A aula estava um saco, o Sr. Dave era um professor estranho, uma mania chata que me irritava nele era seu jeito de contar histórias. Eram interessantes até, mas ele gritava em algumas partes e isso me assustava, nem dava para dormir porque quando você menos esperava ele iria dar um berro e acabar com seu sono. Sr. Dave é formado em História, é rígido, e adora foder a vida de qualquer aluno, principalmente a minha.

– Mag.. – Louis sussurrou atrás de mim. – Você está afim de uma festinha?

– Não. – Sussurrei de volta.

– Ah qual é? Vai ser maneira.

– Vou estar ocupada hoje...

– A vida de vocês deve ser muito interessante mesmo – Interrompeu Sr. Dave. – mas vamos focar na minha explicação, irei aplicar uma prova sobre isso e vou odiar ver notas vermelhas. – Sorriu ironicamente. Revirei os olhos e calei minha boca.

Todo mundo estava falando da tal festa no intervalo. Peguei minha refeição e procurei pela mesa onde os meninos estavam.

– Odeio suco de uva. – Ramon resmungava.

– Quem é que vai organizar essa tal festa aí? – Perguntei.

– Haily. – Respondeu Edie.

– Imaginei. – Haily era líder de torcida, mas um dia ela caiu em um salto e aconteceu alguma coisa com uma das pernas dela. Já não pode mais saltar e o escambau, porém a sua arrogância ainda continua e a sua popularidade também.

– Vocês vão? – Perguntei.

– Não vou poder, tenho que estudar. – Ramon disse.

– Não é novidade. – Revirei os olhos. – E você, Edie?

– Não sei. - Respondeu enfiando o hambúrguer na boca. – Eu ainda não fui convidado.

– Convidado? – Perguntei. Ela nunca convida alguém pra uma festa, a única coisa que ela faz é gritar “Festa na minha casa” e a escola toda fica sabendo.

– Dessa vez teve convite, com foto e tudo. É o aniversário dela, 18 anos. – Ramon continuou. – Parece que vai ser mais formal, eu acho.

– Louis foi convidado? – Perguntei.

– Sei lá.

– Aliás, onde ele está? – Perguntei. Olhei todo o espaço, e não consegui encontrá-lo.

Já em casa, vesti meu pijama super confortável e procurei algo pra comer. Na TV passava um filme de zumbi, minha mãe tinha deixado um bilhete na geladeira dizendo para lavar a louça e não sujar a sala de comida. Mamãe tem esse costume que não me agrada nem um pouco.

Kane estava em seu quarto ouvindo Iron Maiden, o som estava meio abafado, mas dava para ouvir muito bem. Temos a mesma idade (somos gêmeos, porém, não somos idênticos graças a Deus), Kane repetiu no segundo ano, minha mãe pirou quando soube, mas depois voltou tudo ao normal.

Me joguei no sofá e devo ter assistido ao menos metade do filme, porque acordei babando. Nem vi Kane sair para trabalhar, e nesse pensamento lembrei que tinha que ir ao Rock’s.

Corri pro meu quarto, tirei o pijama, coloquei uma camiseta regata azul, calça jeans e um tênis confortável. Eu teria que chegar lá andando, era perto mas nem tanto. O bar estava lotado de pessoas esquisitas, a maioria dos caras lá passavam dos seus 50 anos, barbudos e imagino que todos lá eram fumantes e bebuns. Do outro lado do salão havia várias mesas e cadeiras e algumas pessoas comiam suas refeições. O Rock’s é um bar e também lanchonete, além de velhotes bêbados, suportam também gordinhos que gostam do X-bacon gigantesco que servem lá.

Desci e fui direto pro balcão, uma moça jovem de cabelos ruivos, – Que com certeza eram tingidos. – apoiava-se com seus cotovelos nele.

– Oi – falei – É... Eu fiquei sabendo que estão precisando de uma garçonete. – Ela estava mascando um chiclete, e pude observar a pinta que ela tinha no lado esquerdo inferior da boca se mexer.

– É.. – Ela disse – Estamos sim. – Meu Deus, ela estava tão infeliz com seu emprego.

– E?

– E o que? – Antipática.

– E eu queria saber se eu preci... – Não me deixou acabar de falar.

– Ok, você só precisa saber entregar os pedidos e isso qualquer um sabe. Pode começar amanhã, e não se atrase, não tolero pessoas irresponsáveis.

– Tudo bem... E que horas?

– Já temos funcionários na parte da manhã, então você começa ás 18:00. - Ela remexeu em uns papéis e marcou algo. – Só isso?

– Só. - Fácil demais assim, pode apostar que aqui deve ser um inferno.

Esperava que ela dissesse, “Tenha uma boa tarde, até amanhã.”, mas ela só voltou a sua posição anterior e nem olhou mais pra minha cara. Dei um tchau tipo “Falou.” Só que foi baixo demais, ela não ouviu ou me ignorou.

Voltei pra casa, mamãe estava fazendo o jantar e cantarolando com o rádio, suas músicas antigas me enlouquecem.

– Seu tio me contou sobre a vaga no Rock’s. – Comentou, levando a colher na boca para experimentar o tempero.

– É.. – Me sentei na banqueta. – Começo amanhã.

– Isso é ótimo. – Mamãe estava feliz demais.

– O que está havendo com a senhorita? – Perguntei desconfiada. Ela me encarou, seus olhos estavam brilhando, mas ao mesmo tempo senti que ela estava preocupada.

– Lembra do Sr. Tomas? – Falou, se sentando na minha frente. – Então, ele vem jantar conosco.

WHAAAAAT?

Minha mãe está de flert’s com Tomas? Ok, esse cara não me agrada. Na verdade o filho desse cara não me agrada. Ele está na minha sala de biologia, é um playboy desgraçado.

– Fala sério. – Revirei os olhos, levantei e ameacei sair de cena.

– Espera, - Mamãe me segurou. – eu sei que é difícil pra você...

– Não tem nada difícil pra mim, eu não me importo se você queira sair com alguém, mas o Sr. Tomas?

– Sim, o próprio. – Sua voz mudou de tom, um pouco mais agressiva ela continuou. – Eu não quero você de gracinhas, o filho dele também vem. Eu sei o que é melhor pra mim, e você tem que aceitar.

– Não vou jantar hoje. – Falei subindo as escadas.

– Tanto faz. – Ela gritou da cozinha.

Minha vontade era quebrar tudo que estava na minha escrivaninha, mas só gente rica faz isso. Me deitei e gritei no travesseiro para abafar o som. Mamãe me deixa irritada as vezes, só que dessa vez foi pior.

Tirei minhas roupas e coloquei algo mais confortável. Voltei pra cama e senti meu celular vibrar.

– Gatinha, você vai ou não? – Era o Louis.

– O que? Ir aonde?

– Festa da Haily. – Tinha me esquecido dessa maldita festa.

– Não.

– Por que? – Percebi que ele estava dirigindo. – Edie também vai.

– Vocês foram convidados? – Perguntei.

– Não é necessário. – Seu tom de voz me pareceu um tanto maléfico. – Vou passar na sua casa daqui 10 minutos.

– Não... Não vou, minha mãe não vai deixar. Tivemos uma leve discussão. – Suspirei.

– Ela precisa saber?

– Mas é cla... – Parei.

– Só tem 9 minutos agora. - Sim, pensamos na mesma coisa. Vou pular a janela e já era.

Enquanto me arrumava, mamãe veio até meu quarto e bateu na porta.

– Mag. – Ela chamou. – Vai descer ou não?

– Não. – Fiz voz de sono. – Já estou pronta pra dormir.

– Tudo bem, você é quem sabe. – Ela estava chateada, mas eu não me importei.

Alguns minutos depois, Louis apareceu na janela. Apesar de ser um pouquinho alto, a árvore que tinha no quintal do lado da janela ajudava a descer, e eu era expert nisso.

– Veio de que? – Sussurrei abrindo a janela.

– A caminhonete está do outro lado da rua, sua mãe veria se eu parasse aqui em frente.

– É verdade. – Saí do quarto e abaixei os vidros. – Vamos.

Corremos pelos fundos e pulamos a cerca do vizinho para sair na outra rua. A caminhonete estava estacionada com Edie dentro dela.

– Olá, Dama. – Edie falou pondo a cara pra fora. – Entre. – Abriu a porta. – Você está um arraso.

– Cala a boca. – Entrei fechando a porta em seguida. – Como vamos entrar?

– Louis tirou cópias do convite e fez algumas alterações. – Edie explicou.

– Podem me agradecer. – Falou Louis dando partida.