Tentação escrita por MePassaAManteiga


Capítulo 38
- Capítulo 38




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Kane estava do lado de fora de casa, sentado em um degrau da varanda. Sua toca preta tampava toda sua testa, vi ele fazer um movimento rápido quando me viu aproximando com o carro, como se estivesse jogado algo.

– Conseguiu deixá-lo do jeito que estava quando saiu. – Ele se referia ao carro. Seu sorriso debochador de canto apareceu e suas mãos foram para o bolso do moletom.

– Está insinuando que eu não sei dirigir bem? – Questionei-o com uma leve irritação. – Para o seu governo, eu tive excelentes pontos quando tirei minha habilitação, babaca. – Fechei a porta do carro depois de pegar minha bolsa escolar e passei por ele trombando em seu ombro. Antes de entrar eu me agachei nos degraus e achei o que ele havia jogado. – E mais uma gracinha, mamãe saberá sobre isso. – Levantei o cigarro que achei e o joguei na sua direção, piscando.

A casa estava quieta. Imaginei que mamãe estivesse descansando em seu quarto, então subi para vê-la. Um barulho estranho passava abafado pelo corredor, andei um pouco mais, parando em frente a porta do quarto dela. O barulho vinha de lá. Abri a porta e a vi sentada em frente a máquina de costura que ela não usava a séculos.

– O que é isso? – Perguntei sorrindo. Mamãe era uma ótima costureira, ela fazia vestidos com panos floridos e me fazia usar um vestido diferente todo dia, até que meu pai morreu e ela teve que buscar por emprego e não teve mais tempo pra isso.

– Ah, você está aí. – Ela me olhou, parando os movimentos. – Estou tão enferrujada. – Seu sorriso doce apareceu.

– O que está fazendo?

– Meus travesseiros precisam de fronhas novas. – Ela entortou os lábios. – Talvez não fiquem tão boas, mas estou tentando.

– Aposto que ficarão. – Sorri.

– Mas logo voltarei ao trabalho, então minha vida de costureira vai voltar a estaca zero.

Com a conversa, me lembrei sobre a viagem da mamãe para NY, queria saber se ela tinha mesmo sido convencida pelo Sr. Tomas, pai de Philip. Estava tentando não ser tão direta na pergunta, não queria que ela soubesse sobre o que havia acontecido quando ela não estava presente, mas queria saber se ela teria tido a companhia indesejada do Tomas. Jess havia escutado Philip dizer que seu pai estava acompanhado por alguém em NY e apenas passou pela minha cabeça que essa pessoa era minha mãe. O mais estranho era que mamãe havia chegado bem em casa, se Philip era filho do Sr. Tomas, mamãe não teria escapado. Algo não estava querendo se encaixar.

– E... como foi a viagem? – Perguntei, tentando ser mais normal possível. – Muito trabalho? Gente nova? – Continuei. – Conheceu lugares legais? Você foi sozinha?

– Mas isso é muita pergunta. – Ela me observou por alguns segundos, e depois virou seu corpo todo para minha direção. – A viagem foi cansativa, eu tive muito trabalho, sabe... Muitas coisas para fazer. – Ela ajeitou seu casaco. – Conheci muita gente importante na empresa, e tenho que te dizer, as pessoas lá são tão elegantes. – Seus olhos sorriram. – Tomas tem muita sorte de ter pessoas competentes trabalhando para ele. – Ela disse, mas depois sua feição mudou, ela não havia me contado nada sobre isso.

– Do que você está falando? – Perguntei, um tanto assustada, mas controlada o suficiente.

– Eu não contei a vocês, mas Tomas me deu esse trabalho novo. – Não a deixei terminar.

– O que? – Tentei manter meu tom de voz normal. – Por que você não me contou? – Ergui minhas mãos. – Ah meu Deus, você estava lá com ele, então? Você foi pra NY com ele? Você é louca?

– Olha como você fala comigo, mocinha. – Mamãe alterou sua voz, uma voz mais dura e séria. – Eu fui a trabalho, não venha me dizer bobagens.

– Aposto que ele convenceu você a ir, não é? – Apertei a alça da minha bolsa. – Aposto que não envolveu só trabalho.

– Eu não preciso dar satisfações a você, quem você pensa que é? – Seu olhar me cortou. – E se houve algo a mais, isso não é da sua conta. Agradeça a ele por sua mãe ter um bom emprego para sustentar você e seu irmão.

Não disse nada, apenas saí pisando duro em direção ao meu quarto. Eu queria dizer a ela o quanto Tomas era perigoso, e então ela saberia de tudo, mas fazer isso seria pedir para mais problemas. Eu não podia falar nada para ela, aliás ela nem iria acreditar nas minhas palavras. Iria dizer que eu estava pirando e me levaria a um psiquiatra, não era de se duvidar.

Falar com ela daquele jeito foi horrível, mas eu tinha razão, ela não podia sair por aí com um cara que poderia ser pior que o filho. Seria trágico. Minha nossa, como seria trágico.

“Se ela se lembrasse do que havia acontecido, ela acreditaria. Mas como ela poderia lembrar?” viajei em meus pensamentos. Precisava do Jess, eu o queria por perto, queria o abraçar e me sentir protegida. Meus olhos arderam, estava sentindo culpa por falar com minha mãe daquele jeito e sentindo culpa por ser eu a pessoa responsável por todo esse problema.

Mais tarde, eu me encontrava coberta no sofá com um copo de chocolate quente, vendo TV. Mamãe estava brava comigo, mas eu não podia fazer nada, eu não iria pedir desculpas, por mais que ela não soubesse o que estava acontecendo, ela mentiu pra mim. Ela sempre soube que Tomas era alguém que eu odiava e ainda odeio muito mais. E mesmo assim ela aceitou a proposta dele e foi pra outra cidade com ele.

– Engano meu ou o clima aqui está pesado? – Kane apareceu.

– Sua irmã está passando dos limites. – Mamãe falou na cozinha. Ela já parecia bem recuperada para poder me dar broncas.

– Isso não é bom. – Ele disse, com um pouco de divertimento na voz.

– Não pensem que só por essa minha pouca disposição eu deixarei vocês livres para fazerem o que querem. – Ela começou. – Já estou bem melhor, viram que estou me recuperando rapidamente, então não pensem em aprontar nada. – A porta da sala recebeu algumas batidas. Ouvi os passos da minha mãe, passos leves e vagarosos indo até a porta. “Mag está?” a voz baixa de Jess me ascendeu, mamãe ainda não sabia dele, algo iria dar errado.

– Sim. – Gritei, me levantando rapidamente. Mamãe estava segurando a porta com uma mão e com a outra no batente, pela cabeça dela que eu conhecia muito bem, ela estava fechando caminho. Haviam dois motivos: Não me deixar sair e não deixar Jess entrar, porque obviamente na cabeça dela, Jess era um maníaco estuprador que iria me raptar ou entrar em casa e matar todos nós.

Jess estava do lado de fora, com as mãos enfiadas no bolso de seu jeans. Um sorriso encantador e ao mesmo tempo perigoso. Ele estava se divertindo com a cena da minha mãe.

– Pode deixar. – Falei atrás dela, tentando tirá-la do caminho.

– Quem é você? – Ela perguntou.

– Sou Jess, muito prazer. – Ele falou movimentando sua cabeça.

– Ele é um amigo. – Eu não estava mentindo, apesar de Jess e eu termos nosso caso, éramos amigos.

– Nunca o vi com você. – Ela me olhou, aquele olhar não era bom.

– O conheci a pouco tempo, você estava na sua viagem. – Minha voz saiu dura, para fazê-la lembrar da nossa última conversa.

– Somos bons amigos. – Jess disse, me lançando um olhar indecifrável.

– Não podem se tornar bons amigos em apenas uma semana. – Mamãe juntou as sobrancelhas.

– Ok, chega. – Falei passando por debaixo de seu braço, puxei Jess pelo braço e o levei para o gramado, onde mamãe não podia nos ver.

– Ela parece bem melhor. – Jess sorriu, me puxando pela cintura.

– Sim. – Falei, mas ele percebeu minha preocupação.

– O que houve? – Ele apoiou sua mão em meu rosto, me olhando nos olhos.

– Minha mãe está trabalhando para o pai do Philip, o Sr. Tomas. – Falei.

– Então ela foi mesmo com ele pra NY?

– Sim, ela foi. – Eu me afastei dele. – Ela mentiu pra mim, ou melhor, ela escondeu de mim tudo isso.

– Ei, se acalme. – Ele me puxou. – Não aconteceu nada, ela está bem. – Ele empurrou meus cabelos para trás. – Se ele tivesse que fazer algo, ele teria feito. Vá por mim, eu conheço a minha espécie, não esperamos para matar. – Ele desviou seus olhos por alguns segundos como se estivesse pensando e depois voltou a encarar os meus. – Estou tentando descobrir que jogo é esse e eu prometo que vou saber o que está acontecendo o mais rápido possível, Hanna está me ajudando.

– O pior de tudo é que a culpa é minha, tudo isso por minha culpa... – Jess segurou meus lábios com o polegar.

– Pare com isso. – Seus olhos se decepcionaram com as minhas palavras. – Ninguém tem culpa de nada.

– Sim, tenho... Se não fosse eu, as coisas estariam normais pra você e pra mim.

– A única pessoa culpada aqui então, sou eu, por que eu me apaixonei por você e não me arrependo, se alguém deve ser culpado, culpe a mim e não a você. Eu a amo e não vou deixa-la. – Jess me puxou para um beijo intenso. – Será que dá pra você parar de falar essas babaquices? – Seus lábios se movimentaram roçando nos meus enquanto falava.

– Me desculpe. – Sussurrei. – Eu te amo.

– Você ainda quer ir a festa? – Ele perguntou baixo.

– Ah, meu Deus. – Sorri. – Eu já nem lembrava mais.

– Podemos ficar aqui. – Suas mãos passaram em minhas costas. – Passar a noite em seu quarto parece uma boa ideia.

– Não. – Tentei segurar o riso. – Minha mãe está muito bem agora, e ela consegue ouvir qualquer barulho desconhecido. Vamos a festa, vou tentar convencê-la.

– Não acredito que ela consiga ser convencida. – Jess sorriu.

– Sou muito boa nisso. – Falei dando outro beijo em seus lábios. – Espere aqui.

– Boa sorte. – Jess falou entre sua risada máscula e sexy.


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