Tentação escrita por MePassaAManteiga


Capítulo 17
- Capítulo 17




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Eram exatamente sete horas da manhã, eu estava deitada na cama olhando para o forro do quarto, o sol atravessara a cortina clara, iluminando parte do quarto. Me levantei e fui ao banheiro, depois me arrumei e peguei minha mochila, seria um dia e tanto, eu estava descansada porque já tinha feito a lição que Novah tinha dado na aula anterior. Normalmente minhas tarefas eram feitas alguns minutos antes das aulas começarem, mas isso acabou quando o professor de história me pegou copiando de um colega. Detenção.

No corredor rumo a escada, senti uma mão me puxando bruscamente pelo braço, com o movimento eu me virei e vi Kane, por um momento passou pela minha cabeça ser um daqueles caras, tipo o Eliel, querendo me matar.

– Meu Deus. – Falei com a mão no coração. – Você quer me matar de susto?

– Eu ouvi a sua conversa com o cara do porsche. – Kane estava sério. – Que história é essa de demônio?

– Me solte. – Falei puxando meu braço. – Você bateu fortemente sua cabecinha. – Eu tentei disfarçar, tentando fazer com que ele não percebesse que eu estava mentindo.

– Pare de mentir. – Ele me olhou com aversão. – Me diz logo.

– Se você ouviu, eu não tenho nada a dizer. – Falei, mostrando que o que ele havia ouvido era realmente verdade. Ele se acalmou.

– Como isso?

– Não sei, é complicado. – Ajeitei a mochila nos braços. – Prometa que não vai contar nada, esse assunto é sério.

– Eu não sou um fofoqueiro. – Fez careta. – Não vou contar nada, mas... – Obvio que tinha uma condição, Kane adorava saber de coisas erradas sobre mim e depois me subornar ou dar condições. – Você não vai falar pra mamãe sobre o que você viu.

– O que eu vi? – Já nem lembrava mais de nada, depois da história de Jess, meu cérebro estava embaralhado demais pra saber algum podre do meu irmão.

– Baseado. – Ele ergueu as sobrancelhas.

– Ah. – Entortei os lábios. – Ok, não vai ter problema com isso. – Então me virei em direção a escada. – Ah... – Chamei a atenção dele. – Não confie em ninguém.

Ele assentiu com a cabeça e entrou pela porta do seu quarto. Eu conhecia muito bem o Kane, ele não era de se meter na vida de ninguém e muito menos sair contando pra todo mundo de coisas que ele sabia que daria algum problema, então nem me preocupei com o fato dele saber disso.

Lucia não estava em casa, e como mamãe, ela deixou um bilhete grudado com um imã na geladeira dizendo que chegaria só mais tarde, teria de resolver uns problemas de família, e incluiu que tinha bolo de chocolate pro café da manhã.

Depois da aula de Novah, era a vez da Sra. Gil, minha vontade de praticar exercícios na quadra diminuía a cada vez que eu lembrava da desgraça que tinha acontecido, Haily conseguiu me humilhar na frente da turma toda e o pior de tudo foi que Jess assistiu de longe. Pensando nele, lembrei que queria conversar com o próprio, perguntar se minha família deveria tomar cuidado também, e eu já sabia a resposta, mas queria ter certeza.

– Louis não apareceu hoje. – A voz de Edie bateu nos meus ouvidos.

– Parece que as coisas ficaram feias depois da festa na piscina. – Sorri. – Ele deve estar morto uma hora dessas.

– Ah não... – Edie pôs as mãos na cabeça. – Ele bebeu demais?

– Exatamente. – Louis gostava de beber, todos sabiam do seu probleminha com o álcool, e sabiam também sobre a opinião da mãe dele em relação a isso, ela era chapa quente, mas mesmo com uma mãe severa, ele continuava com as babaquices. – Mas eaí?

– O que? – Ele perguntou, tirando uma batata do saco de chips.

– Não vejo Ramon, você tem visto ele?

– Sim, eu o vi hoje mesmo. – Ele olhou para trás. – Ele estava na biblioteca, com uma menina estranha, de cabelo azul.

– Anna. – Olhei pra ele fazendo careta.

– Ela não deve ser muito legal né? – Ele riu.

– Talvez. – Falei roubando uma batata. – Caroline está bem? – Minha voz saiu em tom de divertimento, imaginei ele ficando triste com a pergunta e fazendo cena.

– Espero que sim. – Os olhos dele brilharam. – Ela parece estar interessada agora, até disse um “Talvez”, quando perguntei se ela queria ver um filme comigo.

– Uau. – Ergui os braços. – Está progredindo.

– Sim.

– Mas tenha cuidado, ela parece gostar de beber sangue. – Gargalhei.

– Engraçadinha.

Na aula da Sra. Gil, eu fiquei no banco, era futebol, e eu era péssima em futebol, na verdade eu era péssima em tudo. Edie estava jogando no time da Haily, ela se dava até bem com a bola, mas arranjava sempre uma desculpa para se esfregar nos meninos. E toda vez que isso acontecia eu simulava vomitar, ela sorria a cada esbarrada que dava em um garoto e me olhava como se estivesse dizendo “Eu posso. Você não.”, grande merda.

Depois de ver todas as ceninhas da frufru, eu decidi sair de cena e procurar algo mais interessante pra fazer, escapei sem Gil saber, e fui até a biblioteca. Pensei em pesquisar alguns livros sobre fenômenos sobrenaturais e tentar achar algo que falasse sobre demônios, a biblioteca estava quase vazia, a senhora que tomava conta da sala estava sentada atrás do balcão folheando um caderno cheio de anotações.

Na minha exploração, consegui achar um livro extremamente grosso com o título “spiritus peccatores”, algo em latim. O livro era pesado, não queria alguém me olhando, então depois de pegá-lo me sentei aos fundos da sala e comecei a folhear. O livro falava sobre tudo que havia de ruim, seres que habitavam o nosso planeta, seres não humanos. Tudo que Jess havia me falado estava no livro, os demônios sentiam todo tipo de sentimentos ruins, rancor, ódio, raiva, apenas. Nada de amor, felicidade... Então, como era possível Jess ser diferente comigo?

No livro inteiro o tema mais abordado era a parte em que eles não eram confiáveis, eram senhores das mentiras. Humanos não deveriam ter contato com eles, eram maus e perversos, de modo algum deveriam ser subestimados. Um arrepio subiu em meu corpo quando bati meus olhos na porta da frente, Jess acabara de entrar.

Eu tentei manter equilíbrio, ele ainda não tinha me visto, fechei o livro e o joguei para baixo da mesa. Não sei se ele conseguiria ver, mas tentei a sorte. Jess coçou a cabeça e mexeu em alguns folhetos que estavam em cima do balcão, seus lábios se movimentaram para falar com a senhora que cuidava da sala, ela falou algo e puxou um livro para ele da prateleira que ficava na parede logo atrás dela. Ele usava uma camisa preta e jeans escuros, como sempre. E em um movimento que ele fez com a cabeça, pode me ver. Seu sorriso se alargou, ele pegou o livro e consegui ler seus lábios, que agradeceram a senhora. Seus passos estavam largos e totalmente direcionados a mim.

– Além de desenhista, gosta de ler? – Ele puxou uma cadeira. O livro que ele segurava era de química. – Eu tenho ótimas escolhas.

– É, você tem. – Eu estava inquieta por dentro, não queria que ele visse o livro embaixo da mesa. – Química? – Perguntei apontando pro livro dele.

– Tenho lições pra fazer. – Ele sorriu. – Poderia me ajudar, eu não sou muito bom nessa matéria.

– Péssima ideia. – Fiz careta. – Também tenho problemas com essa matéria.

– Então você me ajuda a fazer outra coisa. – Ele sorriu malicioso.

– Não me deixe sem graça. – Podia sentir meu rosto queimar de vergonha.

– O que está fazendo aqui, sem livro? – Ele ergueu uma sobrancelha.

– É... eu... – Vamos lá, precisava de uma desculpa. – Isso não vem ao caso, precisamos conversar. – Mudar de assunto era uma boa ideia.

– Sobre? – Ele colocou seu livro em cima da mesa, e apoiou os cotovelos nela.

– Minha família corre perigo também?


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