Tentação escrita por MePassaAManteiga


Capítulo 26
- Capítulo 26




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Acordei com batidas na porta do meu quarto, havia tirado um cochilo depois que Hanna foi embora de casa. Lucia estava do lado de fora do quarto falando que tinha alguém me esperando lá embaixo, sua voz estava abafada.

– Já estou indo. – Falei, e em seguida escutei seus passos se distanciando.

Quando desci a escada, Louis estava apoiado no balcão da cozinha falando com Lucia, que estava preocupada mais com seus crochês, ela não estava considerando nada do que ele falava e ele continuava tagarelando.

– Você. – Falei, com desgosto.

– Oi. – Louis estava com cara de quem acabara de levar uma surra. – Podemos conversar? – Ele desviou seu olhar pra dentro da cozinha, Lucia estava ocupada com suas linhas, mas tinha ouvidos. Eu não respondi, apenas entendi o recado e passei por ele em direção a saída, ele me seguiu.

Um vento leve fazia fios dos meus cabelos dançarem, Louis se sentou no banco de cimento que ficava do lado de fora da varanda, enfiando suas mãos no bolso da blusa de frio, a toca da mesma estava sobre sua cabeça, escondendo suas orelhas.

– Foi mal. – Ele disse, seus olhos estavam encarando a rua. – Aquela noite no Lago, eu fui um babaca. - Ele estava esticado, com suas pernas jogadas para frente e suas costas encostadas pela metade no banco. – Meus pais estão querendo me levar para uma clínica de reabilitação, me deram mais uma chance, outra mancada e eu serei internado. – Sua voz estava rouca.

– Por que isso agora? – Perguntei a ele, sem dar tempo de ter resposta. – Você tem uma vida ótima, amigos, família. – Eu estava sentada do seu lado, virada de frente para ele. – Por que está enchendo a cara? – Novamente não esperei por resposta. – Isso te faz pagar mico, te faz ser idiota e praticar tolices. – Minha voz estava dura.

– Qual é? – Ele riu sem humor. – É diversão, Mag. – Ele me lançou um olhar indignado. – Você nunca bebeu na vida?

– Não desse jeito. – Logo me defendi. – Você está passando dos limites.

– Está vendo? – Sua expressão mudou para uma mais melancólica. – Edie nem está mais disponível, Ramon está focado na droga da escola, meus pais me querem dentro de um lugar para drogados e alcoólicos, e você concorda com eles. – Suas mãos saíram do bolso e esfregaram seu rosto. – Já nem sei mais quem realmente se importa comigo.

– Não fale assim. – Me senti mal por Louis estar daquele jeito, ele nunca demonstrava esse lado dele. – Eu só quero o seu bem, todos nós queremos. – Minha mão passou pelo seu braço. – Eu me importo.

– Se importa? – Seu rosto apareceu entre suas mãos e ele se aproximou. – O quanto se importa? – O rosto de Louis estava perto do meu, seu rosto estava tão pálido, que me assustei, nunca havia visto ele daquele jeito. – Dormi mal essa noite. – Sua voz estava baixa e ainda rouca.

– Louis. – Falei, empurrando levemente minha mão em sua barriga para que ele parasse de chegar perto de mim.

– Aquele babaca tirou você de mim. – Sua voz ainda era baixa mas estava mais firme.

– Do que você está falando? – Perguntei confusa.

– Tudo bem. – Ele se distanciou. – Mas eu espero que ele nunca te decepcione. – Louis se levantou, colocando suas mãos no bolso da blusa e pegando caminho da caminhonete que estava estacionada na frente de casa.

– Ei.- Chamei-o. – Espere. – Corri em direção a ele puxei sua blusa. – O que está havendo com você? – Louis era um cara extremamente cheio de vida, nunca ligava para nada, ele sempre brincava, amizade para ele era tudo e isso parecia estar acabando de uma hora para outra, eu não estava entendendo o motivo.

– O que está havendo? – Ele explodiu. – Meus amigos estão distantes, você inclusive. – Ele se aproximou bruscamente. – Esqueceu que eu existo depois que conheceu aquele babaca que se acha o “Cara mal”, sinceramente, eu nem sei mais quem você é.

– Louis... – Ele não me deixou questionar.

– Quer saber a verdade? – Ele perguntou, logo dando a resposta. – Eu sou louco por você. – Seus olhos pararam nos meus. – Percebi isso tarde demais. – Sua mão passou pelo nariz, como um gesto para se firmar novamente. – É isso, e você não precisa falar nada, eu estou indo. – Ele puxou as chaves do bolso da calça. – Só quero te ver feliz.

Louis não me deixou falar mais nada, e mesmo que quisesse não iria conseguir, ele me deixara sem reação. Nunca o vi demonstrar qualquer tipo de interesse, na verdade algumas vezes ele dizia umas coisas comprometedoras mas nunca a esse nível. Louis e eu éramos amigos desde a infância, e da minha parte não seria diferente, seria sempre amizade. Ele deu partida na caminhonete e sumiu de vista.

Eu estava sem chão. Louis gostava de mim de um jeito diferente e eu não poderia retribuir porque eu ainda estava loucamente apaixonada pelo Jess, mesmo não estando junto com ele por bons motivos. Lucia percebeu meu estado quando entrei pela porta.

– Já passei por várias brigas quando era adolescente. – Ela disse.

– Você ouviu? – Perguntei, puxando meus cabelos para trás.

– Não, mas vi a cena e não pareceu nada boa. – Ela estava de olho na linha que se mexia com a agulha fazendo correntes. Pensei em desabafar com Lucia, dizer o que tinha acontecido lá fora, mas ela não era uma boa pessoa para dividir esse tipo de assunto.

– Minha vida está uma confusão, Lucia. – Falei suspirando e subindo para meu quarto.

A tarde toda foi totalmente uma droga, eu estava pensando nas palavras de Louis, ele era meu melhor amigo, eu sempre ficava mal quando tínhamos alguma discussão, até quando criança, eu sempre pedia desculpa mesmo quando eu era a certa da história. Louis era importante demais, e eu estava preocupada com o estado dele, ele mudara muito em poucos dias, suas atitudes passaram a ser estranhas. Por mais que eu estivesse acabada por dentro eu não conseguira derramar uma lagrima sequer.

A noite já havia aparecido quando decidi sair do quarto, Kane não estava em casa e Lucia estava na cozinha preparando algo para o jantar.

– Achei que não gostava do fogão de casa. – Me sentei na banqueta, escorando meus cotovelos no mármore do balcão.

– Mas não gosto. – Ela falou com desprezo. – Odeio essa máquina difícil, mas prefiro encará-la ao ter que andar de um lado para o outro fazendo comida para um casal de irmãos que ás vezes nem comem.

– Calma ai, Lucia. – Ri. – Parece mal humorada.

– Não, menina. – Ela experimentou o caldo que estava fazendo. – Acho que isso está bom.

– É, deve estar.

– O que há com você? – Sua sobrancelha ergueu. – Está tão caída, não quero que sua madre pense que não dou comida a vocês. Está com cara de quem não come a vários dias, credo. – Seu rosto ficou tão engraçado que não pude deixar de rir.

– Só a senhora para me fazer rir. – Eu sorri.

– Senhora não, menina. – Ela apontou a colher de pau para mim. – Não sou tão velha assim.

– Foi mal. – Ergui as mãos.

– Você precisa sair, se divertir. – Ela falou voltando sua atenção para o caldo. – Seu irmão não presta, disso sabemos. – Ela não via problema em ser tão sincera. – Mas você não é como ele, eu deixo você sair se quiser, sua madre não saberá de nada.

– Não estou no clima, infelizmente. – E eu realmente não estava.

– Não precisa de clima, o clima você acha fora de casa. – Pensei até na possibilidade de aquela mulher não ser mais a Lucia que conhecia, a real não diria isso. – Ande, pare de ser boba, é culpa do garoto que veio aqui de manhã, não é?

– Não. – Menti. – Só não estou no clima.

– Pare de mentir. – Ela parecia saber de tudo. Lucia me dava medo ás vezes, ela lia qualquer um por dentro com aqueles olhos azuis e lindos por sinal. – Você é jovem, tem muitos outros caras por aí.

– Mas ele é apenas um amigo...

– Eu posso tentar entender. – Ela interrompeu.

– Tudo bem, você ganhou. – Ergui as mãos me levantando. – Só me resta saber para onde ir a essa hora.

– Aí é com você. – Ela sorriu, seu sorriso mostrou uma forma tão estranha que eu me arrepiei, não sei o que estava havendo com Lucia, mas estava gostando dela.

Subi para meu quarto e encarei meu guarda-roupas. Me lembrei da boate que Hanna havia dito mais cedo. Eu não queria me encontrar com ela, mas era o único jeito de esfriar minha cabeça e como ela disse, lá eu estaria segura, demônios não costumavam frequentar o lugar, era pra lá que eu iria.

Depois de pegar um taxi para chegar a boate, eu entrei no local. Em todas as paredes escuras por conta da luz, adesivos com o nome Beats estavam colados. Luzes coloridas piscavam e um remix de Midnight City do M83 tocava abafado. Eu estava entrando pelo corredor quando alguém veio por trás de mim.

– Você aqui? – Philip estava bem do meu lado quando olhei.

– Minha nossa. – Resmunguei.

– O destino parece querer nos juntar. – Ele sorriu.

– Estou pensando seriamente em mandar esse tal de destino para a merda. – Revirei os olhos.

– Que horror.

No fim do corredor, um salão apareceu cheio de corpos dançando freneticamente a música. Eu logo avistei o bar e andei até lá para me sentar, eu não gostava muito de baladas, era algo que eu não costumava frequentar, era barulhenta e cheirava a suor de bêbados.

– Nunca a vi aqui. – Philip falou se sentando do meu lado.

– Não gosto desse lugar, só estou esperando alguém. – Olhei para os lados procurando Hanna.

– Alguém. – Ele repetiu.

– Cara... – Eu queria me livrar dele rapidamente. – Vou ao banheiro. – O único lugar em que ele não entraria atrás de mim.

Saí da vista de Philip e passei por alguns corpos dançantes que quase me jogaram contra a parede da boate. A porta do banheiro estava a poucos metros de distância, então continuei com meus passos até ela. Quando estava quase chegando, o corpo de alguém me empurrou para dentro do banheiro fechando a porta logo atrás, era Jess.

– Tá fazendo o que aqui? – Jess perguntou, me olhando sem um pingo de felicidade no rosto.


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