vários pássaros levantassem voo rapidamente.

Tsunade tinha um olhar satisfeito e Ino um olhar de espanto, que aos poucos se transformou em uma expressão desapontada.

–Ino, você conseguiu ver a quantidade de chakra que a Sakura liberou?

–N-na verdade não, Hokage-sama.

–Exatamente minha querida. Quando você for aplicar esse golpe, o seu inimigo não pode ver o chakra sendo liberado. Desta forma fica mais fácil pegá-lo desprevenido. Agora presta atenção em mim.

A Hokage passou por nós e parou de frente a uma enorme massa rochosa. Percebendo o estrago que estava prestes a acontecer, corri até a loira.

–Ino, é melhor nos afastarmos.

Pude perceber as maçãs do seu rosto ficando coradas com a minha aproximação. Será que ela estava gostando de mim? Impossível, Ino sempre gostou do Sasuke, devo estar imaginando coisas novamente.

Afastamos o suficiente até ficarmos sobre a sombra de uma árvore. A Quinta Hokage saltou, levantou o punho e, com uma velocidade incrível, foi se aproximando da enorme rocha. Isso definitivamente iria causar um barulho e tanto.

Quando seu punho estava apenas a um metro daquela superfície sólida, uma mulher de longos cabelos ruivos, roupa azul e um decote estrategicamente grande, apareceu exatamente na frente de Tsunade. Com um gesto rápido, ela parou o soco da Sannin Lendária, passou o outro braço pelas costas da loira deixando seus corpos colados e seus rostos a centímetros de distância. A Hokage tinha sido pega de surpresa.

–MEI!!!

A Mizukage ria da cara completamente vermelha de sua amiga loira.

–Mas o que é isso Mei??? Aparecendo assim do nada????

–Apenas passei para dar um oi...

A ruiva caminhava com um olhar provocante em direção a Tsunade.

–Não gostou da surpresa?

Mei Terumi estava mais uma vez colada ao corpo da Hokage e sua mão esquerda apoiava o queixo da outra.

Senti meu rosto ficar em brasa com aquela cena. Duas mulheres lindas como eram tão próximas assim? Eu não estava preparada psicologicamente para uma coisa dessa. De canto de olho, pude ver Ino com os olhos arregalados e com o rosto passando de vermelho para roxo.

Tsunade estava completamente sem graça. Pelo visto, aquela mulher conseguia tirá-la do eixo. E não era para menos.

–N-Não...é q-que eu estava treinando c-com as meninas e v-você me surpreendeu aparecendo do nada!

–Me desculpe, senhorita Hokage. É que eu vim lhe convidar para ir naquela fonte termal comigo, você se lembra que...

Não foi possível escutar o resto já que a Mizukage agora falava no ouvido de Tsunade. O rosto da Hokage atingiu um tom de rubro que eu nem sabia que era possível, e Mei exibia um sorriso malicioso.

–M-m-mas agora e-eu estou ensinando a...

–Eu ainda tenho aquele sakê que você gosta...

A batalha estava vencida. Se tinha uma coisa que despertava mais a vontade da Hokage que uma aposta, era o sakê.

–Sakura! Deixo Ino com você. Quero que vocês batalhem para que Ino consiga melhorar sua concentração.

–Pode deixar,Tsunade-sama.

Mei se posicionou atrás de Tsunade, puxando levemente os cabelos loiros da outra para o lado, deixando o pescoço a mostra. Com uma leve mordida, Mei nos olhava com a cabeça ligeiramente abaixada, tendo a outra completamente entregue em suas mãos.

–Garotas, não se preocupem. Eu devolverei a Hokage de vocês sã e salva.

E com um gesto rápido, desapareceram.

Fiquei olhando para o local onde estavam por alguns minutos, sem acreditar.

–S-Sakura...você acha que elas...

–Eu não sei...mas pelo visto sim...

Olhei para Ino e sua expressão, de certa forma, era fofa e engraçada ao mesmo tempo. Ela estava completamente envergonhada. Eu tinha que controlar a minha imaginação e voltar ao treinamento.

–B-bom, o que acha de voltarmos a treinar?

–S-sim! C-claro...vamos sim.

–Vamos batalhar então. Como isso faz parte do seu treinamento, quero que dê o melhor de si. Você precisa ser boa não somente na formação Ino-Chika-Cho, mas também sozinha, pois no campo de batalha nem sempre estaremos perto dos nossos amigos.

–Tudo bem.

Ino estava posicionada e seu olhar era de concentração. Ela ficava linda quando tentava parecer séria. Era visível que a loira se esforçava para conter o desconforto que sentia na minha presença. As curvas perfeitas de seu corpo tiravam a minha atenção.

Fui a primeira a dar inicio ao combate. Corri em sua direção e ela se posicionou para defender o golpe. O primeiro soco que dei, ela defendeu e contra atacou. Seu chute não foi difícil de parar.

Eu sorri ela sorriu de volta. A luta sempre despertava nossa rivalidade.

–Mais uma vez estamos lutando.

–É, mas dessa vez não irei perder para você Yamanaka.

–Se você acha que irei facilitar, está muito enganada, testuda.

Nossos movimentos se tornaram mais rápidos e perigosos.

–Até parece que você é páreo para mim, Ino porca!

A loira visivelmente ficou irritada. Não era culpa minha. Ela tinha começado.

–Você sempre vai perder para mim, Sakura!

Ela defendia todos os meus golpes e eu os dela. Pulei para o alto e ela me seguiu.

–Quando foi que perdi para você???

Ela se esquivou de um chute e voltou para o chão.

–Bom, começando pelo Sasuke...

Esse era um assunto que me irritava e que eu já estava de saco cheio. Eu não gostava dele, mas gostava dela, e isso me enlouquecia.

–Por mim você pode ficar com ele pelo resto da vida!!!

Eu gritava e ela parecia surpresa com o que ouvia. Quando percebi sua guarda baixa, segurei seus braços e a empurrei contra uma grande árvore.

–Eu não estou nem ai se você quiser ficar com ele!!!

Ela estava presa e eu não conseguia soltá-la, mesmo sabendo que aquela luta já tinha terminado.

Meu rosto estava abaixado e involuntariamente senti uma lágrima se desprender dos meus olhos. Confesso que não esperava suas mãos envolverem meu rosto. No mesmo instante, olhei para aquele par de olhos verdes que me deixavam completamente sem fôlego. Estávamos apenas a centímetros de distância.

–Você não gosta mais do Sasuke?

Ela realmente parecia espantada. Minhas mãos ainda estavam em seus braços, mas já não apertavam mais. Eu fui pega de surpresa com aquela pergunta.

–Faz um tempo que não ligo mais para ele.

Olhávamos no fundo dos olhos uma da outra e nossas faces estavam rosadas. Ino sorria para mim e eu não entendia o motivo.

–Não sabia disso...

Estávamos tão próximas que era possível ouvir nossos batimentos cardíacos extremamente acelerados. Eu não conseguia parar de olhar seus lábios e quando percebi o que estava fazendo, rapidamente tentei disfarçar.

Suas mãos, ainda em meu rosto, deslizaram para a minha nuca e gentilmente ela me puxou contra o seu corpo, selando aquele momento com um beijo que nunca achei que ganharia. Meus braços envolveram a sua cintura em uma tentativa de nos deixar mais unidas ainda, se é que era possível. Seu beijo era doce e sua pele, em contato com a minha, era macia e quente. Aos poucos, fomos perdendo a vergonha e passamos a conhecer mais o corpo da outra entre beijos cada vez mais desesperados. Nossa respiração tornou-se ofegante e descompassada e com o tempo ficamos mais ousadas.

–I-Ino...

Ela sorria maliciosamente e com um rápido movimento, me colocou de costas para a árvore, ficando de frente para mim.

–Sakura, o que acha de deixarmos o treinamento para depois?

A loira mordia meu pescoço e arranhava minhas costas com uma mão, enquanto a outra descia pelo meu ventre.

–E-eu c-concordo...prometo n-não dizer nada p-para a Hokage...

Eu estava completamente entregue.

Essa foi primeira vez em que uma de nós conseguiu ganhar uma batalha e, sem dúvidas, não tinha sido eu.