Tentação escrita por MePassaAManteiga


Capítulo 23
- Capítulo 23




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A fila do cachorro quente se estendia por quase três barracas, como minha fome aumentava a cada minuto que se passava, minha disposição de esperar aumentava também, iria compra-lo mesmo que demorasse um século. Uma garotinha loura de cabelos encaracolados, me observava do colo de sua mãe, suas bochechas se mexiam por conta da chupeta em sua boca, ela colocava seus dedinhos nos cabelos da mãe, enrolando-os. Lidar com crianças não era o que eu fazia muito bem, ela começou a sorrir de uma hora pra outra, e isso fez com que a chupeta caísse da sua boca, de repente Philip agachou-se para pegar.

– Tome aqui, fofinha. – Ele disse entregando a chupeta para ela, que esticou o pequeno braço para pegar.

– A quanto tempo você está aqui? – Perguntei a ele, cruzando os braços.

– Pouco. – Ele sorriu. – X-Burger? – Ele perguntou, segurando o lanche na minha frente.

– Não.

– Está quase chegando. – Falou apontando pra barraca de cachorro quente.

– Você não precisa ficar me avisando, eu tenho olhos. – Meu indicador estava em meu olho. – Posso ver.

– Sem grosseria. – Ele mordeu seu X-Burger.

Depois de quase vinte minutos na fila, finalmente eu pude pegar meu cachorro quente, que estava uma delícia, aquela belezura havia acabado com a minha fome, acompanhado com uma Coca-Cola gelada que me trincou por dentro.

Ficar de papo com Philip não estava nos meus planos até Jess chamar minha atenção, eu estava agindo como uma adolescente babaca, tipo aquelas que gostam de provocar os caras para chamar mais atenção, esse era o ponto. Ridículo, apenas. Queria mostrar ao Jess que não era só ele que podia estar com outra pessoa, eu também tinha esse privilégio, mas no fundo, eu estava gritando para que ele voltasse, ficar perto dele era perigoso demais, porém ficar longe dele era tortura demais. Só que eu tinha que aguentar, o plano era esquecê-lo e seguir em frente pelo bem não só meu, mas dele também.

Resumindo, a noite foi uma completa droga, quando Philip abria aquela boca, só saia coisa idiota. Não totalmente idiota, mas que eu não estava afim de ouvir, como por exemplo sobre como ele era bom no futebol, como ele era bom em tocar guitarra, como ele era bom em tudo... Isso era o que saída de sua boca, só qualidades, coisa chata. Mas o bom foi que naquela noite ele não botou as mãos no meu querido cachorro quente.

Acordei tarde no outro dia, lembro de Philip ter me dado uma carona, depois da conversa com Jess, achei que ele estaria mesmo de olho e decidi testar, ele poderia nos seguir ou coisa do tipo, mas não houve qualquer sinal. A última vez que vi Louis ele estava naquele estado, bêbado e largado com os colegas.

Faltar da escola não estava nos meus planos, mas eu tive que fazer, havia perdido hora e não dava mais tempo. Lucia ainda não tinha aparecido, o que foi um milagre, até porque ela sempre estava em casa logo pela manhã com seu bichano preto e peludo. Kane também não deu as caras, visitei seu quarto, ou lixão, não dava para ver se tinha cama lá, porque aquilo estava tão bagunçado e nojento, apenas olhei e fechei a porta rapidamente, mais alguns segundos perto daquele lugar e eu estava infectada por vermes parasitas de Kane.

Penteei meus fios dourados e coloquei uma roupa leve para ficar em casa, esperaria Lucia chegar com algo gostoso para o café da manhã que ela costumava fazer na casa dela. Fui pra sala na esperança de que algo interessante estivesse passando na TV. Encontrei um programa interessante sobre documentários de acontecimentos históricos, isso me chamava atenção, por mais que eu fosse péssima na matéria de História. Quando me aconcheguei no sofá, batidas na porta me fez levantar, foram batidas leves e ritmadas, como uma musiquinha infantil.

– Não estou acostumado a entrar pela porta da frente. – Jess estava encostado no batente da porta, com suas mãos no bolso. O tempo estava úmido, ele usava a mesma camisa de manga longa preta e folgada que usou quando fomos ao nosso encontro, jeans pretos e botas.

– E não vai se acostumar. – Empurrei a porta para que se fechasse, mas ele parou com uma mão.

– Péssima ideia. – Sua mão forçou a porta e ele entrou. – Sei que estamos só nós dois aqui, então não tente nada pelo seu próprio bem. – Ele piscou. – Não há ninguém para te defender aqui.

– Lucia está vindo. – Eu nem fazia ideia de onde Lucia se encontrava, infelizmente. Eu não estava com medo de Jess, mas ele sempre me deixava com um pé atrás.

– Que pena. – Sua expressão era debochada. – Vamos logo ao nosso assunto. – Ele não me deu tempo de questionar. – Pegou carona com Philip. – Ele andou até o sofá com seus passos largos e se sentou. – Mesmo depois de dizer a você que ele não é um bom partido.

– Você veio aqui para me falar isso? – Eu mesma podia sentir minha irritação no rosto.

– Pode não ser importante pra você, mas para mim é. – Ele cruzou os braços, o movimento fez seus músculos aumentarem por baixo da camisa. – Ele não é confiável. – Seu olhar era sério.

– Você também não é.

– Eu sei. – A concordância dele me deixou desconfortável. – Mas a diferença é que ele não sente nada. – Jess se levantou e olhou o cômodo da sala, parando seus olhos em mim. – Você fez sua escolha e eu não estou aqui para confundir você, mas não quero esconder o fato de que você é importante pra mim. – Seus braços continuavam cruzados.

– Como disse... – Pausei por alguns segundos. – Já fiz minha escolha, não sei porque está aqui.

– Abgail ainda está bem. – Ele mudou o assunto. – Hanna me mantém informado.

– Hanna? – Meu estômago embrulhou.

– Hanna estava comigo ontem na barraca de tiro ao alvo. – Eu havia visto ela, era a garota do cabelo branco.

– Como ela mantém você informado? – Perguntei, com um pingo de irritação na voz. – Achei que só você era o “cara dos sentimentos bons”. – Pelo que ele me disse, os demônios eram totalmente maldosos e ele era o único no momento que podia ser bom, pelo menos comigo.

– Hanna é diferente, nos conhecemos há um bom tempo e ela vai manter esse segredo até o fim. – Ele ergueu as mangas da camisa, vi que ele usava uma pulseira preta em um dos braços. – Troca de favores, ela me deve essa.

– Tanto faz. – Hanna era a última pessoa em quem eu queria pensar no momento. – Acho que devemos avisar a polícia, eles podem dar um jeito.

– Polícia? – Ele riu, dessa vez com humor. – Vamos ser realistas, demônios são poderosos demais para perderem de humanos que usam coletes e armas de fogo. – Seus dedos enroscaram no passador de seu jeans. – Sem chance. – Ele sorriu.

– E você acha que estando sozinho vai conseguir alguma coisa, vai ter força para enfrentar todos eles?

– Tenho planos, gata. – Seu sorriso de canto apareceu. – Preciso de mais tempo, e então posso agir sem erro.

– Com ajuda da Hanna. – Falar “Hanna”, me fazia sentir ânsia, raiva, desgosto e tudo de ruim.

– Ela é uma amiga. – Jess falou, percebendo que eu estava morrendo de ciúmes.

– Eu não me importo, tudo bem... Eu não... – Me embaralhei, queria esconder meu ciúme, mas não fui convincente.

– Ninguém é boa o bastante para substituir você. – Seus olhos passavam tanta sinceridade. – Sinto que a famosa Lucia está por perto.

– O que? – Corri para olhar pela janela, Não vi nenhum sinal dela. – Está enganado.

– Não, não estou. – Ele andou até a porta. – Tenho uma sensibilidade boa, ela vai chegar daqui a pouco. – Ele virou a maçaneta. – Não quero causar problemas pra você, a não ser que você queira. – Ele me encarou com aqueles olhos escuros e sexys.

– Não quero problemas. – Falei séria, escondendo meu desejo de beijar aquela boca perfeita. – Pode se retirar.

– Respeito sua opção, mas não concordo. – Ele abriu a porta. – Não comente com ninguém sobre Abgail, e tome muito cuidado, se descobrirem sobre você as coisas vão ficar difíceis. Abgail está presa, pelo que sei, e ela vai ser usada para dar informações sobre você e isso não está longe de acontecer. – Sua preocupação aumentou. – Vou tentar por meus planos em prática. Não faça nenhuma besteira e fique longe do Philip. – Ele saiu, fechando a porta atrás de si.


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